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Destaque do dia

Xadrez do TSE e os zumbis da política, por Luis Nassif

Peça 1 – algumas características relevantes do momento
Para analisar o momento atual e montar cenários possíveis, é necessário assumir alguns pressupostos:
Ponto 1 – os desdobramentos políticos dependem de um conjunto de circunstâncias.
Não imagine o golpe atual como uma ação concatenada, com um comando central pensando em cada jogada e com controle sobre todas as variáveis. Há as variáveis centrais, os fatos fora de controle, e as saídas estratégicas secundárias.
Há um grupo hegemônico manipulando o golpe – aliança mídia-grande capital -, e um conjunto de agentes secundários que se movem de acordo com a formação das nuvens da opinião pública.
Ponto 2 – o ponto central do golpe é impedir que as esquerdas retomem o poder em 2018.
Aí, abrem-se várias possibilidades: o surgimento de um campeão branco, uma eventual candidatura competitiva; o impedimento legal de Lula disputar; a implantação de um semiparlamentarismo; até um endurecimento do golpe, se as circunstâncias permitirem.

Dama de um jornalista à beira de um ataque de nervos

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"(...) especialmente depois que Dilma Rousseff jogou a toalha, lá pelo primeiro minuto após o resultado das eleições de 2014..."

Escreve o jornalista Nassiff no seu Xadrez do dia e?...

Na minha opinião a frase acima é o mais importante desse blablabla. 

Seria bom ele explicar.

Mas, duvido que faça enquanto Moro não mandar.
Reginaldo Rossi 
Ficava sussurrando junto ao meu ouvido
Mentiras misturadas com o seu gemido
E eu acreditava na sua palavra
Leviana!

Elementos para uma discussão ampla por Margot Riemann

Algumas considerações adicionais sobre o tabuleiro do xadrez político atual:
1)      O Brasil segue sendo um dos países mais desiguais do mundo graças a uma sofisticada engrenagem política, onde a mídia joga um papel central.
2)      No Brasil a distância entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres era em 2009 19 vezes (caiu em 2014 para 16 vezes); na União Europeia (25 países) essa distância é em média 5,5 vezes.
3)      A concentração de renda historicamente tem sido alavancada pelo Estado. Tivemos sempre um “Estado social para os ricos”. O maior exemplo é a política de juros, mas não apenas. As políticas educacionais, transportes, habitação, saúde etc. sempre foram de péssima qualidade quando destinadas aos pobres. Diferentemente do investimento público nos espaços dos ricos, receita federal, detrans, aeroportos, câmaras legislativas, tribunais. Por que são horrorosas as prisões? Porque lá só tem pobre.
4)      Na era da globalização, com uma competição cada vez mais acirrada, com renda sendo apropriada globalmente e em larga escala por diminutas e poderosas elites, a ascensão social está cada vez mais difícil. Para as classes altas e médias, o acesso direto às benesses do Estado e a manutenção da engrenagem da exclusão, passa a ser uma luta de vida ou morte. Não há na globalização um lugar ao sol para todos.
5)      O petismo ameaçou a engrenagem da concentração de renda e da exclusão. Democratizou oportunidades, aproximou os mais pobres dos mais ricos. São inúmeros os exemplos, a começar pelas cotas de 50% nas universidades. Um duro golpe para a classe média que se sacrificou anos a fio para colocar o filho no curso de medicina e agora disputa apenas metade das vagas e não tem dinheiro para pagar uma faculdade privada caríssima ... Por isso a classe alta e média é visceralmente antipetista. 
6)      Não foi a política conciliadora de Lula que fracassou, e sim o voluntarismo de Dilma que partiu para o confronto (baixando juros, tarifas de energia, taxas de cartão de crédito) sem ter articulação política que bancasse as medidas. A conciliação de Lula garantiu na verdade as três (re)eleições.
7)      O governante não é dono do Estado. Há uma tendência a superestimar a margem de manobra nos países da periferia porque aqui o Estado tem atuação decisiva em áreas nevrálgicas da economia (câmbio, infraestrutura, ordenamento jurídico ainda em construção, sem falar no peso das estatais). Mas, mesmo sendo mais atuante que nos países do centro, qualquer medida que confronte os grupos econômicos hegemônicos, ainda que marginalmente, exige uma mudança de correlação de forças no cenário político. Não existindo essa mudança, fatalmente o governante entrará num impasse e terá que se curvar ao status quo. E aí não adianta ser voluntarista.
8)      As teses do Ciro são boas. Mas não me parece um político muito talentoso. Não consegue sequer agregar o(s) partido(s) por onde andou. Não há comparação com o Lula. São anos luz de distância.
9)      O problema é que o Lula e o PT encarnam a luta pela inclusão social, tudo que as classes médias e altas não querem. Mas isso não deve ser um obstáculo intransponível, acertando-se a mensagem como um todo.
10)   Um programa de governo tem que conciliar interesses da grande maioria. Os confrontos devem alvejar pequeníssimas minorias. A política de juros; as mordomias dos legislativos; a desnacionalização.
11)   Quanto ao grande confronto dos historicamente excluídos, dos 50% mais pobres contra os 20% mais ricos, o protagonismo tem que ser do próprio povo e o mercado tem que ser trazido para o centro da briga. Não cabe ao governante encabeçar  essa luta, e sim apoiá-la.
12)   Juntamente com as igrejas, é a grande mídia que forma e molda os consensos políticos. Um projeto de governo sem um projeto de mídia é perda de tempo.
Comentário a postagem Lula, Ciro e a frente das esquerdas de Luis Nassif
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A meta do blog são três cliques em anúncios, por dia.

