Se o candidato tucano José Serra não tiver reduzido a vantagem que a candidata oficial, Dilma Rousseff, tinha nas pesquisas de opinião até agora — e nada indica que isso tenha acontecido —, a propaganda eleitoral pelo rádio e pela televisão, a partir desta terça-feira, dará muito pouca margem para que isso aconteça.
Hoje saberemos o resultado de pesquisas do Ibope e do Datafolha sobre a corrida presidencial, e se a melhor atuação do candidato oposicionista, tanto no debate da TV Bandeirantes quanto nas entrevistas da TV Globo, especialmente a do "Jornal Nacional", pela audiência, teve o condão de mudar a tendência favorável a Dilma.
As novas pesquisas darão também algumas orientações sobre as políticas regionais, que podem interferir no resultado da eleição presidencial.
Há, por exemplo, uma melhora da candidata Dilma Rousseff no Rio Grande do Sul que poderá ser confirmada.
Isso acontecendo, a vantagem de Serra na região Sul do país se reduzirá.
Ao mesmo tempo, há indicações de que o candidato do ex-governador Aécio Neves está se recuperando em Minas, o que poderá se refletir mais adiante na candidatura de Serra.
O fato é que o tucano terá que ser mais proativo nos debates que ainda virão e manter o nível da performance nas entrevistas da próxima semana no "Bom dia Brasil" e no "Jornal da Globo" para tentar virar o jogo.
Dificilmente conseguirá a reversão de expectativas no programa eleitoral, ainda mais porque o presidente Lula poderá participar do programa de sua candidata Dilma na medida que considerar conveniente, nem tanta presença que ofusque a sua escolhida, nem tão ausente que não permita uma alavancagem.
A diferença de tempo entre os dois candidatos não parece ser o maior problema do oposicionista, que terá tempo suficiente para divulgar seus projetos.
Nem mesmo o aparato tecnológico deve ser muito diferente, mesmo que o candidato tucano tenha arrecadado bem menos que a candidata situacionista até o momento.
Nada que se compare, por exemplo, às dificuldades financeiras dos dois outros candidatos que se destacaram na campanha, Marina Silva, pelo PV, e Plínio de Arruda Sampaio, pelo PSOL.
Esses, sim, têm problemas, inclusive de tempo para expor suas mensagens, pois terão pouco mais de um minuto de propaganda, duas vezes por dia, e mais poucas inserções durante a programação do dia.
José Serra foi o que melhor se apresentou na bancada do "Jornal Nacional" e na entrevista do "Jornal das Dez", da Globonews, usou com inteligência os 12 minutos de uma audiência nacional, embora não tenha conseguido terminar sua mensagem de despedida no "JN" por ter estourado seu tempo.
E pela primeira vez enfrentou com tranquilidade temas que vinham lhe provocando irritação: o pedágio das estradas paulistas e o governo Fernando Henrique Cardoso.
Parece ter encontrado o tom certo para criticar pontos específicos do governo Lula sem criticar diretamente o presidente popular.
E conseguiu pela primeira vez explicitar as diferenças entre ele e Dilma, tentando vender para o eleitor-telespectador a ideia de que pode governar melhor do que a adversária por ser mais experiente.
Até mesmo na questão da autonomia do Banco Central, Serra foi mais flexível, embora não tenha conseguido dissipar as dúvidas que permanecem sobre suas interferências diretas nas decisões do Banco Central.
Ao afirmar que montará uma equipe homogênea na economia, deixou no ar a impressão de que o Banco Central de alguma forma tomará decisões de comum acordo com o Ministério da Fazenda.
É até natural que Serra queira uma equipe homogênea, pois, enquanto foi ministro do Planejamento do primeiro governo de Fernando Henrique, divergia muito do ministro da Fazenda, Pedro Malan, a tal ponto que teve que deixar o governo, aproveitando a chance de se candidatar à prefeitura de São Paulo.
Na volta, foi para o Ministério da Saúde, onde teve uma atuação que até hoje lhe rende reconhecimentos e dividendos eleitorais.
Nos bastidores da campanha de Dilma Rousseff, fala-se que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci pode fazer caminho semelhante, sendo nomeado para uma área social de um eventual governo petista, muito provavelmente o próprio Ministério da Saúde.
Merval Pereira
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