Mostrando postagens com marcador paulo coelho. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador paulo coelho. Mostrar todas as postagens

Coluna dominical de Paulo Coelho


Em seu clássico livro "O Profeta", Khalil Gibran - talvez o mais conhecido escritor libanês contemporâneo - conta a história de Al-Mustafá, um homem que retorna à sua terra. Os habitantes da aldeia onde ficou todos estes anos pedem que ensine o que aprendeu.

A seguir, alguns dos trechos (editados) deste clássico do século XX:

O matrimônio
Vocês nasceram juntos, e juntos estarão mesmo quando as asas brancas da morte terminem com seus dias - porque continuarão unidos na memória silenciosa de Deus.

Mas que haja espaço entre os dois. Que o vento dos céus possa passar entre seus corpos.

Amém, mas não transformem o amor em uma atadura.

Que um encha o copo do outro, mas que jamais bebam do mesmo copo.

Cantem e dancem, estejam alegres, mas que cada um mantenha sua independência; as cordas de um alaúde estão sozinhas, embora vibrem com a mesma música.

Entreguem o seu coração, mas não para que seu companheiro o possua - porque só a mão da Vida pode conter corações inteiros.

Estejam juntos, mas não demasiados juntos - porque os pilares de um templo estão separados.

O carvalho não cresce à sombra do cipreste, e o cipreste não consegue crescer à sombra do carvalho.

Os filhos
Seus filhos não são seus filhos; são filhos e filhas da vida. Vieram através de vocês, mas não lhe pertencem.

Podem dar seu amor, mas não seus pensamentos - porque eles têm seus próprios sonhos.

Podem proteger seus corpos, mas não suas almas - porque suas almas habitam na casa do amanhã, que mesmo em sonho vocês não podem visitar.

Podem tentar ser como eles, mas não tentem fazer com que se comportem como vocês; porque a vida não retrocede, nem se deixa seduzir pelo dia de ontem.

Vocês são o arco onde seus filhos, como flechas vivas, são impulsionados para adiante; deixem que a mão do Arqueiro trabalhe, porque assim como Ele ama a flecha que voa, também ama o arco, que permanece estável.

O amor
Quando o amor chamar, aceitem seu chamado, mesmo que o caminho seja duro, difícil.

E quando suas asas se abrirem, entreguem-se, mesmo que a espada que está ali escondida termine provocando ferimentos.

E quando o amor disser algo, acreditem, mesmo que sua voz destrua seus sonhos, como o vento do norte devasta os jardins.

Porque o amor glorifica e crucifica. Faz crescer os ramos, e os poda. Tritura os homens, até que estejam flexíveis e dóceis. Os queima em fogo divino, para que possa converter-se em um pão sagrado, que será consumido no banquete de Deus.

Entretanto, se tiverem medo, e quiserem encontrar no amor apenas a paz e o prazer, melhor que se afastem de sua porta, e procurem outro mundo, onde poderão rir mas sem toda alegria, e poderão chorar mas sem usar todas as lágrimas.

O amor não dá nada e não pede nada além de si mesmo. O amor não possui nem é possuído - porque ele se basta.

E não tentem dirigir o seu curso: porque se o amor achar que são dignos, ele os dirigirá até onde devem chegar. 

Paulo Coelho: ao maior de todos


Atravessando a Avenida Copacabana - Eu tinha editado, com meus próprios recursos, um livro chamado "Os Arquivos do Inferno". Todos nós sabemos o quanto é difícil publicar um trabalho, mas existe algo ainda mais complicado: fazer com que ele seja colocado nas livrarias. Todas as semanas minha mulher ia visitar os livreiros em um lado da cidade, e eu ia para outra região fazer a mesma coisa.


Foi assim que, com exemplares de meu livro debaixo do braço, ela ia atravessando a Avenida Copacabana, e eis que Jorge Amado e Zélia Gattai estão do outro lado da calçada! Sem pensar muito, ela os abordou e disse que o marido era escritor. Jorge e Zélia (que provavelmente deviam escutar isso todos os dias) a trataram com o maior carinho, convidaram para um café, pediram um exemplar, e terminaram desejando que tudo corresse bem com minha carreira literária.

"Você é louca!" eu disse, quando ela voltou para casa. "Não vê que ele é o mais importante escritor brasileiro?"

"Justamente por isso", respondeu ela. "Quem chega aonde ele chegou, precisa ter o coração puro." O recorte no envelope

As palavras de Christina não podiam ser mais acertadas: o coração puro. E Jorge, o escritor brasileiro mais conhecido no exterior, era (e é) a grande referência do que acontecia em nossa literatura.

Um belo dia, porém, "O Alquimista", escrito por outro brasileiro, entra na lista dos mais vendidos da França, e em poucas semanas chega ao primeiro lugar.

Dias depois, recebo pelo correio um recorte da lista, junto com uma carta afetuosa sua, me cumprimentando pelo feito. Jamais entraria, no coração puro de Jorge Amado, sentimentos como o ciúme.

