VioMundo - O acúmulo de informações sobre a Operação Lava Jato deixa claro: o Petrolão começou no governo Fhc
Operação Zelotes retoma foco
Retomando seu foco original, a investigação do esquema bilionário de sonegação montado entre grandes empresas e membros do CARF, a Operação Zelotes apresentou denúncia contra o grupo de comunicação RBS, parceiro regional das Organizações Globo, ao Supremo Tribunal Federal. A denúncia subiu para o STF por conta do envolvimento do ministro do TCU Augusto Nardes, relator da rejeição das contas da presidente Dilma, e do hoje deputado Afonso Mota (PDT-RS), ex-executivo do grupo, que têm foro privilegiado. O inquérito sobre a RBS é o de número 4150 e a relatora já foi indicada. Será a ministra Carmem Lúcia. Outras sete empresas serão denunciadas à Justiça comum.Postagens realizadas ontem numa rede social pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) diziam que a Zelotes retomaria o foco original na sonegação, atingindo setores da mídia e do meio cervejeiro. O Brasil 247 confirmou com procuradores ligados à operação que, além da RBS, outras sete grandes empresas serão mesmo denunciadas e entre elas figura a cervejaria Itaipava, assim como bancos e montadoras.Com isso, a Zelotes retoma o objetivo original de investigar o esquema em que membros do CARF – Conselho Administrativo de Recursos Fiscais da Receita Federal, recebiam propinas de dar inveja a Paulo Roberto Costa, da máfia da Petrobrás, para acolher recursos tributários que resultaram em perdas de quase R$ 20 bilhões para a União entre 2005 e 2013.Nas últimas semanas o foco da Zelotes havia se voltado para a investigação de suposta “compra” de medida provisória que concedeu incentivos fiscais para montadoras instaladas nas regiões Norte-Nordeste-Centro-Oeste, editadas em 2009 (governo Lula) e 2011 (governo Dilma). A investigação resultou em ação de busca e apreensão na empresa do filho do ex-presidente Lula, Luis Cláudio, que em 2015 recebeu pagamentos de uma empresa ligada à máfia do CARF, a Marcondes & Mautoni, segundo sua defesa pela prestação de serviços de marketing esportivo. A Polícia Federal chegou a levar intimação ao filho de Lula às 23 horas do último dia 27, depois de ele ter saído da celebração dos 70 anos do pai no Instituto Lula, com a presença da presidente Dilma. As ações atípicas da Polícia Federal irritaram o ex-presidente, que se queixou da falta de comando do ministro da Justiça sobre a PF. Ontem José Eduardo Cardoso afirmou em entrevista que Lula “tem todo o direito de não gostar dele”.As investigações teriam comprovado (veja no final cópia de trecho do inquérito) que a RBS, grupo de comunicação hegemônico no Sul do Brasil, pagou R$ 11,7 milhões à SGR Consultoria para livrar-se de multa de R$ 113 milhões. O hoje deputado Afonso Mota era o vice-presidente jurídico e institucional da RBS na época. O ministro Augusto Nardes é suspeito de ter recebido R$ 2,6 milhões da mesma SGR Consultoria por meio da empresa Planalto Soluções e Negócios, da qual foi sócio até 2005 e que continua registrada em nome de um sobrinho dele.
