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Cúpula tucana impõe Serra

Atento à movimentação da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o comando do PSDB está decidido a precipitar o lançamento da candidatura do governador José Serra à Presidência. Serra, porém, resiste. Sob o argumento de que, graças à colocação nas pesquisas, ele sairia vitorioso da disputa interna, tucanos chegam a insistir para que Serra enfrente o governador de Minas, Aécio Neves, em prévias partidárias.

Numa reunião com o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso alegou que, se não lançar candidato o ´quanto antes´, a oposição ficará sem um porta-voz no país. Uma das avaliações é que, se fosse escolhido, o candidato já poderia monopolizar o programa partidário. Agora, terá que dividir o tempo com outros governadores.

Ao longo da semana, FHC pediu para que o partido trabalhe para convencer Aécio Neves a abrir mão da disputa. O comando tucano defende ainda que Serra viaje mais pelo Brasil, numa tentativa de ampliar seu capital político fora das regiões Sul e Sudeste.

Serra argumenta, porém, que o eleitorado de São Paulo rejeita a idéia de o governador deixar o Estado num momento de crise para se dedicar à campanha a um ano e sete meses das eleições. Ele teme ser criticado caso estoure um problema em São Paulo durante uma viagem, e manifesta o receio de se transformar, prematuramente, em alvo do PT de São Paulo. ´O governador não pode deixar o Estado´, pondera o vice-governador, Alberto Goldman. Além disso, Serra afirma que não há como se lançar sem o apoio de Aécio. Enquanto ele hesita, o PSDB promete aprovar, dentro de dois meses, o regulamento da prévia do partido. Guerra tenta convencer Serra de que a prévia é benéfica para o partido: ´Se o Aécio quiser, teremos prévia. Isso movimenta o PSDB´, diz Guerra.

´Pelo bem do partido, Serra e Aécio, têm de viajar pelo país´, diz Guerra. Ele avalia que seria melhor lançar o candidato no segundo semestre, porque antes a direção do partido precisa costurar a aliança nos Estados. A data de lançamento da candidatura divide os serristas: o deputado federal Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB-ES) acha que, diante da movimentação de Dilma, ´não dá mais para esperar 2010´.

Mas o deputado federal Jutahy Jr. (PSDB-BA), discorda. Para ele, a escolha tem de ficar para 2010, pois os candidatos -incluindo Dilma- poderão pagar um preço alto caso antecipem a disputa: ´Em 2009, os governadores de São Paulo e Minas têm de administrar seus Estados, e o presidente, o país. Antecipar o processo eleitoral num momento de crise é um desserviço´.

José Serra participou sexta-feira do Show Rural Coopavel, em Cascavel (PR), onde cumprimentou visitantes, beijou crianças e posou para fotos. Rodeado de lideranças tucanas do Paraná, ele negou que sua visita seja uma antecipação da campanha: ´Eu não vim aqui falar em política eleitoral. Acho que está sendo muito antecipado no Brasil esse assunto todo, inclusive pelo próprio governo federal e pelo próprio PT´.

´A gente tem que, nesse momento, se debruçar para administrar bem, cumprir as responsabilidades e enfrentar a crise. Essa é a minha prioridade neste momento, e não a política eleitoral, de verdade´, afirmou.

O governador justificou sua presença na feira paranaense por se tratar de um dos maiores eventos do agronegócio e aproveitou para criticar a política econômica: ´O mundo inteiro enfrenta a crise procurando tornar o crédito mais barato, mais acessível. O Brasil se mantém em direção contrária´.

Cúpula tucana impõe Serra

Atento à movimentação da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o comando do PSDB está decidido a precipitar o lançamento da candidatura do governador José Serra à Presidência. Serra, porém, resiste. Sob o argumento de que, graças à colocação nas pesquisas, ele sairia vitorioso da disputa interna, tucanos chegam a insistir para que Serra enfrente o governador de Minas, Aécio Neves, em prévias partidárias.

Numa reunião com o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso alegou que, se não lançar candidato o ´quanto antes´, a oposição ficará sem um porta-voz no país. Uma das avaliações é que, se fosse escolhido, o candidato já poderia monopolizar o programa partidário. Agora, terá que dividir o tempo com outros governadores.

Ao longo da semana, FHC pediu para que o partido trabalhe para convencer Aécio Neves a abrir mão da disputa. O comando tucano defende ainda que Serra viaje mais pelo Brasil, numa tentativa de ampliar seu capital político fora das regiões Sul e Sudeste.

Serra argumenta, porém, que o eleitorado de São Paulo rejeita a idéia de o governador deixar o Estado num momento de crise para se dedicar à campanha a um ano e sete meses das eleições. Ele teme ser criticado caso estoure um problema em São Paulo durante uma viagem, e manifesta o receio de se transformar, prematuramente, em alvo do PT de São Paulo. ´O governador não pode deixar o Estado´, pondera o vice-governador, Alberto Goldman. Além disso, Serra afirma que não há como se lançar sem o apoio de Aécio. Enquanto ele hesita, o PSDB promete aprovar, dentro de dois meses, o regulamento da prévia do partido. Guerra tenta convencer Serra de que a prévia é benéfica para o partido: ´Se o Aécio quiser, teremos prévia. Isso movimenta o PSDB´, diz Guerra.

´Pelo bem do partido, Serra e Aécio, têm de viajar pelo país´, diz Guerra. Ele avalia que seria melhor lançar o candidato no segundo semestre, porque antes a direção do partido precisa costurar a aliança nos Estados. A data de lançamento da candidatura divide os serristas: o deputado federal Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB-ES) acha que, diante da movimentação de Dilma, ´não dá mais para esperar 2010´.

Mas o deputado federal Jutahy Jr. (PSDB-BA), discorda. Para ele, a escolha tem de ficar para 2010, pois os candidatos -incluindo Dilma- poderão pagar um preço alto caso antecipem a disputa: ´Em 2009, os governadores de São Paulo e Minas têm de administrar seus Estados, e o presidente, o país. Antecipar o processo eleitoral num momento de crise é um desserviço´.

José Serra participou sexta-feira do Show Rural Coopavel, em Cascavel (PR), onde cumprimentou visitantes, beijou crianças e posou para fotos. Rodeado de lideranças tucanas do Paraná, ele negou que sua visita seja uma antecipação da campanha: ´Eu não vim aqui falar em política eleitoral. Acho que está sendo muito antecipado no Brasil esse assunto todo, inclusive pelo próprio governo federal e pelo próprio PT´.

´A gente tem que, nesse momento, se debruçar para administrar bem, cumprir as responsabilidades e enfrentar a crise. Essa é a minha prioridade neste momento, e não a política eleitoral, de verdade´, afirmou.

O governador justificou sua presença na feira paranaense por se tratar de um dos maiores eventos do agronegócio e aproveitou para criticar a política econômica: ´O mundo inteiro enfrenta a crise procurando tornar o crédito mais barato, mais acessível. O Brasil se mantém em direção contrária´.

Os obstáculos pra Serra chegar lá

À primeira vista, o governador de São Paulo, José Serra, vive uma situação confortável como potencial candidato à Presidência da República em 2010. Lidera as pesquisas em todos os cenários sobre a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Faz um governo bem-avaliado. Tem dinheiro em caixa para investimentos. Possui laços fortes com o grande empresariado --o que é fundamental para o financiamento de campanha.

Mas esse conforto é apenas aparente. Serra anda tenso. Deseja ser ungido logo o candidato do PSDB, mas o governador de Minas, o tucano Aécio Neves, não aceita fato consumado e quer uma disputa em prévias pelo país. Se a escolha fosse hoje, Serra venceria. Mas a que custo?

Em 2006, ele ficou com medo de concorrer contra Lula, que já se recuperara do escândalo do mensalão (2005). A divisão do partido pesou e alimentou o temor de disputar. Cedeu a vez para o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A história é conhecida. Lula venceu.

Serra não pode tratorar Aécio. Se o fizer, o governador poderá cruzar os braços no segundo colégio eleitoral do país, a exemplo do que fez em 2002. Principal articulador da candidatura de Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deseja que Aécio apoie logo Serra. E deseja mais: que o mineiro seja candidato a vice-presidente na chapa do colega de São Paulo. Por ora, Aécio resiste.

Serra sofre também embaraços externos. Qual será o seu discurso de campanha? Ele se aproximou do presidente, com quem tem tido boa parceria administrativa. Vai falar mal de Lula em 2010? Poderá ouvir do presidente que até outro dia o tucano frequentava o Palácio do Planalto e o elogiava.

A crítica de Serra à política monetária (juros altos) do Banco Central não é unânime nem no seu partido. Ainda que fosse, renderia votos? O que Serra mudaria na política econômica? Essa mudança teria apelo eleitoral? Há fundadas dúvidas a respeito desta última indagação.

Qual será o discurso na área social? Vai manter o Bolsa Família, mas com melhoras, procurando uma "porta de saída", para usar um chavão? Isso o atual governo já promete que fará. Por que o eleitorado confiaria na oposição para melhorar o Bolsa Família e não em um candidato da situação? Enfim, há um monte de perguntas no meio do caminho de Serra.

Enquanto o PSDB está dividido e não tem um discurso de campanha consistente, Lula usa a crise como oportunidade para lançar medidas que podem render dividendos políticos à sua provável candidata, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Nessa toada, o presidente tem boa chance de viabilizar a vitória de Dilma.

Há ainda a contradição de ser um político com cabeça de centro-esquerda com uma base de centro-direita. O DEM, antigo PFL, é o aliado preferencial do governador paulista. Lula e o PT adoram associar o PSDB ao PFL, numa jogada retórica para dizer que se trataria de uma volta ao passado (governo FHC). Quando Serra atribui alguma manifestação dos movimentos sociais a interesses políticos-eleitorais, faz um discurso conservador. Criminalizar os movimentos sociais não combina com um político de centro-esquerda, mas é música aos ouvidos de políticos de centro-direita.

Outro problema: a administração de Gilberto Kassab começa a patinar. Não se sabe se o prefeito paulistano entregará as principais promessas da campanha municipal de 2008. Serra será cobrado pelo desempenho de seu afilhado político.

Por último, vem o famoso temperamento de Serra. O desejo obsessivo de ser presidente ajuda por um lado, mas atrapalha por outro. Ele tem procurado demonstrar mais jogo de cintura. Melhorou a relação com a imprensa. Aproximou-se de desafetos --integrar Geraldo Alckmin ao secretariado e se aliar a Orestes Quércia são exemplos disso. Mas ainda mantém uma certa tendência autoritária a querer controlar o noticiário, a tentar evitar perguntas embaraçosas, a editar jornais, rádios e TVs.

Não faltam obstáculos para o favorito Serra chegar lá.

Leia as colunas anteriores

Kennedy Alencar, 41, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve paraPensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

Os obstáculos pra Serra chegar lá

À primeira vista, o governador de São Paulo, José Serra, vive uma situação confortável como potencial candidato à Presidência da República em 2010. Lidera as pesquisas em todos os cenários sobre a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Faz um governo bem-avaliado. Tem dinheiro em caixa para investimentos. Possui laços fortes com o grande empresariado --o que é fundamental para o financiamento de campanha.

Mas esse conforto é apenas aparente. Serra anda tenso. Deseja ser ungido logo o candidato do PSDB, mas o governador de Minas, o tucano Aécio Neves, não aceita fato consumado e quer uma disputa em prévias pelo país. Se a escolha fosse hoje, Serra venceria. Mas a que custo?

Em 2006, ele ficou com medo de concorrer contra Lula, que já se recuperara do escândalo do mensalão (2005). A divisão do partido pesou e alimentou o temor de disputar. Cedeu a vez para o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A história é conhecida. Lula venceu.