Alguns jornalistas - brasileiros e estrangeiros - começam a provocá-lo, fazendo perguntas maldosas. Jorge, em nenhum instante, se deixa levar pelo lado fácil da crítica destrutiva, e passa a ser meu defensor em um momento difícil para mim, já que a maior parte dos comentários sobre meu trabalho era muito dura.

Coluna semanal de Paulo Coelho

Da complicada relação com o próximo

Um estudante pediu a um mestre sufi que lhe revelasse o quinto nome de Deus.

- Quem conhece este nome é capaz de mudar a História - comentou. O mestre pediu que ele passasse um dia inteiro na porta da cidade. O rapaz voltou no dia seguinte.

- O que você viu? - perguntou o mestre.

- Um velho tentou entrar na cidade com um carneiro para vender. O guarda cobrou o imposto, mas o homem não tinha dinheiro. Então o guarda roubou-lhe o carneiro e expulsou-o. Eu pensava: se soubesse o nome oculto de Deus, seria capaz de modificar esta situação.

- Você podia ter impedido esta injustiça - mas preferiu ficar sonhando com uma revelação. Que tolice! Pois bem, vou revelar-lhe o quinto nome de Deus: ação em favor dos outros. Só assim podemos mudar a História.

Coluna semanal de Paulo Coelho


Quando nasce o sol, eu vou trabalhar. Quando o sol se põe, volto para casa e descanso. Cavei o poço de onde tiro água para beber, e cultivo o campo que me dá o alimento. Agindo assim, estou em perfeita comunhão com o Criador - e nenhum rei pode fazer melhor que isso".

Este antigo texto chinês também serve para sintetizar a filosofia de um dos mais importantes pensadores de minha geração, Carlos Castaneda. Seus ensinamentos, condensados em uma série de livros, sempre foram objeto de críticas e dúvidas - mas tiveram um impacto muito grande em minha vida. Como hoje em dia as pessoas já praticamente não sabem quem é Castaneda, transcrevo e comento alguns de seus trechos pelo menos uma vez por ano. Não sei se com isso conseguirei que não o esqueçam; mas pelo menos, ao folhear suas páginas, me deparo com uma obra que se renova a cada leitura.

A energia está na busca da liberdade - Liberdade é a única verdadeira força que conheço. Liberdade de voar além dos próprios limites. Liberdade de deixar-se levar pelo vento, de dissolver-se. Liberdade de ser como a chama de uma vela que, apesar de estar sendo contemplada por bilhões de estrelas, não se deixa intimidar nem finge ser nada além do que é - uma simples vela.

A energia vem de aceitar-se a si mesmo - Não tem a menor importância o que você esconde ou mostra ao seu semelhante - porque você sabe quem é. E se não se aceita como tal, mesmo o mais profundo ensinamento filosófico será incapaz de ter qualquer efeito. Mas quem é você? Será que entende que neste momento está cercado pela eternidade, e pode usar sua energia a seu favor?

Partindo do princípio que conhece suas limitações, passe também a conhecer todas as suas possibilidades, e poderá ser chamado de um guerreiro impecável. A diferença entre um guerreiro impecável e os outros, é que aquele sabe como usar a sua força.

A energia do silêncio - Quando estamos quietos, nos damos conta de que alguém (ou alguma coisa) está procurando nos ensinar. Sempre que conseguimos parar nosso diálogo interior, algo de extraordinário termina acontecendo em nossas vidas. Descobrimos coisas que jamais pensamos conscientemente, mas que estão ali, prontas para nos ajudar.

Entretanto, o difícil mesmo é conseguir atingir este silêncio - nossa cabeça vive ocupada com músicas, listas, coisas para fazer, preocupações, notícias de jornais, cálculos matemáticos sobre nossas possibilidades financeiras.

Se conseguirmos deter este fluxo inútil de reflexões que não nos conduzem a lugar nenhum, tudo passa a ser possível.

Coluna semanal de Paulo Coelho


Meu tipo inesquecível

Quando eu era criança, costumava ler uma revista que meus pais assinavam; tinha uma sessão chamada "Meu tipo inesquecível" - onde pessoas comuns falavam de outras pessoas comuns que haviam influenciado suas vidas. Claro que àquela altura, com nove ou dez anos, eu também havia criado o meu personagem marcante.

Por outro lado, tinha certeza que no decorrer dos meus anos este modelo iria mudar, portanto resolvi não escrever a tal revista submetendo minha opinião (fico imaginando hoje como eles teriam recebido a colaboração de uma pessoa com a minha idade na época).

Os tempos passaram. Conheci muita gente interessante, que me ajudou em momentos difíceis, que me inspirou, que me mostrou caminhos que eram necessários trilhar. Entretanto, os grandes mitos da infância sempre provaram ser mais poderosos; passam por períodos de desvalorização, de contestação, de esquecimento - mas permanecem, surgindo nas ocasiões necessárias com seus valores, seus exemplos, suas atitudes.