Xadrez do fim do mundo numa quarta-feira de cinza, por Luis Nassif


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O xadrez da delação do fim do mundo, por Luis Nassif

Peça 3 – o desmonte do país

O desmonte está se dando nas seguintes frentes:

O projeto geopolítico

No dia 22 de fevereiro último, o Washington Post – jornal com estreitas ligações com fontes da CIA – produziu um artigo revelador (https://goo.gl/K2Hsov): “Como um escândalo que começou no Brasil está perturbando outros países da América Latina”.
A reportagem lembra o Brasil como estrela em ascensão quando conseguiu o direito e
sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas. E que a Odebrecht se tornou um símbolo do
crescimento da importância brasileira no mundo, da mesma forma que a Coca-Cola para os Estados Unidos e a Toyota para o Japão.
Constata o jornal que a Odebrecht se tornou peça central do soft power brasileiro. E – aí não é o jornal afirmando - valendo-se dos mesmos expedientes da Siemens alemã, da IBM norte-americana, da Dassault francesa. Em todos os casos, puniram-se dirigentes, mas preservaram-se as empresas, vistas como ativos nacionais.
A reportagem admite que a corrupção não surgiu no governo Lula, nem com a Odebrecht, mas que ela foi a única a ser pega. E mostra como a Lava Jato, com a ajuda do Poder Judiciário desses países, está ajudando a limpar a área de todos os governos de esquerda no continente.
No Brasil, o desmonte atinge todos os segmentos, dos estaleiros à indústria de defesa e toda rede de fornecedores, com a redução da obrigatoriedade do conteúdo nacional nas plataformas.
Agora, se prepara o golpe final contra as empreiteiras brasileiras, com a cooperação firmada com os Ministérios Públicos de mercados conquistados por elas e a tentativa do TCU (Tribunal de Contas da União) de proibir novos contratos com elas. Um órgão assessor do Congresso se tornou peça-chave na destruição de ativos nacionais.
Não apenas isso.

O desmanche social

E aqui se entra nos desdobramentos não previstos pelo golpe.
A estratégia de desmonte do Estado aprofundou brutalmente a crise fiscal e a crise social.
A cada dia aumenta o desemprego, as tensões sociais, a insegurança nas grandes metrópoles, a crise fiscal da União e dos estados.
Há um brutal endividamento nas empresas. As que mais cresceram no período anterior são as mais endividadas. O sistema bancário montou operações de resgate estendendo os prazos dos financiamentos. Mas sem perspectivas de melhora da economia, caminha-se para uma crise sistêmica.
Por qualquer ângulo que se analise, será impossível a manutenção da política econômica atual e do próprio governo Temer.

