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Slogans de governos


Slogans refletem a tônica dos governos republicanos
Como é praxe na política, os governos brasileiros tentaram resumir seus planos para o país em boas frases de efeito. No início, eram apenas declarações que acabaram pegando. Com a profissionalização da propaganda oficial, os bordões viraram verdadeiros slogans. No conjunto, eles resumem a história da República.
1898 - “Nossa vocação é agrícola”
A frase foi proferida por Joaquim Murtinho, ministro da Fazenda do governo de Campos Salles. Ela defendia a agricultura como um todo e a cafeicultura de forma mais específica – e deixava clara qual era a prioridade da política nacional. Era o início da república do “café-com-leite”, com o país na mão das oligarquias mineira e paulista.
1926 - “Governar é abrir estradas”
Tempos antes, na virada do século, o Brasil fez fortuna com o ciclo da borracha, de carona na explosão da produção mundial de carros. O fim da hegemonia agrícola era inevitável. Isso foi percebido por Washington Luís. Ele já usara o slogan entre 1920 e 1924, quando governou São Paulo e abriu 1 326 quilômetros de estradas.
1953 - “O petróleoé nosso”
Getúlio Vargas, que já tinha virado o “pai dos pobres” com a Consolidação das Leis do Trabalho, na época de sua ditadura nos anos 1930, reforçou o nacionalismo econômico – desta vez, em seu governo democrático. Nos anos 1950, uma campanha que tinha como base a intervenção estatal levou à criação da Petrobras, que foi o pilar de seu projeto de desenvolvimento.
1956 - “50 anos em 5”
O lema da campanha presidencial de Juscelino Kubitschek referia-se aos cinco pontos do Plano de Metas, seu projeto desenvolvimentista: energia, transportes, indústria de base, alimentação e educação. Outra idéia presente nele era a de recuperar o tempo perdido. Construir Brasília representava dois ideais importantes: modernidade e integração nacional. O slogan mirava também em outra leitura: “50 anos de progresso em 5 de governo”.
1960 - “Varre, varre, vassourinha”
Durante a construção de Brasília, a UDN, partido de oposição a JK, fez várias acusações de desvios de verba e corrupção do governo. Nas eleições de 1960, Jânio Quadros se apresentou para limpar o país com o jingle da vassoura e acabou eleito. Sete meses e várias medidas impopulares depois (como a proibição de as mulheres usarem biquínis na praia), ele renunciou.
1970 - “Ame-o ou deixe-o”
O país vivia um momento ambíguo. Era o auge da repressão, sob a ditadura de Emilio Garrastazu Médici. Ao mesmo tempo, um momento de orgulho para a população, com o “Pra Frente, Brasil” do tricampeonato na Copa do Mundo de futebol e do milagre econômico. Em tom de ameaça, o slogan chamava quem estava contente para o seu lado e desencorajava a oposição.
1985 - “Tudo Pelo Social”
A saída do presidente João Figueiredo põe fim a 21 anos de ditadura militar e a tão aguardada democracia traz ao povo brasileiro de volta a esperança de igualdade social. O slogan do presidente José Sarney procurava corresponder a esse sentimento, que acabou naufragando junto com o plano do governo para controlar a inflação, o Cruzado.
1993 - “Brasil, união de todos”
Ao se manifestar contra Fernando Collor, a opinião pública não deixou opção para o Congresso no processo de impeachment do presidente. Depois desse turbilhão, o slogan de governo de Itamar Franco, vice-presidente empossado, pretendia homenagear o povo que, pela primeira vez na história do país, acabara de tirar do poder um presidente acusado de corrupção.
2001 - “Avança, Brasil”
Com a inflação sob controle, o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso lança o plano “Avança, Brasil”. Um dos principais objetivos era a geração de empregos – mas a manutenção da estabilidade econômica, forçada em contrato com o FMI, acabou sendo a grande prioridade. O nome do plano acaba virando um dos lemas do governo (o outro era “Brasil em ação”).
2004 - “ Brasil, país de todos”
O slogan oficial do governo Lula é “Brasil, país de todos”. Mas ele apóia formalmente a campanha “Eu sou brasileiro e não desisto nunca”, da Associação Brasileira de Anunciantes. A frase acabou sendo usada ironicamente em referência ao próprio presidente, que concorreu quatro vezes ao planalto e agora enfrenta denúncias de corrupção.
2011 - País rico é país sem miséria
O slogan da presidente Dilma enfatiza a necessidade de combater a pobreza tendo como base a distribuição de renda.

Quem está mentindo, o jornalista ou o senador?

Sábado próximo passado (16/06), o senador Ciro Nogueira (PP-PI) usou o Twitter para se defender das acusações de um encontro na França com Fernando Cavendish, investigado por supostas relações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Membro da CPI que cuida do caso, o parlamentar piauiense acusa outros parlamentares e desafiou o jornalista Jorge Bastos Moreno, de O Globo, que também denunciou um suposto encontro no Rio de Janeiro monitorado pela Polícia Federal. 

Pig e companhia: versão atual da inquisição



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O arquivamento do processo contra o ex-ministro dos Esportes Orlando Silva pela Comissão de Ética da Presidência da República nesta semana merecia, no mínimo, destaque na imprensa igual ao que tiveram as denúncias sem provas publicadas contra ele. Desde outubro de 2011, o ex-ministro e seu partido, o PC do B, foram atacados e julgados politicamente, em uma campanha suja.

Onde está a legislação que garanta o direito de resposta no Brasil? A quem os atingidos pelas falsas acusações podem recorrer, além da Justiça, que muitas vezes é lenta e, sem uma legislação adequada, não tem parâmetros para tomar suas decisões? O Brasil tem que avançar nisso, como parte do processo de amadurecimento da nossa democracia.

Como afirmei neste blog ontem, que o episódio sirva de alerta a todos os que embarcaram nas denúncias vazias e carnaval feito pela mídia contra o ex-ministro dos Esportes. E que seu legado nos Esportes – COPA e Olimpíadas incluídas – jamais seja esquecido.

Da conversa que tivemos ontem, separei os seguintes trechos para vocês saberem como o ex-ministro analisa a campanha de que foi vítima, como foram esses últimos meses em sua vida e como ele está encarando o seu futuro politico neste momento. Continua>>>

Vamos rir um pouco

Show de éti[ti]ca na [IN]veja.


