Josias de Souza

Coligações dão à política a aparência de suruba

Dilma adora Cabral; que apoia Pezão; que é rival de Lindbergh; que se uniu a Romário; que é companheiro de Campos; que esculhamba Dilma; que polariza com Aécio; que é tucano como Alckmin; que abriu o palanque para Campos; que é unha e cutícula com Lula; que pega em lanças por Dilma; que deseja que Aécio e Campos se danem.

Convém retirar as crianças da sala. Como sucede em todo ano eleitoral, os partidos se excitam com a proximidade do prazo legal das coligações. A suruba vai até o dia 30 de junho. Nessa fase, o noticiário político só devia ser exibido na tevê de madrugada. Revistas e jornais deviam ser enviados à banca ou à casa do assinante num saco de plástico escuro, com um aviso na capa: proibido para menores de 80 anos.

Vive-se uma daquelas fases pornográficas em que ninguém é inimigo de ninguém. Vivo, Tim Maia gritaria: 'Vale tudo'. Convencionou-se dizer que o eleitor brasileiro não sabe votar. Se for verdade, ele jamais vai aprender num ambiente em que o oportunismo almoça com a conveniência, o marketing janta com o tempo de TV e o interesse público vai para a cama com a desfaçatez?

Mensagem

Honestidade é uma virtude cara
Não espere encontra-la com pessoas baratas.

A beleza além do rótulo de gostosa

É muito fácil reclamar da vizinha gostosa que está usando shortinho, da colega da faculdade que enche a cara de maquiagem e da moça branca de olhos azuis que tem um sorriso simpático, alegando que todas nasceram bonitas ou usam artifícios para chamar atenção dos homens. Sabe o que é difícil?
Ser uma delas.
Primeiro sempre vem a lenda de que se você nascer bonita tudo vai ser mais fácil. Mais caras, mais convites, mais beijos, menos dinheiro pra gastar (como se todos pagassem pra você ser linda perto deles). A promessa de uma vida fácil cujo final sempre acaba em boatos de prostituição ou de moral duvidosa que desculpa a violência.
Sou da época em que as garotas que curtiam rock e videogame eram classificadas como lésbicas e ganhei três títulos consecutivos de “mais feia da sala” no ginásio. Segundo minha mãe, não tinha atenção dos garotos porque eles eram superficiais e as meninas de hoje (ainda na época) eram um bando de putas.
Inclusive, uma vez, chorei de tristeza por não ter os lábios molhados como a menina da capa da revista, achando que nunca seria bonita e que nunca ninguém olharia pra mim – apenas pra essas putas – e que o mundo era injusto. Um belo dia, enchi o saco e resolvi saber como elas conseguemser tão lindas.
Não fazia sentido na minha cabecinha de adolescente eu nascer feia e elas lindas, assim, magicamente. O interesse foi suficiente pra me levar pr’uma graduação de Moda, mesmo sem o menor jeito pra coisa (exceto na parte artística, era muito boa no desenho, mas isso não é relevante.).
Descobri na graduação que ser bonita dá um trabalho do caralho. Peço perdão a todas as garotas que um dia foram chamadas de vadias ou vagabundas apenas por estarem mais bonitas ou sensuais. Vocês são fodas.
Ser bonita não é simplesmente nascer bonita. Ser bonita começa de manhã cedo, quando a garota acorda e toma o banho com o sabonete perfumado diferenciado. Quando vai pro espelho e, ao contrário do que dizem sobre que se maquiar é encher a cara de pó, redesenham o rosto em um ato puramente artístico para se exibir para a sociedade maluca que te espera lá fora.
Ser bonita é ir ao espelho e usar creme de pentear, ou secar o cabelo e fazer a chapinha de forma que pareça natural, se preocupando com o frizz, com o volume, com o balanço dos fios. Ser bonita é saber a diferença entre um scarpin e um peep toe num modelo de roupa para o trabalho, é saber que a composição de cores e tecidos faz tanta diferença quanto a postura que se tem dentro da roupa.

