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Cordel Encantado

Vou lhe passar uma ideia, sem querer ser abusado. Se tiver um grande amor, vai fazer dele amostrado. É o site de um cordel, de um cordel encantado. Você insere uma imagem, diz os atores da história. E gera uma rima que ficará na memória.

Bombando na internet, com seus versos de amor, crie seu cordel, nele faça o louvor. Mostre sua paixão a todo seu seguidor. O link é compartilhado, no Facebook indexado, por e-mail enviado para mostrar seu louvor. Quer saber o endereço e ver no que dará? Vou lhe mandando o link para você acessar:

Cordel Encantado

Na cupira da ação
I
Peço a Deus que me conceda
Imensa sabedoria
Para versejar a vida
Dentro da burocracia,
Mergulhar neste universo
Sem ter certeza que o verso
Se tornará poesia. 

II
Poeta não tem lugar
Numa ruma de papel,
Num parecer fraudulento
Que tem a cara do réu;
Tanto papel encardido
Que o pobre deprimido
Pensa que já vai pro Céu.

III
Há um projeto na pauta
(Todos aptos a votar),
A estrada esburacada
Precisando consertar;
De olho gordo na pista,
Conselheiro pede vista
E nada de inaugurar.

IV
E no governo inda tem
Cem por cento na chefia:
Um chefete em cada esquina
A esbanjar covardia,
Dentro da repartição
Tem quem diga: eu sou irmão
Do chefe da Assessoria.

V
Nas festas da governança,
É vermelho e amarelo;
Azul pega o encarnado
Na favela e no castelo;
Um rorizista do cão
Quase mói a minha mão
Dizendo: sou Agnelo!

VI
No lançamento do PAC,
Com a Miriam Belchior,
No Riacho Fundo II,
A festa foi bem melhor:
As casas para o povão
E mais uma cesta de pão
Pra quem vive na pior.

VII
Agnelo disse assim:
Eu nunca ligo pra azar,
Tudo que prometo eu cumpro,
Podem se tranqüilizar;
Mas aí, Chico de Assis,
Poeta, disse: o infeliz
Tá querendo me enrolar!

VIII
Então veio me procurar
Junto do governador,
Fez um requequé danado,
Pegou e pigarreou,
Contou que estava quebrado
E queria um adiantado
Pra Casa do Cantador.


IX
Agnelo, sabedor
Que cantador é pidão,
Porém sem desvalorizar
Essa nobre profissão,
Quando acabou de ler,
Mandou alguém escrever
Nobre e ímpar pretensão.

X
Aí veio no borrão:
Ilustre governador,
Quero um pouco de verbas
Pra Casa do Cantador,
Espaço do velho e novo;
E a cultura do povo
Engrandece seu valor.

XI
Quero e peço, por favor,
Saúde e educação,
Transporte bom, segurança
E o que é de mais razão:
Restitua sempre a verdade
E faça da honestidade
Sua palavra e sua ação.

XII
Acabe toda a chantagem
De quem vive a espiar;
Brasília quer liberdade,
Caminhar e respirar.
No meio desse deserto,
Se o governo não der certo
Não há capim pra plantar.

XIII
Eu prometo pro senhor,
Depois de passar 100 dias,
Até pedir demissão
De empresa ou autarquia,
Eu vou estar na parada:
Cada obra inaugurada
Terá sua poesia.
XIV
E como disse o poeta,
Numa rima de desafio:
Governador Agnelo,
Use brita e meio-fio,
Calce o pé conforme a meia
E transforme a rua feia
Num logradouro sadio.

Cordel Encantado



Contemplado por seleção pública no Programa Petrobras Cultural 2005/2006, o livro "100 Cordéis Históricos Segundo a ABLC - Academia Brasileira de Literatura de Cordel -, consiste na pesquisa e publicação de 100 títulos raros de cordel, na íntegra, e visa a difusão nacional dessa forma de expressão que compõe o patrimônio imaterial brasileiro.

Dos 13 mil títulos que compõem o acervo da academia, cerca de 400 títulos representam a história remota desta literatura, da qual há poucos exemplares disponíveis, mesmo nos acervos especializados. Abordando principalmente o período do fim do século XIX à segunda metade do século XX, o projeto resultará na edição de 100 cordéis selecionados deste acervo, com caixa protetora e 568 páginas no total.