A ideologização primária

Hoje em dia uma ideologização pesada domina os debates, tanto à direita quanto à esquerda, dificultando enormemente a busca de consensos. A ideia de construção nacional, pactos de produção, de inovação, afirmação de políticas sociais, equilíbrio entre o papel do Estado e do setor privado, todos os meios tons que deveriam servir de base para políticas de desenvolvimento cederam lugar a uma radicalização profundamente simplificadora.
Rapidamente, o pacote Meirelles torna-se inviável. E não aparece uma alternativa no lugar. Não levará muito tempo para que a agenda neoliberal seja substituída por uma liderança forte – de esquerda ou direita, civil ou militar – repetindo o roteiro norte-americano e britânico. Não mais um centro-esquerda relativamente racional.
Ou seja, o pêndulo com movimentos próximos do centro, mais à direita com o PSDB, mais à esquerda com o PT, mas sem abrir mão dos princípios democráticos, em breve será substituído por alguma saída autocrática.
Aí entram em cena as delações da Odebrecht, como um dos momentos de corte. Peça 04 - as delações da Odebrecht e o MPF>>>\o/

Xadrez do pós-golpe a morte do novo e a ressurreição do arcaico

Sobre o post "Xadrez do pós-impeachment e da morte do velho" do jornalista Luis Nassif não vou nem comentar os tópicos:

  1. A concretização do golpe
  2. Os protagonistas do pós golpe
  • Grupo Temer
  • Grupo Lula
  • Psdb
  • A lava jato e a PGR
  • Mídia e Mercado
    3. As novas movimentações
  • Internacionalizações e a era dos yuppies
  • A nova Esquerda
Vou me a ter apenas a frases final do artigo, que é a mais pura contradição: "Por enquanto vive-se esse terremoto, no qual o velho morreu e o novo ainda não se fez."

Lendo ao artigo a conclusão óbvia é: Por enquanto vive-se esse terremoto, no qual mataram o novo e ressuscitaram o velho.

Xadrez do pós-impeachment e da morte do velho

Começa a clarear os movimentos em torno do impeachment.

Peça 1 – a concretização do golpe

Afim de que não sejam alimentadas esperanças vãs, há quase consenso de que o golpe se tornou irreversível. O desafio consiste em reverter os votos de seis senadores. Para tanto, Dilma Rousseff teria que se empenhar pessoalmente em algo que abomina: a negociação de favores. E ela não parece disposta a tal.
Os sinais de desistência são nítidos:
1.     A cada dia que passa mais claro fica que a grande meta de Dilma é salvar sua biografia. Fora do poder, as possibilidades são melhores.
2.     Seus assessores principais evitam provocar o STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o golpe. A proposta da volta de Dilma com plebiscito para antecipação de eleições visa apenas manter alguma tocha acesa junto à militância.
3.     No Supremo, prevalece a tendência de lavar as mãos. As acrobacias retóricas do Ministro Luís Roberto Barroso se tornaram um clássico do modelo Poncio Pilatos, acatado por toda a corte.
4.     O próprio Lula já jogou a toalha. Mantém a resistência apenas para consumo externo.

