FHC pendurado no pescoço de FHC


Por Mauro Santayana

Sob a alucinação da idade madura, que costuma ser mais assustadora do que a dos adolescentes, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está conseguindo o que sempre pretendeu, desde que deixou o governo, há oito anos: o tumulto no processo sucessório. Ele – e não mais ninguém – impediu que as bases nacionais de seu partido fossem consultadas sobre o candidato à sucessão do presidente Lula. Se pensasse mais no país e menos em sua própria vaidade, teria, como o líder que se arroga ser, presidido à construção do consenso que costuma antecipar as convenções partidárias. Haja os desmentidos que houver, ele sonhava em criar impasse entre os dois principais postulantes, a fim de ser visto como a grande solução apaziguadora. Ele continua animado por essa miragem no sáfaro horizonte de suas ambições.
Assim, estimulou o governador de São Paulo ao exercício de uma tática de desgaste contra as pretensões de Minas. Decretou a precedência de José Serra e acenou com a “chapa puro-sangue”. Acreditava que levaria Aécio Neves a renunciar a servir a Minas, ao servir ao Brasil, com novo pacto federativo para o desenvolvimento de todas as regiões do país, e a contentar-se em ser caudatário de projeto hegemônico alheio.
Na verdade, essa ilusão era instrumento de outra maior: a de que, com o afastamento do mineiro da disputa, seu próprio cacife aumentaria. Com isso, buscou inviabilizar Serra e Aécio, de tal maneira que, com o crescimento da candidatura de Dilma Rousseff – alvo de tenaz campanha desqualificadora da direita – as elites viessem a assustar-se e batessem às portas de seu escritório político, pedindo-lhe que as salvasse de uma “terrorista”.
Se esse não fosse o objetivo essencial do ex-presidente, poderíamos considerá-lo um tolo – e Fernando Henrique não é tolo. Seu comportamento poderia estar dentro da advertência de Galileu, de que muita sabedoria pode transformar-se em loucura, mas por enquanto, ele está apenas deslumbrado pela ambição. Se se prontifica a discutir com o presidente Lula, e aceitar a comparação entre os dois governos, isso só pode ocorrer na hipótese de que venha a ser ele mesmo o candidato. Do contrário, estará forçando o candidato de seu partido, seja Serra, seja Aécio, a se transformar em mero defensor de sua administração, e não postulante sério à sucessão. Ambos sabem que a comparação será desastrosa em termos eleitorais. Talvez ela pudesse realizar-se, nos meios acadêmicos, pelos economistas e sociólogos, companheiros de sua ex-excelência, e ainda assim é certo que Fernando Henrique perderá, se a discussão for séria. Entre outras coisas, o ex-presidente multiplicou as universidades pagas; Lula, ao contrário, criou novos centros universitários federais e promoveu maciça inclusão dos pobres no ensino médio e superior.
Pergunte-se ao eleitor do Crato e da periferia de São Paulo se ele estava mais feliz durante os anos de Fernando Henrique. Faça-se a mesma pergunta ao pequeno empresário que consolidou o seu negócio com a expansão do consumo, os créditos facilitados e os juros mais suportáveis que paga hoje. Até mesmo os banqueiros se sentem mais satisfeitos.
Ao promover o vazio – para o qual contribuiu o governador de São Paulo em suas íntimas incertezas – Fernando Henrique tenta, com seus artigos de campanha, identificar-se como o único capaz de preenchê-lo. Seu jogo perturba todo o processo político, tanto no plano nacional quanto nos estados. Fruto indireto desse exercício de feitiçaria macunaímica, foi a maldade que fizeram ao vice-presidente José Alencar. O ato de oportunismo estimulou a natural e justa autoestima do vice-presidente, e sua disposição de luta, para a disputa do governo de Minas. Não se tratava de real homenagem ao conhecido homem público. Se Alencar viesse a ser candidato ao Palácio da Liberdade, a verdadeira homenagem que lhe prestariam os competidores seria tratá-lo como adversário, e submetê-lo ao duro debate eleitoral. Do contrário, seria deixar explícita uma cínica comiseração, o que constituiria ofensa ao grande brasileiro.

