A tentativa de repetir o golpe


São significativas as semelhanças entre os tempos atuais e o período pré-64, que levou à queda de Jango e ao início do regime militar e mesmo o período 1954, que levou ao suicídio de Getúlio Vargas.
Os tempos são outros, é verdade, e há pelo menos duas diferenças fundamentais descartando a possibilidade de um mesmo desfecho: uma  economia sob controle e uma presidência exercida na sua plenitude, sem vácuo de poder.
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Tirando essas diferenças, a dança é a mesma.
A falta de perspectivas da oposição em assumir o poder, ou em desenvolver um discurso propositivo, leva-a a explorar caminhos não-eleitorais.
Parte-se, então, para duas estratégias de desestabilização  – ambas em pacto com a chamada grande mídia.
Uma, a demonização dos personagens políticos. Antes do seu suicídio, Vargas foi submetido a uma campanha implacável, inclusive com ataques à sua honra pessoal – que, depois, revelaram-se falsos.
No quadro atual, sem espaço para criticar a presidente Dilma Rousseff, a mídia – especialmente a revista Veja – move uma campanha implacável contra Lula. Chegou  ao cúmulo de ameaçar com uma entrevista supostamente gravada (e não divulgada) de Marcos Valério, como se Valério tivesse qualquer credibilidade.
Surpreendente foi a participação de FHC, em artigo no Estadão, sustentando que o julgamento do “mensalão” marca uma nova era na política. Até agora, o único caso documentado de compra de votos foi no episódio da votação da emenda da reeleição – que beneficiou o próprio FHC.
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A segunda estratégia tem sido a de levantar o fantasma da guerra fria. Mesmo sabendo que Jango jamais foi comunista (aliás, o personagem que mais admirava era o presidente norte-americano John Kennedy) durante meses e meses levantou-se o “perigo vermelho” como ameaça.
Grande intelectual, oposicionista, membro da banda de música da UDN, em 1963 Afonso Arino escreveu um artigo descrevendo o momento. Nele, mencionava o anacronismo de (em 1963!) se falar de guerra fria, logo depois de Kennedy e Kruschev terem apertado as mãos. E dizia que, mesmo sendo anacronismo, esse tipo de campanha acabaria levando à queda do governo pelo meio militar, devido à falta de pulso de Jango, na condução do governo.
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O modelo de atuação da velha mídia é o mesmo de 1964, com a diferença de que hoje em dia não há vácuo de poder, como com Jango.
Primeiro, buscam-se personalidades, pessoas que detenham algum ativo público (como jornalistas, intelectuais, artistas etc.). Depois, abre-se a demanda por comentaristas ferozes. Para se habilitar à visibilidade ofertada, os candidatos precisam se superar na ferocidade dos ataques.
Poetas esquecidos, críticos de música, acadêmicos atrás de visibilidade, jornalistas, empenham-se em uma batalha similar às arenas romanas, onde a vitória não será do mais analítico, ponderado, sábio, mas do que souber melhor agredir o inimigo. É a grande noite do cachorro louco, uma selvageria sem paralelo nas últimas duas décadas.
Com sua postura de não se restringir ao julgamento do “mensalão” em si, mas permitir provocações à presidente da República e a partidos, o STF não cumpre seu papel.
Aliás, o STF do pós-golpe foi muito mais democrático do que o atual Supremo.

Luis Nassiff

8 comentários:

  1. Penso que há uma diferença básica da atual conjuntura para o período 54/64, o que temos hoje não é uma ameaça à economia de mercado mas uma luta fatricida pelo poder. O PT tem sido responsável pela modernização do capitalismo brasileiro com crescimento sustentável, pleno emprego, distribuição de renda e inclusão social. O meu grande medo é que as instituições brasileiras são fracas conforme vemos na atuação constrangedora do STF, da PGR... e não estariam à altura de evitar/rechaçar o golpismo atávico que reside no imaginário da mídia e de setores políticos, notadamente, paulistas.

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  2. Bruno Cabral25 setembro, 2012

    Tem outra diferença, chama-se internet. Se em 1964 as pessoas ficavam a mercê dos "formadores de opinião", hoje em dia há outras fontes de noticias, para os que buscam se informar, e mesmo entre os que não usam a internet, caiu em muito a audiência da velha midia, e com ela sua capacidade de aplicar golpes.

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  3. 1) Dilma e o PT não são comunistas.

    2) Dilma e o PT estão muito mais para nacionalistas do que entreguistas.

    3) Os militares devem ter profundo desprezo pelo intelectualismo preguiçoso e vendilhão aninhado na oposição.

    4) Dilma valorizou a função militar e as Forças Armadas.

    5) O único ponto relevante de discordância entre a presidência e os militares seria (ou é) a questão dos indígenas.

    6) A pergunta é: quem vai comandar o golpe? A Lúcia Hipólito com uma garrafa de uísque na mão?

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