Peça 2 – os protagonistas do pós golpe

Está-se obviamente em um período de transição entre a era democrática pós-Constituinte e os novos tempos, que ainda não se sabe como serão. O golpe machuca fundo, é uma mancha na jovem democracia brasileira. E a maior comprovação da ausência de grandes nomes no Congresso, no Judiciário, nos partidos políticos e na mídia.
Está-se em um processo intenso de recomposição política, com o aparecimento de novos personagens, uma juventude politizada, uma classe média que saiu do armário, todos se alinhando – ainda de forma um tanto caótica – com vistas aos próximos capítulos políticos, as eleições municipais de 2016 mas, principalmente, o pós-eleição..
Nessa transição, entrarão em cena os seguintes personagens políticos.
Grupo Temer
Com o fim de Eduardo Cunha, cria-se um vácuo político que dificilmente será preenchido pelos sobreviventes, Eliseu Padilha, Romero Jucá, Geddel Vieira de Lima, Henrique Alves e Moreira Franco. Cercados pela Lava Jato, sem a simpatia da mídia, a tendência será serem jogados ao mar, um a um. Por absoluta falta de alternativas do sistema de poder, ficará Temer devidamente enquadrado no script imposto pelo mercado.
Grupo Lula.
Lula tenta se colocar como protagonista, investindo sobre deputados descontentes com Temer, como Rodrigo Maia. Baixada a temperatura, tentará se colocar como porta-voz de um grupo eclético, que inclui os partidos da esquerda, os descontentes com Temer e os movimentos sociais. Será peça chave para Temer aspirar a um mínimo de interlocução com a oposição que lhe garanta a governabilidade pelos próximos dois anos. O grande desafio de Lula será garantir as eleições de 2018. Continuará sendo o grande líder popular, mas com atuação restrita no Congresso.
PSDB
Conforme previsto aqui no GGN, ao resumir todo o programa do partido a um antipetismo tosco, FHC e Serra quebraram sua espinha dorsal. Com o PT fora do poder, o PSDB perdeu sua única bandeira unificadora.
Desde 2002, lançou três candidatos à presidência da República: José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves.
Aécio está politicamente condenado pelas delações da Lava Jato. Rompida a blindagem inicial, seu destino ficou indelevelmente amarrado ao de Lula. Tornou-se bola da vez. O que quiserem aprontar com Lula terão que aprontar com Aécio, como prova mínima de isenção.
Alckmin está a caminho do PSB (Partido Socialista Brasileiro). Politicamente, o Brasil é um país tão maluco que o PSB pretende, com Alckmin – provavelmente o mais conservador político da atualidade – conquistar a hegemonia das esquerdas. Há que se indagar aos amigos de Eduardo Campos que tipo de cigarro andam fumando.
Finalmente, na luz, o terceiro presidenciável, José Serra, desmancha-se no ar. Foi assim no governo de São Paulo e está sendo no Ministério das Relações Exteriores. Sem conhecimento da matéria – e, parece, de qualquer tema contemporâneo um pouco mais complexo -, entrou no MRE pretendendo “causar”, com slogans tirados diretamente dos sites da ultradireita, sem a menor noção das sutilezas e sofisticações do jogo diplomático. Desmoralizou-se nas primeiras declarações e, sob pressão, desaparece, preso a uma proverbial insegurança, tão grande que precisou levar FHC a tiracolo na última assembleia do Mercosul por se sentir impotente para defender suas teses de confronto. Sem espaço no PSDB sonha ainda em ser candidato do PMDB. Mas sua única base de apoio é Michel Temer. As delações da OAS e Odebrecht devem liquidar definitivamente com suas pretensões.
A Lava Jato e a PGR
A esta altura do campeonato, há que se separar as intenções da Lava Jato e da Procuradoria Geral da República.
A Lava Jato pretende-se um poder autônomo. Sob a liderança do procurador Carlos Fernando dos Santos tem afrontado o STF (Supremo Tribunal Federal) no episódio de participação nos resultados da operação, vetado pelo Ministro Teori Zavascki.
Santos tem reiterado essa posição em todo acordo de delação firmado. Assumiu praticamente a liderança de uma rebelião de procuradores, investindo contra tribunais superiores que ousam colocar freios à sua atuação; criticando decisões do Supremo. Não apenas afrontou a decisão de Teori como investiu pela mídia contra votos de Dias Toffoli.
No Rio de Janeiro, procuradores conseguiram atropelar uma decisão do desembargador federal Antônio Ivan Athié, mandando libertar o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o dono da Delta, Fernando Cavendish.  A alegação foi de que Athié e Cavendish tinham sido defendidos – em processos distintos – pelo mesmo advogado, o reputado Técio Lins e Silva. É possível que houvesse desconfianças maiores em relação ao desembargador. O argumento inovcado foi ridículo, mas bastou.
Enfim, são agentes públicos, dotados de poder de Estado e armados de mídia, entrando sem nenhum pudor no jogo político e jurídico.
Responsável por esse estado de coisas, o PGR Rodrigo Janot deixou-se conduzir por esse clima feérico no pedido de prisão dos três senadores, negado por Teori. Antes disso, por uma perseguição implacável a Dilma Rousseff e a Lula e uma blindagem a Aécio Neves.
Nos últimos tempos abdicou dessas manifestações midiáticas. Ao contrário da república de Curitiba, é mais suscetível às manifestações de bom senso do STF e dos próprios colegas de Brasília. E colecionará uma bela vitória no dia em que Eduardo Cunha for cassado e preso.
De qualquer modo, ambos – a Lava Jato e a PGR - são agentes de ações que trazem total imprevisibilidade ao jogo político. Mesmo o profundo alinhamento da Lava Jato com o PSDB parece em xeque.
Mídia e mercado
Gradativamente, mídia e mercado vão deserdando o PSDB. O medo da volta da instabilidade política reforçará Michel Temer, enquanto mantiver a hegemonia do mercado na política econômica. O fator Henrique Meirelles será cada vez mais a sua âncora, na medida em que as futuras delações da Lava Jato comprometerem irreversivelmente Serra e Aécio.
E a Lava Jato continuará sendo o grande aríete contra qualquer forma de definição de política desenvolvimentista.