A semente dos escândalos
A Globo rifou Eduardo Cunha
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/brasil/contas-de-cunha-na-suica-pagaram-ate-academia-17741438#ixzz3o7JiKkeX
O Globo - Prêmio Faz a Diferença 2015
- Juiz Sérgio Fernando Moro - pelas prisões e condenações absolutamente imparciais
- Governador Geraldo Alkmin (Psdn-SP) pela gestão dos recursos hídricos e segurança do Estado
- Presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (Pmdb-RJ) - vulgo trombadinha da Telerj -, pela honestidade
- Senador Aécio Neves (Psdb-MG) pela gestão da aviação mineira tanto na questão de turismo quanto os aeroportos particulares
- Senadora Marta Suplicy (Pmdb-SP) que filiou-se ao partido para combater o fisiologismo e o financiamento eleitoral por empresas
- O empresário Jorge Gerdau por combate a sonegação
Mídia não põe ladrões graúdos sob holofotes
Da Rede Brasil Atual
Réus graúdos levam Zelotes para longe dos holofotes
Ministério Público teme que Operação Zelotes, que investiga fraudes de grandes empresas contra o Fisco, fique parada por atender a interesses de setores da imprensa e do Judiciário
por Hylda Cavalcanti
A investigação de crimes praticados por grandes empresários, detentores de fatia considerável do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, caminha relegada ao desinteresse por falta de associação a um escândalo que reverta em dividendos ou prejuízos políticos. O tratamento dado por parte do Judiciário e da imprensa à Operação Zelotes é uma amostra disso, se comparado à Lava Jato. Essa tem sido a constatação de parlamentares, representantes do Ministério Público, analistas econômicos e profissionais do meio jurídico, que se debruçam sobre a elucidação de um escândalo que pode chegar R$ 19 bilhões desviados do Tesouro Nacional.
A Operação Zelotes foi deflagrada em 28 de março por diversos órgãos de investigação em conjunto com a Polícia Federal. Resultou na descoberta de uma fraude com a Receita Federal, no período de 2005 a 2013 – grandes empresas subornavam integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ligado à Fazenda, para serem absolvidas do pagamento de impostos ou reduzir de forma significativa o valor a ser pago. Entre as empresas investigadas estão grandes corporações, como RBS (maior afiliada da Rede Globo), Gerdau, Votorantim, Ford, Mitsubishi, BRF (antiga Brasil Foods), Camargo Corrêa, e os bancos Santander, Bradesco, Safra, BankBoston, Pactual, Brascan e Opportunity.
Enquanto em várias operações de caráter semelhante essa fase já teria resultado em prisões preventivas e medidas mais adiantadas, autoridades, Ministério Público e parlamentares alertam para o risco de a investigação não chegar a um resultado efetivo. Segundo o procurador da República Frederico Paiva, “o caso até agora não entusiasmou nem o Poder Judiciário nem a mídia, ao contrário do que acontece com a Operação Lava Jato”. Ele criticou o que chamou de “passividade” por parte dos órgãos envolvidos na investigação e afirmou, durante audiência pública no Congresso Nacional, que os escândalos de corrupção no Brasil só despertam interesse quando há políticos no meio. “Quando atingem o poder econômico, não há a mesma sensibilidade. É preciso que a corrupção seja combatida por todos. Os valores são estratosféricos”, afirmou.
Representações
Ladrão por ladrão na Zelotes e Suiçalão tem de montão
E então ficamos sabendo que o HSBC fechou um acordo com a Suíça para encerrar o escândalo Swissleaks.
O acordo é o clássico: o HSBC pagou para não ser mais importunado com processos, investigações e coisas desagradáveis do gênero.
O que nós não ficamos sabendo, no Brasil, é o lado brasileiro do caso.
Num dos maiores fracassos do jornalismo nacional, a parceria UOL e Globo para cobrir o assunto deu em nada.
Foi uma soma bizarra. Um mais um, UOL mais Globo, deu zero.
O experiente Fernando Rodrigues, do UOL, fez um papel ridículo, é certo. A lista dos sonegadores brasileiros foi passada a ele por uma obscura associação internacional de jornalistas investigativos da qual ele faz parte.
Poderia ser seu momento de glória, mas acabou sendo seu instante de opróbrio.
Fernando Rodrigues praticou também sonegação. Um outro tipo de sonegação: o de informações.
É verdade que as chamadas ordens de cima devem ter limitado brutalmente sua autonomia para cuidar da história.
Os Frias, donos da Folha e do UOL, estavam na lista.
Se os Frias não cobriram nem a sonegação documentada da Globo, imagine o que eles não fariam com sonegação caseira.
