A mais bela aborecente do mundo



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GABRIELE MARINHO
Gabriele Marinho, 17 anos, foi eleita em Houston (EUA) miss adolescente do mundo.
Ela foi coroada Miss Teen World. “ Estou muito feliz. E venci o preconceito”, disse ela. 
“As pessoas dizem: você é tão bonita, parece do Sul. Eu provei o contrário, que meu estado está muito acima de qualquer preconceito.” 
Gabriele é fã da modelo gaúcha Alessandra Ambrósio, e diz que muitas vezes foi questionada se era gaúcha, por ser loira de olhos verdes.
 “Você nasceu mesmo em Alagoas? perguntavam. Já no meu primeiro concurso, juvenil, me perguntaram se eu era mesmo de Maceió. Eu respondia: meu sotaque não nega.”

A transformação do TNP (Tratado de Não Proliferação) em letra morta cairia bem

Começou bem o novo ministro da Defesa, Celso Amorim, ao dizer que interessa ao Brasil manter o continente como área completamente livre de armas de destruição em massa.  

Contribui para afastar um pouco as dubiedades cultivadas no período anterior, quando o então chanceler Amorim e o chefe dele fizeram o mundo desconfiar de nossas intenções nesse tema. 

A doutrina é sabida. Numa América do Sul estrategicamente pacífica nossa liderança é natural e nossa hegemonia, inercial. Nas redondezas ninguém compete conosco em território, população ou economia.  

Aliás, bastou o Brasil nos anos recentes inverter a lógica de dar as costas aos vizinhos que liderança e hegemonia se impuseram quase naturalmente. 

Quem procura ter a bomba é para apontá-la na direção de alguém. Nós não temos contenciosos territoriais com os vizinhos, nem somos alvo nuclear da superpotência. 

E a Amazônia ser cada vez mais brasileira depende principalmentende de outras políticas, econômicas e demográficas. E de defesa convencional. 

Qualquer sinal brasileiro rumo à bomba desencadearia uma corrida regional, quando certamente alguns hoje parceiros iriam bater às portas de Washington atrás de proteção contra nós.  

Ingerência é tudo que não queremos. E do que não precisamos. 

Quando o Brasil se meteu no imbroglio levantino, dando sustentação política ao jogo belicista de comprar tempo praticado pelos iranianos, despertou a dúvida razoável sob nossas próprias intenções.  

A transformação do TNP (Tratado de Não Proliferação) em letra morta cairia bem para um país, suportamente nós, incomodado por ter assinado o acordo. 

E desconfortável por estar legalmente manietado nas ambições nucleares. 

Estava na moda dizer, como fez o governo da época, que os detentores de tecnologia bélica nuclear não tinham moral para impedir ninguém de buscar o mesmo status. 

Lógico, mas bizarro. Pois a consequência prática dessa linha seria uma corrida nuclear em escala global. O armamento nuclear generalizado. 

A partir do qual ficaria certamente mais difícil promover o desarmamento generalizado. 

E o risco de perda de controle dos estoques, o risco de disseminação, sofreria elevação exponencial. 

Resta saber se a nova linha de Amorim é jogo de sedução, convicção ou decisão política de governo. Provavelmente uma combinação dos três vetores. 

E a vida prática se encarregará de esclarecer qual deles pesa mais. 

Para remover dúvidas, talvez fosse o caso, então, de passar das palavras aos atos.  

Se o Brasil está convicto do que diz o ministro da Defesa (e ele no ambiente atual certamente não sairia deitando falação sem combinar com a chefe), deve avaliar a sério a assinatura do protocolo adicional do TNP. 

Protocolo que prudentemente aumenta o poder investigativo e fiscalizatório da Agência Internacional de Energia Atômica sobre os programas nucleares dos signatários. 

E o certo seria dar esse passo no âmbito da Unasul, a união de países sul-americanos. Todos juntos. 

Exatamente para garantir o cenário regional pacífico, que mais atende ao legítimo interesse nacional. 

Corrida 

O rebaixamento dos títulos americanos gerou uma corrida não contra, mas a favor dos títulos americanos. 

Foram rebaixados e saiu todo mundo correndo para comprar. As bolsas desabaram e o dólar valorizou, pois o Tesouro americano faz dívida em dólar. 

Ou seja, os investidores não concordam que tenha aumentado o risco de insolvência dos Estados Unidos.  

Mas concordam que o rebaixamento dos títulos americanos contribuiu para piorar o ambiente econômico planetário. 

