Vou me embora para Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei, lá tenho a mulher que eu quero, na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada, Aqui eu năo sou feliz, Lá a existência é uma aventura de tal modo inconsequente que Joana a Louca de Espanha, Rainha e falsa demente vem a ser contraparente da nora que nunca tive
E como farei ginástica, andarei de bicicleta, montarei em burro brabo, subirei no pau-de-sebo, tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado, deito na beira do rio, mando chamar a măe-d’água, pra me contar as histórias que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar
Vou me embora para Pasárgada. Em Pasárgada tem tudo. É outra civilizaçăo, tem um processo seguro de impedir a concepçăo, tem telefone automático, tem alcalóide à vontade, tem prostitutas bonitas para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste, mas triste de năo ter jeito, quando de noite me der vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero, na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Manuel Bandeira - do livro “Bandeira a Vida Inteira”. Rio de Janeiro: Editora Alumbramento, 1986.
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