O maior erro de Rodrigues provavelmente foi não manobrar para passar adiante, para mãos menos comprometidas, a tarefa de ser o responsável pela divulgação do escândalo no Brasil?
Vaidade? Ignorância a respeito da sonegação contumaz das corporações jornalísticas brasileiras?
Cada um fique com sua explicação. Acho que a hipótese dois, o desconhecimento, é a mais provável.
A morte do caso deve muito também ao comportamento omisso da Receita Federal e das autoridades econômicas do governo.
Sonegação é um assunto que exige, dos governos, berros. Em inglês, há uma expressão comumente usada: "name and shame".
Você dá os nomes e constrange os sonegadores.
No Reino Unido, o governo nomeou, há pouco tempo, empresas como Apple, Amazon e Starbucks como donas de práticas indecentes para evadir impostos.
Basicamente, elas fazem o seguinte: ganham dinheiro no Reino Unido mas pagam impostos em paraísos fiscais.
Os britânicos ficaram sabendo quanto faturam as empresas e quanto pagam de impostos. Isso gerou indignação na opinião pública. Houve manifestações em lojas da Starbucks em Londres, por exemplo.
No Brasil, o governo não se manifesta sobre nada, e a Receita menos ainda.
Quando se sabe quanto é vital equilibrar as contas, e os sacrifícios advindos do ajuste fiscal, é um silêncio indefensável.
A omissão faz entender uma colocação recente do antigo funcionário do HSBC que vazou a lista, Hervé Falciano.
Numa entrevista ao Estadão, Falciano disse que os especialistas em evasão – em geral advogados – se deslocaram nos últimos anos da Europa, onde o cerco agora é grande, para países como o Brasil.
Aqui, as coisas são bem mais fáceis para os grandes sonegadores.
Falciano usou a expressão "bancos opacos" para designar os que oferecem aos clientes manobras para evasão fiscal.
"O Brasil é o maior alvo dos bancos que praticam a opacidade financeira no mundo inteiro", disse ele.
Somos, segundo Falciani, "o país em que há mais facilidade para todas as atividades de finanças opacas".
Bilhões se perdem assim, e sistematicamente.
Mas ninguém bate panelas contra isso. Quanto à mídia, num universo menos imperfeito ela deveria ajudar a combater a sonegação.
Só que ela também sonega, como ficou claro mesmo nas miseráveis informações prestadas sobre o Swissleaks pela Dupla Zero, UOL e Globo.
(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.O desespero da direita, por Alexandre Tambelli
A estratégia da Presidenta Dilma se confirma. Ela criou um processo de aprimoramento da Justiça dando grande autonomia para investigações e acabou a Justiça chegando bem perto dos mais diversos políticos, grupos de mídia e empresários que comentem ilicitudes do País.
De modo que acontece uma luta fratricida entre todos os apaniguados da oposição: moralistas, maniqueístas e que se sustentam no Poder Midiático e na parte do judiciário partidarizada por suas sobrevivências.
Por exemplo, a briga pelo Poder fez o Juiz Moro, em defesa dos tucanos, partir para cima do PMDB, fez o PSDB ficar, praticamente, livre de acusações na Lava-Jato.
O Juiz Moro na sanha de pegar o PT para Cristo está bagunçando com tudo e tornando a Lava-Jato uma "inconstitucionalidade só".
O Janot aceitou o arquivamento do inquérito contra Aécio Neves, mas, manteve o de Eduardo Cunha e de Renan Calheiros. O PMDB não aceita assim de maneira tão amigável, certo?
PSDB pensando que saiu por cima, mas a população sabe que nunca o Mensalão do PSDB teve julgamento definitivo, sabe da Lista de Furnas e do Trensalão.
Os políticos deste partido não estão bem na fita, como pensam, não!
Não vale pesquisa Datafolha depois de manifestação insuflada e apoiada por toda a mídia tucana.
Tudo está escancarado.