E o Brasil? Se o dólar subir um tanto, valerá mais que toda a conversa sobre política industrial. O problema será se subir o suficiente para apertar ainda mais a inflação, com ela já no teto. 

Se bem que o teto, sabemos, já tinha deixado de sê-lo faz tempo. 

A outra variável é o crescimento, mas não consta que o Brasil vá colocar o pé no breque. Vai ficar pendurado no crescimento mundial. Ou na falta de. 
por Alon Feurwerker 


Bolo fofinho de laranja

bolo-de-laranja-fofinho-f8-6590.jpg Ingredientes
6 ovos
3 xícaras (chá) de açúcar
180 ml de suco de laranja
1 1/2 xícara(chá) de amido de milho
1 1/2 xícara (chá) de farinha de trigo
1 colheres (sopa) de fermento químico em pó  


Como preparar
Deixe a batedeira ligada até o final dos ingredientes. Bata as claras em neve, até ficar bem firme, junte o açúcar e bata bem, depois junte as gemas e bata bem para misturar. Com 1 colher acrescente aos poucos o amido, farinha de trigo e o suco de laranja, no final coloque o fermento em pó. Leve ao forno moderado até assar. 



Mudar prá que?...

AMAR SEUS [os] DEFEITOS É MINHA [uma] VIRTUDE.
EU MUDO DE CASA, CASO VOCÊ MUDE.
RÍMEL NÃO USE SOMBRA NÃO COLOQUE.
SEU ROSTO É PERFEITO, SEM NENHUM RETOQUE.

NÃO MUDE DE CORTE, NEM PINTE OS CABELOS.
VOCÊ FAZ MODA, SEM SEGUIR MODELOS.
ANEÍS, PULSEIRAS E BRINCOS [perfumes] PRA QUÊ?
VOCÊ USA JÓIA, SE A JÓIA É VOCÊ.

EU TENHO MEDO DE VOCÊ MUDAR
E A OUTRA PESSOA NÃO ME APAIXONAR [não me apaixona mesmo]
MORRO DE MEDO DE VOCÊ MUDAR
E A OUTRA PESSOA NÃO ME APAIXONAR [não me apaixona mesmo]

QUEM MUDA O CARÁTER, MUDA A CONSCIÊNCIA.
É ESSENCIAL MANTER A ESSÊNCIA
MESMO COM ARTE, O ARTIFICIAL.
NÃO DESTROI O BRILHO, DO QUE É NATURAL.

VOCÊ TEM ALGO, QUE SÓ DEUS EXPLICA.
QUANTO MAIS SIMPLES, MAIS BONITA FICA.
COMO FOI ONTEM, QUE SEJA AMANHÃ.
EU NASCI SEU HOMEM E VOU MORRER SEU FÃ