 Eurípedes Alcântara, Diretor de Redação de VEJA
“Uma informação de qualidade é verificável, relevante, tem interesse público e coíbe a ação de corruptos.”
“A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações. Entrevistar o papa não nos faz santos. Ter um corrupto como informante não nos corrompe.”
Essa é mais profunda
“O bom jornalismo é uma atividade de informação mediada. O jornalista não é um mero repassador de declarações. Ele tem o poder discricionário de não publicar uma acusação ou uma ofensa grave
Essa não dá pra acreditar:
“A regra para lidar com gravações ilegais que registraram atividades de cidadãos ou empresas privadas em seus negócios particulares é: descartar sem ouvir ou assistir – ou, alternativamente, entregá-las às autoridades.”
Fechando com chave de ouro:
“As informações são tratadas em VEJA como portas que se abrem para a obtenção de novas informações. Todas elas são checadas.”
( gargalhadas)

As coisas são assim


por Marcos Coimbra, em CartaCapital, sugestão de Julio Cesar Macedo Amorim
A cobertura de nossa “grande imprensa” da atualidade política gira em torno de três equívocos. Por isso, mais confunde que esclarece.
Os três decorrem da implicância com que olha o governo Dilma Rousseff, o PT e seus dirigentes. A mesma que tinha em relação a Lula quando era presidente.
Há, nessa mídia, quem ache bonito – e até heróico – ser contra o governo. E quem o hostilize apenas por simpatizar com outros partidos. Imagina-se uma espécie de cruzada para combater o “lulopetismo”, o inimigo que inventaram. Alguns até sinceramente acreditam que têm a missão de erradicá-lo.
Não é estranho que exista em jornais, revistas, emissoras de televisão e rádio, e nos portais de internet, quem pense assim, pois o mundo está cheio deles. E seria improvável que os empresários que os controlam fossem procurar funcionários entre quem discorda de suas ideias.
Até aí, nada demais. Jornalismo ideológico continua a ser jornalismo. Desde que bem-feito e enquanto preserve a capacidade de compreender o que acontece e informar o público. O problema da “grande imprensa” é que suas antipatias costumam levá-la a equívocos. Como os três de agora. Vejamos:
O Desespero de Lula
Pode haver suposição mais sem sentido do que a de que Lula esteja “desesperado” com o julgamento do mensalão?
Ele venceu as três últimas eleições presidenciais, tendo tido na última uma vitória extraordinária. Só ele se proporia um desafio do tamanho de eleger Dilma Rousseff.
Hoje, em qualquer pesquisa sobre a eleição de 2014, atinge mais de 70% das intenções de voto, independentemente dos adversários.
Seu governo é considerado o melhor que o Brasil já teve por quase três quartos do eleitorado, em todos os quesitos: economia, atuação social, política externa, ecologia etc. (sem excluir o combate à corrupção).
O mensalão já aconteceu e foi antes que galvanizasse a imagem que possui. Lula tem, portanto, esse conceito depois de passar pelo escândalo. O ex-presidente não tem nenhuma razão para se importar pessoalmente com o julgamento do mensalão. Muito menos para estar “desesperado”.
O que ele parece estar é preocupado com alguns companheiros, pois sabe que existe o risco de que sejam punidos, especialmente se o Supremo Tribunal Federal for pressionado a condená-los. Solidarizar-se com eles – e fazer o possível para evitar injustiças – não revela qualquer “desespero”.
A Batalha Paulista
Não haverá um “enfrentamento decisivo” na eleição para prefeito de São Paulo. Nada vai mudar, a não ser se a gestão local, se José Serra, ou Fernando Haddad, ou Gabriel Chalita sair vitorioso.
Como a “grande imprensa” está convencida de que José Serra vai ganhar – o que pode ser tudo, menos certo -, a eleição está sendo transformada em um “teste” para Lula, o PT e o governo Dilma. Ou seja, quem “nacionaliza”a disputa é a mídia. Apenas porque acha que Haddad vai perder. Se Serra vencer, o PSDB não aumenta as chances de derrotar Dilma (ou Lula) em 2014. Caso contrário, terá sua merecida aposentadoria. O melhor que os tucanos podem tirar da eleição paulista é a confirmação da candidatura de Aécio Neves.
Quanto ao PT e ao PMDB, vencendo ou perdendo, saem renovados. No médio e no longo prazo, ganham. Por enquanto, a mídia está feliz. Cada pesquisa em que Haddad se sai mal é motivo de júbilo, às vezes escancarado. Quando subir, veremos o que vai dizer.
É a Economia, Estúpido
Sempre que pode, essa mídia repete reverentemente a trivialidade que consagrou James Carville, o marqueteiro que cuidou da campanha à reeleição de Bill Clinton.
Lá, naquele momento, foi uma frase boa.
Aqui, não passa de um mantra usado para desmerecer o apoio popular que Lula teve e Dilma tem. Com ela, pretende-se dizer que “a economia é tudo”. Que, em outras palavras, a população, especialmente os pobres, pensa com o bolso. Que gosta de Lula e Dilma por estar de barriga cheia.
Com base nesse equívoco, torce para que a “crise internacional”ponha tudo a perder. Mas se engana. É só porque não compreende o País que acha que a economia é a origem, única ou mais importante, da popularidade dos governos petistas.
Nos últimos meses, a avaliação de Dilma tem subido, apesar de aumentarem as preocupações com a inflação, o emprego e o consumo. E nada indica que cairá se atravessarmos dificuldade no futuro próximo.
Lula não está desesperado com o julgamento do mensalão. Se Serra for prefeito de São Paulo, nada vai mudar na eleição de 2014. As pessoas gostam de Dilma por muitas e variadas razões, o que permite imaginar que continuarão a admirá-la mesmo se tiverem de adiar a compra de uma televisão.
Pode ser chato para quem não simpatiza com o PT, mas é assim que as coisas são.

A marcha dos marcianos


por Mino Carta, em CartaCapital


Recebi de um leitor a imagem que ilustra este editorial. Primeira página de O Globo pós-golpe de 1964, Presidência interina de Ranieri Mazzilli, enquanto os donos do poder e seus gendarmes decidem o que virá. Treze dias depois o então presidente da Câmara volta a seu assento de congressista e a ditadura é oficialmente instalada. Comentário do amável leitor: eis aí os defensores midiáticos da democracia sem povo.


De fato, acabava de ser desferido um golpe de Estado, mas seus escribas, arautos e trompetistas declamam e sinfonizam a história oposta. O marciano que subitamente descesse à Terra, diante da página de O Globo, e de todas as dos jornalões, acreditaria que o Brasil vivera anos a fio uma ditadura e agora assistia à sua derrubada. Em editorial, nosso colega Roberto Marinho celebrava: “Ressurge a Democracia!”