Serra não pode tratorar Aécio. Se o fizer, o governador poderá cruzar os braços no segundo colégio eleitoral do país, a exemplo do que fez em 2002. Principal articulador da candidatura de Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deseja que Aécio apoie logo Serra. E deseja mais: que o mineiro seja candidato a vice-presidente na chapa do colega de São Paulo. Por ora, Aécio resiste.

Serra sofre também embaraços externos. Qual será o seu discurso de campanha? Ele se aproximou do presidente, com quem tem tido boa parceria administrativa. Vai falar mal de Lula em 2010? Poderá ouvir do presidente que até outro dia o tucano frequentava o Palácio do Planalto e o elogiava.

A crítica de Serra à política monetária (juros altos) do Banco Central não é unânime nem no seu partido. Ainda que fosse, renderia votos? O que Serra mudaria na política econômica? Essa mudança teria apelo eleitoral? Há fundadas dúvidas a respeito desta última indagação.

Qual será o discurso na área social? Vai manter o Bolsa Família, mas com melhoras, procurando uma "porta de saída", para usar um chavão? Isso o atual governo já promete que fará. Por que o eleitorado confiaria na oposição para melhorar o Bolsa Família e não em um candidato da situação? Enfim, há um monte de perguntas no meio do caminho de Serra.

Enquanto o PSDB está dividido e não tem um discurso de campanha consistente, Lula usa a crise como oportunidade para lançar medidas que podem render dividendos políticos à sua provável candidata, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Nessa toada, o presidente tem boa chance de viabilizar a vitória de Dilma.

Há ainda a contradição de ser um político com cabeça de centro-esquerda com uma base de centro-direita. O DEM, antigo PFL, é o aliado preferencial do governador paulista. Lula e o PT adoram associar o PSDB ao PFL, numa jogada retórica para dizer que se trataria de uma volta ao passado (governo FHC). Quando Serra atribui alguma manifestação dos movimentos sociais a interesses políticos-eleitorais, faz um discurso conservador. Criminalizar os movimentos sociais não combina com um político de centro-esquerda, mas é música aos ouvidos de políticos de centro-direita.

Outro problema: a administração de Gilberto Kassab começa a patinar. Não se sabe se o prefeito paulistano entregará as principais promessas da campanha municipal de 2008. Serra será cobrado pelo desempenho de seu afilhado político.

Por último, vem o famoso temperamento de Serra. O desejo obsessivo de ser presidente ajuda por um lado, mas atrapalha por outro. Ele tem procurado demonstrar mais jogo de cintura. Melhorou a relação com a imprensa. Aproximou-se de desafetos --integrar Geraldo Alckmin ao secretariado e se aliar a Orestes Quércia são exemplos disso. Mas ainda mantém uma certa tendência autoritária a querer controlar o noticiário, a tentar evitar perguntas embaraçosas, a editar jornais, rádios e TVs.

Não faltam obstáculos para o favorito Serra chegar lá.

Leia as colunas anteriores

Kennedy Alencar, 41, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve paraPensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

Valor entrevista Itamar Franco

Valor: O senhor deu poucas entrevistas desde que voltou da Itália. Numa delas, se queixou do tratamento que diz receber em São Paulo da imprensa e da classe política. A que atribui essa má-vontade?

Itamar Franco: Ao fato de eu não ser de São Paulo. Ao preconceito. A elite paulista não aceita, de um modo geral, quem não faz parte de seu clã. Mas não guardo mágoas... Você vai ver como essa elite vai tratar o governador Aécio Neves, que é de Minas.

Valor: O governador Aécio é o seu candidato a presidente?

Itamar: É o meu candidato. E é o candidato de Minas.

Valor: O senhor vê chances de ele sair candidato pelo PMDB, pois José Serra parece mais articulado que Aécio no PSDB? E como o senhor analisa este momento da política?

Itamar: Acompanhei essa eleição no Congresso e lembrei os tempos de estudante de física. Quando você olha através de um espelho côncavo um objeto numa determinada posição, vê uma imagem real e outra virtual. O que eu vi nessa eleição para as mesas? A imagem virtual. O PMDB elegeu os presidentes das duas Casas. Tenho certo direito de falar no PMDB porque fundei esse partido, fui o nono a assinar a ficha nacional, fiz parte da primeira executiva, quando ainda era MDB. Lá em Juiz de Fora, tínhamos que manter o livro de fundação do partido escondido da polícia. Fui prefeito em eleição direta numa cidade em que, dois anos antes, o general Olímpio Mourão Filho deflagrara o golpe. E fiquei 22 anos no PMDB, até que a ditadura partidária não me permitiu continuar. Mas, você pergunta se o governador Aécio vai entrar para o PMDB. Aí, é uma questão muito pessoal. Não sou intérprete do pensamento do governador.

Valor: O senhor ia comentar o quadro eleitoral para 2010. E falava da eleição no Congresso.

Itamar: [Desenha nomes no papel e vai unindo-os com setas; depois faz um círculo em torno dos dois blocos formados).O presidente José Sarney é ligado ao Lula. O Michel Temer é ligado a José Serra mais Orestes Quércia. Temer é um bom nome dos quadros do partido, mas pertence ao PMDB de São Paulo. O PMDB de São Paulo é comandado por Quércia que, por sua vez, já está apoiando o Serra. Por via de consequência, Quércia é o possível candidato a senador, numa composição PMDB/PSDB. Então, o quadro político tem mais ou menos esse desenho. O grave é que o PMDB, que é base do governo, que tem ministros, se alia a quem? Ao DEM, que é oposição. Como é que a opinião pública pode entender a política nacional se na Câmara alta da República dois partidos que deveriam ser diferenciados ideologicamente se unem? Não visaram os interesses nacionais. Por quê? Porque daqui a pouco, este aqui [aponta para o círculo em que colocou Temer, Quércia, Serra e DEM] vai estar combatendo o governo Lula. E este outro pode estar somando com o presidente e até dar o candidato a vice. Mas nunca este estará na linha deste [mostra com a caneta um e outro círculos]. Por isso digo que nosso quadro político é imagem virtual. Não real.

Valor: Qual é a relação dessa eleição no Congresso com 2010?

Itamar: Serra foi beneficiado pela eleição do Temer, mas não foi beneficiado pela do Sarney. Não dá para dizer, porém, que o governador Aécio foi o beneficiado. Entendo que o presidente Sarney ficará ainda mais ligado ao Lula e fará o que Lula determinar. Sarney não é um simples apoiador do Lula. Ele comanda todo o sistema energético brasileiro. Dou um exemplo. Furnas sempre foi dirigida por mineiros. O dr. José Pedro [Rodrigues dos Santos, mineiro, amigo de Itamar] saiu há pouco da presidência de Furnas. Não foi nenhum mineiro para lá, não. Foi quem o Sarney determinou. Ele controla o próprio ministro [Edison Lobão], a Eletrobrás, Furnas, a Eletronorte. Até na Petrobras tem influência. Então, este homem está hoje devedor de Lula, muito mais do que Lula lhe deve pelo apoio. Controlar o sistema energético é ter muito poder. Quando Fernando Henrique tentou privatizar Furnas, eu era governador, e lutei contra. Graças a minha resistência, Furnas e Cemig continuam brasileiras. Mas isso, hoje, a gente só comenta. Para alguns eu não existi nem existo. Quando saí da Presidência ainda fiquei aborrecido, mas me lembrei de um verso de Castro Alves. Percebi que algumas pessoas que eu achava que eram estrelas eram apenas pirilampos ["Julguei-te estrela - e eras pirilampo", do poema "Dalila"].

Valor: Quem são os pirilampos?

Itamar: Quando era criança pegava os pirilampos e punha numa caixinha de fósforos. Meus arquivos têm alguns pirilampos... Mas por enquanto não mostro para ninguém.

Valor: Como é isso de ditadura partidária no PMDB?

Itamar: As ditaduras partidárias são reais. E se tornaram mais fortes quando o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que o mandato pertence ao partido. O que penso é que precisávamos ter um percentual de candidatos independentes, para não ficarmos submetidos à ditadura partidária. Por que o governador Aécio quer prévias? Porque não quer se submeter à ditadura partidária, que também existe no PSDB. Num PMDB controlado por Sarney, Quércia, Geddel, Jader, Padilha, quem os derrota?

Valor: O Aécio é candidato a presidente. Se não for, vai para o Senado. Quem sai para governador?

Itamar: Aí vem o cacoete de engenheiro. Na matemática, quando o número de incógnitas é muito maior do que as equações, a questão não se resolve. A política mineira e a nacional têm excesso de incógnitas. Quem será o candidato a governador? Não sei. Eu estou sem partido, mas estudo o convite de três partidos. Não vou dizer quais. Possivelmente vou me filiar a um deles. Apenas para ter uma filiação.

Valor: O senhor sente falta de políticos que expressem abertamente o que pensam?

Itamar: Essa eleição no Congresso me fez pensar nisso. Os presidentes das duas Casas não falam nada sobre seus alinhamentos. E também não dizem o que pensam da reforma tributária, da fiscal, e sobretudo da reforma política. Desde estudante, estive ao lado de quem defendia ideias. Na política, meu primeiro inspirador foi Alberto Pasqualini [1901-1960], senador gaúcho que me fez entrar para o Partido Trabalhista Brasileiro, PTB, um homem com ideias avançadíssimas para a época. Até há pouco tempo você era eleito pelo que falava em praça pública. Hoje não. Você é preparado no estúdio, lhe dão um discurso para ler no teleprompter. Fui de um tempo que tinha de chegar na televisão e dizer o que pensava. Se falasse besteira estava liquidado.

Valor: E numa campanha chegou a brigar no estúdio. Como foi?

Itamar: O adversário é que quis me bater. Eu era candidato a senador em 1974. Os programas eleitorais eram ao vivo. O juiz eleitoral ficava assistindo, se alguém falasse algo que contrariasse a legislação o juiz interrompia. Eu estava viajando pelo interior. Aí o sujeito que já era senador e candidato à reeleição [senador José Augusto Ferreira Filho, Arena] colocava uma cadeira vazia e dizia: "Que dê esse prefeitinho que não veio? Tá com medo de debater". Todo programa dele tinha o diabo daquela cadeira vazia. Um dia fui lá. A porta do estúdio estava aberta, entrei e sentei na cadeira. Falei pro locutor. "Estou aqui pra debater". O juiz achou que era combinado e deixou minha imagem no ar. O locutor disse que desta vez era o candidato deles que estava viajando. E eu disse: "Então vou ficar aqui sentado". Tudo isso no ar. O juiz percebeu que não era combinado e cortou o programa. Nisso o candidato que estava viajando chegou. Pegou um pedaço de pau e veio pra cima de mim. O estúdio ficou cheio de deixa disso. Um fotógrafo da Veja bateu a foto do meu adversário com o porrete na mão.

Valor: E a crise mundial como vai se refletir por aqui?

Itamar: Os Estados Unidos, têm um quarto do PIB mundial, e são o epicentro desta crise. É evidente que a crise vai chegar aqui. Desde 1983, os Estados Unidos já tiveram picos trimestrais de crescimento de 9,3%. Mesmo depois do 11 de setembro, um ano depois, chegaram a 7,5%. Mas 2008 fechou com menos 3,8%, uma queda muito grande. Para o Brasil, as projeções de 2009 são do professor Carlos Alberto Teixeira, um mineiro. Nosso PIB vai crescer 2%, depois de ter crescido 5,4% em 2007 e estimar-se 5,6% em 2008. O saldo comercial será de apenas US$ 9 bilhões, e déficit de conta corrente de US$ 25 bilhões. Não será uma marolinha. Mas no mundo todos parecem meio perdidos. Os economistas também. Até setembro não vi um economista de consultoria alertar sobre a crise iminente.