Meu tipo inesquecível chamava-se José, irmão mais jovem do meu avô. Jamais se casou, foi engenheiro durante muitos anos, e quando se aposentou, resolveu viver em Araruama, cidade vizinha ao Rio de Janeiro. Era ali que toda a família ia passar as férias com as crianças; tio José era solteiro, não devia ter muita paciência para aquela invasão, mas este era o único momento em que podia dividir um pouco de sua própria solidão com os sobrinhos-netos. Era também inventor, e para acomodar-nos, resolveu construir uma casa onde os quartos só apareciam durante o verão! Apertava-se um botão e do teto desciam as paredes, dos muros saiam as camas e as penteadeiras, e pronto; quatro dormitórios para acomodar os recém-chegados. Quando terminava o carnaval, as paredes subiam, os móveis tornavam a entrar nos muros, e a casa voltava a ser um grande galpão vazio, onde costumava guardar material de sua oficina.

Construía carros. Não apenas isso, mas fez um veículo especial para levar a família à Lagoa de Araruama - uma mistura de jipe com trem sobre pneus. Íamos ao banho de mar, convivíamos com a natureza, brincávamos o dia inteiro, e eu sempre me perguntava: "mas por que ele vive aqui sozinho? Tem dinheiro, podia viver no Rio!" Contava histórias de suas viagens aos Estados Unidos, onde trabalhara em minas de carvão e se aventurara a lugares nunca antes visitados. A família costumava dizer: "é tudo mentira". Vivia vestido de mecânico, e os parentes comentavam: "precisava de roupas melhores". Assim que a televisão entrou no Brasil, comprou um aparelho que colocava na calçada, de modo que a rua inteira pudesse assistir aos programas.

Ensinou-me a amar as escolhas feitas com o coração. Mostrou-me a importância de fazer o que se deseja, independente do que os outros comentem. Acolheu-me quando, adolescente rebelde, tive problemas com meus pais. Um dia ele disse-me:

- Inventei o hidramático (câmbio automático de mudança de marchas em um carro). Fui a Detroit, entrei em contato com a General Motors, me ofereceram 10.000 dólares na hora ou 1 dólar por carro vendido com este novo sistema. Peguei os dez mil dólares e vivi os anos mais fantásticos de minha vida.

A família dizia: tio José vive inventando coisas, não acreditem. E, embora tendo uma grande admiração por suas aventuras, por seu estilo de vida, por sua generosidade, não acreditei nesta história. Contei para o jornalista Fernando Morais apenas porque tio José era e é meu tipo inesquecível.

Fernando resolveu conferir, e eis o que achou (o texto está editado, pois é parte de um grande artigo): "O primeiro câmbio automático foi inventado pelos irmãos Sturtevant de Boston em 1904. O sistema não funcionava a contento porque os pesos frequentemente se afastavam muito. Mas foi a invenção dos brasileiros Fernando Iehly de Lemos e José Braz Araripe, vendida à GM em 1932, que contribuiu para o desenvolvimento do sistema hidramático lançado pela GM em 1939".

Com milhões de carros hidramáticos sendo produzidos todos os anos, a família - que nunca acreditava em nada, e achava que tio José se vestia mal - teria ficado com uma fortuna incalculável. Que bom que ele gastou os seus dez mil dólares em anos felizes!

Coluna dominical de Paulo Coelho


O Livro do Esplendor e a cabala

A cabala - termo originário de qabbalah, palavra hebraica que significa "tradição" - é uma interpretação metafísica dos ensinamentos presentes na Torá (conjunto dos livros sagrados do judaísmo). Com origem na transmissão oral, onde se dizia que cada letra ou número da Torá tinha um sentido sagrado, ela foi sendo pouco a pouco organizada em textos e gráficos. O mais conhecido é um desenho com dez círculos, quase todos interligados entre si, chamado de Árvore da Vida. O místico Joseph Gikatilla (século. XIV) comenta o projeto divino: "tudo que está no lugar onde foi colocado no momento da criação, é o Bem. Tudo aquilo que está fora do seu lugar, é o Mal.".

No século XVII, um místico espanhol, Moisés de Leon, redigiu uma espécie de guia destas interpretações cabalísticas, no que depois seria conhecido como Zohar - O Livro do Esplendor. Ali, Leon fala da maneira com que o homem deve aproximar-se da sabedoria, utilizando imagens de extrema beleza literária.

A seguir, alguns trechos do Zohar, escolhidos por Gershom Scholem:

"Os livros sagrados (Torá) lançam uma palavra que, assim que sai de suas páginas, retorna imediatamente ao lugar de onde veio - o segredo. E atinge apenas aqueles que compreendem e guardam os mandamentos."

"Esta palavra pode ser comparada a uma bela jovem, que vive reclusa em um quarto isolado do seu palácio, e que tem um amante que ninguém mais conhece". Por amor a esta jovem, o amante passa todos os dias diante do seu quarto, e espera ansioso pela oportunidade de vê-la. Ela sabe que ele está por perto, e então o que faz? Levanta rapidamente a cortina do seu quarto para que ele possa contempla-la por um instante, e logo torna a esconder-se.