É o jornalismo nativo em ação, entre a ficção e o sonho, a hipocrisia e a prepotência, sempre na sua função de chapa-branca da casa-grande. Vaticinava a invasão bárbara da marcha da subversão, passou, entretanto, a Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade. A Marcha dos Marcianos, me arrisco a dizer. Não é que faltassem entre os marchadores os hipócritas e os prepotentes. A maioria, contudo, era marciana. Só mesmo um alienígena para acreditar em certos, retumbantes contos da carochinha.


Agora, observem. Quarenta e oito anos depois, a Marcha dos Marcianos ainda desfila, sem deixar de arrolar hipócritas e prepotentes. Ocorre que muitas mudanças aconteceram neste tempo longo. Inúteis ferocidades e desmandos a ditadura praticou, para esvair-se em suas próprias contradições enquanto fermentava a fortuna de empreiteiros, banqueiros e barões midiáticos. A pretensa redemocratização teve seus lances de ópera-bufa. Collor foi louvado por abrir os portos, mas cobrou pedágios nunca vistos. O governo tucano quebrou o País três vezes.


Fernando Henrique Cardoso contou de fio a pavio com os aplausos febris da mídia, seduzida pelo príncipe dos sociólogos disposto, oh, surpresa, a encarnar as preferências da reação, impávido ao conduzir a privataria tucana e a comprar congressistas para garantir a reeleição. A vitória de Lula é o divisor de águas, não somente porque um homem dito do povo chegou ao trono, mas também em virtude de um governo que elevou o teor de vida dos setores menos favorecidos da população e ganhou prestígio internacional nunca dantes navegado. A presidenta Dilma garante a continuidade. Para entender melhor, leiam nesta edição a coluna Vox Populi de Marcos Coimbra.


Sim, os bairros ricos, alguns dubaienses, ainda pululam de marcianos, assinantes fiéis e parvos dos jornalões, sem falar das pilhas de Veja que abarrotam no fim de semana os saguões dos seus prédios. Não enxergo, porém, a maioria dos brasileiros debruçados sobre estes textos sagrados e consagrados pela chamada classe A e parte da B. É possível que os da maioria ainda não tenham atingido o grau adequado de consciência da cidadania, de resto incomum em geral, mas estão maciçamente com Dilma como estiveram com Lula. E, quem sabe, pouco se preocupem com os destinos do processo do mensalão.


Leio e ouço até agora que a questão incomoda sobremaneira tanto Lula quanto Dilma, e que a CPI do Cachoeira foi excogitada para desviar as atenções da Nação. CartaCapital entende que é do interesse geral, inclusive do PT, que o julgamento se faça o mais rapidamente possível e que o assunto seja finalmente encerrado por sentença justa.


Insistimos na convicção de que o mensalão, conforme a denúncia original de Roberto Jefferson, como mesada oferecida a um certo número de congressistas, não será provado. Outros crimes, acreditamos, terão prova. Crimes igualmente gravíssimos, uso de caixa 2, lavagem de dinheiro, aquele que o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos recebe do contraventor Cachoeira para defendê-lo. CartaCapital arrisca-se a prever condenações óbvias, e nem tanto, e espera que o conspícuo envolvimento do banqueiro Daniel Dantas venha à tona neste enredo. Difícil imaginar como a mídia se portará ao cabo. Vale acentuar apenas o silêncio que manteve sem pestanejar diante dos “mensalões” tucanos.

171 ridículo da Óia


No centro do furacão desde que vieram à tona suas relações no mínimo pouco éticas com os bandidos da quadrilha de Carlinhos Cachoeira, a revista Veja parece ter perdido toda a noção de ridículo. Sua capa desta semana é uma farsa: o “documento” que a semanal da Abril alardeia ter sido produzido pelo PT como estratégia para a CPI de Cachoeira é, na verdade, um amontoado de recortes de reportagens de jornais, revistas e sites brasileiros.
O tiro no pé de Veja. Foto: Reprodução
Confira neste link (clique AQUI) os fac-símiles do suposto “documento” que a revista apresenta com “exclusividade” e compare com os outros links no decorrer deste texto.
Segundo a revista, os trechos que exibe fariam parte de um “documento preparado por petistas para guiar as ações dos companheiros que integram a CPI do Cachoeira”. Mas são na realidade pedaços copiados e colados diretamente (o manjado recurso Ctrl C+ Ctrl V dos computadores) de reportagens de terceiros, sem mudar nem uma vírgula. O primeiro deles: “Uma ala poderosa da Polícia Federal, com diversos simpatizantes nos meios de comunicação, não engole há muito tempo o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal” saiu de uma reportagem de 6 de abril do site Brasil 247, um dos portais de notícia, aliás, que os colunistas online de Veja vivem atacando com o apelido de “171″ (número do estelionato no código penal). Mas quem é que está praticando estelionato com os leitores, no caso? (confira clicando AQUI).
Outro trecho do “documento exclusivo” de Veja é um “copiar e colar” da coluna painel daFolha de S.Paulo do dia 14 de abril: “Gurgel optou por engavetar temporariamente o caso. Membros do próprio Ministério Público contestam essa decisão em privado. Acham que, com as informações em mãos, o procurador-geral tinha de arquivar, denunciar citados sem foro privilegiado ou pedir abertura de inquérito no STF”. (Confira AQUI)
Mais um trecho do trabalho de jornalismo “investigativo” com que a Veja brinda seus leitores esta semana: “Em uma conversa entre o senador Demóstenes Torres e o contraventor Carlinhos Cachoeira, gravada pela Polícia Federal (…)”, é o lead de uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo do dia 28 de abril (leia AQUI).
Pelo visto, os espiões da central Cachoeira de arapongagem, que grampeavam pessoas clandestinamente para fornecer “furos” à Veja, estão fazendo falta à semanal da editora Abril…

de Cynara Menezes na Carta Capital

Petralha-Mor ataca Liberdade de Imprensa

[...] “não há como regular adequadamente a democracia sem regular adequadamente os meios de comunicação”.   
Fernando Henrique Cardoso

Cachoeira e o Pig

por Washington Araujo

A imprensa tem longa experiência na cobertura de Comissões Parlamentares de Inquérito. Em temporada de CPI é patente o manancial (pensei em escrever cachoeira) de informações a preencherem páginas de jornais e revistas, em casos que a imprensa elege como “por demais clamorosos”; cadernos especiais são criados, assim como é inventada uma logomarca.

O assunto é mais ou menos reverberado nos meios de comunicação de acordo com o grau das pessoas e instituições investigadas. Em um hipotético termômetro de interesse midiático podemos inferir que se o investigado é o governo federal – principalmente os dos últimos quadriênios – é certeza absoluta de que donos de jornais e revistas, redatores-chefes, editores e colunistas de plantão atuarão como se tivessem mandato parlamentar, engrossando ainda mais a lista de investigadores, elencando diariamente novos alvos de investigação, preparando conexões ou meras ilações entre esse e aquele personagem, esta e aquela empresa.