Valor: O governo está agindo corretamente? O que precisa mudar?

Itamar: Não vou analisar o presidente. Em 2002, eu era governador de Minas. Fui o primeiro governador de oposição a apoiar a candidatura de Lula. Eu tinha um bom relacionamento com o depois ministro Zé Dirceu e ele pediu para me engajar na campanha. E fui o único governador de oposição a falar no comício de encerramento em São Bernardo. Era chuva que só Deus sabe. O candidato Lula pegou no meu braço e disse " gostaria que você falasse". Depois nos afastamos não sei por quê. Ele me convidou para ser embaixador na Itália, falei que só ficava dois anos, fiquei, Ele ofereceu outro posto, eu não quis, voltei. Hoje não temos nenhum contato.

Valor: O senhor não respondeu sobre o que deve ser feito no Brasil.

Itamar: A primeira coisa que o governo tem de fazer não é novidade. Mudar a política monetária. Não se pode continuar com a taxa de juro mais alta do mundo.

Valor: A crise atrapalha os planos de Lula de fazer o sucessor?

Itamar: Não. Só se ela for realmente avassaladora. Do modo que está vindo, não. A gente tem que reconhecer. O Brasil está mais preparado do que antes de 2003. Acho que a crise não vai afetar o presidente. Se você andar pelo interior, e eu tenho andado, vai perceber que o Bolsa Família beneficia mais ou menos 11 milhões de famílias. Se multiplicar isso por baixo, por três, pois elas têm parentes, amigos pobres que ajudam outros pobres, vai dar muita gente. E esta gente o presidente está conseguindo manter ao seu lado. Vou dar um exemplo, me permita que não cite a cidade. Há uma cidade em Minas, ribeirinha ao São Francisco, cuja praia fica do outro lado do rio. Tem uma barcaça que faz a travessia. Quando a prefeitura não paga a passagem de R$ 1, a prainha da outra margem recebe mais ou menos seiscentas pessoas no fim de semana. Quando a prefeitura paga a passagem, há dez mil na prainha. O cidadão vai de graça e gasta o real dele com um peixe, uma pinguinha. Agora ponha nisso 90 reais por filho em idade escolar... Conversei com um prefeito de outra cidade do interior. Perguntei: "Me diz lá, o que estão achando do senhor presidente?". E ele: " Ó, vou dizer uma coisa. Já falam em terceiro mandato". Não aprovo o terceiro mandato, nem o prefeito apoia. Mas isso mostra que a crise tem de ser mesmo avassaladora, para desfazer o prestígio do Lula.

Valor: E a Dilma?

Itamar: Acredito que a ministra Dilma Roussef é uma candidata muito forte. Não está falando o mineiro em favor da conterrânea. Fala o observador da política, homem que já foi político e hoje não é mais.

Valor: E espera que os leitores e a torcida do Atlético acreditem que não é mais político...

Itamar: Um ex-político. Mas, como ia dizendo, essa senhora vai dar trabalho. São aqui de Minas três figuras que mais entendem de energia neste Brasil: José Pedro Rodrigues dos Santos, ex-presidente de Furnas; o presidente da Cemig, dr. Djalma Morais e o dr. Marcelo Siqueira, também ex-presidente de Furnas. Eles podem atestar que ela entende muito de energia. A ministra fez uma palestra no Copacabana Palace, falou mais de duas horas sem olhar uma vez para o papel. É candidata forte. Não se iludam.

Valor: Dizem que não é política.

Itamar: Já vi tanta gente que não era política chegar lá. Eu até discordo um pouco, ela é política desde jovem. Tanto que foi presa política aos 21 anos.

Valor: Mas o seu candidato é o governador Aécio, não?

Itamar: É o governador Aécio. Mas ele tem que assumir-se como candidato. Ele tem de chegar e dizer "Vim, vi e quero vencer".

Valor: Como César?

Itamar: Exatamente. Como César, ter a ousadia de atravessar o Rubicão. Alea jacta est, a sorte está lançada, que, aliás, César não disse em latim, mas em grego. Se não atravessar o Rubicão, não vai a Roma. Aécio tem de atravessar o Rubicão logo. Este mês ainda.

Valor: Por que este mês?

Itamar: Porque a luta está aí. O Serra já atravessou o Rubicão dele, só não sei se vai transpor as montanhas... Nada contra o Serra, só estou analisando. Faz dois meses que não converso com o governador Aécio, a não ser pelo telefone. Acho que ele tem um bom combate a fazer no campo das ideias. Tem que mostrar o que quer para o país.

Valor: E o que ele quer?

Itamar: Ah, não sei. Sei que o presidente Lula está bem com a opinião pública não só porque tem o Bolsa Família. É porque a oposição não tem mensagem.

Valor: Depois de se reeleger governador, Aécio disse que ia percorrer o país para pregar uma nova forma de o PSDB fazer política. Isso parece que não andou.

Itamar: Sabe por que não andou? Porque tem que atravessar o Rubicão. E o Rubicão não é tão difícil de atravessar. Em verdade é um riacho... Mas há um anseio em Minas para que Minas volte à Presidência da República. Minha opinião é de que o presidente Fernando Henrique fez um mal ao país ao inventar a reeleição. Ele me disse que não ia fazer isso. Mas ele tem uma memória que eu chamo de peneira, retém algumas coisas e deixa escorrer as outras. Ele e o grupo dele acham até que ele é que assinou o Plano Real. Não fui eu não. Quando chega a noite, no seu quarto, ele apaga as luzes, joga um foco e proclama: "Olha aí, eu é que assinei o Plano Real". Mas esquece de uma coisa: o grande sacerdote do plano real chama-se Rubens Ricupero... Eleito graças ao Plano Real, Fernando Henrique deveria fazer em seguida as reformas tributária, a fiscal e a política.

Valor: Mas tinha condições políticas de fazer logo essas reformas?

Itamar: Tinha, pois foi eleito em primeiro turno. Mas ficou mordido pela reeleição. Não queria briga, contrariar interesses, sacrificou tudo pela reeleição. Depois dele, os presidentes pensarão antes de tudo na reeleição. Quando eu estava na Presidência, disse ao meu líder no Senado: "Pedro Simon, não vamos lutar pela reeleição". Estávamos em 1994 revisando a Constituição. E a reeleição não passou no Congresso por nove votos. Sabe por quê? Porque o Fernando Henrique tinha cerca de 16% e o Lula vinha com uns 35% nas pesquisas. Eles tinham medo de colocar a reeleição por causa do Lula. O mesmo aconteceu com o mandato de quatro anos. Não foi de cinco, por causa do medo da vitória do Lula. A história terá de me fazer justiça: fui presidente, não me candidatei à reeleição. Fui governador, e não me candidatei à reeleição. Sou contra.

Valor: E como foi sua primeira eleição a senador, em 1974, em pleno regime militar?

Itamar: Teve um homem bom, chamado senador Franco Montoro. Em 1974, eu era prefeito e fui à casa do doutor Tancredo. Falei: "O senhor vai ser candidato ao Senado?" "Eu não sou burro", ele me disse. "Pois eu gostaria de ser", eu disse. "Você não vai ter 300 mil votos", mas mandou consultar a cúpula do então MDB de Minas. Consultei e ninguém queria. Daí fui ao Franco Montoro em São Paulo. Expliquei a situação. O que Montoro me disse nunca mais esqueci: "Os políticos brasileiros só estamos enxergando a superfície e na superfície vamos ser derrotados. Governo militar, presidente Geisel, imprensa, tudo é contra nós. Mas se você aprofundar um pouquinho o olhar, eu lhe aconselharia a ser candidato porque vamos fazer mais de dez senadores". O MDB elegeu 16 senadores, inclusive o Quercia em São Paulo.

Valor: E agora será que só estamos enxergando a superfície?

Itamar: Não sei. Não temos mais um Montoro na vida.

Valor entrevista Itamar Franco

Valor: O senhor deu poucas entrevistas desde que voltou da Itália. Numa delas, se queixou do tratamento que diz receber em São Paulo da imprensa e da classe política. A que atribui essa má-vontade?

Itamar Franco: Ao fato de eu não ser de São Paulo. Ao preconceito. A elite paulista não aceita, de um modo geral, quem não faz parte de seu clã. Mas não guardo mágoas... Você vai ver como essa elite vai tratar o governador Aécio Neves, que é de Minas.

Valor: O governador Aécio é o seu candidato a presidente?

Itamar: É o meu candidato. E é o candidato de Minas.

Valor: O senhor vê chances de ele sair candidato pelo PMDB, pois José Serra parece mais articulado que Aécio no PSDB? E como o senhor analisa este momento da política?

Itamar: Acompanhei essa eleição no Congresso e lembrei os tempos de estudante de física. Quando você olha através de um espelho côncavo um objeto numa determinada posição, vê uma imagem real e outra virtual. O que eu vi nessa eleição para as mesas? A imagem virtual. O PMDB elegeu os presidentes das duas Casas. Tenho certo direito de falar no PMDB porque fundei esse partido, fui o nono a assinar a ficha nacional, fiz parte da primeira executiva, quando ainda era MDB. Lá em Juiz de Fora, tínhamos que manter o livro de fundação do partido escondido da polícia. Fui prefeito em eleição direta numa cidade em que, dois anos antes, o general Olímpio Mourão Filho deflagrara o golpe. E fiquei 22 anos no PMDB, até que a ditadura partidária não me permitiu continuar. Mas, você pergunta se o governador Aécio vai entrar para o PMDB. Aí, é uma questão muito pessoal. Não sou intérprete do pensamento do governador.

Valor: O senhor ia comentar o quadro eleitoral para 2010. E falava da eleição no Congresso.

Itamar: [Desenha nomes no papel e vai unindo-os com setas; depois faz um círculo em torno dos dois blocos formados).O presidente José Sarney é ligado ao Lula. O Michel Temer é ligado a José Serra mais Orestes Quércia. Temer é um bom nome dos quadros do partido, mas pertence ao PMDB de São Paulo. O PMDB de São Paulo é comandado por Quércia que, por sua vez, já está apoiando o Serra. Por via de consequência, Quércia é o possível candidato a senador, numa composição PMDB/PSDB. Então, o quadro político tem mais ou menos esse desenho. O grave é que o PMDB, que é base do governo, que tem ministros, se alia a quem? Ao DEM, que é oposição. Como é que a opinião pública pode entender a política nacional se na Câmara alta da República dois partidos que deveriam ser diferenciados ideologicamente se unem? Não visaram os interesses nacionais. Por quê? Porque daqui a pouco, este aqui [aponta para o círculo em que colocou Temer, Quércia, Serra e DEM] vai estar combatendo o governo Lula. E este outro pode estar somando com o presidente e até dar o candidato a vice. Mas nunca este estará na linha deste [mostra com a caneta um e outro círculos]. Por isso digo que nosso quadro político é imagem virtual. Não real.

Valor: Qual é a relação dessa eleição no Congresso com 2010?