A disponibilização deste raro e significativo acervo, reunindo em uma única publicação 41 autores representativos do período, com qualidade de impressão que garanta sua longevidade, se faz iniciativa inédita.

O livro será distribuído para as principais bibliotecas do país e instituições ligadas à literatura de cordel. A ABLC comercializará o restante dos exemplares a preço popular.O projeto é uma realização da Ofício Produções, em parceria com a ABLC, responsável pela curadoria do projeto, que teve seus membros, o presidente Gonçalo Ferreira da Silva como curador e o acadêmico J. Victtor como coordenador executivo, trazendo a credibilidade de anos de história desta instituição como centro de publicação, memória e difusão da literatura de cordel.


O livro contou também com a inestimável colaboração de pessoas ligadas à cultura e à própria literatura de cordel, como os cordelistas Arievaldo Viana e Marcus Haurélio, que colaboraram com importantes dados sobre os cordelistas; Vidal Santos, da ABC - Academia Brasileira de Cordel - cedendo os direitos autorais de diversos cordéis; Maria Rosário F. Pinto, do CNFCP - Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, na distribuição dos livros; Antonio Nóbrega, Carlos Sandroni e Francisco Nobre, nos prefácios e Gustavo Luz, da Editora Queima-Bucha.


100 Cordéis Históricos Segundo a ABLC 
Editora: Queima-Bucha 
Formato: 21 X 28 
Páginas: 568 
Capa: Papel Triplex 350g 2 cores
Miolo: Papel Off-Set 90g P/B
Preço: R$ 50,00 (caixa com dois volumes)
Para envio por Correios será acrescentado o valor correspondente para cada cidade. 
A coleção está à venda pelo e-mail 100cordeis@ablc.com.br

Cordel Encantado

A peleja do Cordel de Feira com a Internet

Walter Medeiros 

Vou lhe contar, cidadão,
Uma história bem brejeira
Que começou numa feira
Pelas bandas do sertão
E de forma bem ligeira
Chegou à terra inteira
Causando admiração.

Severino Rio Grande
Fazia muito cordel
Falava até de bordel
Assim a arte se expande
De soldado, coronel,
Matuto, arranha-céu,
Falava até de Gandhi.

Com ele não tinha manha,
Sofria mas agüentava,
Sabia que a dor passava,
Pois foi até na Alemanha
Com tudo ele rimava
E o povo se admirava
É um homem de façanha

Seus cordéis ele vendia
Numa feira bem pequena
Era sempre a mesma cena
Com risada e cantoria
Desde o tempo da galena
Era uma mensagem plena
De amor e alegria

Com uns tipos manuais
Muitos impressos fazia
E assim ele vivia
Querendo um mundo de paz
Mas ninguém compreendia
Quando dizia que um ida
Ia sair nos jornais.

Pois aquele cordelista
Danou-se pra capital
Foi morar no areal
Ali bem perto da pista
Sua cidade natal
Soube um dia, afinal,
Que se tornou jornalista.

Mexendo com linotipo
Telex e off set
No fax pintou o sete
Sem falar no teletipo
Fazia até enquête
Só não comia gilete
Pois não achava bonito.

Mas com aquele seu dom
Muita coisa ele fazia
Sempre tinha uma poesia
Recitada em bom tom
Tinha saudade da tia
e qualquer hora do dia
escutava acordeon

Os anos foram passando
o tempo não vai pra trás
e aquele nosso rapaz
ia se adaptando
a tudo que a vida traz
nada nunca é demais
e foi se modernizando.

A maquininha Olivetti
Que usou anos seguidos
Inda tinha nos ouvidos
Qual serpentina e confetti
Mas a marca dos sabidos
Que ganhou novos sentidos
Agora era a internet.

Nem mesmo questionou
A nova moda lançada
E de forma enviesada
Seus cordéis lá colocou
Foi uma festa danada
A homepage lançada
Que ao mundo lhe levou

Pois agora na internet
O cordel vai mais distante
Basta somente um instante
E a história se repete
São Gonçalo do Amarante
Paris, Itu, num berrante
Todo mundo se derrete

Sempre aparece questão
Sobre esse novo meio
Mas é somente esperneio
De gente falando em vão
Basta fazer um passeio
Sem cavalo e sem reio
Para entender o bordão.