Formam, por assim dizer, o esquadrão midiático voluntário em apoio aos trabalhos da CPI. Não são remunerados, ao menos diretamente, por seu trabalho que, longe de ser gracioso, é regiamente pago, mas de maneira indireta, através da minutagem que os temas de sua predileção terão na escalada de telejornais, do espaço nas capas e cadernos de jornais e revistas.

O nosso e o dos outros

O braço midiático das CPIs sabe muito bem que não existe almoço grátis. E seu trabalho investigativo é tão isento quanto a defesa que faz o agronegócio da preservação do meio ambiente, propugnando pesadas multas pecuniárias a seus congêneres desmatadores. Muito ao contrário, a imprensa não é isenta e chama para si o direito de oferecer à opinião pública quem são os mocinhos e os bandidos, antes, muito antes de a CPI se encaminhar para seus desdobramentos finais.

É prática de boa parte da imprensa pecar por excesso de protagonismo: publica avalanchas de sinais como se fossem evidências robustas de culpabilidade. E, ao mesmo tempo, peca por excesso de omissão: deixa de publicar o que possa estar em contradição com o veredicto esposado pela publicação, ou pela rede de televisão. Em algumas CPIs a omissão chega a ser criminosa. É como se estivessem permanentemente em sala de edição, cortando o que não deve vir a público e criando a realidade que precisa vir à luz.

A Comissão Parlamentar de Inquérito recém instalada tem em sua essência algo que destoa por completo das muitas que lhe antecederam. É o ineditismo de, pela primeira vez neste país, a imprensa vir a se tornar alvo de investigação. E, então, temos um rosário de coisas inéditas. Primeiro, não é a imprensa que está na bica para ser investigada. É, tão somente, o jornalista Policarpo Junior, da sucursal da revista Veja, em Brasília. Mas, para a imprensa, é seu teste ético de força: devemos todos nos posicionar em defesa de Veja ou deixá-la aos humores, talentos e habilidades dos parlamentares que atuam na CPI?

É, certamente, o caso mais escancarado de corporativismo jamais visto no país – isto para resgatar a frase tantas vezes usada de maneira jocosa pelos luminares que pontificam na mídia. O que deveria se circunscrever a uma única revista semanal, terminou por transbordar e se transformar em bandeira de luta bem ao estilo “mexeu em um, mexeu em todos”. E, no entanto, não faz muito o corporativismo era o inimigo número 1 da imprensa, não importando se surgisse na defesa de desembargadores graduados de tribunais superiores, nas direções gerais da banca financeira ou nas presidências das empreiteiras, menos ainda se surgisse nas hostes da segurança pública. Agora, vemos que o corporativismo mau é aquele praticado pelos outros, o nosso pode até parecer, mas nem mesmo chega a ser corporativismo. Atende por outro nome: defesa da liberdade de imprensa.

Direito de condenar

Ainda assim, é uma liberdade de imprensa seletiva. O império midiático não se fecharia em copas em defesa de jornalistas que fossem flagrados em conversas como as reunidas nos propalados 200 grampos telefônicos, obtidos com autorização judicial, de conversas entre o editor de Veja e o notório meliante Carlos Cachoeira. Alguém, em sã consciência, imaginaria o movimento da Editora Abril em franca ação de autodefesa, angariando flamejantes editoriais de O Globo e defesas não menos enfáticas de sua ética jornalística por parte de jornais como o Estado de S.Paulo e a Folha de S.Paulo? Seria crível ação dessa envergadura se atropelados em escutas telefônicas estivessem jornalistas como Mauro Santayanna, Mino Carta e Ricardo Kotscho?

A resposta é não por dois motivos. Primeiro, porque seria impensável que um desses três decanos da imprensa brasileira protagonizassem conversas de tão baixo calibre, próprias do submundo do crime organizado. Segundo, porque ao invés de serem defendidos, seriam condenados sem dó nem piedade pela grande imprensa. Direito de defesa? Apenas para os nossos. Para os demais, reservamo-nos o direito de acusar, condenar e zelar pelo fiel e rigoroso cumprimento da pena.

As próximas semanas serão reveladoras de como a imprensa se porta quando é ela que cobre a CPI – e quando a própria passa a ser coberta por uma CPI. Este é o ponto.

A revistinha e o rôbo que não era rôbo


A revista lisérgica: Lucy in the Sky


A revista “Veja”, antes da curiosa parceria com o bicheiro Cachoeira, era conhecida pela criatividade. Não deixa de ser uma boa qualidade no jornalismo: textos, títulos, ilustrações criativas são sempre benvindos. Desde que se baseiem em fatos.

Fatos não são o forte de “Veja”: dólares para o PT trazidos em caixas de whisky (que ninguém nunca viu), contas no exterior de gente ligada ao lulismo (jamais  encontradas, mas noticiadas como verdadeiras), queda de Hugo Chavez em 2002 (comemorada antes da hora,  com uma capa vergonhosa), grampo sem áudio (hoje, graças a outros grampos com áudio do esquema cachoeira, sabe-se porque o grampo sem áudio virou notícia na “Veja”)…

A lista é enorme, e não se restringe à política.  A “Veja” é crédula. Acreditou no Boimate (o episódio, ridículo, foi estrelado por um rapaz chamado Eurípedes Alcântara, então editor de “Ciência” da revista), uma brincadeira de primeiro de Abril de uma agência internacional. Por contade tanta credulidade, a revista noticiou como verdadeio o cruzamento de boi com tomate. Genial. Tão genial que o rapaz depois viraria diretor de redação da revista.

A “Veja” – é bom lembrar – acredita em recomendar remédios (milagrosos) para emagrecer, na capa. De forma irresponsável. O remédio na verdade serve para diabetes, e sumiu das prateleiras. Uma história até hoje mal explicada.

A revista mais vendida do país, com pouco apego aos fatos, tornou-se também sisuda, malcriada, irascível. O fígado dos Civita e de seus rapazes deve doer demais. Eles deveriam relaxar um pouco.  Na última edição até que tentaram. Para responder às críticas avassaladoras contra a estranha parceria Abril-Cachoeira - que levaram “Veja”, 4 semanas seguidas,  para os “TTs” no twitter – os editores decidiram atacar. Acusaram o PT (Globo e Veja são os únicos órgaõs de comunicação do país, na companhia do Professor Hariovaldo, que acreditam piamente na existência dos “radicais do PT”) de comandar uma campanha orquestrada no twitter.

