Voz do Leste, por Taiguara

Dedico esta singela canção aos "ingênuos ou desinformados" sobre a Ditadura militar. Taiguara foi um dos artista mais censurados neste período pavoroso, e teve de se exilar para não ser preso, torturado ou mesmo morto, como muitos brasileiros e brasileiras foram.

Você proibiria esta música de ser tocada? Pois saiba que na ditadura os donos do poder censuram até cantiga de ninar.

Sou Voz Operária do Tatuapé
Canto enquanto enfrento o batente co'a mão
Trabalho no ritmo desse Chamamé
Meu pouco Salário faz minha ilusão
Sou voz operária do Tatuapé
Vivo como posso e me deixa o patrão
E enquanto respira dessa chaminé
Meu povo se vira e não vê solução
No teatro da vergonha
aonde a verdade não se diz
Tem quem representa a massa,
quem ri da desgraça
E quem banca o infeliz
Tem até burguês que sonha
que entra em cena e engana a atriz
Tem quem sustenta a trapaça
e depois que fracassa
amordaça o país
Tem quem sustenta a trapaça
E depois que fracassa,
Amordaça o país
Já meu drama é o da cegonha...
quase morre o meu guri...
Sobra pr'o Leste a fumaça
e a peste ameaça
O ar do Piqueri
Pior que a matança medonha
é o desemprego pra engolir...
Seja no peito ou na raça,
esse teatro devasso
Alguém tem que proibir...
Seja no palco ou na praça
Essas peças sem graça
vão ter que sair.
(sair de cartaz...)
Sou voz operária...
***

Hoje acordei do meu jeito



Hoje acordei do meu jeito
Brincando comigo
Jogando rosas, cheiros
Rodopiando nas estrelas
Flutuando nos rios
Te tocando no ar

Hoje acordei do meu jeito
Beijando flores
Gargalhando em versos
Cavalgando na lua
Abraçando o luar

Hoje acordei do meu jeito
Sorrindo do tempo
Vestindo sonhos, fantasias
Cantando teus olhos
Dedilhando teu corpo
Te tendo comigo
Dançando valsas, bolero
Rolando na areia
Paquerando o mar 

***

Duas coisas que salvariam o Brasil

Interpretação de texto e consciência de classes


Rita Fajardo Salvariam o mundo...

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Bertold Brecht: "Aos Que Virão Depois de Nós"

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Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez, uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses, quando falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranquilamente a rua já está então inacessível aos amigos que se encontram necessitados?

É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)

Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber, se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.

Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Manter-se afastado dos problemas do mundo e sem medo passar o tempo que se tem para viver na terra;
Seguir seu caminho sem violência, pagar o mal com o bem, não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!

Eu vim para a cidade no tempo da desordem, quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta e me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo que me foi dado viver sobre a terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas, deitei-me entre os assassinos para dormir, fiz amor sem muita atenção e não tive paciência com a natureza.
Assim se passou o tempo que me foi dado viver sobre a terra.

Vocês, que vão emergir das ondas em que nós perecemos, pensem, quando falarem das nossas fraquezas, nos tempos sombrios de que vocês tiveram a sorte de escapar.

Nós existíamos através da luta de classes, mudando mais seguidamente de países que de sapatos, desesperados!
quando só havia injustiça e não havia revolta.

Nós sabemos:
o ódio contra a baixeza também endurece os rostos!
A cólera contra a injustiça faz a voz ficar rouca!
Infelizmente, nós, que queríamos preparar o caminho para a
amizade, não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo em que o homem seja amigo do homem, pensem em nós com um pouco de compreensão.
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Democracia e Liberdade ou Ditadura e Opressão, a escolha é tua



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Esconderijo

- Onde se escondeu o tal de Bolsonaro estes anos todos?
- Dizem que na Câmara dos deputados, em Brasília

