Onestidade da Globo
concessão com deságio de 52% no pedágio nas BR 060 - BR 153 - BR 262
O leilão, ocorrido na manhã de hoje (4) na BMF&Bovespa, foi realizado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Este foi o terceiro leilão de rodovias previsto no Programa de Investimentos em Logística (PIL). Desta vez foram concedidos à iniciativa privada 1.176,50 quilômetros de rodovias. O grupo empresarial vencedor terá 30 anos de concessão, com investimentos de R$ 7, 15 bilhões.
O contrato prevê ao vencedor o investimento em exploração da infraestrutura e em prestação do serviço público de recuperação, conservação, manutenção, operação, implantação de melhorias e ampliação de capacidade das rodovias, além do contorno de Goiânia (GO). Os serviços serão executados em 630,20 quilômetros das BRs-060 e 153, – desde o entroncamento com a BR-251, no Distrito Federal, até a divisa dos estados de Minas Gerais e São Paulo – e em 546,30 quilômetros da BR-262 – entre o entroncamento com a BR-153 e o entroncamento com a BR-381, no estado de Minas Gerais.
Na última quarta-feira (27) foi leiloado um trecho da BR-163, em Mato Grosso. Dos sete consórcios ou empresas individuais que concorreram, o vencedor foi o grupo Odebrecht S/A, que fixou a tarifa de pedágio em R$ 2,63 a cada 100 quilômetros rodados, valor 52,03% abaixo do teto estabelecido pelo governo federal (R$ 5,50). Com o compromisso de investir em melhorias na BR-163, a ganhadora do leilão poderá explorar por 30 anos o trecho de 850,9 quilômetros, da divisa com o estado de Mato Grosso do Sul até a cidade de Sinop, em Mato Grosso. É a terceira etapa do Programa de Concessão de Rodovias Federais. Os investimentos devem chegar a R$ 4,6 bilhões até o fim do contrato. Nos primeiros cinco anos, as pistas serão duplicadas, e a cobrança do pedágio poderá começar quando 10% do trecho estiverem concluídos.
Bilhete único, vinhos e eleição
Aqui vai um projeto de pesquisa para a sucessão presidencial do ano que vem. Qualquer um pode fazê-la, usando a amostra que quiser.
Numa conversa solta, puxe o assunto do Bilhete Único nos transportes públicos e procure memorizar quantos minutos, ou segundos, ela rendeu. Passado algum tempo, mude de assunto, fale de vinhos e procure avaliar a duração da nova conversa.
Se a temática do vinho rendeu mais que a do Bilhete Único e esse grupo de interlocutores não vota no PT de jeito nenhum, Dilma Rousseff está reeleita. Pelo simples motivo de que o número de pessoas que são capazes de discutir o preço das tarifas de transportes públicos é maior que o de interessados em conversar sobre vinhos.
A pesquisa tem vícios de método, mas serve para medir o grau de distanciamento em que se pode estar em relação ao mundo daqueles que andam de ônibus, cujo voto vale a mesma coisa que o de um degustador de Romanée Conti.
(Noves fora Lula, que apreciou o tinto oferecido por Duda Mendonça, não entra em ônibus de catraca há mais de 30 anos, mas faz política de olho no andar de baixo. Isso para não falar de petista que lê "Chianti" e pede "Xianti".)
Durante a campanha municipal de São Paulo, quando o candidato Fernando Haddad lançou a ideia do Bilhete Único Mensal, a campanha tucana chamou-o de "Bilhete mensaleiro", dizendo que seria "uma nova taxa, a taxa do ônibus".
Divide-se Pindorama em duas tribos. Uma, de quem já usou essa modalidade de bilhete em suas viagens ao exterior e outra, que não compraria o Bilhete Único Mensal sem fazer a conta. Todos sabiam que a proposta não era uma taxa, pois só compra o bilhete (ou um Rolls-Royce) quem quer. O aspecto demofóbico do ataque vinha da crença de que a turma que anda de ônibus, por burra, não faz conta e acredita em qualquer coisa.
O Bilhete Único Mensal começou a funcionar sábado em São Paulo. Custa R$ 140 para os ônibus e R$ 230 quando integrado ao sistema de trilhos. Com ele o cidadão faz quantas viagens quiser. Cadastraram-se 150 mil pessoas e cerca de 80 mil responderam a um questionário informando sua faixa de renda, mais alguns dados sociais. Grosseiramente, pode-se dizer que o usuário do novo bilhete cabe na seguinte moldura: tem menos de 24 anos (46%), trabalha e estuda (38%), e ganha até R$ 1.147 (65%). Já foram retirados seis mil cartões.
A demofobia transformou o Bilhete Único Mensal numa bandeira petista, mas nem tudo está perdido. O tucanato paulista demorou 19 meses para integrar a rede estadual de trilhos ao Bilhete Único dos ônibus municipais.
Era um tempo em que se podia confiscar o desconto dado aos usuários habituais do metrô e transportecas argumentavam que cartões carregados com valores de até R$ 100 poderiam virar um estímulo aos assaltos. Agora o governador Geraldo Alckmin associou-se imediatamente à tarifa única mensal. Essa rapidez deveu-se a facilidades logísticas, mas não se deve desprezar o "efeito rua".
Dilma e o PT não cavalgam apenas políticas públicas que podem ser discutidas, anuladas ou aperfeiçoadas. Cavalgam acima de tudo a demofobia dos adversários, incapazes de mudar a qualidade do debate sobre transportes públicos, saúde e educação.
Elio Gaspari