O malvado Rui Falcão (presidente do PT) teria chefiado tudo. Utilizando, vejam só, perfis falsos no twitter. Ou seja: os radicais lulopetistas utilizaram “robots” para atacar a revista dos homens bons da pátria. A “Veja” faz bem em gritar. Radicais! Mosquitos stalinistas! Formigas esquerdistas! Quem sabe esses gritos diminuam o ruído da cachoeira… Um dos “robots” lulopetistas a “Veja” decidiu nomear: tem o nome sugestivo de @Lucy_in_Sky_.

Pois bem. O twitteiro @página2 decidiu fazer o que Veja não gosta de fazer: checar informações. Descobriu que @Lucy_in_Sky_ existe sim! A entrevista da twitteira – que existe, contra a vontade da revista – pode ser lida Aqui

A tucademopiganalhada chapa-branca

O jornaleco O Globo toma as dores da rivistinha [in]Veja e de seu patrão na edição de terça 8, e determina: “Roberto Civita não é Rupert Murdoch”. Em cena, o espírito corporativo. Manda a tradição do jornalismo pátrio, fiel do pensamento único diante de qualquer risco de mudança.

Desde 2002, todos empenhados em criar problemas para o governo do metalúrgico desabusado e, de dois anos para cá, para a burguesa que lá pelas tantas pegou em armas contra a ditadura, embora nunca as tenha usado. 

Os barões midiáticos detestam-se cordialmente uns aos outros, mas a ameaça comum, ou o simples temor de que se manifeste, os leva a se unir, automática e compactamente.  Continua>>>

Eternos chapas brancas


O jornal O Globo toma as dores da revista Veja e de seu patrão na edição de terça 8, e determina: “Roberto Civita não é Rupert Murdoch”. Em cena, o espírito corporativo. Manda a tradição do jornalismo pátrio, fiel do pensamento único diante de qualquer risco de mudança.

Desde 2002, todos empenhados em criar problemas para o governo do metalúrgico desabusado e, de dois anos para cá, para a burguesa que lá pelas tantas pegou em armas contra a ditadura, embora nunca as tenha usado. Os barões midiáticos detestam-se cordialmente uns aos outros, mas a ameaça comum, ou o simples temor de que se manifeste, os leva a se unir, automática e compactamente.

Não há necessidade de uma convocação explícita, o toque do alerta alcança com exclusividade os seus ouvidos interiores enquanto ninguém mais o escuta. E entra na liça o jornal da família Marinho para acusar quem acusa o parceiro de jornada, o qual, comovido, transforma o texto global na sua própria peça de defesa, desfraldada no site de Veja. A CPI do Cachoeira em potência encerra perigos em primeiro lugar para a Editora Abril. Nem por isso os demais da mídia nativa estão a salvo, o mal de um pode ser de todos.

O autor do editorial exibe a tranquilidade de Pitágoras na hora de resolver seu teorema, na certeza de ter demolido com sua pena (imortal?) os argumentos de CartaCapital. Arrisca-se, porém, igual a Rui Falcão, de quem se apressa a citar a frase sobre a CPI, vista como a oportunidade “de desmascarar o mensalão”. Com notável candura evoca o Caso Watergate para justificar o chefe da sucursal de Veja em Brasília nas suas notórias andanças com o chefão goiano.

Abalo-me a observar que a semanal abriliana em nada se parece com o Washington Post, bem como Roberto Civita com Katharine Graham, dona, à época de Watergate, do extraordinário diário da capital americana. Poupo os leitores e os meus pacientes botões de comparações entre a mídia dos Estados Unidos e a do Brasil, mas não deixo de acentuar a abissal diferença entre o diretor de Veja e Ben Bradlee, diretor do Washington Post, e entre Policarpo Jr. e Bob Woodward e Carl Bernstein, autores da série que obrigou Richard Nixon a se demitir antes de sofrer o inevitável impeachment. E ainda entre o Garganta Profunda, agente graduado do FBI, e um bicheiro mafioso.

Recomenda-se um mínimo de apego à verdade factual e ao espírito crítico, embora seja do conhecimento até do mundo mineral a clamorosa ignorância das redações nativas. Vale dizer, de todo modo, que, para não perder o vezo, o editorialista global esquece, entre outras façanhas de Veja, aquele épico momento em que a revista publica o dossiê fornecido por Daniel Dantas sobre as contas no exterior de alguns figurões da República, a começar pelo presidente Lula.

Concentro-me em outras miopias de O Globo. Sem citar CartaCapital, o jornal a inclui entre “os veículos de imprensa chapa-branca, que atuam como linha auxiliar dos setores radicais do PT”. Anotação marginal: os radicais do PT são hoje em dia tão comuns quanto os brontossauros. Talvez fossem anacrônicos nos seus tempos de plena exposição, hoje em dia mudaram de ideia ou sumiram de vez. Há tempo CartaCapital lamenta que o PT tenha assumido no poder as feições dos demais partidos.

Vamos, de todo modo, à vezeira acusação de que somos chapa-branca. Apenas e tão somente porque entendemos que os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma são muito mais confiáveis do que seus antecessores? Chapa-branca é a mídia nativa e O Globo cumpre a tarefa com diligência vetusta e comovedora, destaque na opção pelos interesses dos herdeiros da casa-grande, empenhados em manter de pé a senzala até o derradeiro instante possível.

Não é por acaso que 64% dos brasileiros não dispõem de saneamento básico e que 50 mil morrem assassinados anualmente. Ou que os nossos índices de ensino e saúde públicos são dignos dos fundões da África, a par da magnífica colocação do País entre aqueles que pior distribuem a renda. Em compensação, a minoria privilegiada imita a vida dos emires árabes.

Chapa-branca a favor de quem, impávidos senhores da prepotência, da velhacaria, da arrogância, da incompetência, da hipocrisia? Arauto da ditadura, Roberto Marinho fermentou seu poder à sombra dela e fez das Organizações Globo um monstro que assola o Brazil-zil-zil. Seu jornal apoiou o golpe, o golpe dentro do golpe, a repressão feroz. Illo tempore, seu grande amigo chamava-se Armando Falcão.

Opositor ferrenho das Diretas Já, rejubilado pelo fracasso da Emenda Dante de Oliveira, seu grande amigo passou a atender pelo nome de Antonio Carlos Magalhães. O doutor Roberto em pessoa manipulou o célebre debate Lula versus Collor, para opor-se a este dois anos depois, cobrador, o presidente caçador de marajás, de pedágios exorbitantes, quando já não havia como segurá-lo depois das claras, circunstanciadas denúncias do motorista Eriberto, publicadas pela revista IstoÉ, dirigida então pelo acima assinado.

