Não fosse assim, a revista não teria recorrido aos serviços do bicheiro Carlos Cachoeira para tentar seguir – ilegalmente – todos os seus passos no Hotel Naoum, em Brasília. Da mesma forma, a revista não teria feito uma capa com fogos de artifício, quando o Supremo Tribunal Federal definiu as penas dos réus da Ação Penal 470.
Dirceu é um alvo especial para a revista porque ocupa um papel simbólico na história da esquerda brasileira. Transformá-lo em bandido, em personagem inescrupuloso ou numa espécie de monstruosidade moral é uma maneira, também, de criminalizar a própria esquerda.
É nesse contexto que se insere a biografia não autorizada "Dirceu", escrita pelo jornalista Otávio Cabral, editor de Veja. Até algumas semanas atrás, divulgava-se que o livro não seria mais lançado, diante dos receios da editora LeYa. Agora, "de surpresa", o livro chega às livrarias pela Record e também à capa de Veja desta semana, cuja imagem é simbólica: o "monstro" pragmático Dirceu tira a máscara do "herói" sonhador, que ele usara na juventude. Abaixo disso, chamadas impactantes como num thriller policial: "Uma biografia não autorizada conta a transformação do jovem militante em um exímio manipulador político, homem de negócios e condenado que SEQUESTROU - TEVE MÚLTIPLAS IDENTIDADES - CHANTAGEOU LULA.
Sobre o livro em si, poucas revelações bombásticas, a julgar pelo que está contido na reportagem de Veja. Uma das revelações é a de que, enquanto viveu no Paraná com Clara Becker e assumiu a identidade do empresário "Carlos Henrique", Dirceu não mantinha apenas uma vida dupla, que ocultava da própria mulher. Ele também teria tido uma amante em São Paulo, onde comprava roupas para sua loja, e, portanto, tinha uma "vida tripla", segundo Veja.