A mídia e o HSBC e a Zelotes e o Processo de sonegação da Rede Globo. E ainda temos o José Agripino e a briga do Demóstenes com o Ronaldo Caiado. Todos muito próximos uns dos outros e muito próximos de pegar pela frente um Tribunal isento e de se verem frente a frente com uma condenação.
Uma hora dessas não escapa.
Chegou muito perto das elites a Justiça que os governos do PT aprimoraram e investiram recursos e ampliaram a sua capacidade de investigação de forma autônoma. Tudo o que fazem os da Direita hoje é por desespero.
A Presidenta Dilma faz o certo, fica em silêncio e Governa, se distância desse suicídio político de PMDB, PSDB, Velha Mídia, Juiz Moro, DEM, Roberto Freire, etc.
Em melhorando a Economia, a tendência é que aconteça uma virada já a partir do terceiro trimestre deste ano, ela recupera sua popularidade e credibilidade aos poucos.
Os outros agentes com Poder e que a velha mídia sustenta estão em situação real bem mais complicada. Falta D´água em São Paulo + dengue. Estado quebrado no Paraná. Aécio Neves sendo escanteado pelo próprio partido via noticiário.
Apoiando a violência, até gente que pede a volta da ditadura militar e a intolerância explícita contra todo tipo de manifestação e contra todas as diferenças de padrão de comportamento, opção sexual, crença religiosa, etc. Uma hora dessas este caldeirão vai ferver a tal temperatura, que explodirá no meio deles.
O Governo Federal deve manter certa equidistância do momento atual. Legislativo conservador, Judiciário aparelhado do PSDB e Velha mídia que se biquem com o PMDB. Fez bem Dilma deixar que o Michel Temer cuide do seu próprio galinheiro.
Irresponsabilidade tanta uma hora acontece como diz o ditado: "o Santo desconfia".
Assim anda o conservadorismo no Brasil, em estágio de suicídio.
Até 2018 tem chão.
Deixa esse bando de malucos se matarem por hora. No Congresso Nacional não vamos ver por muito tempo essa luta fratricida, porque o instinto de sobrevivência de muitos políticos vai falar mais alto.
Cabe ao Governo Federal, isto é importante, diminuir por completo, toda a publicidade governamental na velha mídia para quebrar de vez as pernas dela. A cada dia eles falam para uma parcela menor de brasileiros. Em perdendo força a velha mídia esses malucos de PSDB, de boa parte do PMDB, do DEM, do Judiciário enfraquecem juntos.
É preciso paciência.
A bola não deve ser dividida para não ficar a imagem de se misturar a esta "patifaria" toda.
A Presidenta Dilma é mais esperta do que querem crer muitos analistas políticos, penso eu.
Sobriedade neste momento é tudo!
A Direita surtou, quer destruir tudo num passe de mágica e está metendo os pés pelas mãos. Vai ter de se ver com a população uma hora dessas.
O PT se resolve.
Já está se resolvendo e tomando posições mais claras sobre o que interessa. Sabe que o cálculo eleitoral dos trackins se findou e está propondo, por exemplo, o fim do financiamento privado das campanhas eleitorais, taxação das grandes fortunas, uma reforma política séria, etc.
E a Direita? A tendência é perder o bonde da história.
2018 se Lula for candidato teremos 20 anos de PT no Poder.
E é isto que incomoda.
PEC da Bengala é um caminho para impedi-lo de voltar. Se for necessário o fim da reeleição, e o que mais der, até já falaram em caçar o registro do PT, não foi?
Porém, será que devemos subestimar o povo brasileiro tanto assim?
Uma hora dessas fica tão explícita a coisa que a casa cai.
O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”
por Ester Rabello, especial para o Viomundo
É difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido o bordão que dá título a esse artigo, gritado em manifestações de rua, comícios e outros tipos de aglomeração, como no discurso de vitória de Dilma Roussef, quando a presidente eleita teve que se calar enquanto ouvia o desabafo.