Quando veio pra cidade
Severino não deixou
Na terra que lhe criou
A sua habilidade
Foi com ele e ele usou
O dom que deus lhe legou
Pra sua felicidade.

Se é por falta de cordel
Pra seus versos pendurar
Confesso que vou mandar
Desenhar assim ao leu
Depois vou fotografar
E no site publicar
Ao lado do meu farnel.

Do jeito que alguém fala
Do cordel que foi pra web
Com certeza não concebe
Algo que chegou à sala
Do pequenino casebre
Que não pode criar lebre
Mas tem um micro na mala

Por quê o computador
Pode chegar ao sertão
E na internet não
Tem lugar pra rimador?
É uma aberração
Grande discriminação
Que ele não tolerou.

Acho que dei o recado
Quem quiser diga o contrário
Pois em todo abecedário
Tem alguém inconformado
E nesse rimar diário
Quero o futuro no páreo
Mas não esqueço o passado.

FIM

Cordel Encantado

[...] Noticário Poético


Novo livro do pesquisador e jornalista Gilmar de Carvalho reconstrói histórias de e sobre o cordelista Moisés Matias de Moura. Na obra do artista, o cordel flertava com o jornalismo

Há uma imagem forte evocada por Walter Benjamin (1892 - 1940) para falar da história. Testemunha única dos acontecimentos, o Anjo da História vê, aterrorizado e impotente, o passado, enquanto é arrastado por fortes ventos que o lançam ao futuro. "Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu", escreveu Benjamin, na nova tese de seu famoso ensaio "Sobre o Conceito da História".

Gilmar de Carvalho, em seu novo livro, se lança a tarefa almejada pelo anjo descrito por Benjamin. O morto que acorda é Moisés Matias de Moura (1891 - 1976), pernambucano, cordelista, que veio para o Ceará nos anos 1920, iniciou-se na literatura de folhetos em Juazeiro do Norte e fez carreira no Ceará, escrevendo cordéis pautados em episódios marcantes do cotidiano da cidade. Os fragmentos que junta são as obras do escritor e episódios de sua vida.

Pesquisador incansável e escritor prolífico, Gilmar de Carvalho é autor de algumas dezenas de livros, a maioria fruto de seus estudos sobre as artes e as vivências das tradições populares cearenses. Em "Moisés Matias de Moura - O Cordel de Fortaleza", convergem temas recorrentes na produção de Gilmar de Carvalho: a tradição (evidenciando, sobretudo, seu caráter móvel, de constante transformação), a comunicação (tantos meios de massa, quando alternativas a eles), a escrita poética e a história cultural do Ceará. O livro será lançado às 17h30, no Museu do Ceará, celebrando o aniversário de Fortaleza.

Vida e obra

O trabalho é dividido em duas partes, a última uma reunião de cordéis. A primeira é formada por uma construção do personagem Matias de Moura a partir dos fragmentos de obra encontrados, das memórias ainda persistentes na família e dos poucos textos que citam o cordelista.

Gilmar não escreve como historiador, mas como benjaminiano que é, ciente das propriedades criativas do texto. Sem recorrer à ficção, sua escrita dá ordem às ruínas (constantes em nossa história) que ameaçavam enterrar, definitivamente, Moisés Matias de Moura.

Folheto, folhetim e jornalismo

No livro "Moisés Matias de Moura", Gilmar de Carvalho reuniu 17 cordéis, sobreviventes dos mais de 100 títulos que o cordelista produziu. A coleta foi difícil e é resultado de uma relação de mais de 20 anos com o tema.

"Esbarrei nele quando estava fazendo meu mestrado (concluído em 1991), que foi publicado no livro ´Publicidade em Cordel´. Fiquei curioso porque ele constava no catálogo da Casa Rui Barbosa, mas se falava pouco dele. Em algumas antologias, bem feitas, bem pesquisadas, ele não aparece. O silêncio me incomodou. Como gosto de ir nessa trilha do que não fez sucesso, do que ficou esquecido, comecei a pesquisar sobre ele", conta o autor. O poeta escreveu sobre desastres naturais, crimes bárbaros, dentre outros temas "quentes".