3. As novas movimentações

O novo tempo político consagrou um conjunto de novos campeões nacionais ao abrigo do voto popular. Sua força determina os movimentos erráticos do governo Temer, com concessões de toda espécie. São eles:
·      As corporações públicas, do Judiciário ao Ministério Público, Tribunal de Contas da União.
·      Os parlamentares contemplados com recurso farto para suas emendas individuais.
·      O mercado, com a manutenção da Selic em níveis elevados e a apreciação cambial.
Está-se ainda no momento zero do novo jogo político, que deverá ser dominado pelas seguintes tendências:
Internacionalização e a era dos yuppies
Menciona-se muito o fenômeno da ascensão das novas classes C. O fenômeno determinante da crise atual é outro: é o da internacionalização das classes A e B, com seus mestrados e doutorados em outros países.
O jovem procurador arrotando seu mestrado nos Estados Unidos ou Portugal é da mesma extração ideológica do jovem publicitário, jornalista de grandes veículos ou operador do mercado financeiro, do jovem técnico do Banco Central, do Tribunal de Contas ou da Advocacia Geral da União. É uma mudança geracional que está mudando a cara dos principais setores expostos a essa internacionalização.
Seus valores são a meritocracia, as virtudes individuais, o estado mínimo e a internacionalização. Prezam o sucesso pessoal, a casa com piscina, os vinhos finos. EM muitas casas, o idioma corrente passou a ser o inglês.E seu sonho de consumo é o imóvel em Miami.
Não se trata de uma caricatura, mas de valores consolidados, muito mais enraizados que a intolerância tosca de alguns brucutus da classe média que enveredam pelos temas morais.
Como são contra a política, tornam-se massa de manobra fácil para discursos simplistas da mídia ou de políticos.
A nova esquerda
Falta à esquerda consenso mínimo sobre temas econômicos.  O desenvolvimentismo, que deveria ser a bandeira das esquerdas, esgarçou-se sob o peso da globalização e de quase três décadas de financeirização da economia brasileira.
Na indústria, escasseiam novas lideranças. As últimas grandes lideranças estão desaparecendo sem deixar sucessores. Instituições como o IEDI (Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial) perderam dimensão.
Por outro lado, há um Brasil submerso explodindo em energia. A renovação das universidades tem promovido um arejamento de ideias, há uma sede nacional de diagnósticos sobre o novo país. E uma nova geração jovem entrando de cabeça na política em torno de valores e sem obedecer à hierarquia dos velhos partidos.
Os temas morais – da tolerância, contra o preconceito, a favor da solidariedade, da democracia – são preponderantes neste momento. E a campanha contra o golpe certamente marcará as próximas gerações. Com o tempo, ganharão musculatura até desaguarem em novos partidos.
Por enquanto vive-se esse terremoto, no qual o velho morreu e o novo ainda não se fez.