Em meio a outras palavras de ordem, sempre sai o clássico "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo". Nos dias de hoje, muitas vezes a frase vem junto com outra: "A verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura".
Neste ano em que a Globo completa meio século, as manifestações contra a emissora, fundada um ano após o golpe militar de 1964, estão acontecendo com maior intensidade. No 3 de março houve protestos em algumas capitais, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Vitória. Em nenhum deles havia mais que 500 pessoas, mas o barulho acabou sendo grande nas redes sociais.
— Sempre quis enterrar a Globo, desde criancinha, afirmou uma manifestante fantasiada de viúva, ao lado de uma caixão de papelão com o logo da emissora.
Na concentração diante da sede do império global, no Jardim Botânico, organizada pelo Sindipetro, o Sindicato dos Petroleiros, ficaram claros os motivos do protesto: a cobertura desequilibrada da Operação Lava Jato, a sonegação de impostos da Globo e a conivência com a ditadura militar…
A maioria dos manifestantes era de pessoas com mais de 50 anos de idade. Reclamavam da falta de cobertura da emissora à campanha das Diretas, nos anos 80, algo que os jovens de hoje não vivenciaram.
Este "choque de gerações" pode até levar quem tenha nascido nos anos 90 a acreditar que o bordão "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo" seja coisa recente.
Se perguntarmos a um jovem na faixa entre 20 e 30 anos de onde vem a frase contra a emissora, talvez ele responda como Daniella Teixeira, 22 anos, que participou das manifestações de junho de 2013 na cidade de Guiratinga, em Mato Grosso:
— Olha, não posso afirmar com certeza, mas ela [a frase] estava sempre presente nas caminhadas, talvez como resposta ao enfoque que a Globo dava, como se fossem todos baderneiros. O povo não é bobo, mas a massa é manipulável, muita gente vai só no oba oba e o povo percebeu que havia muita manipulação da informação, mostrando só um lado da notícia. Os jovens percebiam a manipulação da imprensa, que taxava todo mundo de vândalo. Aqui, por exemplo, o movimento foi pacífico.
Na cidade da artesã, que faz decalques de unha para vender pela internet, as manifestações foram contra desde o gasto de 1 milhão de reais para tapar um buraco na rodovia, até o corte de uma árvore antiga. Sobre a frase relativa à Globo, Daniella acha que ela nasceu em 2013.

Mas se você perguntar ao deputado federal Vicentinho (PT-SP), um dos líderes das greves do ABC, ele diz que lembra muito bem da primeira vez que ouviu o grito contra a emissora dos irmãos Marinho. Foi em São Bernardo do Campo, numa das assembleias de metalúrgicos grevistas, no final dos anos 70, no estádio da Vila Euclides.
— Sempre gritavam. Nós tínhamos boas relações com os jornalistas. O foco era a Globo. A gente lotava o estádio e a Globo minimizava, sempre diminuindo a quantidade de pessoas. Tinha gente da direita infiltrada na greve, gente que fazia quebra-quebra. A gente pegava, denunciava e a Globo não dava [noticiava].
Vicentinho lembra de ajudar a proteger repórteres da emissora para que não apanhassem dos grevistas.
— A gente ficava em volta deles e o Lula gritando, "gente, eles são trabalhadores, uma coisa é a empresa, outra são os jornalistas".
Ricardo Kotscho, ex-secretário de imprensa do governo Lula, era repórter da revista IstoÉ na época. Viu várias vezes metalúrgicos chutando os carros de reportagem da Globo, desde a época em que as assembleias ainda eram feitas nas ruas de São Bernardo.
Cobrindo as assembleias naquela época, Kotscho recorda:
— Eles [equipes da emissora] iam cobrir, mas depois a Globo mostrava só um registro.
Os gritos de "fora Rede Globo, o povo não é bobo" continuaram ao longo dos anos 80. Por exemplo, na campanha das "Diretas Já" e no movimento pelo impeachment do presidente Fernando Collor.