FHC [ [a prostituta] Ofélia da política brasileira ] escancaroou


A propósito do atual dilema americano, a secretária de Estado, Hillary Clinton, disse que pela primeira vez em muito tempo não havia um abismo tão grande entre poder, economia e sociedade. Pode parecer banal, mas não é: nos Estados Unidos, o “ideal americano” dava solidez para um caminho em comum para o país. Havia tensões, tendências mais progressistas chocavam-se com outras mais conservadoras, o grande business sempre quis controlar mais de perto o governo, os governos ora se inclinavam para atender aos reclamos das maiorias ora assumiam a cara mais circunspecta de quem ouve as ponderações da ordem, da econômica em primeiro lugar. Mas, bem ou mal, liberdade, democracia, prosperidade e ação pública caminhavam mais ou menos em conjunto.
E agora, poderia perguntar perplexa a secretária de Estado? Agora, digo eu, parece que as classes médias e os mais pobres querem gasto público maior e emprego mais abundante, os conservadores querem ortodoxia fiscal sem aumento de impostos, os muito ricos pouco se incomodam com o gasto social reduzido, desde que a propriedade de cada um continue intocável. No meio de tudo isso, a crise provocada pelo cassino financeiro surgiu como um terremoto. Logo depois, veio o marasmo da semiestagnação e, pior ainda, se desenha o que há pouco era impensável, a moratória do país mais rico do mundo! Por trás da peleja econômica corre a outra, mais profunda, a do poder: o Tea Party – os ultrarreacionários do Partido Republicano – levaram o governo Obama às cordas. A agenda política, mesmo depois de “resolvida” a questão do endividamento, passou a ser ditada por eles: onde e quanto cortar mais no orçamento de um país que clama por muletas para reavivar a economia.
Na Europa as coisas não andam melhores. Cada solavanco da economia americana aumenta o contágio, esta doença internética: as taxas de juros cobrados dos países ultraendividados vão para as nuvens. A rua se agita, não faltam movimentos dos “indignados” que veem o povo sofrer as agruras do desemprego e da desesperança e ainda ser cobrado para que as contas se ajustem. E, naturalmente, como nos Estados Unidos, os que mais têm e os que mais especularam ou esbanjaram (inclusive governantes imprevidentes) balançam a poeira e querem dar a volta por cima. Esperam que mais aperto, mais rigidez no gasto público e menos salários resolvam o impasse. Não se estão dando conta de que a cada xis meses uma nova tormenta balança os equilíbrios instáveis alcançados. É como se daqui a 30 anos os historiadores olhassem para trás e dissessem: “Ah, bom, a Grande Crise dos Derivativos começou em 2007/2008, foi mudando de cara, mas prosseguiu até que novas formas de produzir e de distribuir o poder começaram a dar sinais de vida lá por 2015/2020...
E nós aqui nesta periferia gloriosa a quantas andamos? Longe do olho do furacão cantamos glória pelo que fizemos, pelo que de errado os outros fizeram e pelo que não fizemos, mas, pensamos, pouco importa, o vendaval do mundo varreu a riqueza de uma parte do globo para outra e nos beneficiou. Será que é assim mesmo? Será que a proeza de evitar as ondas do tsunami impede que a malignidade do resto do mundo nos alcance? Tenho minhas dúvidas. Falta-nos, como impuseram os reacionários americanos a Obama, uma agenda, mas que seja nova e não a desgastada do “clube do chá” americano. A nova agenda existe, está exposta cotidianamente pela mídia e não é propriedade de um partido ou de um governo. Mas onde está a argamassa, como o antigo ideal americano, para conter as divergências, o choque de interesses, e guiar-nos para um patamar mais seguro, mais próspero e mais coeso como nação?
Mal comparando, a presidenta Dilma está aprisionada em um dilema do gênero daquele que agarrou Obama. Só que, se no caso americano a crise apareceu como econômica para depois se tornar política, em nosso caso ela surgiu como política, mas poderá se tornar econômica. Explico-me: a presidenta é herdeira de um sistema, como dizíamos no período do autoritarismo militar. Este funciona solidificando interesses do grande capital, das estatais, dos fundos de pensão, dos sindicatos e de um conjunto desordenado de atores políticos que passaram a se legitimar como se expressassem um presidencialismo de coalizão no qual troca-se governabilidade por favores, cargos e tudo mais que se junta a isso.
Esta tendência não é nova. Ela foi-se constituindo à medida em que o capitalismo burocrático (ou de estado, ou como se o queira qualificar) amealhou apoios amplos entre sindicalistas, funcionários e empresários sedentos por contratos e passou a conviver com o capitalismo de mercado, mais competitivo. Na onda do crescimento econômico as acomodações foram se tornando mais fáceis, tanto entre interesses econômicos quanto políticos (incluindo-se neles os “fisiológicos” e a corrupção). No início parecia fenômeno normal das épocas de prosperidade capitalista que seria passageiro. Pouco a pouco se foi vendo que era mais do que isso: cada parte do sistema precisa da outra para funcionar e o próprio sistema necessita da anuência dos cooptáveis pelas bolsas e empregos de baixo salários e precisa de símbolos e de voz. Esta veio com o “predestinado”: o lulismo anestesiou qualquer crítica não só ao sistema mas a suas partes constitutivas.
É neste ponto que o bicho pega. A presidenta é menos leniente com certas práticas condenáveis do sistema. Entretanto, quando começa a fazer uma faxina quebram-se as peças da engrenagem toda. Sem leniências e cumplicidades entre as várias partes, como obter apoios para a agenda necessária à modernização do país? E sem ela, como fazer frente à concorrência da China, à relativa desindustrialização, ou melhor, “desprodutividade” da economia e como arbitrar entre interesses legítimos ou não dos que precisam de mais apoio do governo, advenham eles de setores populares ou empresariais? É cedo para prever o curso dessa história, que apenas começa. Mas não há dúvidas que para se desfazer da herança recebida será preciso não só “vontade política” como, o que é tão difícil quanto, refazer os sistemas de alianças. É luta para Davis e, no caso, Golias é pai de Davi.