Política

Xadrez do novo tempo do jogo, por Luis Nassif
Os últimos meses foram os mais decisivos da moderna história política brasileira.
De um lado, pelo fim inglório de um período no qual partidos políticos, poderes e instituições públicas se esfarelaram em torno do mais vergonhoso episódio político pós-redemocratização: a forma como está sendo conduzido o processo de impedimento.
Não se salva um, da presidente afastada ao interino [Golpista] usurpador, de ex-presidentes da República a mandatários do Judiciário, dos velhos coronéis nordestinos aos supostamente intelectualizados a coronéis paulistanos de má catadura.
Nunca o peso do subdesenvolvimento foi exposto de forma tão cruel quanto agora. Praticamente não há mais nenhuma figura referencial em nenhum setor. Executivo, partidos políticos, Supremo, Ministério Público, Congresso, empresariado, mercado, mídia foram tomados pela mais medíocre geração de dirigentes da história. Suas lideranças estão preocupadas em preservar interesses miúdos, de curto prazo, eximir-se de responsabilidades em relação ao país.
A tentativa de dourar Michel Temer com a aura de estadista tem sido um fiasco. O próprio Delfim Neto apelou para que Temer esquecesse sua vida até agora e começasse a interpretar daqui por diante o papel de estadista. Lembra um clássico do cinema italiano, com Vitorio De Sicca: "De crápula a herói".
Não dá. Falta ao interino não apenas biografia como competência mínima para se locomover no palco do poder.
Além disso, Temer pode esquecer seu passado, mas ele voltará periodicamente a bater em sua porta.
Por outro lado, o processo do impeachment está sendo o catalizador de uma movimentação política inédita, uma redefinição de valores e formas de organização que irão dominar o processo político-eleitoral pelas próximas décadas.
Nesse período consolidaram-se as novas formas de organização, os coletivos, ao lado dos movimentos sociais, fazendo-se ao largo da estrutura hierarquizada de sindicatos e partidos políticos. Essa mesma horizontalidade se revela na notícia, com as redes sociais tornando-se cada vez mais influentes com seus múltiplos filtros substituindo o filtro único da mídia.
As ideias-chaves do que se imagina ser esquerda ou direita estão sendo plasmadas nestes períodos turbulentos. Assim como as preocupações centrais dos que zelam pelo aprimoramento da democracia.

