A irrelevância do pool "Veja & Associados

Deu tudo ao contrário do que imaginava o "pool" formado por "Veja & Associados", na perfeita definição de Alberto Dines para a velha mídia que, no último final de semana, disparou o que seria uma "bala de prata" contra a candidatura de Dilma Rousseff, com a divulgação da "denúncia premiada", feita por um réu preso, envolvendo políticos e partidos da base aliada do governo num "propinoduto", que teria sido montado na administração da Petrobras. Até agora, no entanto, não apareceu nenhuma prova.

É a crise: Economia cresce 1,5% em Julho

A economia do País inverteu a tendência de queda e apresentou crescimento no começo deste segundo semestre, com avanço de 1,50% em julho em relação ao mês anterior, de acordo com Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado nesta sexta-feira (12).
Esse indicador, considerado pelo mercado como espécie de antecedente do Produto Interno Bruto (PIB), mostra recuperação da atividade econômica no período, atingindo o maior crescimento mensal desde junho de 2008 (3,32%), pouco antes da crise financeira internacional.

Briguilinks do dia

Tracking *Ibop: votos válidos 12/09




Se a eleição fosse hoje a presidente Dilma Roussef (PT) seria reeleita no primeiro turno.

Confira o resultado do tracking de hoje:

Dilma Roussef (PT) 53%
Marina Silva (PSB) 30%
Nanicos 17%

O IBOP - Instituto Briguilino de Opinião Pessoal - só divulgara a margem de erro na pesquisa de boca-de-urna.

O NC - nível de confiança - do tracking/pesquisa é de 100%. Isso significa que se forem realizados 100 levantamentos hoje, o resultado será o mesmo.


Dilma: Eu tenho lado




Minha filha, meu filho, esse povo da autonomia do Banco Central quer é o modelo anterior. Quer é (…), aumentar os juros pra danar, reduzir emprego e reduzir salário, porque emprego e salário não garantem a produtividade, segundo eles. Eu sou contra isso, eu tenho lado.


Paulo Moreira Leite: alguns números não mentem

É bom não desprezar a importância das estratégicas de marketing numa campanha eleitoral dirigida a uma massa de mais de 100 milhões de eleitores. Convém colocar os pés na realidade, porém.

Há duas semanas que os índices de intenção de voto de Dilma Rousseff estão em alta. Sobem em todos os institutos, em todos os itens, em todas comparações. Conforme os dados mais recentes, Dilma lidera a campanha no primeiro turno e alcançou um empate técnico com Marina Silva em pesquisas para o segundo turno. Se você olhar a curva, pode até enxergar mais crescimento de Dilma pela frente. Se olhar para trás, irá lembrar que há exatamente um mês Dilma era candidata — matematicamente — a vencer a eleição no primeiro turno. O que mudou mesmo?

O que mudou foi a morte de Eduardo Campos, até então um concorrente secundário. Marina chegou com 21 pontos, o mesmo número que possuía em 2010, deslocou Aécio Neves e tornou-se a primeira desafiante real. Os números de ontem mostram que os benefícios emocionais das primeiras semanas começam a esgotar-se. O eleitor olha para a concorrente com atenção e quer saber o que ela representa como candidata. Marina foi adotada pela herdeira de um dos grandes bancos privados do país e assumiu uma proposta que o cidadão comum pode não entender — independência do Banco Central — mas compreende o que significa: deixa o controle da política econômica nas mãos do mercado, sem respeitar autoridades eleitas pelo povo. Sua assessoria econômica produz cenas frequentes de opera-bufa. Em sucessivas demonstrações de fraqueza, a candidata corrige o programa de governo depois de quatro tuítes, o que é deprimente. Depois anuncia que irá formar um comitê para recrutar “homens de bem” para formar sua equipe, o que é ridículo. Seu programa de governo não trazia uma linha sobre o pré-sal, o que surpreendeu até os adversários, pois demonstra uma dificuldade imensa para pensar seriamente o futuro do país.