Foi a jornalista Tânia Furtado, aluna de Gilmar, quem trouxe do Rio de Janeiro os primeiros 10 folhetos, copiados do acervo da Rui Barbosa. A partir daí, o pesquisador sentiu-se mais seguro para partir em mais uma de suas buscas. O primeiro texto de Gilmar de Carvalho sobre Matias de Moura foi publicado nos 100 anos do cordelista, no Diário do Nordeste.

Em Matias de Moura, Gilmar destaca o fato de ter falado de Fortaleza, ainda que o autor não seja único no flerte do cordel com o jornalismo. "Do ponto de vista da métrica, ele não é um poeta rigoroso. Interessa saber como escolhia os temas. Por que falar deste crime e não de outro?", exemplifica.

TRADIÇÃO 
Moisés Matias de Moura - O Cordel de Fortaleza Gilmar de CarvalhoCOLEÇÃO JUAZEIRO, 2011, 233 PÁGINAS, R$ 30
Lançamento às 17h30, no Museu do Ceará (Rua São Paulo, 51 - Centro).
Contato: (85) 3101.2610
DELLANO RIOS

Cordel Encantado

A verdade sobre a morte das vítimas do aborto

No pé da Serra da Onça -
Alto sertão de Alagoas -
O povo gosta de loas
Mas tem a maior responsa:
Criança, jovem e coroas
Discutem as coisas boas
E combatem gente sonsa.

Pois numa noite bem mansa,
A lua branqueando o Céu,
Foi de tirar o chapéu
E não perder na lembrança
O filho de Dona Bel
Enfrentou seu Miruel
Num assunto que não cansa.

Seu Miruel é ateu,
Do bem ele quer distância;
Homem cheio de ganância,
Rouba até parente seu.
Uma triste discrepância
Que deixa muitos na ânsia
De vê-lo comendo breu.

Além de tudo é perverso,
Sem ética nem moral;
É mesmo gente do mal,
Mas está no Universo;
E seu maior ideal
É ver uma lei fatal
Nascer num novo processo.

Ele defende o aborto,
É homem muito falante,
Tem um tom repugnante
Mas não quero lhe ver morto;
Quero que ele se espante
Com a verdade de Dante
Que é matar um zigoto.

Ao vê-lo todo exaltado,
O filho de dona Bel
Que nunca foi bacharel
Nem tinha sido testado,
Olhou a barra do Céu
E até quem tava ao léu
Foi ouvir o seu recado:

- Neste dia iluminado
Da minha amada vida,
Esta pendenga sofrida,
Cheia de arrazoado,
Ganha a maior guarida
Para ser bem referida
Neste momento rimado.

- Pois neste mundo malvado,
De tanto conceito torto,
Vou também falar do aborto,
Que está sendo analisado
Da roça ao cais do porto,
Temos muito bebê morto
E outros sendo assassinados.

- Alguém terá desconforto,
Mas quero falar da vida
Que é sempre concebida
Como semente no horto,
Quando a mãe engravida
No instante dá guarida
Ao pequenino zigoto.

- Não sei por quê se duvida
Daquele exato momento
Onde surge o rebento
E a pessoa é concebida;
Nem mesmo o mais avarento
Teria outro pensamento
Sobre aquela nova vida.

Ao ver o homem rimando
O povo ficou feliz,
Pois um simples aprendiz
Estava ali ensinando
O que a gente boa diz
No templo e na matriz
E ele foi assimilando.

É mesmo sinal dos tempos
Tamanha aberração,
Pessoas sem gratidão
Que um dia foram rebentos,
Mas defendem punição
Pra quem não tem condição
De defender um intento.

Depois da vida formada
Seus direitos se garantem;
Nem mesmo o mais falante
Consegue mudar mais nada,
Pois se mudar é mandante
De um crime horripilante
Contra a vida iniciada.

Não pode ter exceção,
Nem ser regulamentada,
Se não pode fazer nada
Durante a operação
A mãe pode ser poupada
Mas a criança gerada
Também precisa atenção.

- O que ocorre, entretanto,
É que a coisa é diferente,
Pois tem muito delinqüente
Deixando gente em pranto,
Fazendo aborto indecente
Traumatiza nossa gente
Ou manda pro campo santo.