O jogo ainda nem começou



Os últimos meses foram os mais decisivos da moderna história política brasileira.
De um lado, pelo fim inglório de um período no qual partidos políticos, poderes e instituições públicas se esfarelaram em torno do mais vergonhoso episódio político pós-redemocratização: a forma como está sendo conduzido o processo de impedimento.
Não se salva um, da presidente afastada ao interino usurpador, de ex-presidentes da República a mandatários do Judiciário, dos velhos coronéis nordestinos aos supostamente intelectualizados a coronéis paulistanos de má catadura.
Nunca o peso do subdesenvolvimento foi exposto de forma tão cruel quanto agora. Praticamente não há mais nenhuma figura referencial em nenhum setor. Executivo, partidos políticos, Supremo, Ministério Público, Congresso, empresariado, mercado, mídia foram tomados pela mais medíocre geração de dirigentes da história. Suas lideranças estão preocupadas em preservar interesses miúdos, de curto prazo, eximir-se de responsabilidades em relação ao país.
A tentativa de dourar Michel Temer com a aura de estadista tem sido um fiasco. O próprio Delfim Neto apelou para que Temer esquecesse sua vida até agora e começasse a interpretar daqui por diante o papel de estadista. Lembra um clássico do cinema italiano, com Vitorio De Sicca: "De crápula a herói".
Não dá. Falta ao interino não apenas biografia como competência mínima para se locomover no palco do poder.
Além disso, Temer pode esquecer seu passado, mas ele voltará periodicamente a bater em sua porta.
Por outro lado, o processo do impeachment está sendo o catalizador de uma movimentação política inédita, uma redefinição de valores e formas de organização que irão dominar o processo político-eleitoral pelas próximas décadas.
Nesse período consolidaram-se as novas formas de organização, os coletivos, ao lado dos movimentos sociais, fazendo-se ao largo da estrutura hierarquizada de sindicatos e partidos políticos. Essa mesma horizontalidade se revela na notícia, com as redes sociais tornando-se cada vez mais influentes com seus múltiplos filtros substituindo o filtro único da mídia.
As ideias-chaves do que se imagina ser esquerda ou direita estão sendo plasmadas nestes períodos turbulentos. Assim como as preocupações centrais dos que zelam pelo aprimoramento da democracia.
Temas dos próximos anos
Controle da mídia
A fórmula trazida por Roberto Civita e protagonizada pela Rede Globo definitivamente extrapolou. Deve-se aos grupos de mídia não apenas a deposição de uma presidente eleita, como o agravamento inédito da crise, a apologia do ódio e a subversão das notícias. A aposta no quanto pior melhor tornou-se marca muito forte da mídia.
 A apropriação da política pelos grupos de mídia, o uso das campanhas extenuantes de fogo de exaustão contra os aliados, finalmente fez com que o Brasil se equiparasse à Venezuela e à Argentina.
Hoje em dia, para pelo menos 30% do país o controle da mídia tornou-se bandeira central. A ideia do controle econômico da mídia, nos moldes de qualquer país civilizado, será substituída por uma guerra permanente entre partidos de esquerda e grupos de mídia.
Curiosamente, a esquerda sempre teve posições nacionalistas, em oposição ao internacionalismo da direita. Mas, nesse caso, certamente abrirão os braços para os grupos estrangeiros que começam a invadir o espaço com jornalismo de alta qualidade – como o El Pais e a BBC.
O poder do MPF
Os abusos dos vazamentos da Lava Jato criaram um ambiente de completa subversão política. Delegados, procuradores, vazam à vontade, vaza-se em Brasília e sempre de forma seletiva. Apenas quando o dedo de Gilmar Mendes apontou em sua direção, o PGR Rodrigo Janot manifestou-se sobre o tema.
No começo, os vazamentos eram encarados como abusos funcionais. A partir de janeiro de 2016, ficou nítido seu propósito político e a invasão da política por pessoas investidas de poder de Estado recorrendo a práticas ilícitas: vazamentos de informação de inquéritos sob sigilo.
Passada a onda Lava Jato, não se tenha a menor dúvida sobre um conjunto de medidas visando reduzir o poder de manipulação política da Polícia Federal e do Ministério Público, em cima do vazamento de inquéritos. As mudanças focalizarão especialmente a delação premiada e os vazamentos.
As políticas sociais e a inclusão
É o tema que delimita mais nitidamente o pensamento de esquerda e de direita ou, mais que isso, o pensamento contemporâneo e o pensamento ultraconservador de grupos religiosas e de ultradireita. Por aqui abre-se espaço para alianças mais amplas do que aquelas de cunho mais ideológico.
A luta de classes
Nas últimas décadas, houve dois movimentos paralelos de ascensão. Na classe média incluída, o aparecimento das primeiras gerações de PhDs, poliglotas, muitos com cursos no exterior, que trouxeram um sentimento de classe superior para todos os setores do país, dos jornais ao serviço público, na forma dos concurseiros.
Mudou a natureza de muitas organizações, na medida em que passaram a ser povoadas com essas gerações de vezo internacionalista, tendo a perspectiva de mundo.
Ao mesmo tempo houve uma ampliação das organizações sociais, entendendo a luta política fundamentalmente como disputa de classes.
A maneira escancarada como a atual junta aboletou-se no poder exibiu didaticamente a forma como se dá a disputa pelo bolo do orçamento. A aliança entre sanguessugas políticos, do mercado, das corporações públicas e da mídia, constituíram-se em curso intensivo sobre as disputas de classe em torno do orçamento.
Esse componente será cada vez mais forte nas disputas políticas, trazendo o chamado efeito Orloff: nós seremos a Argentina e a Venezuela de hoje, cada vez mais radicalizados.
A tentação do arbítrio
Dois fatores levarão à tentação do arbítrio.
O primeiro, a enorme dificuldade da direita em apresentar um projeto de país minimamente defensável. Com o discurso do ódio, antissocial, jamais a direita será uma alternativa eleitoral competitiva – incluindo aí seu lado mais depauperado, do PSDB. Quem não se sustenta pelos votos, precisa encontrar outros caminhos.
O segundo fator é a dispersão de poder.
O interino Michel Temer tem apostado nesse caminho. Nos últimos dias o general chefe do Gabinete de Segurança Institucional Sérgio Etchegoyen, passou a investigar até a movimentação de Lula. Enquanto o Ministro da Justiça Alexandre de Moraes tenta fincar pontes com a Lava Jato, em torno da bandeira do "delenda Lula".
Esse tipo de jogo não prosperará, devido à pouca dimensão política de Temer e devido à composição extraordinariamente corrupta dos condôminos do poder. Mas certamente estimulará em muito candidaturas bonapartistas nas próximas eleições. O caminho está aplainado para uma candidatura populista autoritária, tipo Ciro Gomes.
O aprofundamento da democracia
Paradoxalmente, a ânsia por uma liderança forte será acompanhada também por um aumento na sede de participação. O país já experimentou formas embrionárias de participação, com as Conferências Nacionais, conselhos etc. Esse modelo foi deixado de lado no governo Dilma e sob liquidação no governo interino. Mas, com o grau atual de diversidade e sofisticação da sociedade brasileira, haverá uma demanda crescente por participação.