Itamar: Serra foi beneficiado pela eleição do Temer, mas não foi beneficiado pela do Sarney. Não dá para dizer, porém, que o governador Aécio foi o beneficiado. Entendo que o presidente Sarney ficará ainda mais ligado ao Lula e fará o que Lula determinar. Sarney não é um simples apoiador do Lula. Ele comanda todo o sistema energético brasileiro. Dou um exemplo. Furnas sempre foi dirigida por mineiros. O dr. José Pedro [Rodrigues dos Santos, mineiro, amigo de Itamar] saiu há pouco da presidência de Furnas. Não foi nenhum mineiro para lá, não. Foi quem o Sarney determinou. Ele controla o próprio ministro [Edison Lobão], a Eletrobrás, Furnas, a Eletronorte. Até na Petrobras tem influência. Então, este homem está hoje devedor de Lula, muito mais do que Lula lhe deve pelo apoio. Controlar o sistema energético é ter muito poder. Quando Fernando Henrique tentou privatizar Furnas, eu era governador, e lutei contra. Graças a minha resistência, Furnas e Cemig continuam brasileiras. Mas isso, hoje, a gente só comenta. Para alguns eu não existi nem existo. Quando saí da Presidência ainda fiquei aborrecido, mas me lembrei de um verso de Castro Alves. Percebi que algumas pessoas que eu achava que eram estrelas eram apenas pirilampos ["Julguei-te estrela - e eras pirilampo", do poema "Dalila"].

Valor: Quem são os pirilampos?

Itamar: Quando era criança pegava os pirilampos e punha numa caixinha de fósforos. Meus arquivos têm alguns pirilampos... Mas por enquanto não mostro para ninguém.

Valor: Como é isso de ditadura partidária no PMDB?

Itamar: As ditaduras partidárias são reais. E se tornaram mais fortes quando o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que o mandato pertence ao partido. O que penso é que precisávamos ter um percentual de candidatos independentes, para não ficarmos submetidos à ditadura partidária. Por que o governador Aécio quer prévias? Porque não quer se submeter à ditadura partidária, que também existe no PSDB. Num PMDB controlado por Sarney, Quércia, Geddel, Jader, Padilha, quem os derrota?

Valor: O Aécio é candidato a presidente. Se não for, vai para o Senado. Quem sai para governador?

Itamar: Aí vem o cacoete de engenheiro. Na matemática, quando o número de incógnitas é muito maior do que as equações, a questão não se resolve. A política mineira e a nacional têm excesso de incógnitas. Quem será o candidato a governador? Não sei. Eu estou sem partido, mas estudo o convite de três partidos. Não vou dizer quais. Possivelmente vou me filiar a um deles. Apenas para ter uma filiação.

Valor: O senhor sente falta de políticos que expressem abertamente o que pensam?

Itamar: Essa eleição no Congresso me fez pensar nisso. Os presidentes das duas Casas não falam nada sobre seus alinhamentos. E também não dizem o que pensam da reforma tributária, da fiscal, e sobretudo da reforma política. Desde estudante, estive ao lado de quem defendia ideias. Na política, meu primeiro inspirador foi Alberto Pasqualini [1901-1960], senador gaúcho que me fez entrar para o Partido Trabalhista Brasileiro, PTB, um homem com ideias avançadíssimas para a época. Até há pouco tempo você era eleito pelo que falava em praça pública. Hoje não. Você é preparado no estúdio, lhe dão um discurso para ler no teleprompter. Fui de um tempo que tinha de chegar na televisão e dizer o que pensava. Se falasse besteira estava liquidado.

Valor: E numa campanha chegou a brigar no estúdio. Como foi?

Itamar: O adversário é que quis me bater. Eu era candidato a senador em 1974. Os programas eleitorais eram ao vivo. O juiz eleitoral ficava assistindo, se alguém falasse algo que contrariasse a legislação o juiz interrompia. Eu estava viajando pelo interior. Aí o sujeito que já era senador e candidato à reeleição [senador José Augusto Ferreira Filho, Arena] colocava uma cadeira vazia e dizia: "Que dê esse prefeitinho que não veio? Tá com medo de debater". Todo programa dele tinha o diabo daquela cadeira vazia. Um dia fui lá. A porta do estúdio estava aberta, entrei e sentei na cadeira. Falei pro locutor. "Estou aqui pra debater". O juiz achou que era combinado e deixou minha imagem no ar. O locutor disse que desta vez era o candidato deles que estava viajando. E eu disse: "Então vou ficar aqui sentado". Tudo isso no ar. O juiz percebeu que não era combinado e cortou o programa. Nisso o candidato que estava viajando chegou. Pegou um pedaço de pau e veio pra cima de mim. O estúdio ficou cheio de deixa disso. Um fotógrafo da Veja bateu a foto do meu adversário com o porrete na mão.

Valor: E a crise mundial como vai se refletir por aqui?

Itamar: Os Estados Unidos, têm um quarto do PIB mundial, e são o epicentro desta crise. É evidente que a crise vai chegar aqui. Desde 1983, os Estados Unidos já tiveram picos trimestrais de crescimento de 9,3%. Mesmo depois do 11 de setembro, um ano depois, chegaram a 7,5%. Mas 2008 fechou com menos 3,8%, uma queda muito grande. Para o Brasil, as projeções de 2009 são do professor Carlos Alberto Teixeira, um mineiro. Nosso PIB vai crescer 2%, depois de ter crescido 5,4% em 2007 e estimar-se 5,6% em 2008. O saldo comercial será de apenas US$ 9 bilhões, e déficit de conta corrente de US$ 25 bilhões. Não será uma marolinha. Mas no mundo todos parecem meio perdidos. Os economistas também. Até setembro não vi um economista de consultoria alertar sobre a crise iminente.

Valor: O governo está agindo corretamente? O que precisa mudar?

Itamar: Não vou analisar o presidente. Em 2002, eu era governador de Minas. Fui o primeiro governador de oposição a apoiar a candidatura de Lula. Eu tinha um bom relacionamento com o depois ministro Zé Dirceu e ele pediu para me engajar na campanha. E fui o único governador de oposição a falar no comício de encerramento em São Bernardo. Era chuva que só Deus sabe. O candidato Lula pegou no meu braço e disse " gostaria que você falasse". Depois nos afastamos não sei por quê. Ele me convidou para ser embaixador na Itália, falei que só ficava dois anos, fiquei, Ele ofereceu outro posto, eu não quis, voltei. Hoje não temos nenhum contato.

Valor: O senhor não respondeu sobre o que deve ser feito no Brasil.

Itamar: A primeira coisa que o governo tem de fazer não é novidade. Mudar a política monetária. Não se pode continuar com a taxa de juro mais alta do mundo.

Valor: A crise atrapalha os planos de Lula de fazer o sucessor?

Itamar: Não. Só se ela for realmente avassaladora. Do modo que está vindo, não. A gente tem que reconhecer. O Brasil está mais preparado do que antes de 2003. Acho que a crise não vai afetar o presidente. Se você andar pelo interior, e eu tenho andado, vai perceber que o Bolsa Família beneficia mais ou menos 11 milhões de famílias. Se multiplicar isso por baixo, por três, pois elas têm parentes, amigos pobres que ajudam outros pobres, vai dar muita gente. E esta gente o presidente está conseguindo manter ao seu lado. Vou dar um exemplo, me permita que não cite a cidade. Há uma cidade em Minas, ribeirinha ao São Francisco, cuja praia fica do outro lado do rio. Tem uma barcaça que faz a travessia. Quando a prefeitura não paga a passagem de R$ 1, a prainha da outra margem recebe mais ou menos seiscentas pessoas no fim de semana. Quando a prefeitura paga a passagem, há dez mil na prainha. O cidadão vai de graça e gasta o real dele com um peixe, uma pinguinha. Agora ponha nisso 90 reais por filho em idade escolar... Conversei com um prefeito de outra cidade do interior. Perguntei: "Me diz lá, o que estão achando do senhor presidente?". E ele: " Ó, vou dizer uma coisa. Já falam em terceiro mandato". Não aprovo o terceiro mandato, nem o prefeito apoia. Mas isso mostra que a crise tem de ser mesmo avassaladora, para desfazer o prestígio do Lula.

Valor: E a Dilma?

Itamar: Acredito que a ministra Dilma Roussef é uma candidata muito forte. Não está falando o mineiro em favor da conterrânea. Fala o observador da política, homem que já foi político e hoje não é mais.

Valor: E espera que os leitores e a torcida do Atlético acreditem que não é mais político...

Itamar: Um ex-político. Mas, como ia dizendo, essa senhora vai dar trabalho. São aqui de Minas três figuras que mais entendem de energia neste Brasil: José Pedro Rodrigues dos Santos, ex-presidente de Furnas; o presidente da Cemig, dr. Djalma Morais e o dr. Marcelo Siqueira, também ex-presidente de Furnas. Eles podem atestar que ela entende muito de energia. A ministra fez uma palestra no Copacabana Palace, falou mais de duas horas sem olhar uma vez para o papel. É candidata forte. Não se iludam.

Valor: Dizem que não é política.

Itamar: Já vi tanta gente que não era política chegar lá. Eu até discordo um pouco, ela é política desde jovem. Tanto que foi presa política aos 21 anos.

Valor: Mas o seu candidato é o governador Aécio, não?

Itamar: É o governador Aécio. Mas ele tem que assumir-se como candidato. Ele tem de chegar e dizer "Vim, vi e quero vencer".

Valor: Como César?

Itamar: Exatamente. Como César, ter a ousadia de atravessar o Rubicão. Alea jacta est, a sorte está lançada, que, aliás, César não disse em latim, mas em grego. Se não atravessar o Rubicão, não vai a Roma. Aécio tem de atravessar o Rubicão logo. Este mês ainda.

Valor: Por que este mês?

Itamar: Porque a luta está aí. O Serra já atravessou o Rubicão dele, só não sei se vai transpor as montanhas... Nada contra o Serra, só estou analisando. Faz dois meses que não converso com o governador Aécio, a não ser pelo telefone. Acho que ele tem um bom combate a fazer no campo das ideias. Tem que mostrar o que quer para o país.

Valor: E o que ele quer?

Itamar: Ah, não sei. Sei que o presidente Lula está bem com a opinião pública não só porque tem o Bolsa Família. É porque a oposição não tem mensagem.

Valor: Depois de se reeleger governador, Aécio disse que ia percorrer o país para pregar uma nova forma de o PSDB fazer política. Isso parece que não andou.

Itamar: Sabe por que não andou? Porque tem que atravessar o Rubicão. E o Rubicão não é tão difícil de atravessar. Em verdade é um riacho... Mas há um anseio em Minas para que Minas volte à Presidência da República. Minha opinião é de que o presidente Fernando Henrique fez um mal ao país ao inventar a reeleição. Ele me disse que não ia fazer isso. Mas ele tem uma memória que eu chamo de peneira, retém algumas coisas e deixa escorrer as outras. Ele e o grupo dele acham até que ele é que assinou o Plano Real. Não fui eu não. Quando chega a noite, no seu quarto, ele apaga as luzes, joga um foco e proclama: "Olha aí, eu é que assinei o Plano Real". Mas esquece de uma coisa: o grande sacerdote do plano real chama-se Rubens Ricupero... Eleito graças ao Plano Real, Fernando Henrique deveria fazer em seguida as reformas tributária, a fiscal e a política.

Valor: Mas tinha condições políticas de fazer logo essas reformas?

Itamar: Tinha, pois foi eleito em primeiro turno. Mas ficou mordido pela reeleição. Não queria briga, contrariar interesses, sacrificou tudo pela reeleição. Depois dele, os presidentes pensarão antes de tudo na reeleição. Quando eu estava na Presidência, disse ao meu líder no Senado: "Pedro Simon, não vamos lutar pela reeleição". Estávamos em 1994 revisando a Constituição. E a reeleição não passou no Congresso por nove votos. Sabe por quê? Porque o Fernando Henrique tinha cerca de 16% e o Lula vinha com uns 35% nas pesquisas. Eles tinham medo de colocar a reeleição por causa do Lula. O mesmo aconteceu com o mandato de quatro anos. Não foi de cinco, por causa do medo da vitória do Lula. A história terá de me fazer justiça: fui presidente, não me candidatei à reeleição. Fui governador, e não me candidatei à reeleição. Sou contra.