“Eu podia viver três vidas inteiras e ainda assim não saberia descrever a feminilidade no ato de uma mulher se maquiar” (O que é só delas – http://papodehomem.com.br/o-que-e-so-delas/)
Ser bonita é o perfume colocado em exata quantidade, a maquiagem em exata quantidade, a criatividade assombrada pelo excesso.  Isso sem contar a dieta, os exercícios, os produtos de higiene dentro da bolsa.
Parece óbvio que julgar alguém que sabe mais que você não é a coisa mais inteligente do mundo, mas isto é frequentemente feito com as tais mulheres bonitas. Mulheres que sabem a diferença entre delineador líquido, em gel ou em caneta enquanto você fica coçando o saco e achando que mulheres bonitas nascem bonitas e são sortudas por isso. Mulheres que são erroneamente representadas no cinema como lindas e maquiadas até nas cenas de dormir, de banho, de insônia, enquanto você deu o azar de não ser assim.
E o que se ganha sendo bonita? Educação. Se ganha ser tratada com respeito. Depois de ter evoluído de mais-feia-do-ginásio para a seleção de mais bonitas da faculdade percebi que era tratada com muito mais carinho e consideração.  Quando os caras tinham segundas intenções, reportava-os minhas reais intenções (só amizade ou não), mas só o fato de estar bonita já me rendia ser tratada como um ser humano mais agradável, melhor.
Mas ser bonita em superfície não era suficiente: aprendi etiqueta, formas de falar, reduzi gírias. Passei a evitar prejulgamentos e tratar todos com igual respeito. Voltei a usar palavras esquecidas como “por favor”, “obrigada”, “com licença”, “me desculpe”. Passei a elogiar e fazer críticas construtivas. Ganhei, além de elogios e respeito, oportunidades de trabalho, cargos de confiança e colegas e vizinhos muito mais agradáveis.
A gostosa que usa um shortinho curto e que usa o corpo para se sentir bem consigo mesma também ganha elogios que a faz feliz, mesmo não sendo este o objetivo principal dela. E da mesma forma que há o cara que vai fazer amizade com a menina fofa e bonita apenas pra dar em cima dela e chamá-la de oportunista quando ela disser não, vai ter o cara que vai dar em cima da gostosa e chamá-la de vagabunda quando ela disser não.
Ambos podem tentar forçar a barra com violência psicológica ou física, e ambos estão errados, pois os dois exemplos de mulheres são pessoas, e não produtos compráveis e consumíveis que vieram com “defeitos”. Elas também precisam ser conquistadas, assim como se esforçam pra conquistar. Nenhuma delas merece essa violência gratuita e você não é ninguém pra classificá-las como putas somente porque elas chamam atenção, querendo ou não.

“Você era fofinha, mas estranha. Agora cresceu e ficou linda? Vadia! Safada! Piranha!”
Se você acha justo classificar estas pessoas como burras e fáceis porque seu chefe colocou no trabalho uma garota bonita que não tem tanto conteúdo quanto outros, se arrume você e seja agradável com ele. Se o problema é ela ser amante dele, vá você chupar a rola dele pra ver se é fácil como parece. Mas se você não quer o posto da tal mulher bonita, foque-se na sua vida e nos seus objetivos, pois não é falando mal da colega que você vai conseguir subir de posição.
Beleza é conhecimento de etiqueta, moda e arte, de sensualidade. É coisa de quem tem conhecimento e sabe por isto em prática. E não, não é imoral e muito menos fácil.
Leitora Anônima
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Álbum de figurinhas