Pronta às loas mais desbragadas a Fernando Henrique presidente, com o aval de ACM, a Globo sustentou a reeleição comprada e a privataria tucana, e resistiu à própria falência do País no começo de 1999, após ter apoiado a candidatura de FHC na qualidade de defensor da estabilidade. Não lhe faltaram compensações. Endividada até o chapéu, teve o presente de 800 milhões de reais do BNDES do senhor Reichstul. Haja chapa-branca.

Impossível a comparação entre a chamada “grande imprensa” (eu a enxergo mínima) e o que chama de “linha auxiliar de setores radicais do PT”, conforme definem as primeiras linhas do editorial de O Globo. A questão, de verdade, é muito simples: há jornalismo e jornalismo. Ao contrário destes “grandes”, nós entendemos que a liberdade sozinha, sem o acompanhamento pontual da igualdade, é apenas a do mais forte, ou, se quiserem, do mais rico. É a liberdade do rei leão no coração da selva, seguido a conveniente distância por sua corte de ienas.

Acreditamos também que entregue à propaganda da linha auxiliar da casa-grande, o Brasil não chegaria a ser o País que ele mesmo e sua nação merecem. Nunca me canso de repetir Raymundo Faoro: “Eles querem um País de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”. No mais, sobra a evidência: Roberto Civita é o Murdoch que este país pode se permitir, além de inventor da lâmpada Skuromatic a convocar as trevas ao meio-dia. Temos de convir que, na mídia brasileira, abundam os usuários deste milagroso objeto.

Vamos ou não vamos investigar a mídia?


Por Bob Fernandes, no Terra Magazine
Rupert Murdoch é dono de um dos maiores impérios de mídia do mundo. Ele tem centenas de empresas que faturam perto de US$ 30 bilhões/ano. Mesmo com tudo isso, o relatório de uma CPI em andamento na Inglaterra acusa Murdoch de “enganar o Parlamento”.
A CPI britânica concluiu que Murdoch e seu filho, James, fecharam os olhos para crimes cometidos por suas empresas. Entre outros crimes, um dos jornais de Murdoch grampeou os príncipes Harry e William, herdeiros da coroa.
O Brasil começa a viver a CPI do Cachoeira. Não é segredo que a mídia também está no olho do furacão. E que parlamentares querem investigar as relações entre o bicheiro Cachoeira, o senador Demóstenes Torres e a revista Veja. O ex-presidente Lula também acha que se deve investigar essas relações.
Na internet, que no Brasil tem algo como 80 milhões de usuários – estima-se que 48 milhões de usuários diários – o julgamento já começou.
O julgamento na internet dispensa provas. Cada um condena e absolve quem quiser. Bastam a opinião e o desejo de cada um. Como, aliás, tem sido cada vez mais em quase toda a mídia. Já uma CPI tem que investigar, de verdade, e provar. Até para inocentar.
No caso em questão, à parte os fatos que ainda não foram devidamente investigados, algo chama a atenção de parlamentares: como, em anos e anos de relação e de escândalos publicados, não se percebeu que Cachoeira era quem era? E isso, com Cachoeira tendo sido personagem do “Caso Waldomiro”, que anos antes foi noticiado também na mesma revista Veja.
Na mídia, uma reportagem é fruto de decisões coletivas. A cultura é de construções e procedimentos hierarquizados. Portanto, a escolha de bode expiatório é um erro e é injusto. Mas, assim como o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, a mídia pode cometer erros, e comete. E, como ensina agora a Inglaterra, não há porque não examiná-los.
Há outro caso. Talvez até mais grave do que este porque levou a um choque entre poderes. Em 2008, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, foi ao Palácio e interpelou ninguém menos do que o Presidente da República. Mendes chamou Lula “às falas”, segundo suas próprias palavras então.
Gilmar Mendes e Demóstenes Torres se disseram vítimas de um grampo da Abin, conforme capa da mesma revista Veja. A Polícia Federal investigou e não achou vestígio de grampo algum.
Mas, por conta desse grampo que ninguém ouviu, Paulo Lacerda, então diretor da Abin, foi demitido e “exilado” em Portugal. E com o grampo que ninguém sabe e ninguém ouviu, começou-se a enterrar a Operação Satiagraha. Aquela que prendeu o Banqueiro Daniel Dantas.

A mídia, a direita e o jornalismo de esgoto

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Ao ler a Carta Capital que está nas bancas neste sábado sinto-me com a alma lavada. Não só pela capa, brilhante, que coloca a foto de Robert Civita com o título “Nosso Murdoch" (vocês vão ver logo o porquê), mas pela profundidade e pertinência, pela forma inteligente como coloca o debate sobre a questão da mídia e do jornalismo no Brasil. Começo por uma citação de Lorde Puttnam, membro do Partido Trabalhista inglês e que foi presidente da comissão do Parlamento que analisou a Lei de Comunicação de 2003. Lorde Puttnam escreve exatamente sobre como os políticos transformaram-se em reféns de uma mídia que, praticando um tipo de jornalismo de esgoto, graças à fragilidade da regulação e à tibieza dos próprios políticos, acabaram facilitando o trabalho de Murdoch e fortalecendo a direita...Continua>>>

Pig esconde cumplicidade com Cachoeira


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Odair Cunha e Vital do Rego recebem documentos da PF
Este conluio da imprensa com o crime organizado precisa ser investigado. O assunto ronda a CPI do Congresso sobre Carlos Cachoeira, mas praticamente não aparece na mídia tradicional, embora esteja bombando nas redes sociais. A troca de informações e favores entre o grupo do empresário e veículos de imprensa - com destaque para a revista VEJA - precisa ser investigada. A cortina de silêncio que a mídia mantém sobre o assunto tem que ser quebrada. Nesse ponto, a TV Record foi uma exceção quando tratou do tema de forma explícita esta semana. Também a Folha de S.Paulo, que intercalava longos silêncios com, vez ou outra, um registro do escândalo e das relações deste com a mídia, ontem e hoje, trata da questão diretamente. Cotinua>>>

Eu devo ser um tolo

por Sanzio
[...] Acompanhei no dia-a-dia o desenrolar dos fatos, TODA a mídia (com a louvável exceção da Carta Capital) tentando incendiar o país e derrubar o Lula, a militância petista em estado catatônico desde a farsa do mensalão, o próprio Lula talvez não soubesse mais em quem confiar. Exigir que, no calor dos fatos, com o  presidente do Poder Judiciário acusando a Abin, com ministros seus respaldando a farsa e com a imprensa toda mordendo seu calcanhar Lula fosse dar uma de machão, bater no peito e dizer "podem vir quente, que eu estou fervendo" é uma atitude politicamente ingênua, para dizer o mínimo.