"Ele sabe que foi apenas por causa do seu amor que a jovem mostrou-se por alguns segundos". Então, todo o seu coração e sua alma se entregam (à compreensão do seu segredo). Assim são os livros sagrados (Torá): eles só revelam seus mistérios àqueles que os amam (com paciência). Pois todos que trazem a busca da sabedoria no coração, não se importam de esperar noite e dia diante da sua porta.

"Assim são os livros sagrados (Torá): por um instante apenas, eles se revelam, e fazem isso por amor aos seus amantes".

"Às vezes, o sinal não é imediatamente percebido. Então, generosos em seu amor, eles enviam seus mensageiros ao homem que - por fraqueza de espírito - não conseguiu ver seu rosto. E ordenam: ´vá dizer aquele espírito fraco que ele retorne, e nós então poderemos conversar".

"Quando o homem de bom coração obedece esta ordem, os livros conversam com seu escolhido através de um véu, e à medida que ele compreende o que as palavras querem dizer, o véu vai ficando cada vez mais fino. Até que, em determinado momento, ele pode ver a sabedoria por alguns instantes, e escutá-la dizendo: você pode entender agora os sinais que lhe enviei, e os mistérios que estão em mim".

"Por isso, todo homem deve aspirar, com todas as suas forças, seguir o que está escrito nos livros sagrados (Torá), e transformar-se em seu amante."

Algumas palavras de sabedoria contemporânea

"Experiência não é aquilo que acontece conosco; é o que fazemos com aquilo que acontece conosco" - Aldous Huxley.

"Preocupe-se mais com o seu caráter que com a sua reputação. O caráter é aquilo que você é realmente, enquanto a reputação é aquilo que os outros pensam que você é" - John Wooden.

"Um "não" quando é dito sem medo, pode ser melhor e mais importante que um "sim" dito apenas para agradar ou - o que é pior - para evitar problemas" - Gandhi.

Coluna dominingal de Paulo Coelho


Preparado para o combate, mas com dúvidas

Estou vestindo uma estranha farda verde, cheia de zíperes, feita de tecido grosso. Minhas mãos estão com luvas, de modo a evitar ferimentos. Carrego comigo uma espécie de lança quase da minha altura: sua extremidade de metal possui um tridente de um lado e uma ponta afiada do outro.

E diante dos meus olhos, aquilo que será atacado no próximo minuto: meu jardim.

Com o objeto em minha mão, começo a arrancar a erva daninha que se misturou com a grama. Faço isso durante um bom tempo, sabendo que a planta retirada do solo irá morrer antes que se passem dois dias.

De repente, me pergunto: estou agindo certo?

Aquilo que chamo de "erva daninha" é na verdade uma tentativa de sobrevivência de determinada espécie, que demorou milhões de anos para ser criada e desenvolvida pela natureza. A flor foi fertilizada a custa de incontáveis insetos, transformou-se em semente, o vento espalhou-a por todos os campos ao redor, e assim - porque não está plantada em apenas um ponto, mas em muitos lugares - suas chances de chegar até a próxima primavera são muito maiores. Se estivesse concentrada em apenas um lugar, estaria sujeita aos animais herbívoros, uma inundação, um incêndio, ou uma seca.

Mas todo este esforço de sobrevivência esbarra agora com a ponta de uma lança, que a arranca sem qualquer piedade do solo.

Por que faço isso?

Alguém criou o jardim. Não sei quem foi, porque quando comprei a casa ele já estava ali, em harmonia com as montanhas e com as árvores ao seu redor. Mas o criador deve ter pensado longamente no que fazer plantado com muito cuidado e planejamento (existe uma aleia de arbustos que esconde a casa onde guardamos lenha), e cuidado dele através de incontáveis invernos e primaveras. Quando me entregou o velho moinho - onde passo alguns meses por ano - o gramado estava impecável. Agora cabe a mim dar continuidade ao seu trabalho, embora a questão filosófica permaneça: devo respeitar o trabalho do criador, do jardineiro, ou devo aceitar o instinto de sobrevivência que a natureza dotou esta planta, hoje chamada de "erva daninha"?

Continuo arrancando as plantas indesejáveis, e as colocando em uma pilha que em breve será queimada. Talvez eu esteja refletindo demais sobre temas que nada tem a ver com reflexões, mas com ações. Entretanto, cada gesto do ser humano é sagrado e cheio de consequências, e isso me força a pensar mais sobre o que estou fazendo.

Por um lado, aquelas plantas têm o direito de se espalhar em qualquer direção. Por outro lado, se eu não as destruir agora, elas terminarão por sufocar a grama. No Novo Testamento, Jesus fala de arrancar o joio, de modo a não se misturar com o trigo.

Mas - com ou sem o apoio da Bíblia - estou diante do problema concreto que a humanidade enfrenta sempre: até que ponto é possível interferir na natureza? Esta interferência é sempre negativa, ou pode ser positiva às vezes?

