Todos ali sabiam que, num clima como esses, só uma pessoa tem coragem, legitimidade, respeito e jeito para alertar o presidente contra o excesso de poder dos filhos e para o excesso de problemas que eles estão jogando no colo do pai. Esta pessoa é Heleno. Os militares recorrem a ele, a quem cabe dizer verdades difíceis a Bolsonaro.
Na crise de Bebianno, porém, quem matou a charada foi o Estado, ao recompor a cronologia da quarta feira, que deveria ser de comemoração da alta de Bolsonaro e virou uma guerra entre o filho do presidente e um dos únicos civis com algum poder no Planalto.
E qual foi a charada? Os mundos político, militar e econômico passaram o dia crucificando Carlos Bolsonaro por ter tido a audácia e o voluntarismo de atacar um ministro. Mas a história é diferente. Primeiro, o presidente desmentiu Bebianno ao gravar a entrevista para a TV Record ainda no Hospital Albert Einstein. Só depois, enquanto o presidente voava para Brasília, Carlos divulgou o desmentido do pai pelo twitter, inclusive com o áudio em que ele se recusa a falar com Bebianno. Por fim, Bolsonaro retuitou o ataque de Carlos.
Ou seja: todo mundo incomodado, aflito e preocupado com o ato de Carlos, mas o problema era outro: não foi o filho quem gerou o problema, nem foi o pai quem tomou partido dele a posteriori. Foi o presidente quem atacou o ministro, Carlos só amplificou a posição do pai. Logo, Carlos não age da própria cabeça, ele é a voz do presidente.
Conclusões:
1) desta vez, o problema não foi Carlos, foi Jair;
2) Bebianno está frito, mas ele também tem muito óleo na frigideira;
3) Se é assim com Bebianno, o que será com os demais?
4) Heleno pode fazer queixa de Carlos para Jair, mas pode dar uma bronca no presidente?
O Exército está irritado com o filho, mas quem gerou a crise foi o pai presidente
Publicado originalmente no jornal Estado de São Paulo - Estadão
Vida que segue
Corrigindo: o problema não é o Carlos, é Jair!