Se tivesse peitado todo mundo, como querem alguns, Lula sofreria o processo de impeachment que a oposição se arrependeu de não ter aberto em 2005. Não que fosse resultar em nada, mas o barulho seria usado para derrubar o(a) candidato(a) do PT na eleição de 2010 e hoje, talvez, tivéssemos o Serra na Presidência (argh!).




Quanto aos que acham que, baixada a poeira, o governo deveria ter reabilitado Lacerda, lembro que a poeira baixou, mas basta sacudir um pouco que ela levanta novamente. Se, e somente se, ficar comprovado oficialmente pela CPI que tudo não passou de uma farsa dos implicados na Operação Satiagraha para acabar com a mesma, aí pode-se pensar em reabilitar a imagem pública de Lacerda e Protógenes. As funções que ocupavam jamais lhes serão devolvidas, é da natureza da política.

O zine não morre

Irmão mais novo - quase 100 anos - e rebelde da imprensa, o zine tem origem imprecisa. Coadjuvante de transformações culturais nos anos 20 - sedimentou a indústria dos quadrinhos -. Nos anos 70 - foi porta-voz do movimento Punk -. 

Seguindo à risca a ideia "faça você mesmo", os zines sobrevivem graças ao seu caráter camaleão. 


Como sofrem os apaixonados

Antigamente o sofrimento era esperar uma carta, um telegrama. Hoje é esperar uma ligação, um torpedo, um recado no Twitter, no Orkut, Facebook, G + 1 etc...

O zine não morre, renova-se


Irmão mais novo - e mais rebelde - da imprensa, o zine tem origem imprecisa e uma história de quase um século. Coautor de transformações culturais nos anos 20 (que sedimentaram a indústria dos quadrinhos) e 70 (quando foi porta-voz do punk), este veículo impresso artesanal fez sucesso no Estado entre a década de 90 e o começo do novo milênio.   Seguindo à risca a ideia do "faça você mesmo", os zines sobrevivem graças ao próprio caráter mutante


Uma folha de papel tamanho A4 dobrada no meio. Revistas, jornais, tesoura e cola. Lápis, caneta, canetinha, pincel e tinta - rola até batom, se precisar. Faz uma capa, o "miolo", põe o endereço na contracapa. Leva até a xérox mais próxima, roda umas cópias em preto e branco e pronto.

Não, não estamos de volta à década de 90 (ou 70, ou até antes). Mas quem já fez um zine na vida nunca esquece o ritual. Por muito tempo, essas publicações artesanais representaram a maneira mais rápida, prática e descolada de fazer circular conteúdo de cenas alternativas e marginais (por favor, na acepção do dicionário: à margem).

Em Fortaleza, os zines ganharam especial popularidade entre os anos 90 e o início dos anos 2000, graças ao uma série de ações (especialmente oficinas e encontrosindependentes de zineiros) que se desenrolaram naturalmente, empreendidas por diferentes atores da cena cultural da cidade. Se pensarmos, a demanda era a mesma suprida hoje por blogs, redes sociais e outras plataformas virtuais de comunicação: expor o que se passa na cachola e conhecer pessoas. Conectar-se.

De lá pra cá, no entanto, muita coisa mudou. Com o acesso cada vez mais facilitado à internet e a quantidade crescente de novas ferramentas de criação e compartilhamento de conteúdos, o papel cedeu lugar à tela. Além dos blogs, vieram fotologs, o Orkut, vlogs, YouTube, Twitter, Facebook; e aparelhos comosmartphones e tablets.

Mas, assim como a TV não matou o cinema e o vinil ainda hoje tem seu mercado, o papel não deixou de ser fundamental para a comunicação - e o zine segue bem, obrigado. Obviamente, não com a mesma força ou da mesma maneira, após o impacto da internet. Como ele segue, então? Vinculado, adaptado, transmutado - enfim, em convivência com as plataformas online, pois um meio não suplanta o outro. Mas, segundo o zineiro e profissional de comunicação Marcelo Carota, 45 anos, conhecido pelo apelido Pirata Z, isso não é de hoje.

"A grande força da zine, que a mantém sacudida e sacudindo, sobrevivendo a todas e tantas mudanças tecnológicas e conceituais de comunicação, é precisamente o fato de não precisar enquadrar sua forma de produção nesse ou naquele outro formato, meio ou conceito. Ela, porque livre (especialmente da obrigação de gerar lucro), goza do privilégio de poder ser mutante, híbrida, múltipla", avalia Pirata (que trata o zine no feminino mesmo).

Como exemplo, o zineiro cita uma transformação ocorrida, ainda nos anos 70, com a explosão do movimento punk. "Pipocavam bandas por todos os lados. As zines escreviam sobre elas, xerocavam fotos de seus integrantes, das capas de seus singles (quando havia...), e só e fim. Um dia, alguém teve a genial ideia de fazer zines em fitas K-7, nas quais os textos-resenhas eram gravados, e o melhor: com uma ou duas demos das bandas citadas. Maravilhoso, isso", ressalta.

Híbrido

Pirata mexe com zines há 25 anos, e é uma das figuras mais conhecidas no cenário nacional, autor do Pirata Zine - o último que produziu dentre tantos ao longo da carreira, e cuja existência impressa foi interrompida há quatro anos, após 107 edições. "Não considero-a encerrada. Estou sem tempo de produzir direitinho; ao mesmo tempo, de quatro anos pra cá, com as redes sociais, a comunicação passou por muitas - e, ao meu ver, ótimas, em todos os sentidos - alterações, tornando-se mais dinâmica, objetiva, e estou pensando em como será o formato quando eu puder voltar a fazer a Pirata Zine", adianta.

"Quero incorporar mais gente, diversificar o conteúdo, aproveitando mais as possibilidades da plataforma, o que, naturalmente, compreende conteúdo multimídia. Quando interrompi a produção e disse que migraria para a internet, tinha uma mailing com mais de 20 mil e-mails, tudo fruto de recomendação e ou de gente me passando contatos, para que eu os incluísse no envio", orgulha-se o zineiro, que recentemente colaborou para a última edição da revista Overmundo (do site overmundo.com.br) com um artigo esclarecedor sobre a história dos zines, seu surgimento no Brasil e suas transformações a partir da convivência com a internet (texto disponível em overmundo.com.br/revista/?titulo=revista).

Para Pirata, os zines não tiveram nem nunca terão problemas com a rede mundial de computadores, que "só representam benefícios à questão de distribuição (o que era e é um problema pra quem faz no papel, por conta dos custos com os Correios). Com a internet, pode-se aumentar muito o público de uma zine, e de graça - relativamente falando, pois há que se considerar os custos para acesso. Digo mais: se, um dia, por alguma obscura razão, a internet acabar, as zines continuarão seu curso, e ainda mais fortes", profetiza.