Para infelicidade de quem anunciou a morte do PT em tantas oportunidades, a campanha de 2014 mostra o oposto e se move em torno do universo político nascido em torno de Luiz Inácio Lula da Silva. A soma das intenções de voto de petistas e ex-petistas — Dilma, Marina, Luciana Genro e Eduardo Jorge — se aproxima de 75% do total do eleitorado, o que é até comum em ditaduras, mas configura um recorde sob regimes democráticos. Estamos falando de um movimento político das maiorias, que nasceu ligado a luta em defesa dos direitos dos trabalhadores, a denúncia da má distribuição de renda, ao alargamento da democracia, questões que permanecem atuais até hoje porque refletem uma realidade de classe. A força de Dilma reside no fato de que, neste terreno, onde caminha a maioria dos brasileiros, seu governo tem o que mostrar — o que explica a dificuldade dos adversários para enfrentar um debate racional.
Não se trata de achar que o governo é bom ou ótimo, ruim ou péssimo. Mas de perguntar se o país não irá ficar pior se Dilma não for reeleita. Essa é a pergunta da campanha. A reação de aliados reticentes e distanciados, que nas últimas semanas se reagruparam em apoio ao governo, demonstra aonde está a força de gravidade e explica a retomada de Dilma nas pesquisas.




Incapaz de questionar o governo onde importa para as pessoas que vivem do próprio trabalho, a oposição dá um valor exagerado, com traços de comportamento obsessivo-compulsivo, a operações especulativas da Bolsa de Valores, que por si só não sinalizam grande coisa na economia.

A dificuldade de Aécio Neves reside aí. Ele está excluído da campanha porque foi excluído da vida real da maioria dos brasileiros. O PSDB pode reivindicar os méritos de ter derrubado a inflação em 1994, mas não participou das transformações de fundo que vieram depois, e que criaram um país onde a periferia social não se encontra no poder, mas faz-se ouvir como nunca antes em 500 anos de história. E isso é realmente novo, por mais que muita gente já esteja habituado.

Depois de tentar, inutilmente, denunciar as mudanças promovidas por Lula como manobras eleitoreiras, o PSDB acabou falando sozinho — num prenúncio da posição de Aécio no último debate.

Aécio não tem o lastro popular de Marina — comprometido agora com o apoio até de parentes do assassino de Chico Mendes — e também não tem discurso. Fez campanha como garoto mimado, lembrando sempre quem foi seu avô mas sem ter o que dizer para netos menos afortunados. Continua com muitos amigos na mídia, capazes de escrever que caiu em terceiro lugar em Minas Gerais por um “descuido” na própria estratégia de campanha. Mas sua última esperança é um lance de sorte, um evento extrapolítico.

Neste ambiente inteiramente desfavorável, os adversários do governo imaginam que será possível confundir o eleitorado, na reta final, com a produção de um escândalo político midiático em torno da delação premiada de Paulo Roberto da Costa. Não se trata de um debate ético, nem de uma discussão produtiva — quando seria mais conveniente discutir reforma política e financiamento de campanhas — mas de uma iniciativa seletiva, a mesma que produziu a AP 470 e escondeu o mensalão PSDB-MG e o propinoduto tucano do metrô paulista. Incapaz de vencer um partido nas urnas, seus adversários contam com ajuda externa para a carta da criminalização.

Ainda assim, os números traduzem uma situação clara: no debate político de 2014, a oposição está sendo vencida pela quarta vez consecutiva.


Wagner Iglecias: Campanha presidencial: nem toda crítica é ataque

O horário eleitoral desta 5ª feira trouxe uma novidade importante: a candidata Marina Silva na defensiva. Ela posicionou-se em relação a políticas públicas tipicamente petistas, construídas ao longo dos governos Lula e Dilma: Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e Pré-Sal. Prometeu manter os dois primeiros e disse que vai direcionar o dinheiro do Pré-Sal para saúde e educação, e não para a corrupção. Nem poderia ser diferente, até porque já foi aprovada lei neste sentido. Tratou ainda de outro tema que lhe tem sido espinhoso nesta corrida eleitoral: a autonomia do Banco Central. Marina afirmou que sua proposta de BC independente refere-se ao fato de que com ela “nenhum partido ou político vai usar o sistema bancário para se beneficiar”. Cabe perguntar se há tantos políticos assim beneficiando-se de uma agência super insulada como o BC e, mais especificamente, do seu ultra restrito Comitê de Política Monetária (Copom), que define uma das políticas mais estratégicas do país, o preço do dinheiro na economia. A qual tem consequencias nos níveis de consumo, investimento privado, inflação, arrecadação, emprego e também no nível de lucro dos credores da dívida pública. Ou seja, em toda a economia.