Alex e o buteco improvisado na praça
Sonho de todo jornalista: banca + buteco
Se a ironia estivesse à procura de um endereço, ela teria uma morada certeira na Praça Popular de Cuiabá, capital do Mato Grosso. Reduto badalado da cidade, a região que fica a dois quilômetros da Arena Pantanal cobra sua fama – e seu preço – em época de Copa do Mundo: entre os cerca de dez bares abertos e espalhados pela região na última terça-feira, 30 reais era o preço médio das entradas cobradas de quem quisesse assistir ao jogo entre Brasil e México.
Mas se a ganância floresce durante o Mundial, as oportunidades também.
Aos 33 anos de idade, Alex é dono da banca de jornais e revistas que ocupa um dos lados da praça há pouco mais de três. Acostumado a levantar as portas de seu negócio às 7h30 da manhã e encerrar o expediente às 21h30, ele fez da Copa do Mundo sua rotina antes mesmo que chilenos, russos e colombianos botassem os pés no Centro-Oeste.
Primeiro, arrumou algumas cadeiras e mesas e transformou sua banca em um ponto de encontro para troca de figurinhas do álbum do torneio – são três grupos de WhatsApp dedicados aos clientes apaixonados pelo tema. Mais tarde, com as partidas prestes a começar e a ajuda da esposa, resolveu dar outro destino ao espaço. Encheu um freezer de cervejas, refrigerante e água, instalou um televisor na parede externa da banca e passou a oferecer, sem entrada ou consumação mínima, um buteco improvisado entre os bancos e as árvores de uma das regiões mais valorizadas da cidade.
No primeiro evento-teste da nova fonte de renda, a farra pós-jogo de Chile 3 X 1 Austrália, a tampa da geladeira só foi fechada às 5h30 da manhã. A prorrogação valeu à pena: em um mês regular, a banca arrecada entre 3 e 4 mil reais. Naquela noite, o faturamento foi de R$ 9 mil.
Quando a criatividade e o improviso são padrão Brasil, pouco importa se o butequim não é padrão Fifa.
* * *
Uma Copa do Mundo se faz com pessoas.
As que entram em campo, as que viajam para testemunhá-la, as que enchem as ruas, as que se voluntariam, as que torcem e as que veem no evento uma oportunidade para garantir seu sustento ou para extravasar.
A seção “Álbum de Figurinhas” pretende contar, com um microrrelato artesanal e um retrato por dia, a história de algumas dessas pessoas, muitas vezes invisíveis, que povoam os bastidores da Copa do Mundo do Brasil.
Ismael dos Anjos


É mineiro, jornalista, fotógrafo, devoto de Hunter Thompson e viciado em internet. Quanto mais abas abertas, melhor.

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Haicai

Brincadeiras de quintais

Manuéis Bandeiras
Meus porquinhos de manguinha
Moradas primeiras

Jonas Furtado 

FHC x Lula

Do ponto de vista eleitoral - de todos os pontos de vista - é melhor para o PT do que para o PSDB reacender o embate entre os ex-presidentes Fernando Henrique (1995-2002) e Lula (2003-2010). 

Para começar, quem tem hoje menos de 35 anos lembra-se só vagamente do Brasil de 1994, época do Plano Real liderado por FHC. Ou de quando o tucano estava no auge, em 1996, período em que ser moderno era usar um celular Motorola Startac. Em segundo lugar, a última (e não a primeira) imagem é a que fica. 

FHC deixou a cadeira de presidente em 2002 aprovado por apenas 26% dos eleitores - e rejeitado por 36%. Lula ao terminar sua gestão, em 2010, tinha aprovação de 83% e só 4% de rejeição. 

Os números são do Datafolha.

Fernando Rodrigues - Folha de São Paulo

Dois anos de prisão de Assange

Como o Wikileaks abriu nossos para a ilusão de Liberdade

Slavoj Žižek / "Nós nos lembramos dos aniversários de eventos importantes de nossa época: 
11 de setembro (não apenas o ataque às Torres Gêmeas em 2001, mas o golpe contra Salvador Allende, no Chile, em 1973), o Dia D etc. Talvez outra data deva ser adicionada a esta lista: 
19 de junho. Faz dois anos desde que Julian Assange está confinado permanentemente ao apartamento que abriga a embaixada equatoriana em Londres. Se sair, seria preso imediatamente. 
O que ele fez para merecer isso?"