O segundo tempo da crise mundial já começou. E lembra bastante o que foi a crise de 1929


A daquela época experimentou as seguintes fases:
1. Um movimento especulativo cada vez mais intenso, devido à falta de controle sobre os fluxos de capitais e sobre as especulações em mercado. Criou-se a bolha, que explodiu em 1929, com o crack da Bolsa de Nova York.
2. Os EUA eram a grande potência que emergia. A crise da sua economia espalhou-se por outros países, levando a uma guerra comercial sem precedentes, com a criação de barreiras comerciais e o recurso das desvalorizações cambiais defensivas.
3. Com a entrada de Franklin Delano Roosevelt na presidência do país, seguiu-se um período de aumento dos gastos públicos, reorganização das finanças das famílias (através da renegociação de suas dívidas hipotecárias), o enquadramento do sistema bancário, que permitiram a recuperação da economia.
4. Por temor da inflação, em 1937 Roosevelt soltou um plano fiscal severo que trouxe a crise de volta. A economia norte-americana foi salva pela Segunda Guerra.
***
Em 2008, o movimento foi assim:
1. Crescimento das jogadas especulativas pelos mesmos motivos do início do século e quebra das bolsas em 2008.
2. Para evitar uma crise bancária de proporção gigantescas, governos nacionais aprovam pesados planos de auxílio às empresas e aos bancos. Mas se esquecem do consumidor individual, que perde emprego e perde renda (devido às suas dívidas).
3. Com muito dinheiro no caixa, mas com a atividade econômica em baixa, os bancos ficam com recursos empoçados. Esse dinheiro volta a buscar mercados especulativos: commodities e moedas.
4. A crise global enfraquece governos nacionais que se veem ante o difícil dilema de realizar ajustes fiscais pesados (para dar conta do endividamento anterior) e manter a popularidade política.
5. Em um primeiro momento, a OMC (Organização Mundial do Comércio) evitar a guerra comercial. E os países limitam as guerras cambiais. Mas a decisão dos EUA de resgatar bilhões em títulos públicos provoca uma nova inundação de dólares no mercado, derrubando seu valor e encarecendo a moeda de todos os demais países. Deflagra-se a guerra cambial.
6. Chega-se então na fase em que as crises políticas internas de cada país impedem os grandes acordos multilaterais capazes de contornar a crise. A União Europeia fica manietada pelos impasses entre governos nacionais dos principais países (Alemanha e França) e o Banco Central Europeu, sobre transferir parte da conta aos bancos. A crise se estende de países menores – Irlanda, Portugal e Grécia – para economias maiores – Espanha e Itália.
7. O governo dos EUA aprova um pacote fiscal pesado. O pacote reduz as expectativas de recuperação da economia mundial.
***
Agora o que se tem é um cenário de ampla incerteza. Como maior comprador do mundo, o prolongamento da crise norte-americana afetará comércio mundial, especialmente o asiático. Ainda não há como prever se o crescimento da China compensará a queda dos EUA.
De qualquer modo, não há ainda luz à vista no horizonte da economia mundial.
por Luis Nassif