Deixo de lado a arma - também conhecida como enxada. Cada golpe significa o final de uma vida, a não existência de uma flor que iria desabrochar na primavera, a arrogância do ser humano que quer moldar a paisagem ao seu redor. Preciso refletir mais, porque estou neste momento exercendo um poder de vida e de morte. A grama parece dizer: "proteja-me, ela irá me destruir". A erva também fala comigo: "eu viajei de tão longe para chegar ao seu jardim - por que você quer me matar?"

No final, o que vem ao meu socorro é o texto indiano Bhagavad Gita. Lembro-me da resposta de Khrisna ao guerreiro Arjuna, quando este mostra-se desalentado antes de uma batalha decisiva, atira suas armas no chão, e diz que não é justo participar de um combate que terminará matando seu irmão. Khrisna responde mais ou menos o seguinte: "Você acha que pode matar alguém? Sua mão é Minha mão, e tudo que você está fazendo já estava escrito que seria feito. Ninguém mata, e ninguém morre".

Animado por esta súbita lembrança, empunho de novo a lança, ataco as ervas que não foram convidadas a crescer em meu jardim, e fico com a única lição desta manhã: quando algo indesejável crescer na minha alma, peço a Deus que me dê a mesma coragem para arrancá-lo sem qualquer piedade.

Um novo método

Um velho caçador de raposas - considerado o melhor da região - resolveu finalmente se aposentar. Juntou seus pertences e resolveu partir em direção ao sul do país, onde o clima era mais ameno.

Entretanto, antes que terminasse de empacotar suas coisas, recebeu a visita de um jovem.

- Quero aprender suas técnicas - disse o recém-chegado. - Em troca, compro a sua loja, a sua licença de caçador, e ainda pagarei por todos os segredos que o senhor conhece.

O velho concordou; assinaram o contrato, e ensinou ao rapaz tudo que sabia sobre o tema. Com o dinheiro recebido comprou uma bela casa no sul, onde passou o inverno inteiro sem precisar preocupar-se em juntar lenha para calefação, já que o clima era muito agradável.

Na primavera, sentiu saudades de sua aldeia, e resolveu voltar para ver os seus amigos.

Lá chegando, cruzou no meio da rua com o jovem que, alguns meses antes, resolvera pagar uma fortuna por seus segredos.

- E então? - perguntou. - Como foi a temporada de caça?

- Não consegui pegar uma só raposa.

O velho ficou surpreso e confuso:

- Mas você seguiu meus conselhos?

Com os olhos fixos no chão, o rapaz respondeu:

- Bem, na verdade não segui. Achei que seus métodos estavam ultrapassados e terminei desenvolvendo - por mim mesmo - uma melhor maneira de caçar raposas.

Paulo Coelho: o respeito ao mistério


Os gregos foram os grandes mestres em descrever o comportamento humano através de pequenas histórias, que costumamos chamar de "mitos". Todas as gerações que vieram depois deles, da psicanálise de Freud (com o complexo de Édipo, por exemplo), aos filmes de Hollywood (como o Morpheus de "Matrix") terminaram por beber desta fonte.

Durante grande parte de minha vida, uma destas histórias me deixava muito intrigado: o mito de Psyche.

Era uma vez... uma linda princesa, admirada por todos, mas que ninguém ousava pedir sua mão em casamento. Desesperado, o rei consultou o deus Apolo; esse disse que Psyche deveria ser deixada sozinha, vestida de luto, no alto de uma montanha. Antes que o dia raiasse, uma serpente viria a seu encontro para desposá-la. O rei obedeceu, e por toda à noite a princesa esperou, aterrorizada e morta de frio, a chegada de seu marido.

Terminou adormecendo; ao despertar, estava em um lindo palácio, transformada em rainha. Todas as noites seu marido vinha a seu encontro, faziam amor, mas ele havia imposto uma única condição: Psyche podia ter tudo o que desejasse, mas devia demonstrar total confiança, e jamais poderia ver seu rosto.

A moça viveu muito tempo feliz; tinha conforto, carinho, alegria, estava apaixonada pelo homem que lhe visitava todas as noites. Entretanto, vez por outra tinha medo de estar casada com uma serpente horrorosa. Certa madrugada, quando o marido dormia, com uma lanterna iluminou a cama; e viu deitado ao seu lado, Eros (ou Cupido) - um homem de incrível beleza. A luz o despertou, ele descobriu que a mulher que amava não era capaz de cumprir seu único desejo, e desapareceu.

Sempre que eu lia este texto, me perguntava: será que não podemos nunca descobrir a face do amor?

Foi preciso que muitos anos passassem por debaixo da ponte de minha vida, até compreender que o amor é um ato de fé em outra pessoa, e seu rosto deve continuar envolto em mistério. Ele deve ser vivido e desfrutado a cada momento, mas sempre que tentemos entendê-lo, a magia some.

Quando aceitei isso, passei também a deixar que minha vida fosse guiada por uma linguagem estranha, que chamo de "sinais". Sei que o mundo está falando comigo, eu preciso escutá-lo, e se assim fizer, serei sempre guiado em direção ao que existe de mais intenso, mais apaixonado, e mais belo. Claro que não é fácil, e às vezes sinto-me como Psyche no penhasco, com frio e terror; mas se sou capaz de passar aquela noite, e entregar-me ao mistério e à fé na vida, termino sempre por acordar em um palácio. Tudo que preciso é confiar no Amor, mesmo correndo o risco de errar.