Valor: E como foi sua primeira eleição a senador, em 1974, em pleno regime militar?

Itamar: Teve um homem bom, chamado senador Franco Montoro. Em 1974, eu era prefeito e fui à casa do doutor Tancredo. Falei: "O senhor vai ser candidato ao Senado?" "Eu não sou burro", ele me disse. "Pois eu gostaria de ser", eu disse. "Você não vai ter 300 mil votos", mas mandou consultar a cúpula do então MDB de Minas. Consultei e ninguém queria. Daí fui ao Franco Montoro em São Paulo. Expliquei a situação. O que Montoro me disse nunca mais esqueci: "Os políticos brasileiros só estamos enxergando a superfície e na superfície vamos ser derrotados. Governo militar, presidente Geisel, imprensa, tudo é contra nós. Mas se você aprofundar um pouquinho o olhar, eu lhe aconselharia a ser candidato porque vamos fazer mais de dez senadores". O MDB elegeu 16 senadores, inclusive o Quercia em São Paulo.

Valor: E agora será que só estamos enxergando a superfície?

Itamar: Não sei. Não temos mais um Montoro na vida.

Longa campanha eleitoral

Pelo jeito, esta será uma longa, muito longa campanha eleitoral. O PT precisa tornar conhecida a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, precisa movimentar-se para impedir que a inércia transforme a candidatura José Serra num fato consumado dentro do PSDB. E o governador de São Paulo tampouco pode ficar assistindo passivamente à ocupação de espaços pelos adversários, internos e externos.

Em tese, uma campanha curta e não polarizada seria ideal para Serra, que dispõe hoje de vantagem nas pesquisas de intenção de voto para 2010. Tratar-se-ia simplesmente de escolher um administrador capaz de continuar o que o governo Lula vem fazendo de certo, de fazer o que não vem sendo feito e de corrigir o que está errado. O discurso com que Serra derrotou a petista Marta Suplicy na corrida municipal de 2004 em São Paulo.

Mas nessas coisas é conveniente sempre antes combinar com os adversários. Já advertia Garrincha, um grande piadista, na brincadeira que fez com o técnico Vicente Feola nos vestiários da partida contra a Rússia na Copa do Mundo de 1958. E, já que nem Aécio nem Dilma parecem conformados com o papel de estender desde agora um tapete vermelho para que Serra suba a rampa no Planalto, o PSDB serrista parece ter descoberto a necessidade de sair da zona de conforto e ir à luta.

Quem torce por uma campanha curta dirá que desencadear agora a sucessão pode gerar paralisia administrativa e prejudicar o país. Já quem precisa se vitaminar no grande público dirá que quanto mais informação for dada ao eleitor, melhor. Que um eleitor bem informado vota de maneira mais consciente. Na política, como se sabe, há argumentos para todos os gostos. E para todas as conveniências.

Os últimos movimentos da ala hegemônica do tucanato, retratada no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, refletem a constatação de que o PSDB não poderá ficar escondido, só esperando o dia em que a Presidência lhe cairá inevitavelmente no colo. Se quiserem chegar lá, os tucanos precisarão antes amassar barro, respondendo em primeiro lugar à seguinte pergunta: no que um Brasil governado pelo PSDB seria melhor do que o Brasil governado pelo PT?

O PSDB vem fugindo desse debate como o diabo foge da cruz. Só que, por mais que corra, dele não conseguirá escapar. É o que se escreve neste espaço desde tempos imemoriais. Os tucanos não têm conseguido fazer oposição programática ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Talvez porque Lula tenha incorporado boa parte do discurso do PSDB em assuntos como o controle da inflação e a responsabilidade fiscal. Ou os tucanos corrigem isso ou correm um risco enorme de ficar a ver navios no cais, enquanto a nau petista zarpa para um novo cruzeiro.

O quadro para o PSDB é complexo. Em entrevista esta semana a um canal de televisão, Dilma colocou na mesa a carta da reforma do Estado. Aumentar a eficiência da máquina pública. Com o movimento, a ministra prepara o ataque a uma das últimas fortalezas do discurso tucano. É uma manobra arriscada, mas compreensível: se tomarem a posição, as tropas do dilmismo terão reforçado o flanco e consolidado a sua defesa.

Se o PSDB for inteligente, buscará transformar o limão numa limonada. O PSDB perdeu nos últimos anos a oportunidade de construir socialmente uma agenda própria. Mas quem sabe se a disputa interna no tucanato não produz agora algo de útil? Uma ideia nova para o Brasil. Uma inspiração para despertar energias sociais hoje contidas.

O mundo mudou muito desde o início dos anos 1990, quando o PSDB se consolidou como força política. Naquela época, por exemplo, controlar o fluxo de informação era bem mais possível do que agora. Nos nossos dias, ou o sujeito mergulha na rede e trava a luta de ideias de maneira sistemática e contumaz ou então está fora da partida.

Nesse aspecto, o PT e o governo parecem mais adaptados à contemporaneidade do que o PSDB. Mas os tucanos têm massa crítica, intelectualmente falando, para equilibrar o jogo. Desde que queiram jogá-lo. Ou então podem continuar como estão: mirando obsessivamente o próprio umbigo, incapazes de projetar ideias que interessem de fato ao cidadão comum. Imbuídos da convicção de que mais dia menos dia estarão de volta ao poder. Por uma espécie de direito divino a ele.

Longa campanha eleitoral

Pelo jeito, esta será uma longa, muito longa campanha eleitoral. O PT precisa tornar conhecida a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, precisa movimentar-se para impedir que a inércia transforme a candidatura José Serra num fato consumado dentro do PSDB. E o governador de São Paulo tampouco pode ficar assistindo passivamente à ocupação de espaços pelos adversários, internos e externos.

Em tese, uma campanha curta e não polarizada seria ideal para Serra, que dispõe hoje de vantagem nas pesquisas de intenção de voto para 2010. Tratar-se-ia simplesmente de escolher um administrador capaz de continuar o que o governo Lula vem fazendo de certo, de fazer o que não vem sendo feito e de corrigir o que está errado. O discurso com que Serra derrotou a petista Marta Suplicy na corrida municipal de 2004 em São Paulo.

Mas nessas coisas é conveniente sempre antes combinar com os adversários. Já advertia Garrincha, um grande piadista, na brincadeira que fez com o técnico Vicente Feola nos vestiários da partida contra a Rússia na Copa do Mundo de 1958. E, já que nem Aécio nem Dilma parecem conformados com o papel de estender desde agora um tapete vermelho para que Serra suba a rampa no Planalto, o PSDB serrista parece ter descoberto a necessidade de sair da zona de conforto e ir à luta.

Quem torce por uma campanha curta dirá que desencadear agora a sucessão pode gerar paralisia administrativa e prejudicar o país. Já quem precisa se vitaminar no grande público dirá que quanto mais informação for dada ao eleitor, melhor. Que um eleitor bem informado vota de maneira mais consciente. Na política, como se sabe, há argumentos para todos os gostos. E para todas as conveniências.

Os últimos movimentos da ala hegemônica do tucanato, retratada no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, refletem a constatação de que o PSDB não poderá ficar escondido, só esperando o dia em que a Presidência lhe cairá inevitavelmente no colo. Se quiserem chegar lá, os tucanos precisarão antes amassar barro, respondendo em primeiro lugar à seguinte pergunta: no que um Brasil governado pelo PSDB seria melhor do que o Brasil governado pelo PT?

O PSDB vem fugindo desse debate como o diabo foge da cruz. Só que, por mais que corra, dele não conseguirá escapar. É o que se escreve neste espaço desde tempos imemoriais. Os tucanos não têm conseguido fazer oposição programática ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Talvez porque Lula tenha incorporado boa parte do discurso do PSDB em assuntos como o controle da inflação e a responsabilidade fiscal. Ou os tucanos corrigem isso ou correm um risco enorme de ficar a ver navios no cais, enquanto a nau petista zarpa para um novo cruzeiro.

O quadro para o PSDB é complexo. Em entrevista esta semana a um canal de televisão, Dilma colocou na mesa a carta da reforma do Estado. Aumentar a eficiência da máquina pública. Com o movimento, a ministra prepara o ataque a uma das últimas fortalezas do discurso tucano. É uma manobra arriscada, mas compreensível: se tomarem a posição, as tropas do dilmismo terão reforçado o flanco e consolidado a sua defesa.

Se o PSDB for inteligente, buscará transformar o limão numa limonada. O PSDB perdeu nos últimos anos a oportunidade de construir socialmente uma agenda própria. Mas quem sabe se a disputa interna no tucanato não produz agora algo de útil? Uma ideia nova para o Brasil. Uma inspiração para despertar energias sociais hoje contidas.

O mundo mudou muito desde o início dos anos 1990, quando o PSDB se consolidou como força política. Naquela época, por exemplo, controlar o fluxo de informação era bem mais possível do que agora. Nos nossos dias, ou o sujeito mergulha na rede e trava a luta de ideias de maneira sistemática e contumaz ou então está fora da partida.

Nesse aspecto, o PT e o governo parecem mais adaptados à contemporaneidade do que o PSDB. Mas os tucanos têm massa crítica, intelectualmente falando, para equilibrar o jogo. Desde que queiram jogá-lo. Ou então podem continuar como estão: mirando obsessivamente o próprio umbigo, incapazes de projetar ideias que interessem de fato ao cidadão comum. Imbuídos da convicção de que mais dia menos dia estarão de volta ao poder. Por uma espécie de direito divino a ele.

PT - Resolução Política

O centro da conjuntura de 2009 é a crise econômica que, originada no núcleo do sistema capitalista mundial – os Estados Unidos –, se propagou a todo o planeta. Embora os impactos da crise não sejam da mesma natureza e magnitude em todos os países, a retração da atividade econômica e o aumento do desemprego, que se seguiram à desorganização do sistema de crédito e financiamento, são hoje fenômenos comuns a praticamente todos os países.

Nos Estados Unidos, os indicadores relativos a esses aspectos já atingem valores significativos, com tendência a agravarem-se no curto prazo. O recém empossado governo Obama apresentou um plano de recuperação da atividade econômica que, embora envolva considerável volume de recursos, não permite antecipar se será suficiente para reverter a trajetória regressiva da economia norte-americana.

A China, que depende fortemente das importações americanas, luta para manter um crescimento acima de 7%, o que representa forte desaceleração com relação ao padrão registrado nas últimas décadas. As perspectivas de desemprego são, lá, igualmente preocupantes.

Na Europa e no Japão, a recessão avança a passos largos, setores relevantes da indústria anunciam grandes prejuízos e demissões de dezenas de milhares de trabalhadores e as previsões de aumento do desemprego são alarmantes.

As repercussões sociais já se afiguram graves no mundo, ampliando a pobreza e a desigualdade, com a demissão em massa de trabalhadores, com a redução do investimento em programas sociais e da solidariedade internacional, com o recrudescimento de medidas duras contra os imigrantes, em especial na Europa, com a queda na renda das famílias e a dificuldade de manter o anterior padrão de vida.

A crise que começou e continua intensa no setor financeiro dos países mais desenvolvidos, espalha-se pelo restante da economia: com a suspensão de novos investimentos em grande parte do setor privado; com a redução do comércio internacional segurando a produção em todo o mundo; com o anúncio de novas medidas protecionistas em países ricos afetando as economias dos outros países; com a queda dos preços de produtos de grande importância na vida econômica dos países da América Latina, Ásia, Oriente Médio e África, as chamadas commodities (alimentos, minérios, petróleo); com a retirada de capitais destes países e seu retorno aos países centrais; com as mudanças cambiais que enfraquecem as moedas destes países e encarecem os produtos que adquirem.