Bob Dylan expõe pinturas



Entrada da galeria onde acontece a exposição de Dylan(Foto: Reuters)
O lendário músico americano Bob Dylan apresentará a partir desta semana em uma galeria de Londres seus primeiros quadros, em uma exposição que encerra uma etapa de sua cada vez mais consolidada carreira pictórica.
As dez obras de cores brilhantes são parte de uma série conhecida como The Drawn Blank Series, que começou com pinturas feitas enquanto ele estava em turnê entre 1989 e 1992. As pinturas apresentam temas e lugares de suas canções.
"Só desenhei o que era interessante para mim e depois pintei", indicou o artista em um comunicado. "Não estou tentando fazer comentários sociais ou aprofundar a visão de alguém", acrescentou.
Segundo Paul Green, presidente da galeria Halcyon, situada no elegante bairro de Mayfair, Dylan tem "um estilo totalmente próprio" e, "como muitos artistas, é multitalento".
Enquanto sua música é acessível a todos - como mostram os 110 milhões de discos vendidos -, seus quadros, com preços que oscilam entre 95.000 e 450.000 libras (275. 277 e 1.303.948 reais), estão ao alcance de poucos.
Os mais caros desta exposição, que permanecerá aberta ao público até 10 de abril, são os dois da série Train Tracks, que representam vias ferroviárias que desaparecem entre montanhas distantes sob um grande céu azul.
Dylan, que já está preparando uma nova série pictórica com o título Brasil, na qual intensificará mais a sua exploração da pintura sobre tela, deverá ter outra mostra dedicada ao seu trabalho este ano no Museu Nacional de Dinamarca.
(Com agência France-Press)

FHC frustou expectativas

O problema do governo FHC é que ele não teve êxito naquilo que se propôs a fazer, frustando expectativas (eu esperava mais de FHC em 1994 do que esperei de Lula em 2002). Essa avaliação nada tem a ver com ideologia ou simpatias partidárias.

Margareth Thatcher se propôs a fazer um governo neoliberal no Reino Unido e, mesmo eu sendo contra o neoliberalismo, sou obrigado a admitir que ela foi bem sucedida. Para citar um exemplo oposto, Boris Yeltsin na Rússia decpcionou nas reformas que se propôs a fazer, pois não geraram os resultados esperados.

FHC também não conseguiu fazer um governo bem sucedido dentro do que se propôs.


FHC alegava que vender a Vale e as Teles iria diminuir a dívida, mas a dívida aumentou a ponto de precisar do FMI para não cair em situação de moratória técnica. Disse que livrando o estado dos "elefantes" estatais sobraria mais dinheiro para Educação, Saúde e Segurança Pública, mas não vimos isso acontecer em seu governo. Dizia que a iniciativa privada teria uma capacidade maior de investimento, mas o setor elétrico sofreu um colapso. O setor ferroviário privatizado também precisou ser socorrido para não falir. Os pedágios onerosos impactaram no custo Brasil, no frete. As telecomunicações não acompanharam a queda de tarifas internacionais, e banda larga privada é artigo de luxo, não universalizado. É isso que pesa contra o governo FHC, por mais que ele apresente seus números que julga favorecê-lo.

A tese da continuidade de governos é fraca, porque governar bem não é necessariamente inovar. É conseguir administrar bem o que existe e produzir bons resultados. O povo vota na oposição justamente quando quer que algo que deveria estar funcionando no governo em curso não funciona, e cabe à oposição eleita fazer aquilo funcionar, pouco importa a fórmula.

Se um general é o primeiro a usar uma tática de guerra, mas sua atuação leva a uma derrota, e outro general vem depois e refaz a mesma tática e leva a vitória, é sempre o vitorioso quem terá o mérito da glória.

E olha que, no governo Lula, em muitas políticas houve inflexão, portanto é irreal falar só em continuidade.

Duarte

Solidão é para gênios


A maioria de nós precisa de afeto, farra e companhia
IVAN MARTINS
Arquivo Época
IVAN MARTINS 
É editor-executivo de ÉPOCA
Tenho de confessar uma dificuldade: a de conciliar um estilo de vida saudável com o jeito de viver que me faz feliz.
No domingo, por exemplo, saiu o bloco de carnaval da Vila Madalena. Havia milhares de pessoas na rua, a música estava boa, sambar ladeira abaixo é uma delícia. Passei quatro horas na farra, cercado de amigos, e fui dormir tarde da noite com dor de cabeça – por causa da cerveja, claro.
Na noite anterior, o sábado, também houve festa. E foi assim também na sexta. Feitas as contas, durante o fim de semana eu só consegui caminhar 30 minutos, no domingo, sob o sol abrasador do meio-dia. Talvez fosse melhor nem ter andado.
Não sei quanto a vocês, mas para mim finais de semana como esse me enchem de culpa.
Culpa por ter bebido demais. Culpa por comer mal. Culpa por não ter descansado depois de uma semana de trabalho. Culpa por não ter passado horas se exercitando ao ar livre (sambar na ladeira com uma latinha na mão não conta...) e culpa, claro, por não ter visto os bons filmes, lido os bons livros e passado em revista aquela pilha de publicações que cresce no canto da sala.
Movido pela culpa – e pelo senso de dever – fui olhar a lista de prioridades que risquei na virada do ano e descobri que nenhum dos oito itens foi resolvido. Um único deles foi encaminhado. Para piorar as coisas, o Carnaval vem aí...

