por Evando Peixoto
Esse Arthur Virgílio tem credibilidade tanto quando Demóstenes, o grande vestal da República. Não teve voto para se reeleger, mas mantém-se empedernido na tagarelice, com o discurso tucano para lá de desgastado.
Mas vamos ver aqui algumas coisinhas sobre o que ele diz. Afirma que “se Lula agisse de boa fé, não mentiria dizendo que nunca houve mensalão. Afinal, ele mesmo, à época do escândalo, foi à televisão pedir desculpas à nação”.
A primeira observação é quanto ao linguajar. Virgílio já se deu muito mal ao se dirigir a Lula de forma agressiva, com ameaça de surra. Perdeu a eleição seguinte à bravata. Agora, acusa o ex-presidente de mentir.
Lula não está mentindo quando diz que nunca houve mensalão. Apenas contesta a caracterização de dinheiro de caixa dois distribuído entre partidos e candidatos durante e após o processo eleitoral como sendo um esquema estruturado para funcionar durante o seu mandato, com o intuito de comprar votos no parlamento.
É exatamente isso que o STF está para julgar e dizer o que de fato houve. Mas Virgílio já julgou. E não dá ao ex-presidente sequer o direito de discordar do seu julgamento. Diz que Lula mente. Apega-se ao fato de que “falou-se em refundar o PT”. Falou-se, é verdade. Tarso Genro, à época ministro, levantou essa hipótese. Opinião minoritária, mas existiu, não se pretende negar os fatos. O partido entrou, sim, em crise. Fosse caixa dois ou mensalão, era grave.
Para Lula, foi caixa dois. Ele frisou isso à época. “Coisa que todos os partidos sempre fizeram e fazem”. Não disse, porém, que não se tratava de crime e que, por isso, não deveria haver punição dos culpados.
O ex-presidente não só sustentou lá atrás que o ocorrido foi caixa dois como disse e continua dizendo que o tal mensalão é uma farsa, um expediente midiático utilizado com o intuito de desgastar o seu governo para derrubá-lo do cargo. Coisa que a caracterização de caixa dois, embora fosse também crime, não teria potencial para alavancar o intento dos golpistas. Era preciso cunhar e massificar o bordão golpista.
E, ainda hoje, como se nota, Virgílio e demais artífices da vendeta contra o operário de origem nordestina que ousou conquistar o cargo de Presidente da República seguem dependentes de um mensalão que, como diz Mino Carta, “ainda está por provar-se”.
Virgílio diz também que “Lula acenava para as oposições com a proposta de não disputar a reeleição, em troca de não ser proposto seu impedimento”. Trata-se de uma informação a um só tempo falsa e distorcida. Falsa porque Lula não fez aceno à oposição para manter o seu mandato. Distorcida porque o que Lula fez foi mandar um recado aos demo-tucanos dizendo o seguinte: se tentarem golpe, chamo o povo para a rua.
A demonstração de que havia total disposição para mobilizações em defesa do mandato de Lula veio por carta dos movimentos sociais – com assinatura de CUT, MST, CPT, UNE e centenas de outras entidades – intitulada “Carta do Povo Brasileiro – Golpe Não!”, numa alusão à Carta ao Povo Brasileiro que Lula havia divulgado durante a sua campanha eleitoral.
Na mesma semana em que as entidades se reuniram e divulgaram a carta, a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, foi tomada por manifestantes gritando “Golpe NÃO”. Os demo-tucanos simplesmente amarelaram. Botaram o rabinho entre as pernas e passaram a adotar a tática de “deixar” Lula sangrar até ser derrotado nas urnas. Ou seja, viram que não teriam chances de disputar o poder ocupando as ruas e se contentaram em ocupar a mídia (onde sempre tiveram lugar cativo) com a farsa do mensalão. Deram com os burros n’água. Foram derrotados também pelo voto popular nas duas eleições seguintes. Então, Virgílio, muda o disco. Essa sua cantilena já deu o que não tinha mesmo que dar. Perdeu, meu caro. Você e o Demóstenes.