Tucanos temem debandada de aliados

Receio da campanha de Serra é que dificuldades na arrecadação de recursos esvazie candidatura

Raymundo Costa – VALOR

O sinal amarelo acendeu na campanha do candidato do PSDB a presidente, José Serra: os tucanos temem o “estouro da boiada”, ou seja, a debandada dos aliados diante das notícias de dificuldades de arrecadação e de demonstrações de abatimento do candidato tucano, num momento em que pelo menos três pesquisas de opinião indicam que a candidata do PT, Dilma Rousseff, passou a liderar a disputa presidencial.
A preocupação dos tucanos e de seus aliados é agravada pelo centralismo da campanha de Serra, “encapsulada em São Paulo”, segundo um aliado próximo. Credita-se ao centralismo e à mania de Serra por segredos a publicação de uma informação errada sobre a arrecadação financeira de sua campanha, que estaria abaixo até do resultado de Marina Silva, a candidata do PV que até agora não escapou da faixa dos 10% nas pesquisas.
A arrecadação da campanha tucana, na realidade, está semelhante ou maior que a do PT, algo em torno dos R$ 15 milhões. O que foi divulgado, R$ 3,6 milhões, na realidade refere-se apenas a uma das contas autorizadas a captar doações. O número real aparecerá amanhã, com a divulgação anunciada pelo Tribunal Superior Eleitoral, mas o efeito da notícia sobre os aliados de Serra foi devastador. Pior ainda, a reação do candidato, que se mostrou preocupado com o caixa baixo da campanha, atitude considerada derrotista.
A campanha de Serra avalia que os aliados estão vendendo uma situação de desconforto nos Estados maior do que ela efetivamente é para tirar mais recursos da campanha nacional. Atribui os outros problemas ao fato de a campanha ter começado tarde, pois Serra decidiu sair candidato só no final de março. Além disso, as campanhas estaduais estariam mesmo mais caras do que foi inicialmente projetado.
Há diferentes graus de insatisfação dos candidatos aliados com a candidatura Serra. Na Bahia, por exemplo, a campanha de Paulo Souto ao governo estadual recebeu apenas 30 bandeiras da campanha nacional. Mas há queixas também de isolamento: os correligionários baianos não sabem o que acontece com a candidatura a presidente e o comitê nacional não parece muito preocupado com o que acontece no Estado.
O senador Jarbas Vasconcelos, que se candidatou ao governo do Estado por insistência de Serra, está insatisfeito com o PSDB, mas procura não responsabilizar Serra pela situação estadual. Para apoiar Serra, Jarbas se distanciou do PMDB majoritariamente governista. Mas só conta com três dos 17 prefeitos tucanos no Estado. Mas Jarbas é uma exceção: Serra já esteve duas vezes em Pernambuco, sua equipe de programa de governo também esteve no Recife para ouvir sugestões do pemedebista e tem recebido material da campanha nacional que não “deu para o gasto”.
Candidata a vice de Serra na eleição de 2002, a deputada Rita Camata decidiu disputar o Senado com a garantia de contar com todo o apoio da campanha federal. Até agora, ela só perdeu pontos na pesquisa, que liderava na pré-campanha e agora já aparece no terceiro lugar. Entre tucanos capixabas, avalia-se que ela está sendo “puxada” para baixo pelo candidato ao governo, Luiz Paulo Vellozzo Lucas.
A situação dos palanques regionais é outro problema que se atribui a Serra e ao atraso com que ele entrou na campanha. Um exemplo citado é o do democratas no Pará, que dispunham de uma candidata viável ao Senado, que o PSDB preteriu para tentar a reeleição do senador Flexa Ribeiro. A própria situação em Pernambuco é atribuída à falta de uma coordenação forte na campanha central tucana.
Na região Nordeste, Serra enfrenta um problema ainda maior: a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em casos como o do senador Tasso Jereissati (CE), que disputa a reeleição e aparece em primeiro lugar nas pesquisas, a candidatura nacional do PSDB acaba sendo um peso a mais. Em toda a região Nordeste “é pesado”, segundo a expressão de um senador, fazer campanha na oposição a Lula.
Em dia de Congresso cheio por causa do esforço concentrado de votação, a campanha presidencial ficou visível em Brasília. Num restaurante frequentado por políticos, o ex-deputado Moreira Franco, representante do PMDB no comitê de Dilma, encontra o deputado Abelardo Lupion (DEM-PR), um ruralista de primeira linha. “Soube que você está com Osmar (Osmar Dias, candidato do PDT ao governo do Estado). Do Osmar a Dilma é um passo”. Lupion, que pediu licença ao DEM para apoiar Osmar respondeu que esse era ainda um salto grande demais para ele. Mas contou que havia passado pela 2ª vice-presidência da Câmara, ocupada por ACM Neto, e esperava para ser atendido quando chegaram outros deputados do DEM para reclamar de Serra. “Esperem na fila. Lá dentro está o Rodrigo Maia (presidente do DEM). Depois é a minha vez”.

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