Henfil diria

Essa pesquisa Datafolha é muito estranha...

Receita do dia

Ovo de Páscoa trufado

Ingredientes:
  • 01 lata de creme de leite
  • 01 colher de sopa de mel
  • 01 dose de licor de cacau
  • 100 gramas de chocolate ao leite
  • 150 gramas de chocolate meio amargo
Como fazer:

Crônica dominigal de A. Capibaribe Neto

O homem que nunca chegava

Era como se as malas nunca fossem abertas. Mal chegava já estava de partida. Vivera uma vida de desencontros embora estivesse sempre em busca do porto definitivo. Queria chegar, ficar mais tempo, talvez a vida inteira, e precisava encontrar motivos, terreno fértil, plantar sementes, sentir as raízes procurando o fundo da terra para se agarrar, para se fincarem e não temer ventos, tempestades, raios, o que fosse. E chegava, e procurava até cansar. Depois, sentava e ficava ali, ao lado da mala surrada e da mochila onde carrega todos os retalhos da vida vivida e retalhada em mil partidas, em mil buscas e desencontros, na paz aparente de uma praça qualquer que se esvaziava quando a noite se espreguiçava para dentro da madrugada e via o dia raiar. E aí, escolhia uma rua qualquer que o levasse a uma avenida e a avenida se transformasse em estrada e desafiava um novo horizonte. Nunca olhava para trás. Aprendera isso com os indianos que se vestem apenas com um manto de cor laranja e caminham sempre para frente, sem jamais olhar para trás. 
O homem olhava, vez por outra, para ver se havia deixado rastros, pegadas, como se quisesse ser seguido, encontrado e aí, ter um motivo para parar, ficar mais tempo e, quem sabe, nunca mais se despedir de coisa nenhuma ou daquilo que encontrava, mas deixava para trás, como se nunca tivesse passado por ali, deixado o nome, um endereço... Podia ser chamado de andarilho, caminheiro errante, fugitivo, mas fugitivo de quê? 
Ninguém foge de lembranças, de saudades, de nomes de cheiros bons, de recordações marcantes. Ninguém foge da dor. Toda dor tem que doer até passar. Todo pranto tem de ser chorado até que sequem as lágrimas, até que acabe o motivo ou se descubra que também as dores, principalmente as das saudades, de uma benquerença que acabou de um lado, chegam a um fim. 
Ninguém determina que vai parar de sentir saudades ou de lembrar de um rosto ou de uma voz cheia de diminutivos carinhosos que se cansaram ou se esgotaram porque não tiveram eco ou, quando tiveram, já era tarde demais... Muitas vezes, negligenciamos e quando menos esperamos, pinga uma gota d'água que faz transbordar tudo. É a última, contra quem não existe força capaz de juntá-la, e fazer o tempo voltar. Não volta. Existe um homem assim dentro de cada um de nós. Estamos sempre fugindo, ou pelo menos tentando, até das verdades, das realidades, das consequências, mas a pior fuga é aquela que tentamos empreender para nos afastar dos arrependimentos. "O arrependimento quando chega, faz chorar, oi! Faz chorar... Os olhos ficam logo rasos d'água, e o coração parece até que vai parar..." - a música é velha, mas histórias assim são atuais, mesmo que a moda seja outra. 
O homem ficava sentado no banco da praça, olhando para um lado e para o outro, respirava fundo, segurava o rosto entre as mãos, vez por outra alguém via lágrimas cadenciadas se espatifarem no chão sujo e se misturavam a umidade do cimento ou logo eram absorvidas pela quentura de um dia escaldante. Depois, levantava-se, respirava fundo e ia embora. Não importava de onde tinha chegado e muito menos para onde estava indo. Só queria ir. Um dia chegaria ou ao lugar que já o esperava ou para as surpresas da vida que se escondem em cada novo amanhecer. 
O homem não sabia aonde haveria de chegar, mas nunca esquecia de onde havia partido e porque carregava sua história tão pesada em direção a nenhum lugar...

Diz o monge beneditino Steindl-Rast:

"De manhã, devemos nos comportar como se fossemos atravessar uma rua: parar, olhar para os lados, e ir em frente".