A grave crise econômica atual, além de agravar a crise social e alimentar já antes dramática em várias partes do mundo, vem se somar à intensa crise ambiental para a qual o capitalismo não consegue dar resposta. Estamos diante de uma crise do sistema capitalista como um todo, na forma neoliberal que assumiu nos últimos trinta anos. Tanto que ela teve seu início nos países centrais, em especial nos Estados Unidos, que foram o motor principal da política neoliberal que se expandiu pelo mundo todo.

A economia neoliberal se caracterizou por um novo processo de concentração de renda nas camadas mais ricas e pelo estímulo ao consumo das camadas mais pobres e das classes médias através do sistema financeiro, que lhes emprestava recursos impagáveis; por deixar a regulação da economia nas mãos dos agentes privados do mercado, em especial os grandes bancos, as grandes corporações e os grandes especuladores; pelo enfraquecimento do papel do Estado, retirando-se da regulação da economia e dos investimentos produtivos e sociais; pela onda de privatizações que pôs em mãos privadas setores estratégicos da economia; pela imposição da liberdade de comércio internacional, ao mesmo tempo em que se mantinham medidas protecionistas no território dos países mais ricos.

A ausência de um conhecimento preciso da magnitude dos ativos podres ainda em poder dos bancos e das perdas patrimoniais das empresas não permite ainda vislumbrar a extensão que podem adquirir esses processos regressivos, lançando sobre o futuro uma densa sombra de incertezas.

Governos de todos os continentes rasgam as cartilhas neoliberais e recorrem à intervenção estatal para reduzir a catástrofe provocada pela desregulamentação dos mercados financeiros e pela especulação. O desequilíbrio nas contas externas de vários países e o aumento do desemprego propiciam esse tipo de iniciativa, que coloca em risco o comércio internacional e cuja multiplicação conduzirá, como ocorreu no passado, a um agravamento da crise. Renascem na Europa brotos de um nacionalismo primário – manifesto na discriminação de trabalhadores estrangeiros – e começam a se generalizar fenômenos de insatisfação e instabilidade social. Ao mesmo tempo, teve início uma onda neoprotecionista, provocada pela "nacionalização" crescente dos mercados financeiros, pelo desequilíbrio nas contas externas de vários países, pelo aumento do desemprego e pela tentativa de proteger as grandes empresas nacionais da concorrência estrangeira. O exemplo mais recente é a emenda “buy american”, acrescida ao pacote de Obama na Câmara dos Deputados dos EUA.

Em síntese, estamos diante da maior crise econômica mundial desde a Grande Depressão originada em 1929, cujos efeitos se prolongaram por mais de uma década e desembocaram em uma das mais trágicas páginas da história da humanidade. Nesse contexto, a intervenção do Estado desmoraliza o discurso conservador hegemônico nos últimos 25 anos – o que equivale, na disputa político-ideológica, a queda do “muro de Berlim” neoliberal.

O governo brasileiro tem uma presença forte na cena mundial, onde defende reformas radicais e urgentes dos organismos econômicos e financeiros multilaterais. Há menos de dez anos, vivíamos sob a hegemonia das idéias e das práticas neoliberais, com o governo dos Estados Unidos se colocando como metrópole absoluta de um mundo unipolar. Então, lutávamos contra o senso comum para afirmar que "outro mundo é possível".

Hoje assistimos ao declínio simultâneo da hegemonia dos EUA e do neoliberalismo. Ao mesmo tempo, a América Latina e Caribenha vive um momento especial de sua história: nunca tantos países foram governados por forças de esquerda e progressistas, onde estamos criando as condições para um desenvolvimento e uma integração de novo tipo, capazes de enfrentar e superar a crise em benefício das maiorias.

É importante ressaltar, entretanto, que os desdobramentos da crise econômica, com seus efeitos sociais e políticos, terão decisiva incidência nas eleições de 2010 e em outros processos sucessórios que se avizinham na América do Sul.

Este momento difícil para os povos do mundo exige de nós, militantes da esquerda, revigorar a nossa presença política e a nossa mobilização. É o momento de ofensiva contra a ideologia dos senhores do capitalismo mundial, que passa pelo melhor entendimento do que ocorreu e ocorre no mundo, pela proposta de alternativas ao capitalismo neoliberal e pela ação. De maneira similar ao que se passou nos anos 1930, assistimos a uma disputa entre diferentes projetos: forças conservadoras, progressistas e socialistas competem para definir o desenho do mundo pós-crise.
Neste sentido, é fundamental que os partidos de esquerda e os movimentos sociais vinculados aos trabalhadores realizem um amplo e qualificado debate sobre a crise e, principalmente, sobre as alternativas.

As medidas adotadas pelo Governo Lula para enfrentar a crise estão no rumo certo: mais investimento público, mais mercado interno, mais Estado e mais integração continental. É o caso da redução da vulnerabilidade externa da economia, da criação de bases sólidas para a elevação do ritmo de crescimento econômico, da consolidação da estabilidade macroeconômica e dos significativos avanços na distribuição da renda e na ampliação do mercado interno, mediante o aumento do emprego, a elevação do salário real e os programas de transferência de renda. Embora tudo isso não impeça, principalmente em uma economia mundial globalizada e desregulamentada como a atual, que sejamos afetados pela crise, sem dúvida aumenta nossa capacidade de absorção de seus efeitos e cria condições favoráveis para uma subseqüente retomada do crescimento.

A retração da demanda externa, a diminuição dos preços de produtos relevantes na nossa pauta de exportações, a redução das linhas de financiamento externo e as mudanças nas expectativas dos empresários e consumidores produziram, no último trimestre de 2008, efeitos negativos sobre nossa economia. Caiu ou desacelerou-se a produção em alguns setores – especialmente na indústria automobilística, que vinha crescendo a taxas extraordinariamente elevadas –, diminuiu em dezembro, além do habitual, a geração de empregos formais, contraiu-se e encareceu o crédito interno e desaceleraram-se as vendas ao varejo. Tendências que já vinham se manifestando anteriormente – o forte crescimento das remessas de lucros para o fora do país e o mais rápido aumento das importações em relação às exportações – acentuaram-se e elevaram significativamente o déficit em nossas transações correntes com o exterior. Em janeiro de 2009, a crise já se refletiu na balança comercial, com um déficit que pode ser momentâneo, mas que merece a atenção do nosso governo.

O governo Lula reagiu com firmeza aos impactos da crise. As medidas para restaurar a normalidade no mercado de crédito surtiram efeito, apesar da atitude inaceitável dos grandes bancos que retraíram a concessão de crédito e aumentaram muito as taxas de juros, apesar da forte redução dos compulsórios. A atuação dos bancos públicos foi ampliada, contribuindo para garantir a liquidez e, de maneira similar ao que vem fazendo os países desenvolvidos, para reforçar, com a presença do Estado, a solidez do setor financeiro.

A estratégia do governo Lula de enfrentar a crise com uma visão anticíclica, buscando ao mesmo tempo amortecer seus impactos e pavimentar o caminho para a retomada, em outro patamar, do processo de crescimento, manifesta-se na decisão de aumentar em R$ 100 bilhões os recursos do BNDES para financiar investimentos, na manutenção e ampliação do programa de investimentos da Petrobrás; na criação do Fundo Soberano; e no fortalecimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Manifesta-se também nas medidas adotadas para preservar a demanda interna e proteger os setores de menor capacidade econômica: na redução do IPI do setor automotivo, do IOF das operações de crédito e do Imposto de Renda da Pessoa Física; na proposta de construção de 500 mil casas populares, bem como no aumento do salário mínimo em mais de 6% acima da inflação e na preservação dos benefícios do Bolsa-Família. Destoa, nesse contexto, a postura do BC, que demorou demasiadamente para reduzir a taxa Selic e não atua de forma decidida para induzir a redução do spread bancário.

Os neoliberais que nos antecederam no governo do Brasil, que ainda governam Estados brasileiros e cidades muito importantes, que tem forte presença no Congresso Nacional, que tem o apoio da grande mídia, precisam responder solidariamente pelo que acontece no mundo. A sua derrota nacional em 2002 e em 2006, foi decisiva para que o Brasil estivesse em outro patamar ao eclodir a crise mundial. Agora, eles se recolhem silenciosos, a despeito de sua irresponsabilidade e submissão anteriores, e ficam inertes nos governos que exercem ou criam obstáculos às políticas nacionais antiliberais. É nosso momento de entrar firme na luta política e ideológica, no debate nacional e local, reafirmando a correção das medidas antineoliberais dos dois governos do presidente Lula, que criaram as condições para o Brasil e o seu povo estarem mais bem posicionados nesta conjuntura. É o momento de defender as medidas tomadas pelo governo federal e de explicitar, aplicar e defender as medidas anticrise dos nossos governos estaduais e municipais. É o momento de revigorar a nossa luta sindical e social em defesa dos mais pobres, dos trabalhadores e das classes médias. É o momento de encarar os políticos do PSDB e do DEM, seus ideólogos e propagandistas, mostrar que eles não têm condições de dirigir o país, e cobrar deles políticas anticrise nos Estados e cidades onde ainda detêm o poder.  

A disputa política no país deve ser concentrada na gestão da crise. A liderança política do presidente Lula, cada dia mais consolidada, será questionada pela maneira como o governo enfrentar os desafios de uma conjuntura econômica mundial, muito mais difícil e complexa do que a vivida pelo país desde o pós-guerra.

O PT apóia a postura decidida do Presidente e saúda a forma como o ministro Mantega tem se posicionado, dentro e fora do país. Mas reafirmamos que a redução rápida e forte da taxa Selic é fundamental para reduzir o custo da dívida no Orçamento da União e estimular investimentos. Não há razão técnica justificável para manter juros reais de mais de 7%, quando os principais bancos centrais do mundo praticam taxas próximas de zero ou negativas.

A política anticrise do Governo Federal para manter alta a taxa de investimento deve se guiar por critérios sócio-ambientais: a) geração de emprego; b) atendimento preferencial aos segmentos de renda mais baixa da população; c) menor impacto ambiental.

As políticas de crédito, subsídios e incentivos fiscais devem favorecer de forma diferenciada os processos produtivos amigáveis ao meio ambiente e os produtos que incorporem serviços ambientais.

Porém, o enfrentamento da crise não pode estar circunscrito à responsabilidade do governo federal. É necessário um movimento nacional envolvendo os três poderes nas suas diversas esferas.

O governo Lula neste segundo mandato e, em especial, com o advento do PAC, constituiu um novo patamar nas relações entre os entes federativos, principalmente no que tange à transferência de recursos e financiamentos de projetos e obras estruturais.

A emergência de impulsionar os investimentos públicos no sentido de dinamizar a economia nacional tem nesta nova relação um instrumento imprescindível para o sucesso das medidas anticíclicas. Contudo, o arcabouço jurídico e a estrutura burocrática do Estado brasileiro, herdadas do período de absoluta hegemonia neoliberal, onde a ordem era impedir investimentos e escassear as políticas públicas, são entraves que, muitas vezes, atrasam ou inviabilizam a execução da nossa estratégia de desenvolvimento.

É urgente que o país se adeque às suas novas necessidades e ao projeto de desenvolvimento que buscamos implementar.

O Diretório Nacional orienta as suas bancadas no Congresso Nacional a ter uma forte atuação no sentido da aprovação da Convenção 158 da OIT, em tramitação.