Concluindo o mito grego: Desesperada para ter seu amor de volta, Psyche se submete a uma série de tarefas que Afrodite (ou Vênus), mãe de Cupido (ou Eros), invejosa de sua beleza, lhe impõe - uma dessas tarefas era a de que entregasse um pouco de sua beleza para ela. Psyche fica curiosa com a caixa que conteria a beleza da Deusa e novamente não consegue lidar com o Mistério - resolve abri-la - na caixa nada encontrou de beleza, mas sim um infernal sono que a deixou inerte, sem movimentos.

Eros/Cupido também está apaixonado, arrependido por não ter sido mais tolerante com sua mulher. Consegue entrar no castelo e despertá-la de seu sono profundo com a ponta de sua flecha e mais uma vez lhe diz - quase morreste devido a sua curiosidade - esta a grande contradição, Psyche que buscava encontrar segurança no conhecimento encontrou insegurança.

Os dois vão até Júpiter, o deus supremo, implorar que esta união jamais possa ser desfeita.

Júpiter advogou com empenho a causa dos amantes que conseguiu a concordância de Vênus. A partir deste dia, Psyche (a essência do ser humano) e Eros (o amor) estão para sempre juntos. Quem não aceitar isso, e procurar sempre uma explicação para as mágicas e misteriosas relações humanas, irá perder o que a vida tem de melhor.

Coluna semanal de Paulo Coelho

O arco, a flecha e o alvo

Todos nós somos arqueiros da vontade Divina. E, portanto, é indispensável saber que instrumentos temos à nossa disposição.

O arco: é a vida, dele vem toda a energia.
A flecha: é a sua intenção. É o que une a força do arco com o centro do alvo.
O alvo: é o objetivo a ser alcançado.

A importância do gato na meditação por Paulo Coelho

Tendo escrito um livro sobre a loucura, vi-me obrigado a perguntar o quanto das coisas que fazemos nos foi imposta por necessidade, ou por absurdo. Por que usamos gravata? Por que o relógio gira no "sentido horário?" Se vivemos num sistema decimal, porque o dia tem 24 horas de 60 minutos cada?

O fato é que, muitas das regras que obedecemos hoje em dia não têm nenhum fundamento. Mesmo assim, se desejemos agir diferente, somos considerados "loucos" ou "imaturos".

Enquanto isso, a sociedade vai criando alguns sistemas que, no decorrer do tempo, perdem a razão de ser, mas continuam impondo suas regras. Uma interessante história japonesa ilustra o que quero dizer:

Um grande mestre zen budista, responsável pelo mosteiro de Mayu Kagi, tinha um gato, que era sua verdadeira paixão na vida. Assim, durante as aulas de meditação, mantinha o gato ao seu lado - para desfrutar o mais possível de sua companhia.

Certa manhã, o mestre - que já estava bastante velho - apareceu morto. O discípulo mais graduado ocupou seu lugar.

- O que vamos fazer com o gato? - perguntaram os outros monges.

Numa homenagem à lembrança de seu antigo instrutor, o novo mestre decidiu permitir que o gato continuasse frequentando as aulas de zen-budismo.

Alguns discípulos de mosteiros vizinhos, que viajavam muito pela região, descobriram que, num dos mais afamados templos do local, um gato participava das meditações. A história começou a correr.

Muitos anos se passaram. O gato morreu, mas os alunos do mosteiro estavam tão acostumados com a sua presença, que arranjaram outro gato. Enquanto isso, os outros templos começaram a introduzir gatos em suas meditações: acreditavam que o gato era o verdadeiro responsável pela fama e a qualidade do ensino de Mayu Kagi, e esqueciam que o antigo mestre era um excelente instrutor.

Uma geração se passou, e começaram a surgir tratados técnicos sobre a importância do gato na meditação zen. Um professor universitário desenvolveu uma tese - aceita pela comunidade acadêmica - que o felino tinha capacidade de aumentar a concentração humana, e eliminar as energias negativas.

E assim, durante um século, o gato foi considerado como parte essencial no estudo do zen-budismo naquela região.

Até que apareceu um mestre que tinha alergia à pelos de animais domésticos, e resolveu tirar o gato de suas práticas diárias com os alunos.

Houve uma grande reação negativa - mas o mestre insistiu. Como era um excelente instrutor, os alunos continuavam com o mesmo rendimento escolar, apesar da ausência do gato.

Pouco a pouco, os mosteiros - sempre em busca de ideias novas, e já cansados de ter que alimentar tantos gatos - foram eliminando os animais das aulas. Em vinte anos, começaram a surgir novas teses revolucionárias - com títulos convincentes como "A importância da meditação sem o gato", ou "Equilibrando o universo zen apenas pelo poder da mente, sem a ajuda de animais".

Mais um século se passou, e o gato saiu por completo do ritual de meditação zen naquela região. Mas foram precisos 200 anos para que tudo voltasse ao normal - já que ninguém se perguntou, durante todo este tempo, por que o gato estava ali.