— Menos na [manifestação] de março, agora. Nessa, a Globo não só apoiou, como apoiou de forma ostensiva, aponta Kotscho.
O jornalista Osvaldo Maneschy, um dos assessores de Leonel Brizola, está no PDT desde os anos 80.
Afirma que ouviu pela primeira vez uma multidão gritando "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo" na Cinelândia, em 1986, em um comício de campanha do então vice-governador do Rio, Darcy Ribeiro, que disputava o Palácio Guanabara contra o candidato preferido da Globo, Moreira Franco.
Ele acredita que a fúria contra a Globo começou, entre os militantes do PDT, por causa da artilharia pesada da imprensa na época, com matérias negativas contra o governo de Leonel Brizola, o que gerou mais tarde um direito de resposta do gaúcho no Jornal Nacional.
— A Globo é a pauteira. Depois [o assunto] sai no [jornal] Globo do dia seguinte, no fim de semana na Veja e assim vai…
Foi o caso, segundo Maneschy, das notícias que acusavam Brizola de ter feito acordo com traficantes de drogas.
Para Fernando Brito, assessor de Brizola, a Globo fez uma péssima cobertura já da chegada dos exilados políticos. Mas, segundo ele, foi o "caso Proconsult" que levou ao primeiro enfrentamento do povão com a emissora. Durante a primeira eleição direta para governador do Rio, em 1982, a Globo foi acusada por Brizola de tentar manipular o resultado das apurações, o que a emissora sempre negou
— Até então, quem sabia que a Globo era a favor da ditadura eram os analistas políticos, não era algo de domínio da rua.
Brito lembra também do movimento "Diretas Já", que durou quase um ano e reuniu, no seu ápice, 1 milhão de pessoas no comício da Candelária, no Rio de Janeiro, e 1,5 milhão no Anhangabaú, em São Paulo.
— A Globo só cobriu três comícios, sentencia.

Fernando Borges, jornalista recém formado na UERJ, cobriu as manifestações de 2013 para a plataforma internacional de notícias "Blasting News".
Segundo ele, várias equipes de grandes emissoras de televisão (Band, SBT e Record) foram hostilizadas com o uso do bordão criado contra a Globo.
— A imprensa ficou estigmatizada, afirma Borges, que também viu gente gritando "a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura", frases que ele considera "bem ultrapassadas".
Ultrapassadas ou não, os gritos de "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo" também foram ouvidos nas passeatas de protesto contra a morte do garoto Eduardo, de 10 anos, no Morro do Alemão, há menos de um mês.
E um novo grito parece estar surgindo nos estádios de futebol.
Revoltados com o pequeno número de jogos transmitidos pela Globo — que, segundo eles, privilegia o Corinthians –, torcedores do Santos levaram faixas de protesto à Vila Belmiro na semifinal do Campeonato Paulista, dia 18 último. Depois que o Santos fez 2 a 0 no São Paulo, passaram a gritar em coro o "chupa, Rede Globo, o nosso Santos vai ser campeão de novo".
Com o Santos classificado para a final, torcedores do clube fazem campanha nas redes sociais para que a equipe entre em campo com o símbolo da TV Record no peito. Detalhe: os dois jogos serão transmitidos pela Globo. Seria a repetição do que aconteceu em 2001, na final contra o São Caetano, no Rio, quando Eurico Miranda, presidente do Vasco, colocou o logotipo do SBT nas camisas do clube para protestar contra a Globo.
Independentemente de o Santos atender ou não a seus torcedores, as finais contra o Palmeiras tem tudo para serem tão interessantes nas arquibancadas quanto no gramado.
Mea culpa
- Sou culpado de ter contribuído para tirar 36 milhões de brasileiros da pobreza extrema. Um desastre! Agora, esse pessoal que ganha essas “bolsas-preguiça” fica por aí exigindo mais direitos. Além de comida, querem educação de qualidade, querem casa, saúde, TVs de tela plana e computadores, cinema, balé e viagens. Querem tudo o que gente tem. Querem até que seus filhos façam faculdade! Essas pessoas não sabem mais qual é o seu lugar, como no passado da nossa pacífica e arcádica desigualdade.