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Crônica do dia

Desgraça pouca é bobagem, por Sebastião Nunes
Joãozinho acompanhou de longe o golpe militar de 1964 desde os primeiros vagidos em 1960, quando Jânio Quadros foi eleito presidente da república.
Ele tinha 18 anos na época e, para tomar um chope, precisava exibir a carteira de identidade, pois sua cara de menino deixava cabreiros os garçons.
Sem entender patavina, lia as manchetes dos jornais nas bancas, procurando decifrar o fuzuê que se armou entre a renúncia de Jânio e a posse de João Goulart.
Militares, latifundiários e ricaços arreganhavam os dentes contra os comunistas, que ameaçavam fazer churrasco das criancinhas brasileiras.
Quando terminou o ensino médio, no início de 1964, o Brasil estava mergulhado no caos e ele continuou se informando pelas manchetes das bancas de jornal.
Mulheres bem vestidas desfilavam pelas ruas em nome de Deus, da família e da propriedade. Não havia pretos ou pobres.
Os “Diários Associados”, reacionários como eles só, lançaram uma campanha para a doação de ouro pela salvação do país. Salvação do país contra os comunistas é claro, imaginou ele, lendo e relendo as manchetes.
Lá se foram os bondosos pais de família, ingênuos mas remediados, entregar as alianças de casamento e, para não passar aperto, armazenaram arroz, feijão, óleo, açúcar e papel higiênico para os tempos bicudos que diziam se aproximar.
Um tanto retardado para sua idade, Joãozinho era apenas um aluno medíocre e um completo analfabeto político. E não tinha dinheiro para armazenar nada.
Quando a ditadura militar acabou, mais de 20 anos depois, Joãozinho continuou sem entender nada, mas havia progredido e era balconista numa loja de ferragens.
Casado com uma balconista de loja de roupas das redondezas, tinha dois filhos e morava nos cafundós. Havia televisão em casa e toda noite acompanhava o noticiário pela TV. As notícias agora chegavam quase instantaneamente.
Aos 40 anos, tendo passado das manchetes de jornais nas bancas para a tela da televisão na sala, continuou um analfabeto político, só que ao vivo e em cores.
REPETIÇÃO COMO FARSA
Em 2018, Joãozinho e a mulher estavam aposentados e continuavam vivendo na mesma casinha alugada nos cafundós, pois recebiam pouco do INSS.
O filho de Joãozinho, que também se chamava Joãozinho, tinha 18 anos e estava no primeiro ano do ensino médio numa escola pública dos cafundós.
Tinha uma irmã chamada Maria que, aos 14 anos, cursava o ensino fundamental na mesma escola que Joãozinho.
Seus pais, babosos, insistiam para que eles terminassem pelo menos o ensino médio ou não conseguiriam bons empregos como eles haviam conseguido.
Pela televisão acompanhavam os acontecimentos do país e, como bons cidadãos, votavam de acordo com o que os noticiários sugeriam.
Era difícil decidir, mas os apresentadores dos telejornais diziam quem eram os corruptos, os acusados de roubar dinheiro público e os honestos em que podiam confiar. Nesses, como sugeriam toda noite os mesmos apresentadores, eles podiam votar.
Joãozinho filho também ia votar, só que pela primeira vez.
Joãozinho filho estava de acordo com os pais, porque boa parte dos professores e amigos também assistia o noticiário da televisão e tinha a mesma opinião. Eles sabiam quem eram os honestos, os acusados de roubar dinheiro público e os corruptos. Nesses não votariam de jeito nenhum.
Maria não ia votar, pois ainda não tinha idade, mas concordava com os pais e o irmão. Como ainda era menor, toda noite via as mesmas novelas e o mesmo noticiário com os pais e, às vezes, também com o irmão, cujas opiniões respeitava.
Ela não sabia que os pais e o irmão não tinham opiniões.
Ela não sabia que as opiniões dos pais e dos irmãos eram as opiniões que os apresentadores da televisão diziam serem as certas.
Ela não sabia que os apresentadores da televisão também não tinham opiniões e só mantinham aquelas opiniões porque eram as opiniões dos donos da televisão.
Ela não sabia que se os apresentadores tivessem opiniões diferentes das opiniões dos donos da televisão eles seriam mandados embora com um chute na bunda.
Maria, Joãozinho filho, a mãe, que também se chamava Maria, e Joãozinho pai eram analfabetos políticos.
Mas eles não sabiam que eram analfabetos políticos.
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