E quantos de nós, em nossas vidas, ousa perguntar: por que tenho que agir desta maneira? Até que ponto, naquilo que fazemos, estamos usando "gatos" inúteis, que não temos coragem de eliminar, porque nos disseram que os "gatos" eram importantes para que tudo funcionasse bem?

Por que não buscamos uma maneira diferente de agir?

Coluna dominigal de Paulo Coelho


Joseph Campbell e a arte de viver

Desde que li "O Poder do Mito", na verdade uma longa entrevista com o jornalista Bill Moyers, passei a comprar e devorar todos os livros escritos por Joseph Campbell (1904 - 1987). Lembro-me de ficar muito impressionado com uma de suas respostas:

- Você sempre achou que... estava sendo guiado por mãos que não conseguia ver? - pergunta Moyers.

- Sempre - responde Campbell. - Se você segue o seu sonho, se coloca em um caminho que foi feito sob medida para que possa desenvolver aquilo que sempre desejou fazer. A partir daí, começa a encontrar com gente que faz parte deste sonho, e as portas se abrem.

E embora fascinado pelo autor, pouco sabia de sua vida, até que a jornalista Ruth de Aquino me forneceu um interessante material a seu respeito, parte do qual reproduzo a seguir:  

"Quando você cursa uma faculdade, não faz aquilo que deseja, mas procura apenas saber o que é necessário para receber o diploma. E nem sempre esta é a melhor opção".

"No meu caso, recebi uma bolsa de estudos e fui cursar a Universidade de Paris. Ao chegar à Europa, descobri James Joyce, Picasso, Mondrian - toda aquela turma da arte moderna. Depois, fui até a Alemanha, comecei a estudar Sânscrito e me envolvi com o hinduísmo. Logo em seguida veio Jung; tudo estava se abrindo, por todos os lados".

Voltei à Universidade e disse: "Olha, não quero passar minha vida tentando aprender apenas aquilo que vocês querem me ensinar".

"Tinha feito todas as matérias necessárias para o título; só precisava redigir a maldita tese. Se não fizesse isso, não me deixariam prosseguir meus estudos e, portanto chegou a hora de dizer: vão para o inferno.

"Mudei-me para o campo e passei cinco anos lendo. Nunca tirei meu título de doutorado. Aprendi a viver com o mínimo possível, isso me dava liberdade, e foi uma época maravilhosa".

"É preciso coragem para fazer aquilo que desejamos, já que as outras pessoas têm sempre um monte de planos para nós. Tendo consciência disso, decidi seguir o meu sonho: não sei como passei esses cinco anos, mas estava convencido de que ainda sobreviveria outros cinco, se fosse necessário".

"Lembro-me de uma ocasião em que tinha uma nota de um dólar na gaveta de uma cômoda, e eu sabia que enquanto ela estivesse ali, eu ainda contaria com meus recursos. Foi ótimo. Minha única responsabilidade era com minha própria vida e com minhas escolhas".

Na verdade, houve momentos em que pensei: "Caramba, gostaria que alguém me dissesse o que preciso fazer". Ser livre implica escolher seu caminho, e cada passo pode alterar todo nosso destino - o que às vezes nos dá muito medo. Mas hoje, olhando para trás, vejo que os meus dias foram perfeitos: aquilo de que precisava apareceu justamente quando era necessário. Na época, tudo que eu precisava era ler durante cinco anos. Consegui, e isso foi fundamental para mim.

"Como diz Schopenhauer, quando você vê o que ultrapassou, tem a impressão de que seguiu um enredo já escrito. Entretanto, no momento da ação, parece que está perdido em uma tempestade: uma surpresa atrás da outra, e muitas vezes sem tempo para respirar - sendo obrigado a tomar decisões o tempo todo. Só mais tarde irá compreender que cada surpresa, cada decisão fazia sentido".

Joseph Campbell é mais uma prova de que, se estivermos seguindo nossos sonhos, as coisas virão no momento exato.

Mesmo assim, nem sempre temos coragem de escolher nosso destino. Nestas horas, vale a pena lembrar uma frase que li em um bloco de anotações de um hotel em Londres:

"A vida é aquilo que está acontecendo enquanto você está ocupado fazendo seus planos". (John Lennon)

O que pensa Paulo Coelho sobre a elegância


Às vezes eu me surpreendo com os ombros curvados; e sempre que estou assim, tenho certeza de que algo não está bem. Neste momento, antes mesmo de procurar a razão do que me incomoda, procuro mudar minha postura - torná-la mais elegante. Ao colocar-me de novo em posição ereta, dou-me conta de que este simples gesto me ajudou a ter mais confiança no que estou fazendo.

Elegância é geralmente confundida com superficialidade, moda, falta de profundidade. Isso é um grave erro: o ser humano precisa ter elegância em suas ações e em sua postura, porque esta palavra é sinônimo de bom gosto, amabilidade, equilíbrio, e harmonia.