A vida nas grandes cidades, no início do século 21, está montada sobre o princípio do prazer, não do dever. É muito fácil ser arrancado do esporte ou do sono ou do trabalho ou da leitura para sair e se divertir – e as pessoas fazem isso, cada vez mais.Se eu achasse que esse é um problema apenas meu, não me daria ao trabalho de escrever sobre ele. Mas acho que se trata de uma dificuldade universal.
Anos atrás, sair de noite e voltar de madrugada era coisa de gente jovem e solteira. Hoje não. Os mais velhos fazem isso. Os jovens casais com filhos também. Basta passar num bairro de restaurantes ou diante de uma balada numa noite de calor para ver gente aglomerada. Qualquer dia da semana, todo tipo de gente.
Exagero? Hoje, na hora do almoço, um jovem na mesa ao lado comentava com naturalidade sobre a casa de samba onde ele esteve... na noite de segunda-feira.
Antes que alguém levante o dedo, eu mesmo faço a ressalva: há entre nós que não têm a menor chance de gozar esse estilo de vida. O Brasil ainda é um país injusto, com dezenas de milhões de pobres para quem sair no meio da semana – ou mesmo no fim de semana – é uma espécie de utopia pessoal.
Mas essas coisas estão mudando.
O crescimento da economia fez com que milhões de pessoas pudessem consumir e gastar mais com lazer. Isso significa sair, beber, comer, dançar... Eu espero que logo a maioria tenha diante de si o dilema que hoje afeta um número menor de pessoas: como conciliar prazeres e necessidades?
Eu ainda não descobri, mas já notei algumas coisas:
  • Não se pode chutar o pau da barraca. Quem bebe demais e não trabalha no dia seguinte é rico ou é burro. A vida da cidade exige dinheiro e esse só chega às nossas mãos de forma duradoura pelo trabalho. Herdeiros que se locupletem, espertos que se arrisquem, mas o resto de nós precisa achar um meio termo.
  • Há que arrumar um ofício do qual a gente goste. O trabalho diário ao longo dos anos não é fácil para ninguém, mas torna-se muito mais agradável quando se gosta do que se faz. Trabalhar todos os dias apenas pelo dinheiro deve ser intolerável. 
  • Ninguém quer morrer cedo. Eu, por exemplo, estou decidido a conhecer meus netos. Para isso, há que estabelecer um equilíbrio entre usar e cuidar do corpo com que viemos ao mundo. Exercícios ajudam, alimentação garante. E sexo não atrapalha. 
  • Prazer faz bem e o amor nos mantém vivo. Estar apaixonado e cercar-se de gente que você ama têm efeito rejuvenescedor, em mais de um sentido.Cada vez que a gente começa um namoro, abre-se pra nós um mundo novo de ideias, pessoas, passeios e possibilidades. É a vida dos outros que chega arejando a nossa vida. O mesmo acontece com os filhos. Eles trazem da rua um universo reinventado pela geração deles – é só prestar atenção.
  • É essencial estar entre os outros. A solidão é para os gênios e para os loucos. A maioria de nós precisa estar no grupo, sentir-se parte dele, trocar ideias e partilhar aspirações. Isso nos dá uma dimensão real de nós mesmos e nos confere uma medida justa da realidade - além da alegria pura e simples de sambar na multidão. 
  • O silêncio faz parte. De vez em quando, o barulho da rua impede que a gente ouça a própria voz. Então é hora de sossegar um bocadinho. Como a boa poesia, a vida é feita de frases longas seguidas de frases curtas, intercaladas por silêncio. 
  • Não acredito em vida perfeita, arranjo perfeito ou solução definitiva. Mas se você acha que achou a fórmula da felicidade (que não seja o Ele totalitário), me escreva. Prometo que leio. 

Redação

Tema: 

'O mano'

Quando eu tiver um mano,
vai-se chamar Herrar, 
porque
Herrar é u mano.

Os anti-Lula anti-PT anti-Povo

Este é o destino dos 6% de brasileiros que sofrem de
TOCAL

Há 30 anos, nascia o PT

ImageHá 30 anos, recém-saído da clandestinidade, assinei com outros 111 companheiros e companheiras a ata de fundação do PT. 


O partido entrou em minha vida para nunca mais sair. 


Comecei a militar num núcleo, fui secretário de diretório zonal da capital e de formação política do diretório regional de São Paulo, seu secretario geral e depois secretário-geral e presidente nacional do PT durante sete anos. Continua>>>