O golpe
O golpe
- Michel Temer
- Eduardo Cunha
- Aécio Neves
- Gilmar Mendes e por aí vai
Sobre o Autor
Paulo Henrique Amorim entrevista João Pedro Stedile, líder do MST
KD o Lula?
Eu era guri, numa vila no Lins de Vasconcellos, no subúrbio, e como toda a garotada daquela época jogava bola na rua de paralelepípedos, sem que as pedras ou o meio-fio fossem empecilho para os nossos "rachas" de cinco ou seis para cada lado.
Éramos adolescentes todos, embora os tamanhos variassem, com uma única exceção: o Tio Ivo.
Tio Ivo era "coroa" e, além de "coroa", cardíaco (que desgraça, agora sou as duas coisas) mas teimava em jogar bola com a gente, para desespero do Sérgio, seu filho, preocupado com a saúde do pai. Como Sérgio não era um guri como nós e não andávamos com ele, por ele ser "adulto" (até casado era!) não dávamos bola para ele, mas para o Tio Ivo, que além de jogar bola, sabia ensinar o corte do papel fino certo para balão pião, travesseiro, caixa e outras incorreções que fazíamos à época dos politicamente incorretos.
Mas volto ao futebol. O Tio Ivo jogava, mas de "beque parado". Paradão mesmo, lá em frente ao gol marcado com chinelos.
Sua principal função não era jogar, mas dizer como deveríamos jogar.
Volta e meia, quando o adversário estava com a bola, a gente escutava o vozeirão lá de trás: "volta, deixa esse sozinho que a natureza marca ele".
Não dava outra: o cidadão a quem faltava talento se atrapalhava e não ia muito em frente.
Quando (não) vejo o Lula nestes dias tragicômicos finais do golpe que já se deu, não cesso de lembrar do Tio Ivo.
Não que seja falsa sua rouquidão no 1º de maio, mas ela de fato não dura dez dias.
A cena da resistência pessoal é de Dilma.
A da resistência política é dele.
Como o Tio Ivo, ele não tem que ir na bola, tem que esperar a bola vir nele.
E sabe que o maior inimigo do golpe é o que o golpe coloca diante de Temer.
Sabe que é ele, e não Dilma, que pode servir de referência ao povo brasileiro – e até mesmo a forças políticas convencionais.
Ela está desempenhando seu papel com coragem e dignidade, mas o papel é dela, não dele.
Não quando ele demorou tanto a se tornar-se ministro não por capricho, mas por necessidade política de comandar,até mesmo para descartar a possibilidade de conflitos com a Presidente.
Lula está preparado para um quadra de sofrimento pessoal. Não tem ilusões de que não possa ser vítima de uma violência pessoal, nestes primeiros dias, mas sabe que isso não é tão simples, pela reação que acarretará, aqui e pelas relações internacionais que cultivou.
Mas também entende que tem de se preservar como é dever de um general não descer ao campo raso da batalha, salvo quando esta batalha é a última.
Não que a espada não lhe dê comichões à mão.
É porque a vitória lhe dá mais comichões ainda.
Como o Tio Ivo, sabe que sua função não é nas bolas perdidas.
É a de fazer ganhar o jogo.
Teori vai relatar recurso contra o golpe
247 - O ministro Teori Zavascki foi sorteado como relator do mandado de segurança que o governo impetrou nesta terça-feira (10) no Supremo Tribunal Federal para tentar anular o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff que tramita no Senado.
O governo ingressou, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU) - leia aqui -, com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar anular o processo de impeachment que tramita no Congresso Nacional.
Como a sessão do Senado que decidirá sobre a abertura do processo de impeachment está marcada para esta quarta, a expectativa é que o Supremo se manifeste ainda nesta terça sobre o mandado de segurança.
No mandado de segurança, o governo aponta que Cunha aceitou o pedido de impeachment, em dezembro, em retaliação a Dilma e ao PT, por votarem a favor da abertura do processo de cassação do deputado no Conselho de Ética da Câmara.
A AGU diz que as “ameaças e chantagens” de Cunha não foram em vão junto ao governo. “No mesmo dia em que os deputados do PT integrantes do Conselho de Ética declararam voto pela abertura do processo administrativo contra o Presidente da Câmara, poucas horas depois, ele recebeu a denúncia por crime de responsabilidade contra a Presidenta da República. Era o fim do ‘leilão’”, diz trecho da ação.
OEA - processo contra Dilma é golpe
No Brasil para participação de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e para reunião com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, foi novamente categórico sobre o processo de impeachment de Dilma Rousseff: é golpe; ao lado do presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, Roberto Caldas, ele critica a falta de base jurídica e a antecipação de votos que permeiam o processo; segundo Almagro, os países sul-americanos enfrentaram ditaduras militares e são hoje conscientes da importância das regras democráticas; os eleitores, frisou, devem ter garantia de liberdade para exercerem sua expressão pelo voto e os políticos, a máxima garantia para serem eleitos e cumprirem seus mandatos: "No sistema presidencialista, existe um contrato entre as pessoas e o presidente eleito. Isso tem que ser respeitado, com a máxima certeza jurídica que embasa a democracia, para garantir o cumprimento desse mandato".