É preciso ter serenidade e elegância para dar os passos mais importantes na vida. Claro, não vamos ficar delirando, preocupados o tempo inteiro com a maneira como movemos as mãos, sentamos, sorrimos, olhamos ao redor; mas é bom saber que nosso corpo fala uma linguagem, e a outra pessoa - mesmo inconscientemente - está entendendo o que dizemos além das palavras.

A serenidade vem do coração. Embora muitas vezes torturado por pensamentos de insegurança, ele sabe que - através da postura correta, pode tornar a equilibrar-se. A elegância física, a qual estou me referindo neste artigo, vem do corpo, e não é uma coisa superficial, mas a maneira que o homem encontrou para honrar a maneira com que coloca seus dois pés sobre a terra. Por isso, quando às vezes você sentir que a postura o está incomodando, não pense que ela é falsa ou artificial: ela é verdadeira porque é difícil. Ela faz com que o caminho sinta-se honrado pela dignidade do peregrino.

E por favor, nada de confundi-la com arrogância ou esnobismo. A elegância é a postura mais adequada para que o gesto seja perfeito, o passo seja firme, o seu próximo seja respeitado.

A elegância é atingida quando todo o supérfluo é descartado, e o ser humano descobre a simplicidade e a concentração: quanto mais simples e mais sóbria a postura, mais bela ela será.

A neve é bonita porque tem apenas uma cor, o mar é bonito porque parece uma superfície plana - mas tanto o mar como a neve são profundos e conhecem suas qualidades.

Caminhe com firmeza e alegria, sem medo de tropeçar. Todos os movimentos estão sendo acompanhados pelos seus aliados, que o ajudarão no que for necessário. Mas não esqueça que o adversário também está observando, e conhece a diferença entre a mão firme e a mão tremula: portanto, se estiver tenso, respire fundo, acredite que está tranquilo - e por um destes milagres que não sabemos explicar, a tranquilidade logo se instala.

por Paulo Coelho

O guerreiro da luz e suas contradições
Amor e combate - O guerreiro da luz às vezes luta com quem ama. Aprendeu que o silêncio significa o equilíbrio absoluto do corpo, do espírito, e da alma. O homem que preserva a sua unidade, jamais é dominado pelas tempestades da existência; tem forças para ultrapassar as dificuldades e seguir adiante.

Entretanto, muitas vezes sente-se desafiado por aqueles a quem procura ensinar a arte da espada. Seus discípulos o provocam para um combate e o guerreiro mostra sua capacidade: com alguns golpes lança as armas dos alunos por terra, e a harmonia volta ao local onde se reúnem.

"Por que fazer isto se és tão superior?" - pergunta um viajante.

"Porque, desta maneira, mantenho o diálogo" - responde o guerreiro.

Solidão e dependência
Quando um guerreiro sofre uma injustiça, geralmente procura ficar sozinho, para não mostrar sua dor aos outros.

É um comportamento bom e mau ao mesmo tempo.

Uma coisa é deixar que seu coração cure lentamente as próprias feridas. 

Outra coisa é ficar em meditação profunda todo o dia, com medo de parecer fraco.

Dentro de cada um de nós existe um anjo e um demônio, e suas vozes são muito parecidas. Diante da dificuldade o demônio alimenta essa conversa solitária, procurando nos mostrar como somos vulneráveis; e o anjo precisa da boca de alguém para se manifestar.

Pressa e paciência
Um guerreiro da luz precisa de paciência e rapidez ao mesmo tempo. Os dois maiores erros da estratégia são: agir antes da hora, ou deixar que a oportunidade passe longe.

Para evitar isto, o guerreiro trata cada situação como se fosse única e não aplica fórmulas, receitas, ou opiniões alheias.

O califa Moauiyat perguntou a Omr Ben Al-Aas qual era o segredo de sua grande habilidade política:

"Nunca me meti em assunto sem ter estudado previamente a retirada; por outro lado, nunca entrei e quis logo sair correndo" - foi a resposta.

Paz e atividade
No intervalo do combate, o guerreiro descansa.

Muitas vezes passa dias sem fazer nada, porque seu coração exige.

Mas sua intuição permanece alerta. Ele não comete o pecado capital da Preguiça, porque sabe onde ela o pode conduzir: à sensação morna das tardes de domingo, onde o tempo passa - e nada mais.

Um guerreiro descansa e ri. Mas está sempre atento.

Um anjo e um demônio
Um guerreiro sabe que um anjo e um demônio disputam a mão que segura a espada.

Diz o demônio: "você vai fraquejar. Você não vai saber o momento exato. Você está com medo".

Diz o anjo: "você vai fraquejar. Você não vai saber o momento exato. Você está com medo".

O guerreiro fica surpreso. Ambos disseram a mesma coisa.

Então o demônio continua: "deixa que eu te ajude".

E diz o anjo: "eu te ajudo".

Nesta hora, o guerreiro percebe a diferença. As palavras são as mesmas, mas os aliados são diferentes.

Então ele dedica sua vitória a Deus. E, com a confiança dos valentes, escolhe a mão de seu anjo.