O filho de Dona Bel
Que tem pequeno apelido
É conhecido por Dido
Falou até de bordel
Foi bastante aplaudido
E se já era querido
Virou rival de Miruel.

- Aborto é incompetência
De pretensos governantes
Que podem ser bem falantes
Mas inventam na ciência
Motivos extravagantes
Pra matar feito marchantes
Muitos fetos, sem clemência.

O filho que foi gerado
Precisa mesmo nascer
Seu direito de viver
Tem de ser assegurado
E o país tem que fazer
Toda segurança ter
Pra não ser prejudicado.

Para evitar o aborto
Tanta gente sem apego
Só precisa de sossego
Não pode fingir de morto
Saúde, escola, emprego,
Formam o melhor arrego
E acaba este ideal torto.

A questão é complicada
De saúde e de moral
Em busca do ideal
Tem gente desesperada
Pois no âmbito legal
Também precisa de aval
Debaixo daquela espada.

Assunto tão vasto assim
Precisa de discussão
Para não ficar na mão
Ou pra não passar por ruim
Vamos ter reunião
Para saber a razão
De tanto aborto enfim.

Aborto é assassinato
De pequeno ser humano
Um gesto muito tirano
Um triste e horrendo fato
Pois o feto com os anos
Sem perigo de enganos
Pode ser Messias nato.

Uma criança, um filho,
É o que o feto é
Na barriga da mulher
Pode não ter todo brilho
Pois quando em Nazaré
Maria provou a fé
Jesus não foi empecilho.

Quem pode dispor na vida
Da vida de outro alguém?
Eu não conheço ninguém,
Pessoa tão atrevida
Que tenha tanto desdém
Para fazer algo além
Dessa missão recebida

Uma nova vida humana
Não pertence a ninguém
Nem mesmo a mãe detém
A potência tão profana
Pegar futuro nenén
Matar um Matusalém
Que dura poucas semanas

Miruel estava calado,
Ouvia a rima do Dido
Mas com um tom atrevido
Resolveu dar um recado
Que o aborto tinha sentido
Pois ele tinha ouvido
A fala de um deputado.

Dido então se concentrou
E virou-se pro seu lado
Com um tom emocionado
Rapidamente pensou
E naquele seu rimado
Sem se sentir rebaixado
Mais uma rima mandou:

- Já pensou, seu deputado,
Se a sua genitora
Fosse uma abortadora
Quando o senhor foi gerado?
O Brasil outro seria
O senhor não viveria
Tinha sido assassinado.

Mostrando conhecimento
Dido estava inspirado
E Miruel, meio acuado,
Já estava meio bufento
Já que tinha começado
Ficava todo animado
A cada novo momento.

Ninguém sabe de onde veio
A carga de informação
Talvez da televisão
Pois ele nunca fez feio
Assiste a programação
Se liga até no plantão
E nunca tem aperreio.

O jovem continuou
Sua bela prelação
Naquela situação
O aborto ele taxou
De morte sem compaixão
Pois lá na fecundação
A vida já se formou.

Aborto é infanticídio
Pois a mãe mata o filho
Que considera empecilho
Isso também deu no vídeo
Mas é também um martírio
Não digam que é delírio
Pois é tudo homicídio.

Tem quem diga que o aborto
É uma “interrupção”
Isso não é nada são
Por resultar em bebê morto
É uma intervenção
Sem qualquer contemplação
Deixa Miruel num oito.

Se trata de defender
Quem não pode protestar
Pois gerado já está
Deseja sobreviver
Mas alguém quer lhe matar
Se sua mãe abortar
Seu direito é só sofrer.

Além de ser natural
A ida tem algo mais
Deus disse “Não matarás”
Como lembra o Cardeal
O pastor não fica atrás
Diz que é o Satanaz
Que provoca tanto mal.

A ciência comprovou
Algo ainda mais triste
No feto o sistema existe
E ele sente muita dor
Mas a maldade persiste
O desumano não desiste
E anestesia indicou.

Sei que não falei de tudo
Disse Dido a Miruel,
Mas mostrei que é crurel
Você ficou meio mudo
Quem sabe se esse cordel
Não tira você do fel
E lhe faz menos sizudo?