O PT se posiciona contra as propostas de flexibilização de direitos trabalhistas que estão sendo defendidas por parte do empresariado brasileiro, com apoio de setores da mídia. O PT repudia a postura de setores empresariais que lucraram muito nos últimos anos e, diante das primeiras dificuldades, recorrem às demissões como forma imediata de ajuste. Em especial, as empresas que especulavam com derivativos e se atolaram em dívidas a partir da irresponsabilidade de seus gestores. Que o BNDES faça constar nos contratos de empréstimos às empresas cláusulas que impeçam a demissão de trabalhadores.

O PT, nos estados e em cada cidade, deve estar presente na luta dos trabalhadores contra as demissões e reafirmar sua histórica solidariedade com o movimento sindical.

A eleição das mesas da Câmara e do Senado mostrou um PT coerente e compromissado com o governo Lula. Na Câmara, honramos o acordo legítimo de 2007, que resultou na eleição de Arlindo Chinaglia, e apoiamos a candidatura de Michel Temer, proposta pelo PMDB. No Senado, apoiamos a candidatura de Tião Viana como símbolo de renovação das práticas políticas naquela casa.

A disputa das mesas no parlamento abriu as especulações e articulações rumo à campanha de 2010. É nítida a tentativa da oposição de atrair setores de nossa base parlamentar. Essa estratégia passa em grande parte pelas alianças regionais e por projetos estaduais, o que reforça a necessidade de ampliar nos estados e municípios o diálogo do PT com os partidos da base e iniciar o debate sobre as alianças potenciais para a eleição de 2010.

A disputa que se travará em 2010 será entre dois projetos. De um lado, as forças progressistas e de esquerda, que querem dar continuidade à ação do governo Lula, reduzindo desigualdades sociais e regionais, ampliando o investimento público, fortalecendo o papel indutor e planejador do Estado, gerando empregos e distribuindo renda, fortalecendo a saúde, a previdência e o ensino público, exercendo uma política externa que fortalece a soberania e a integração continental. De outro lado, as forças neoliberais, conservadoras e de direita, que de 1990 até 2002 privatizaram, desempregaram e arrocharam o povo brasileiro, implementando em nosso país as mesmas políticas que estão na raiz da crise mundial.

A vitória do projeto progressista e de esquerda começa a ser construída, desde já, na reação do governo, dos movimentos sociais, dos partidos de esquerda, especialmente o PT, frente à crise. É preciso impedir que a crise jogue o país na recessão; mais do que isto, é preciso transformar a crise numa oportunidade para acelerar a transição, já iniciada pelo governo Lula, em direção a outro modelo econômico-social.
É preciso que os governos municipais e estaduais progressistas e de esquerda também implementem políticas anticrise. Onde somos oposição, é preciso enfrentar as medidas conservadoras adotadas por governos como os de Yeda Crusius, José Serra e Aécio Neves. Neste sentido, o PT deve estar na linha de frente de toda a mobilização social contra as tentativas de governos e empresários que busquem fazer os trabalhadores pagar a conta da crise. É necessário defender o emprego, exigir a redução dos juros e do spread bancários e agilizar a execução orçamentária.

A vitória do projeto progressista e de esquerda dependerá, em grande medida, da articulação do campo democrático-popular e da construção de um programa para o próximo mandato presidencial, que articule o que fizemos desde 2003 com nosso projeto democrático-popular de horizonte socialista.

Nosso programa deve desmascarar a proposta dos partidos conservadores e de direita fazem, que combina neoliberalismo com desenvolvimentismo conservador. O Brasil já experimentou fortes surtos de desenvolvimento, mas sempre marcados pelo conservadorismo político, pela desigualdade social e pela dependência externa. Não queremos isto de volta. Queremos um desenvolvimentismo popular, que exigirá aprofundar o que foi feito nos últimos anos, com destaque para as reformas tributária, política, urbana, agrária, o apoio à pequena e média empresa e a democratização da comunicação social, entre outras medidas.

Cabe à militância petista e às direções partidárias em todo o país fazer esse debate, reforçando o caráter pedagógico da experiência prática vivida por milhões de brasileiros que aprovam o governo Lula e que desejam que o Brasil continue a se desenvolver.

Contribuindo para trazer insumos à nossa luta política e ideológica, a Direção Nacional do PT e a Fundação Perseu Abramo, em conjunto com os partidos do campo progressista e a CUT, com os grandes movimentos sociais e com a intelectualidade de esquerda, realizarão seminários sobre a crise nas várias regiões do país, com o apoio das direções estaduais e dos diretórios municipais, independentemente de iniciativas deste tipo que as direções do partido em todo o país devem tomar ao curso deste ano de 2009.

Lamentamos que nesse empenho já não possamos contar com a garra e sensibilidade do companheiro Adão Preto, militante combativo da luta agrária, cuja vida honrou a bandeira do PT. Apesar da lacuna que sua perda significa, sua prática política e seu compromisso com nosso povo são legados de inestimável valor para nossa militância.

Diretório Nacional do PT
Brasília, 10 de fevereiro de 2009

PT - Resolução Política

O centro da conjuntura de 2009 é a crise econômica que, originada no núcleo do sistema capitalista mundial – os Estados Unidos –, se propagou a todo o planeta. Embora os impactos da crise não sejam da mesma natureza e magnitude em todos os países, a retração da atividade econômica e o aumento do desemprego, que se seguiram à desorganização do sistema de crédito e financiamento, são hoje fenômenos comuns a praticamente todos os países.

Nos Estados Unidos, os indicadores relativos a esses aspectos já atingem valores significativos, com tendência a agravarem-se no curto prazo. O recém empossado governo Obama apresentou um plano de recuperação da atividade econômica que, embora envolva considerável volume de recursos, não permite antecipar se será suficiente para reverter a trajetória regressiva da economia norte-americana.

A China, que depende fortemente das importações americanas, luta para manter um crescimento acima de 7%, o que representa forte desaceleração com relação ao padrão registrado nas últimas décadas. As perspectivas de desemprego são, lá, igualmente preocupantes.

Na Europa e no Japão, a recessão avança a passos largos, setores relevantes da indústria anunciam grandes prejuízos e demissões de dezenas de milhares de trabalhadores e as previsões de aumento do desemprego são alarmantes.

As repercussões sociais já se afiguram graves no mundo, ampliando a pobreza e a desigualdade, com a demissão em massa de trabalhadores, com a redução do investimento em programas sociais e da solidariedade internacional, com o recrudescimento de medidas duras contra os imigrantes, em especial na Europa, com a queda na renda das famílias e a dificuldade de manter o anterior padrão de vida.

A crise que começou e continua intensa no setor financeiro dos países mais desenvolvidos, espalha-se pelo restante da economia: com a suspensão de novos investimentos em grande parte do setor privado; com a redução do comércio internacional segurando a produção em todo o mundo; com o anúncio de novas medidas protecionistas em países ricos afetando as economias dos outros países; com a queda dos preços de produtos de grande importância na vida econômica dos países da América Latina, Ásia, Oriente Médio e África, as chamadas commodities (alimentos, minérios, petróleo); com a retirada de capitais destes países e seu retorno aos países centrais; com as mudanças cambiais que enfraquecem as moedas destes países e encarecem os produtos que adquirem.

A grave crise econômica atual, além de agravar a crise social e alimentar já antes dramática em várias partes do mundo, vem se somar à intensa crise ambiental para a qual o capitalismo não consegue dar resposta. Estamos diante de uma crise do sistema capitalista como um todo, na forma neoliberal que assumiu nos últimos trinta anos. Tanto que ela teve seu início nos países centrais, em especial nos Estados Unidos, que foram o motor principal da política neoliberal que se expandiu pelo mundo todo.

A economia neoliberal se caracterizou por um novo processo de concentração de renda nas camadas mais ricas e pelo estímulo ao consumo das camadas mais pobres e das classes médias através do sistema financeiro, que lhes emprestava recursos impagáveis; por deixar a regulação da economia nas mãos dos agentes privados do mercado, em especial os grandes bancos, as grandes corporações e os grandes especuladores; pelo enfraquecimento do papel do Estado, retirando-se da regulação da economia e dos investimentos produtivos e sociais; pela onda de privatizações que pôs em mãos privadas setores estratégicos da economia; pela imposição da liberdade de comércio internacional, ao mesmo tempo em que se mantinham medidas protecionistas no território dos países mais ricos.

A ausência de um conhecimento preciso da magnitude dos ativos podres ainda em poder dos bancos e das perdas patrimoniais das empresas não permite ainda vislumbrar a extensão que podem adquirir esses processos regressivos, lançando sobre o futuro uma densa sombra de incertezas.

Governos de todos os continentes rasgam as cartilhas neoliberais e recorrem à intervenção estatal para reduzir a catástrofe provocada pela desregulamentação dos mercados financeiros e pela especulação. O desequilíbrio nas contas externas de vários países e o aumento do desemprego propiciam esse tipo de iniciativa, que coloca em risco o comércio internacional e cuja multiplicação conduzirá, como ocorreu no passado, a um agravamento da crise. Renascem na Europa brotos de um nacionalismo primário – manifesto na discriminação de trabalhadores estrangeiros – e começam a se generalizar fenômenos de insatisfação e instabilidade social. Ao mesmo tempo, teve início uma onda neoprotecionista, provocada pela "nacionalização" crescente dos mercados financeiros, pelo desequilíbrio nas contas externas de vários países, pelo aumento do desemprego e pela tentativa de proteger as grandes empresas nacionais da concorrência estrangeira. O exemplo mais recente é a emenda “buy american”, acrescida ao pacote de Obama na Câmara dos Deputados dos EUA.

Em síntese, estamos diante da maior crise econômica mundial desde a Grande Depressão originada em 1929, cujos efeitos se prolongaram por mais de uma década e desembocaram em uma das mais trágicas páginas da história da humanidade. Nesse contexto, a intervenção do Estado desmoraliza o discurso conservador hegemônico nos últimos 25 anos – o que equivale, na disputa político-ideológica, a queda do “muro de Berlim” neoliberal.

O governo brasileiro tem uma presença forte na cena mundial, onde defende reformas radicais e urgentes dos organismos econômicos e financeiros multilaterais. Há menos de dez anos, vivíamos sob a hegemonia das idéias e das práticas neoliberais, com o governo dos Estados Unidos se colocando como metrópole absoluta de um mundo unipolar. Então, lutávamos contra o senso comum para afirmar que "outro mundo é possível".

Hoje assistimos ao declínio simultâneo da hegemonia dos EUA e do neoliberalismo. Ao mesmo tempo, a América Latina e Caribenha vive um momento especial de sua história: nunca tantos países foram governados por forças de esquerda e progressistas, onde estamos criando as condições para um desenvolvimento e uma integração de novo tipo, capazes de enfrentar e superar a crise em benefício das maiorias.

É importante ressaltar, entretanto, que os desdobramentos da crise econômica, com seus efeitos sociais e políticos, terão decisiva incidência nas eleições de 2010 e em outros processos sucessórios que se avizinham na América do Sul.

Este momento difícil para os povos do mundo exige de nós, militantes da esquerda, revigorar a nossa presença política e a nossa mobilização. É o momento de ofensiva contra a ideologia dos senhores do capitalismo mundial, que passa pelo melhor entendimento do que ocorreu e ocorre no mundo, pela proposta de alternativas ao capitalismo neoliberal e pela ação. De maneira similar ao que se passou nos anos 1930, assistimos a uma disputa entre diferentes projetos: forças conservadoras, progressistas e socialistas competem para definir o desenho do mundo pós-crise.
Neste sentido, é fundamental que os partidos de esquerda e os movimentos sociais vinculados aos trabalhadores realizem um amplo e qualificado debate sobre a crise e, principalmente, sobre as alternativas.