Inclusão

Para além do poder de mutação, Pirata destaca o zine como ferramenta de inclusão. "Assim que me mudei pra Brasília, quatro anos atrás, fiz uma oficina de zine para crianças surdas, com uma média de 10 anos de idade, todas estudantes de uma unidade de ensino especial do Governo do Distrito Federal (GDF). Separei a turma em grupos: dos que gostavam ou queriam desenhar e os que queriam ou gostavam de escrever. Tive o auxílio de uma professora das crianças, para traduzir em libras o que eu dizia e me falar o que elas queriam saber".

O resultado foi uma revistinha de oito páginas, com aventuras, esportes e moda. "O GDF quis porque quis uma cerimônia de entrega das revistinhas, e eu, a princípio, achei meio boboca, porque compreenderia uma formalidade que não combinava com o clima de brincadeira que prevaleceu na oficina", conta Pirata. Um depoimento, porém, mudou a opinião do zineiro. "Um aluno pediu à professora de Libras que me dissesse que aquela tinha sido a primeira vez que eles ´conversavam´ com alguém que não sabia Libras. Você pode dizer que um livro também permite isso, mas livro é uma obra literária, não um meio de comunicação. Então eu lhe pergunto: que outro meio de comunicação tem esse poder?".

História

Em seu artigo para a revista Overmundo, Pirata Z recorda o início dos zines no Brasil, apontando como seus "parentes remotos" as revistinhas sobre ou de quadrinhos. Assim, o zineiro aponta como "protozines brasileiros" as revistinhas eróticas produzidas, sob absoluto anonimato, pelo carioca Carlos Zéfiro, de 1949 até 1970.

Segundo Pirata, Zéfiro criou cerca de 500 edições. Só deixou o anonimato em 1991, um ano antes de morrer. Mas o autor do artigo cita também a explicação do cearense Henrique Magalhães, autor do livro "O que é Fanzine", (Editora Brasiliense), segundo o qual as zines surgiram no Brasil como resposta dos quadrinistas nacionais ao descaso das grandes editoras, cuja atenção era voltada à produção estrangeira.

Seja como for, são mais de 40 anos de zines no País. Mas nem é preciso tanto distanciamento para, hoje, enxergar os zines como uma espécie de memória coletiva. Foi o que fez, por exemplo, o paulistano Márcio Sno, zineiro e orientador pedagógico que, desde 2007, dedica-se ao documentário "Fanzineiros do século passado". Ao longo da produção, o filme acabou virando uma série de três capítulos. Uma coisa se liga à outra e, assim, a segunda parte foi lançada no último mês, em São Paulo, durante a II Ugra Zine Fest, uma das ações do projeto Ugra Press, criado em 2010 pelo designer gráfico Douglas Utescher.

A Ugra Press surgiu de uma parceria entre Utescher com o colega zineiro e redator publicitário Leandro Márcio Ramos. Hoje o designer toca a editora sozinho, mas sempre com as portas abertas - tanto que, por ela, Ramos vai lançar seu primeiro livro. Em breve, também deve sair a coleção de álbuns de quadrinhos malditos, cujo primeiro número é com Law Tissot (outro zineiro e criador da Zineteca Mutação, no Rio Grande do Sul).

Fiel à máxima punk "faça você mesmo", que norteia o universo zineiro, o designer procura desenvolver o trabalho na editora sob a estética e os procedimentos artesanais dos zines. Para o miolo do livro de Ramos, por exemplo ("Tudo o que é grande se constrói sobre mágoa"), foi usada impressão digital, o que permitiu fazer uma tiragem pequena e com boa qualidade. "Para a capa a imagem foi serigrafada em tecido, que depois foi recortado e colado sobre o papel que escolhemos. A encadernação também foi feita manualmente", conta Utescher. "O custo para a realização do livro foi baixíssimo, e o produto final é algo que tem alma, algo que certamente será especial para quem adquirir".

A menina dos olhos da Ugra Press, no entanto, é o "Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Alternativas", cuja primeira edição reuniu amostras da produção brasileira. "Eu e o Leandro editamos alguns fanzines nos anos 90. Por razões diversas paramos de fazê-los no início dos anos 2000, mas sempre tivemos o desejo de retomar a produção. Um dos primeiros projetos que havíamos imaginado para a Ugra era, justamente, fazer um zine impresso. Na época, assim como muitas outras pessoas, tínhamos a impressão de que a cena de fanzines estava morrendo", recorda.

O pontapé inicial deu-se com o trabalho de conclusão do curso de pós-graduação de Utescher, sobre zines. "Juntando uma coisa à outra, fomos tentar entender em que pé estava a produção de fanzines no Brasil naquele momento. Conversando sobre isso surgiu a ideia de fazer o Anuário. Nos anos 80 e 90, existia uma rede de contatos fortíssima entre os editores, operando via correio. Era um sistema primitivo em comparação às possibilidades de contato na era dos celulares e da internet, mas esse sistema funcionava muito bem. Saía um zine novo e logo todo mundo estava sabendo, comentando, trocando. A internet, de alguma forma, matou essa rede", explica.

Assim, a meta da dupla com o "Anuário" era mapear a atual produção fanzineira no País e estabelecer uma referência para editores e leitores, fomentando a discussão e facilitando o contato entre as partes. Para a primeira edição, Utescher e Ramos receberam mais de 120 títulos. O critério utilizado foi que a publicação ainda estivesse disponível, caso alguém quisesse adquirir ou que o editor pretendesse dar continuidade à sua edição. "Fora isso, é imprescindível que o editor nos envie uma cópia física da sua publicação. Não aceitamos arquivos em formato pdf ou nada do tipo", salienta.

Além da importância da catalogação e do mapeamento, o Anuário configura-se um espaço de reflexão sobre zines, ao fazer a resenha de todos os títulos recebidos.

"A cena alternativa brasileira sofre há muito tempo com a falta de crítica. A postura, em geral, é aceitar e enaltecer qualquer iniciativa. Mas há uma quantidade significativa de coisas ruins que são produzidas nesse meio, e ao enaltecê-las estamos desmotivando as pessoas que desenvolvem um trabalho de qualidade", observa Utescher.

Para a segunda edição do "Anuário", a Ugra Press ampliou a proposta e divulgou a chamada para editores de toda a América do Sul. Além da catalogação e da resenha dos títulos, o Anuário deverá contemplar o zine como objeto de estudo.

Assim, também houve convocação para monografias, dissertações, artigos ou documentários sobre o tema. O prazo de envio foi dezembro do ano passado.

ADRIANA MARTINS
REPÓRTER