Miruel se concentrou
Para dar sua resposta
Com a voz sempre imposta,
Mas uma lágrima rolou;
Como quem perde uma aposta
Ele admitiu que gosta
Do que Dido lhe falou.

Disse que ia refletir
Sobre coisa tão exata
Que seu amigo relata
Sem intenção de ferir
Sabe que aborto mata
E agora até se retrata
Querendo se redimir.

Dido então se despediu
Abraçando Miruel
Seu jeito de coronel
Parece que se esvaiu
Os dois olharam pro Céu
E como quem toma um mel
A dupla então se uniu.

Agora a causa da vida
Ganha um grande aliado
O homem chegou vaiado
No fim já tinha torcida
E aquela idéia sonhada
Pode ser realizada
Já está sendo aplaudida.


Cordel Encantado

[...] pela ruas de Paris

I
Acostumado a subir,
Lá em Princesa Isabel,
Na Serra do Gavião
Ao lado de Seo Miguel,
Miguezim não passa mal
E festejou o Natal
No alto da Torre Eifel.

II
A neve caindo aos montes,
Ensopando o meu chapéu,
Cheguei no alto da torre,
Peguei caneta e papel
E resolvi escrever,
Para todo mundo ler,
Este singelo cordel.

III
Antes de subir na torre,
Andei pelas ruas antigas
Onde revolucionários
Se esfaquearam nas brigas
Contra o ancien regime,
Vi os cenários de crimes
E ouvi antigas cantigas.

IV
Bem em frente ao Moulan Rouge,
Avistei as cortesãs,
Inspiradoras de versos
E de fantasias vãs;
Velhos intelectuais
Encenando bacanais
De velhas festas pagãs.

V
Próximo ao Arco do Triunfo
Avistei Napoleão,
Mais bêbado do que gambá
Com uma espada na mão,
Tocando sax e pistom,
Zombeteando Danton
Porque fez revolução.

VI
Por dentro do batom mouche
Eu estava a passear,
Quando uma moça se encostou
Do outro lado de lá,
Com cheiro de gorgonzola,
Que não lavava a calçola
De dias já fazia troá (trois).

VII
No Castelo de Versalhes,
Registrei cena porreta:
Uma cama de patente
Que Maria Antonieta
Usou em um dia frio
Com um tenente bravio
Pra esquentar a espiroqueta.

VIII
Ela ficou espoleta,
Ensaiou a sarafina,
Deu canga-pé no salão,
Quase volta a ser menina
Com as madeixas assanhadas,
Terminou foi degolada
Na severa guilhotina.

IX
As coisas aqui na França
Têm aspecto de nobreza,
Fumaça de tiro e luta,
Fausto de gente burguesa
E até quem mora nos becos
Toma champanhe Prosseco
Para fugir da frieza.

X
Bem na Champs-Eliseé
Se aproximou um branquelo,
Com cara de pé inchado,
O olho bem amarelo
E, com jeito de babão,
Fez logo uma confissão:
Que era fã do Agnelo.

XI
No Louvre eu tomei um susto,
Quase morro de pantim,
Zezé e Lucas são prova
Do quanto eu fiquei ruim
De ensopar a camisa
Na hora que a Monalisa
Ficou piscando pra mim.

XII
Na Catedral Notredame
O corcunda veio a mim,
Revelou suas aventuras,
Se queixou do que era ruim,
Até reclamou de aperto,
Disse que lia Cláudio Humberto
E era fã de Miguezim.

XIII
Joana D’arc veio a mim,
Perguntou como savá:
Não desista muito fácil,
Disse pra perseverar
E cochichou muito perto
Que governo só dá certo
Se a gente acreditar.

XIV
E na cidade de Reimz,
Terra do Moet-Chandon,
Numa frieza de rachar,
Provando champanhe do bom,
Miguezim propôs um brinde
E terminou o deslinde
Junto com Dom Perrignon.

XV
E ao voltar varonil,
À Terra de Santa Cruz,
Cheia de políticos impolutos
Que discursam por Jesus,
O Miguezim descobriu
Que terra boa é o Brasil,
Quem tem bode com cuscuz!
Miguezin de Princesa