- Sou culpado de ter incorporado 42 milhões de cidadãos à nova classe trabalhadora ou à nova classe média. Uma verdadeira hecatombe econômica e social. Hoje em dia, você entra num aeroporto qualquer e ele está atulhado. Atulhado de gente que nunca tinha voado antes. Gente que não devia estar ali. Gente que nem gente era. Está difícil achar espaços diferenciados. Shoppings, ruas antes exclusivas, bairros inteiros, e até universidades sucumbiram à barbárie do consumo popularizado. Mesmo fora do país a situação está difícil. Como bem observou uma grande pensadora, você vai ao exterior e pode encontrar o porteiro do seu prédio. A vida perdeu a graça. Foi-se a belle époque das gentes distintas, dos doces privilégios, do refinamento e da exclusividade. Sobrou a “rebelião das massas”.
- Também sou culpado de ter contribuído para gerar 20 milhões de empregos com carteira assinada. Resultado? Com essa taxa de desemprego baixa e o aumento de 72% do salário mínimo, mesmo em meio à maior crise mundial desde 1929, hoje é difícil achar pessoas que estejam dispostas trabalhar por alguns trocados, sem carteira assinada, como antigamente. Nossos trabalhadores, antes tão fiéis, tão resignados e disciplinados, tão baratinhos, fofinhos até, tornaram-se uma corja de achacadores que exige salários suficientes e empregos decentes. O custo Brasil foi a alturas suíças, alpinas. Eles têm o desplante de ser até contra a terceirização, essa modernidade que diminuiria nossos insuportáveis custos trabalhistas. Mesmo as empregadas domésticas, essa reconfortante recordação da escravidão, agora têm direitos insustentáveis. Mas nem tudo está perdido. Com o agravamento da crise mundial e o ajuste talvez as taxas de desemprego subam e os salários caiam. Só não vale recompor depois. Nada de retrocessos.
- E o que dizer da abertura das universidades para afrodescendentes, índios e pobres? Hoje você vai numa universidade e ela está cheia de egressos da escola pública, gente claramente pobre e de pele escura. Com o Prouni, o Reuni, a duplicação da rede federal e as absurdas cotas, as universidades estão se abrindo à população. População que não deve estar ali. Universidade, apesar do nome, é para poucos, não é para ser universalizada. Ainda mais com gente que não tem tradição de estudo. Sou culpado dessa degradação do ensino superior.
- Meus votos irrefletidos e irresponsáveis também contribuíram para implantar aqui esse descalabro chamado Mais Médicos. A OPAS, essa conhecida agência internacional de intermediação de trabalho escravo, com atuação em mais de 80 países, teve a audácia de, em conluio com a ONU e o governo do Brasil, trazer aqui escravos cubanos para dar assistência médica a 50 milhões de cidadãos. Ora, escravos só os brasileiros, em nossas bucólicas fazendas. Esses 50 milhões antes sobreviviam tranquilamente. Era gente forte, submetida à saudável seleção natural. Agora, contribuem para cevar uma ditadura comunista, que o Obama, em gesto insensato, resolveu reconhecer. No Brasil, contudo, a Guerra Fria tem de permanecer, gloriosa, em seu doentio anacronismo.
- E a corrupção? Antes, praticamente não havia corrupção no Brasil. Lembre-me bem que o “engavetador-geral” e a ausência de instituições independentes e fortes de controle se encarregavam disso. Não havia investigação. Portanto, não havia muitos casos de corrupção. Meu celerado voto num governo que criou as condições para que a corrupção fosse investigada a sério é que fez surgir toda essa corrupção no Brasil. Jamais me perdoarei. Mas perdoo aqueles que dizem que sonegação não é corrupção. Eles já foram redimidos por sua probidade suíça.
Dossiê * Eduardo Cunha
- por PC Farias