O xadrez da democracia em falência, por TamosainoGGN

A democracia assim como o corpo humano tem mecanismos de defesa contra infecções, agressões, falhas de órgãos, situações extremas. Comparo a situação atual e dos últimos anos de nossa democracia com a de um paciente com falência múltipla de órgãos. Nem o Executivo, nem o Judiciário, muito menos o Legislativo estão conseguindo defender a democracia. No caso do Legislativo, ele está agindo até como elemento agressor. A bipolaridade do Judiciário é outro fator de instabilidade. De um lado (e só desse lado) hiperativo e ultrapassando os limites da lei e do razoável. Do outro, é de uma passividade que beira a conivência e a irresponsabilidade. O Executivo, em parte pelo cerceamento provocado pelo Legislativo e Judiciário apresentou-se abúlico (por favor não me falem em Republicanismo, isso é outra coisa) durante anos, abrindo ainda mais espaço para as agressões à democracia. Para completar o quadro, o 4º. poder, a mídia hegemônica impede que a maioria se informe de forma equilibrada e pluralista. Pelo contrário, criou um país midiotizado, com baixa autoestima e intolerante.
Temos, então, uma situação de impasse. Não vai ser com medidas "impopulares" de um grupo golpista sem respaldo popular que vamos sair dessa falência generalizada de órgãos. Isso pode parar totalmente um país que já está em marcha lenta, com consequências imprevisíveis. Essas consequências podem gerar até uma caça aos políticos como aconteceu na Argentina pós-Menem. Tampouco com tentativas de Dilma de se contrapor a um Congresso hostil, majoritário e agressor da democracia. Pode ser que se o Lula assumir um papel bem especial no governo as coisas mudem. Ele tem capacidade política e carisma para tentar mudar o jogo. Sem Lula, vai ficar quase impossível. Os golpistas vão caçá-lo ainda mais para evitar que ele mude o jogo.  Na votação funesta de 17 de abril, a maioria do Congresso já deixou claro que é despreparada, provinciana, corrupta e incapaz de perceber a seriedade do momento. Talvez prefiram deixar a democracia morrer a pagarem por seus crimes. 
O Judiciário, através do STF, poderia fornecer anticorpos contra essa doença, mas parece preferir a postura de avestruz e a falência generalizada da democracia, alegando a independência dos poderes. Mas quem o Congresso representa com Cunha e seus apaniguados? Vai deixar o Cunha estabelecer uma cleptocracia? No poder ele, seus golden boys e Temer podem até mesmo criar leis que retirem poder do Judiciário. Se não agirem logo, podem perder o bonde.