Crescimento de 6,1%, o maior registrado desde o ano de 1980, faz mudar o status de “região esquecida”
Recuperação chinesa, perfil demográfico mais jovem e expansão da classe média influem no boom, dizem analistas
ÉRICA FRAGA – FOLHA SP
“Nem pobre o suficiente para atrair piedade e ajuda, nem perigosa o suficiente para incitar cálculos estratégicos, nem tinha crescido rápido o suficiente até recentemente para acelerar pulsos em salas de reunião.”
A descrição (em tradução livre) feita por Michael Reid em “O Continente Esquecido” explica a tendência do Ocidente em negligenciar a América Latina.
Mas esse status de região esquecida parece estar mudando, como Reid, editor de América Latina da revista “The Economist”, previu em seu livro, lançado em 2007.
Recentemente, a região tem sido alvo de relatórios de bancos e centros de pesquisa e ganhado cada vez mais espaço na mídia internacional.
O “Financial Times”, um dos mais respeitados jornais de finanças do mundo, dedicou cinco páginas na última terça-feira ao comércio exterior na América Latina.
Os olhares de fora voltados para ela se explicam pelo desempenho econômico. Em 2010, houve crescimento de 6,1%, a mais alta taxa de expansão desde 1980, antes da crise da dívida externa.
Outros dados econômicos positivos de 2010 não eram registrados há, pelo menos, 30 anos. A América Latina foi a segunda região que mais cresceu no ano passado, perdendo apenas para a Ásia.
Além disso, na lista dos 15 países do mundo com taxas de expansão do PIB mais altas, havia quatro sul-americanos: Paraguai, Argentina, Uruguai (parceiros do Brasil no Mercosul) e Peru.
CHINA
O forte desempenho econômico do Brasil, maior economia latino-americana, no ano passado contribuiu para a região. Mas, segundo analistas, a China é a principal causa do boom.
“Países da região se beneficiaram da recuperação chinesa, com forte crescimento das exportações de commodities”, diz Robert Wood, analista da consultoria Economist Intelligence Unit.
A expansão da classe média é citada como outra fonte de dinamismo. “Isso contribui para o crescimento do consumo doméstico e deve garantir que a demanda por commodities produzidas na América Latina continue forte”, avalia Marcos Aguiar, presidente do Boston Consulting Group no Brasil.
O perfil demográfico também é considerado um motor de crescimento. A média de idade na América do Sul é pouco inferior a 30 anos.
Isso significa que a população economicamente ativa deste continente ainda é grande em relação à parcela dos que não trabalham (crianças e idosos), o que deve continuar contribuindo para a expansão econômica.