por Fernando Henrique Cardoso - a Ofélia da política brasileira -


A propósito do atual dilema americano, a secretária de Estado, Hillary Clinton, disse que pela primeira vez em muito tempo não havia um abismo tão grande entre poder, economia e sociedade. Pode parecer banal, mas não é: nos Estados Unidos, o “ideal americano” dava solidez para um caminho em comum para o país. Havia tensões, tendências mais progressistas chocavam-se com outras mais conservadoras, o grande business sempre quis controlar mais de perto o governo, os governos ora se inclinavam para atender aos reclamos das maiorias ora assumiam a cara mais circunspecta de quem ouve as ponderações da ordem, da econômica em primeiro lugar. Mas, bem ou mal, liberdade, democracia, prosperidade e ação pública caminhavam mais ou menos em conjunto.
E agora, poderia perguntar perplexa a secretária de Estado? Agora, digo eu, parece que as classes médias e os mais pobres querem gasto público maior e emprego mais abundante, os conservadores querem ortodoxia fiscal sem aumento de impostos, os muito ricos pouco se incomodam com o gasto social reduzido, desde que a propriedade de cada um continue intocável. No meio de tudo isso, a crise provocada pelo cassino financeiro surgiu como um terremoto. Logo depois, veio o marasmo da semiestagnação e, pior ainda, se desenha o que há pouco era impensável, a moratória do país mais rico do mundo! Por trás da peleja econômica corre a outra, mais profunda, a do poder: o Tea Party – os ultrarreacionários do Partido Republicano – levaram o governo Obama às cordas. A agenda política, mesmo depois de “resolvida” a questão do endividamento, passou a ser ditada por eles: onde e quanto cortar mais no orçamento de um país que clama por muletas para reavivar a economia.
Na Europa as coisas não andam melhores. Cada solavanco da economia americana aumenta o contágio, esta doença internética: as taxas de juros cobrados dos países ultraendividados vão para as nuvens. A rua se agita, não faltam movimentos dos “indignados” que veem o povo sofrer as agruras do desemprego e da desesperança e ainda ser cobrado para que as contas se ajustem. E, naturalmente, como nos Estados Unidos, os que mais têm e os que mais especularam ou esbanjaram (inclusive governantes imprevidentes) balançam a poeira e querem dar a volta por cima. Esperam que mais aperto, mais rigidez no gasto público e menos salários resolvam o impasse. Não se estão dando conta de que a cada xis meses uma nova tormenta balança os equilíbrios instáveis alcançados. É como se daqui a 30 anos os historiadores olhassem para trás e dissessem: “Ah, bom, a Grande Crise dos Derivativos começou em 2007/2008, foi mudando de cara, mas prosseguiu até que novas formas de produzir e de distribuir o poder começaram a dar sinais de vida lá por 2015/2020...
E nós aqui nesta periferia gloriosa a quantas andamos? Longe do olho do furacão cantamos glória pelo que fizemos, pelo que de errado os outros fizeram e pelo que não fizemos, mas, pensamos, pouco importa, o vendaval do mundo varreu a riqueza de uma parte do globo para outra e nos beneficiou. Será que é assim mesmo? Será que a proeza de evitar as ondas do tsunami impede que a malignidade do resto do mundo nos alcance? Tenho minhas dúvidas. Falta-nos, como impuseram os reacionários americanos a Obama, uma agenda, mas que seja nova e não a desgastada do “clube do chá” americano. A nova agenda existe, está exposta cotidianamente pela mídia e não é propriedade de um partido ou de um governo. Mas onde está a argamassa, como o antigo ideal americano, para conter as divergências, o choque de interesses, e guiar-nos para um patamar mais seguro, mais próspero e mais coeso como nação?
Mal comparando, a presidenta Dilma está aprisionada em um dilema do gênero daquele que agarrou Obama. Só que, se no caso americano a crise apareceu como econômica para depois se tornar política, em nosso caso ela surgiu como política, mas poderá se tornar econômica. Explico-me: a presidenta é herdeira de um sistema, como dizíamos no período do autoritarismo militar. Este funciona solidificando interesses do grande capital, das estatais, dos fundos de pensão, dos sindicatos e de um conjunto desordenado de atores políticos que passaram a se legitimar como se expressassem um presidencialismo de coalizão no qual troca-se governabilidade por favores, cargos e tudo mais que se junta a isso.
Esta tendência não é nova. Ela foi-se constituindo à medida em que o capitalismo burocrático (ou de estado, ou como se o queira qualificar) amealhou apoios amplos entre sindicalistas, funcionários e empresários sedentos por contratos e passou a conviver com o capitalismo de mercado, mais competitivo. Na onda do crescimento econômico as acomodações foram se tornando mais fáceis, tanto entre interesses econômicos quanto políticos (incluindo-se neles os “fisiológicos” e a corrupção). No início parecia fenômeno normal das épocas de prosperidade capitalista que seria passageiro. Pouco a pouco se foi vendo que era mais do que isso: cada parte do sistema precisa da outra para funcionar e o próprio sistema necessita da anuência dos cooptáveis pelas bolsas e empregos de baixo salários e precisa de símbolos e de voz. Esta veio com o “predestinado”: o lulismo anestesiou qualquer crítica não só ao sistema mas a suas partes constitutivas.
É neste ponto que o bicho pega. A presidenta é menos leniente com certas práticas condenáveis do sistema. Entretanto, quando começa a fazer uma faxina quebram-se as peças da engrenagem toda. Sem leniências e cumplicidades entre as várias partes, como obter apoios para a agenda necessária à modernização do país? E sem ela, como fazer frente à concorrência da China, à relativa desindustrialização, ou melhor, “desprodutividade” da economia e como arbitrar entre interesses legítimos ou não dos que precisam de mais apoio do governo, advenham eles de setores populares ou empresariais? É cedo para prever o curso dessa história, que apenas começa. Mas não há dúvidas que para se desfazer da herança recebida será preciso não só “vontade política” como, o que é tão difícil quanto, refazer os sistemas de alianças. É luta para Davis e, no caso, Golias é pai de Davi.