"Antes de nos atirarmos a atividade frenética do dia, nós paramos. Isto nos permite refletir sobre nossas prioridades, as atitudes possíveis diante de um problema, as decisões que precisam ser tomadas".

"Em seguida, nós olhamos para os lados. Não adianta parar, se não enxergamos o que acontece a nossa volta. É necessário entender que, ao tomar uma decisão, estamos influenciando e sendo influenciados por tudo que está acontecendo a nossa volta".

"Finalmente, nós seguimos adiante. Não adianta parar, olhar para os lados, se não temos um objetivo definido. O fato de agir é que justifica tudo - e que nos permite mostrar, através do trabalho, a imensa glória de Deus. E para que tudo isso dê certo, basta se comportar da mesma maneira que nos comportamos quando atravessamos uma rua".

Mais uma estória sobre hipocrisia, por Paulo Coelho

O profeta e os tigres

O falso profeta chegou a aldeia e assustou a todos com ameaças de males que viriam da floresta. As pessoas, assustadas, reuniram uma enorme quantia de dinheiro e lhe entregara, de modo que conseguisse afastar o perigo.

O homem comprou alguns pães velhos, e começou a espalha-los em torno da floresta, recitando palavras incompreensíveis. Um rapaz se aproximou:

- O que está fazendo?

- Salvando os seus pais, seus avós, e seus amigos da ameaça dos tigres.

- Tigres? Mas não existem tigres neste país!

- Por força da minha magia - disse o falso profeta. - Ela funciona sempre, como está vendo.

O rapaz ainda tentou argumentar. Mas os habitantes resolveram expulsá-lo da cidade, pois ele estava atrapalhando o trabalho daquele homem santo.

Mais uma estória sobre hipocrisia, por Paulo Coelho

O profeta e os tigres

O falso profeta chegou a aldeia e assustou a todos com ameaças de males que viriam da floresta. As pessoas, assustadas, reuniram uma enorme quantia de dinheiro e lhe entregara, de modo que conseguisse afastar o perigo.

O homem comprou alguns pães velhos, e começou a espalha-los em torno da floresta, recitando palavras incompreensíveis. Um rapaz se aproximou:

- O que está fazendo?

- Salvando os seus pais, seus avós, e seus amigos da ameaça dos tigres.

- Tigres? Mas não existem tigres neste país!

- Por força da minha magia - disse o falso profeta. - Ela funciona sempre, como está vendo.

O rapaz ainda tentou argumentar. Mas os habitantes resolveram expulsá-lo da cidade, pois ele estava atrapalhando o trabalho daquele homem santo.

Paulo Coelho - Uma história sobre hipocrisia

A lei e as frutas - No deserto, as frutas eram raras. Deus chamou um dos seus profetas, e disse:

- Cada pessoa só pode comer uma fruta por dia.

O costume foi obedecido por gerações, e a ecologia do local foi preservada. Como as frutas restantes davam sementes, outras árvores surgiram. Em breve, toda aquela região transformou-se num solo fértil, invejado pelas outras cidades.

O povo, porém, continuava comendo uma fruta por dia - fiel à recomendação que um antigo profeta tinha passado aos seus ancestrais. Além do mais, não deixava que os habitantes das outras aldeias se aproveitassem da farta colheita que acontecia todos os anos.

O resultado era um só: as frutas apodreciam no chão.

Deus chamou um novo profeta e disse:

- Deixe que comam as frutas que queiram. E peça que dividam a fartura com seus vizinhos.

O profeta chegou na cidade com a nova mensagem. Mas terminou sendo apedrejado - já que o costume estava arraigado no coração e na mente de cada um dos habitantes.

Com o tempo, os jovens da aldeia começaram a questionar aquele costume bárbaro. Mas, como a tradição dos mais velhos era intocável, eles resolveram afastar-se da religião. Assim, podiam comer quantas frutas queriam, e dar o restante para os que necessitavam de alimento.

Na igreja local, só ficaram os que se achavam santos. Mas que, na verdade, eram pessoas incapazes de enxergar que o mundo se transforma, e que nós devemos nos transformar com ele.