Os temas que Marina tratou neste seu programa de TV são exatamente os que têm provocado mais dissabores a sua campanha. O BC com Dilma, convenhamos, é semi-independente. E os bancos e demais credores da dívida pública ganharam muito dinheiro com os governos petistas. Marina propõe, em seu programa de governo, tornar a instituição independente. O que tende a beneficiar ainda mais a eles, os credores. Já os marinistas têm demonstrado grande irritação com as críticas que têm sido dirigidas à proposta. Sim, o discurso do PT hoje rejeita o que classifica como aventura e bate bumbo em palavras de ordem como estabilidade, continuidade e segurança. Algo irreconhecível se comparado a campanhas petistas do século passado. Por outro lado, porém, político algum está acima do bem e do mal. Nem mesmo Marina Silva. Qual o problema em se levar a discussão da independência do BC para o horário eleitoral, para os debates na tv e para as ruas?




Em 1989 a campanha de Fernando Collor dizia que Lula faria o sequestro da poupança se fosse eleito. Quem fez foi Collor. Lula faria? Não se sabe, talvez fizesse, nunca saberemos. Mas efetivamente não estava escrito no programa de governo de Lula naquele ano que ele faria o enxugamento da liquidez, visando o combate à inflação, por meio do represamento dos ativos financeiros da população. Já Marina colocou em seu programa de governo que quer o BC independente. E se isso ocorrer haverá consequencias concretas na vida da população. Por que não se pode tocar neste assunto, então? E por que não se pode defender ou criticar a proposta de Marina? Ela está acima do bem e do mal? Não, definitivamente não está. Nem ela, nem Dilma, nem Aécio nem qualquer outro. Obviamente críticas que têm sido feitas a Marina que se dão no plano pessoal ou relativas a sua fé religiosa são deploráveis. Mas as propostas de governo dela podem e devem ser debatidas, criticadas ou defendidas. E as de Dilma e Aécio também. E isso, o debate sobre propostas, definitivamente não é ataque. É do jogo e é da democracia. Porém o marinismo parece vitimizar-se diante de qualquer senão que lhe é dirigido pelos adversários, jogando no mesmo balaio as críticas ao programa de governo e à candidata. Como estratégia eleitoral faz sentido. Mas o que agrega ao debate público?

A lógica da criminalização da política e dos políticos, por sua vez, não começou agora, vem já de muito tempo. Lula tem sido achincalhado por opositores há anos ou mesmo décadas. Bêbado, analfabeto e "nunca trabalhou" são alguns dos impropérios mais suaves que lhe foram dirigidos inúmeras vezes. Tem sido chamado há anos de apedeuta por um blogueiro de direita e chegou mesmo a figurar como anta no título de um livro de outro blogueiro da mesma linhagem. De Dilma fala-se até de sua sexualidade (como de resto de qualquer mulher que se "atreva" a fazer política neste país). Aécio, Serra e Alckmin também foram ou têm sido vítimas de desqualificações pessoais, cada qual a seu modo. Alguém esperava que com Marina seria diferente? Durante muito tempo a prática da desqualificação de opositores ocorreu em nossos sistema político e o que se viu foi o silêncio de muita gente séria, que achou tudo normal enquanto os alvos fossem os adversários.

A discussão das propostas dos candidatos é não somente saudável como desejável. Já acusações levianas dirigidas ao campo pessoal tornam o debate público cada vez mais envenenado. Marina, se se sente atacada no plano pessoal, deve rebater as críticas. Mas se tem suas propostas de país questionadas, deve debater as alternativas. Quem quiser acreditar em purismo dos seus e em maldade dos adversários, que acredite. Mas que as coisas são bem mais complexas do que esse bem contra o mal que virou essa campanha, com certeza são.

Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.