As medidas adotadas pelo Governo Lula para enfrentar a crise estão no rumo certo: mais investimento público, mais mercado interno, mais Estado e mais integração continental. É o caso da redução da vulnerabilidade externa da economia, da criação de bases sólidas para a elevação do ritmo de crescimento econômico, da consolidação da estabilidade macroeconômica e dos significativos avanços na distribuição da renda e na ampliação do mercado interno, mediante o aumento do emprego, a elevação do salário real e os programas de transferência de renda. Embora tudo isso não impeça, principalmente em uma economia mundial globalizada e desregulamentada como a atual, que sejamos afetados pela crise, sem dúvida aumenta nossa capacidade de absorção de seus efeitos e cria condições favoráveis para uma subseqüente retomada do crescimento.

A retração da demanda externa, a diminuição dos preços de produtos relevantes na nossa pauta de exportações, a redução das linhas de financiamento externo e as mudanças nas expectativas dos empresários e consumidores produziram, no último trimestre de 2008, efeitos negativos sobre nossa economia. Caiu ou desacelerou-se a produção em alguns setores – especialmente na indústria automobilística, que vinha crescendo a taxas extraordinariamente elevadas –, diminuiu em dezembro, além do habitual, a geração de empregos formais, contraiu-se e encareceu o crédito interno e desaceleraram-se as vendas ao varejo. Tendências que já vinham se manifestando anteriormente – o forte crescimento das remessas de lucros para o fora do país e o mais rápido aumento das importações em relação às exportações – acentuaram-se e elevaram significativamente o déficit em nossas transações correntes com o exterior. Em janeiro de 2009, a crise já se refletiu na balança comercial, com um déficit que pode ser momentâneo, mas que merece a atenção do nosso governo.

O governo Lula reagiu com firmeza aos impactos da crise. As medidas para restaurar a normalidade no mercado de crédito surtiram efeito, apesar da atitude inaceitável dos grandes bancos que retraíram a concessão de crédito e aumentaram muito as taxas de juros, apesar da forte redução dos compulsórios. A atuação dos bancos públicos foi ampliada, contribuindo para garantir a liquidez e, de maneira similar ao que vem fazendo os países desenvolvidos, para reforçar, com a presença do Estado, a solidez do setor financeiro.

A estratégia do governo Lula de enfrentar a crise com uma visão anticíclica, buscando ao mesmo tempo amortecer seus impactos e pavimentar o caminho para a retomada, em outro patamar, do processo de crescimento, manifesta-se na decisão de aumentar em R$ 100 bilhões os recursos do BNDES para financiar investimentos, na manutenção e ampliação do programa de investimentos da Petrobrás; na criação do Fundo Soberano; e no fortalecimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Manifesta-se também nas medidas adotadas para preservar a demanda interna e proteger os setores de menor capacidade econômica: na redução do IPI do setor automotivo, do IOF das operações de crédito e do Imposto de Renda da Pessoa Física; na proposta de construção de 500 mil casas populares, bem como no aumento do salário mínimo em mais de 6% acima da inflação e na preservação dos benefícios do Bolsa-Família. Destoa, nesse contexto, a postura do BC, que demorou demasiadamente para reduzir a taxa Selic e não atua de forma decidida para induzir a redução do spread bancário.

Os neoliberais que nos antecederam no governo do Brasil, que ainda governam Estados brasileiros e cidades muito importantes, que tem forte presença no Congresso Nacional, que tem o apoio da grande mídia, precisam responder solidariamente pelo que acontece no mundo. A sua derrota nacional em 2002 e em 2006, foi decisiva para que o Brasil estivesse em outro patamar ao eclodir a crise mundial. Agora, eles se recolhem silenciosos, a despeito de sua irresponsabilidade e submissão anteriores, e ficam inertes nos governos que exercem ou criam obstáculos às políticas nacionais antiliberais. É nosso momento de entrar firme na luta política e ideológica, no debate nacional e local, reafirmando a correção das medidas antineoliberais dos dois governos do presidente Lula, que criaram as condições para o Brasil e o seu povo estarem mais bem posicionados nesta conjuntura. É o momento de defender as medidas tomadas pelo governo federal e de explicitar, aplicar e defender as medidas anticrise dos nossos governos estaduais e municipais. É o momento de revigorar a nossa luta sindical e social em defesa dos mais pobres, dos trabalhadores e das classes médias. É o momento de encarar os políticos do PSDB e do DEM, seus ideólogos e propagandistas, mostrar que eles não têm condições de dirigir o país, e cobrar deles políticas anticrise nos Estados e cidades onde ainda detêm o poder.  

A disputa política no país deve ser concentrada na gestão da crise. A liderança política do presidente Lula, cada dia mais consolidada, será questionada pela maneira como o governo enfrentar os desafios de uma conjuntura econômica mundial, muito mais difícil e complexa do que a vivida pelo país desde o pós-guerra.

O PT apóia a postura decidida do Presidente e saúda a forma como o ministro Mantega tem se posicionado, dentro e fora do país. Mas reafirmamos que a redução rápida e forte da taxa Selic é fundamental para reduzir o custo da dívida no Orçamento da União e estimular investimentos. Não há razão técnica justificável para manter juros reais de mais de 7%, quando os principais bancos centrais do mundo praticam taxas próximas de zero ou negativas.

A política anticrise do Governo Federal para manter alta a taxa de investimento deve se guiar por critérios sócio-ambientais: a) geração de emprego; b) atendimento preferencial aos segmentos de renda mais baixa da população; c) menor impacto ambiental.

As políticas de crédito, subsídios e incentivos fiscais devem favorecer de forma diferenciada os processos produtivos amigáveis ao meio ambiente e os produtos que incorporem serviços ambientais.

Porém, o enfrentamento da crise não pode estar circunscrito à responsabilidade do governo federal. É necessário um movimento nacional envolvendo os três poderes nas suas diversas esferas.

O governo Lula neste segundo mandato e, em especial, com o advento do PAC, constituiu um novo patamar nas relações entre os entes federativos, principalmente no que tange à transferência de recursos e financiamentos de projetos e obras estruturais.

A emergência de impulsionar os investimentos públicos no sentido de dinamizar a economia nacional tem nesta nova relação um instrumento imprescindível para o sucesso das medidas anticíclicas. Contudo, o arcabouço jurídico e a estrutura burocrática do Estado brasileiro, herdadas do período de absoluta hegemonia neoliberal, onde a ordem era impedir investimentos e escassear as políticas públicas, são entraves que, muitas vezes, atrasam ou inviabilizam a execução da nossa estratégia de desenvolvimento.

É urgente que o país se adeque às suas novas necessidades e ao projeto de desenvolvimento que buscamos implementar.

O Diretório Nacional orienta as suas bancadas no Congresso Nacional a ter uma forte atuação no sentido da aprovação da Convenção 158 da OIT, em tramitação.

O PT se posiciona contra as propostas de flexibilização de direitos trabalhistas que estão sendo defendidas por parte do empresariado brasileiro, com apoio de setores da mídia. O PT repudia a postura de setores empresariais que lucraram muito nos últimos anos e, diante das primeiras dificuldades, recorrem às demissões como forma imediata de ajuste. Em especial, as empresas que especulavam com derivativos e se atolaram em dívidas a partir da irresponsabilidade de seus gestores. Que o BNDES faça constar nos contratos de empréstimos às empresas cláusulas que impeçam a demissão de trabalhadores.

O PT, nos estados e em cada cidade, deve estar presente na luta dos trabalhadores contra as demissões e reafirmar sua histórica solidariedade com o movimento sindical.

A eleição das mesas da Câmara e do Senado mostrou um PT coerente e compromissado com o governo Lula. Na Câmara, honramos o acordo legítimo de 2007, que resultou na eleição de Arlindo Chinaglia, e apoiamos a candidatura de Michel Temer, proposta pelo PMDB. No Senado, apoiamos a candidatura de Tião Viana como símbolo de renovação das práticas políticas naquela casa.

A disputa das mesas no parlamento abriu as especulações e articulações rumo à campanha de 2010. É nítida a tentativa da oposição de atrair setores de nossa base parlamentar. Essa estratégia passa em grande parte pelas alianças regionais e por projetos estaduais, o que reforça a necessidade de ampliar nos estados e municípios o diálogo do PT com os partidos da base e iniciar o debate sobre as alianças potenciais para a eleição de 2010.

A disputa que se travará em 2010 será entre dois projetos. De um lado, as forças progressistas e de esquerda, que querem dar continuidade à ação do governo Lula, reduzindo desigualdades sociais e regionais, ampliando o investimento público, fortalecendo o papel indutor e planejador do Estado, gerando empregos e distribuindo renda, fortalecendo a saúde, a previdência e o ensino público, exercendo uma política externa que fortalece a soberania e a integração continental. De outro lado, as forças neoliberais, conservadoras e de direita, que de 1990 até 2002 privatizaram, desempregaram e arrocharam o povo brasileiro, implementando em nosso país as mesmas políticas que estão na raiz da crise mundial.

A vitória do projeto progressista e de esquerda começa a ser construída, desde já, na reação do governo, dos movimentos sociais, dos partidos de esquerda, especialmente o PT, frente à crise. É preciso impedir que a crise jogue o país na recessão; mais do que isto, é preciso transformar a crise numa oportunidade para acelerar a transição, já iniciada pelo governo Lula, em direção a outro modelo econômico-social.
É preciso que os governos municipais e estaduais progressistas e de esquerda também implementem políticas anticrise. Onde somos oposição, é preciso enfrentar as medidas conservadoras adotadas por governos como os de Yeda Crusius, José Serra e Aécio Neves. Neste sentido, o PT deve estar na linha de frente de toda a mobilização social contra as tentativas de governos e empresários que busquem fazer os trabalhadores pagar a conta da crise. É necessário defender o emprego, exigir a redução dos juros e do spread bancários e agilizar a execução orçamentária.

A vitória do projeto progressista e de esquerda dependerá, em grande medida, da articulação do campo democrático-popular e da construção de um programa para o próximo mandato presidencial, que articule o que fizemos desde 2003 com nosso projeto democrático-popular de horizonte socialista.

Nosso programa deve desmascarar a proposta dos partidos conservadores e de direita fazem, que combina neoliberalismo com desenvolvimentismo conservador. O Brasil já experimentou fortes surtos de desenvolvimento, mas sempre marcados pelo conservadorismo político, pela desigualdade social e pela dependência externa. Não queremos isto de volta. Queremos um desenvolvimentismo popular, que exigirá aprofundar o que foi feito nos últimos anos, com destaque para as reformas tributária, política, urbana, agrária, o apoio à pequena e média empresa e a democratização da comunicação social, entre outras medidas.

Cabe à militância petista e às direções partidárias em todo o país fazer esse debate, reforçando o caráter pedagógico da experiência prática vivida por milhões de brasileiros que aprovam o governo Lula e que desejam que o Brasil continue a se desenvolver.

Contribuindo para trazer insumos à nossa luta política e ideológica, a Direção Nacional do PT e a Fundação Perseu Abramo, em conjunto com os partidos do campo progressista e a CUT, com os grandes movimentos sociais e com a intelectualidade de esquerda, realizarão seminários sobre a crise nas várias regiões do país, com o apoio das direções estaduais e dos diretórios municipais, independentemente de iniciativas deste tipo que as direções do partido em todo o país devem tomar ao curso deste ano de 2009.

Lamentamos que nesse empenho já não possamos contar com a garra e sensibilidade do companheiro Adão Preto, militante combativo da luta agrária, cuja vida honrou a bandeira do PT. Apesar da lacuna que sua perda significa, sua prática política e seu compromisso com nosso povo são legados de inestimável valor para nossa militância.

Diretório Nacional do PT
Brasília, 10 de fevereiro de 2009