Paulo Coelho - Uma estória sobre o encontro com Deus

O discípulo impaciente


- Todas estas orações que o senhor nos ensina, fazem com que Deus se aproxime de nós?

- Vou respondê-lo com outra pergunta - disse o abade. - Todas estas orações que você reza irão fazer o sol nascer amanhã?
- Após uma exaustiva sessão matinal de orações no monastério de Piedra, o noviço perguntou ao abade:

- Claro que não! O sol nasce porque obedece a uma lei universal!

- Então, esta é a resposta à sua pergunta. Deus está perto de nós, independente das preces que fazemos.

O noviço revoltou-se:

- O senhor quer dizer que nossas orações são inúteis?

- Absolutamente. Se você não acorda cedo, nunca conseguirá ver o sol nascendo. Se você não reza, embora Deus esteja sempre perto, você nunca conseguirá notar Sua presença.

Totalmente adaptado de Brian Cavanugh, T.O.R. "The Sower´s Seeds", que se refere a zen.

Poesia da hora

Serei tudo que disserem
Por temor ou negação
Demagogo
Mau
Mal
Profeta falso
Médico
Ladrão
Prostituta
Proxeneta
Espoleta de televisão.

Serei tudo que disserem
Poeta castrado?...
Não!

José Carlos Ary dos Santos







Boa noite

Anatomia democratica

O Legislativo é o cérebro da democracia.
O Executivo o coração.
O Judiciário o intestino.

Rolezinho, inclusão ou transgressão?


Está anunciado para chegar amanhã ao Rio e a outras capitais um movimento social que vem dividindo opiniões e dando muita dor de cabeça às autoridades paulistas. São os rolezinhos, encontros que centenas de jovens da periferia combinam pela internet para acontecer em shopping centers, onde vão não para comprar, mas para se divertir cantando funk, correndo pelos corredores, namorando, zoando e, como alegam, protestando contra a falta de opção de lazer na região onde moram.
Nos cinco que foram registrados desde dezembro, quando começou a onda, houve oito boletins de ocorrência e medo entre lojistas e frequentadores. Alguns centros comerciais conseguiram na Justiça liminares proibindo as invasões e permitindo barrar a entrada de possíveis manifestantes.
Fenômeno comportamental, protesto político ou caso de polícia? O debate está aberto, com posições divergentes. Houve quem criticasse severamente a decisão judicial, como a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, para quem os jovens são “vítimas de discriminação racial explícita”. Ela acha que os problemas decorrem da reação assustada de “clientes brancos”. Simples assim. 
Em ano de eleições, o governador Geraldo Alckmin também identificou-se com a agitação, lembrando que no seu tempo fez rolezinhos na praça, em cena difícil de imaginar. Avisou que só acionará a PM se houver roubos ou depredações. Essa também é a posição da Secretaria de Segurança do Rio, que só intervirá contra atos de vandalismo no Shopping Leblon, no Ilha Plaza e no Plaza de Niterói, para onde estão previstas as manifestações de amanhã.

"O judiciário é o poder que mais tem faltado à República”

” A dura sentença atribuída a Rui Barbosa é ainda muito verdadeira entre nós, brasileiros, embora a atual coalizão que hegemoniza o Congresso Nacional deva merecer, com certeza, este lamentável título. Mas é inegável que nos falta um aparelho de Justiça mais ágil, menos comprometido com o poder econômico e mais severo com os malfeitos dos ricos e poderosos. E, fenômeno relativamente novo, menos escravo da mídia plutocrata ou da demagogia corporativista.
É claro que não se pode atribuir apenas às mazelas do Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública a imensa sensação de injustiça e impunidade que mora no coração da maioria dos brasileiros. Há outras causas menos óbvias mas que precisam ser tratadas com a mesma urgência de nossas maiores urgências.
A mais grave delas, o anacronismo de nossa legislação processual, prenhe de incidentes e obstáculos ao caminho mais objetivo da Lei. Um magistrado da Suprema Corte americana não julga mais do que três dezenas de procedimentos por ano. Um membro do Supremo Tribunal Brasileiro não julga menos do que 3 milhares de procedimentos no mesmo período. Parte importante tendo o governo como patrocinador de recursos temerários propiciados pela manipulação de caminhos processuais tão legais quanto imorais e injustos.
Não é só o fato de que a América cede aos seus estados grande autonomia legal e judicante a explicação para essa abissal diferença. É a chicana favorecida por leis anacrônicas feitas para proteger os poderosos desde nosso imemorial legado escravista e patrimonialista.
Aqui, de novo, problema do Poder Legislativo. Nisso, a solução pode ser visualizada, pelo menos em tese, porque a cada quatro anos se renovam ou se podem renovar, pela mão do povo, as constituições desse Poder. Tal não é fato nas estruturas do Judiciário, e mais grave, não é fato no Ministério Público, órgão essencial à administração da Justiça.
Indústria de liminares, tráfico de influência, liberação de facínoras perigosos por pretextos ridículos, ainda que formais, exibicionismo midiático, são problemas que vêm se repetindo em nosso país, em praticamente todos os rincões. E em quase todos os níveis. A maior punição legal para um juiz corrupto é a aposentadoria compulsória com todos os seus proventos mantidos. Mesmo o grande avanço que significou a instituição do Conselho Nacional de Justiça ainda está longe de arranhar o problema. Basta que se anote que o Judiciário com mais notícias tortas do Brasil, que é o de São Paulo, simplesmente não dá a menor bola para o CNJ e fica por isso mesmo...
No Ministério Público o problema é ainda mais grave. Amoldado, com meu total apoio, como um dos maiores avanços institucionais da Carta de 1988, é constituído por concurso público meritocrático, mas não tem a menor hierarquia, nenhum regulamento funcional e disciplinar e seu conselho superior é ainda mais ineficaz e corporativista. Claro que a esmagadora maioria é de qualificação moral e intelectual respeitáveis. Mas uma minoria irresponsável tem aterrorizado a sociedade e prejudicado o interesse público impunemente. Claro que a solução jamais seria a ridícula PEC 37 que retirava poderes de investigação dos promotores e procuradores. Mas a litigância de má-fé e a denunciação caluniosa por parte de exibicionistas que abusam de suas prerrogativas, precisam ser regulamentadas, para por um fim às aberrações que temos assistido quase sempre contra o País.

A Defensoria Pública, também essencial à administração da Justiça, num país de imensas maiorias pobres, tem por principal defeito sua exiguidade. Num esforço de aperfeiçoamento de nossa Justiça é preciso expandi-la.

Esta semana recomeça o julgamento do assim chamado “mensalão”. O País inteiro estará olhando para a sua Justiça. E uma democracia sadia só funciona se a sociedade tiver segurança de que seus julgadores são justos, sóbrios, equânimes, mas severos.
É na boa interpretação da Lei que um bom magistrado se faz respeitar. Não é, definitivamente, com discursos loquazes para a tevê. As sentenças serão respeitadas, inclusive por eventuais apenados, se forem severas, mas livres de pressões políticas espúrias.
Eu acredito no Supremo Tribuna Federal brasileiro. Daí esta reflexão sobre a sede de justiça que sentimos.
Ciro Gomes - secretário de saúde do estado do Ceará

Marcos Coimbra - Janeiro sempre apontou o favorito no ano das presidenciais. Na perspectiva atual, Dilma Rousseff já ganhou


Desde o fim da ditadura, em todas as eleições que fizemos, as pesquisas disponíveis em janeiro conseguiram antecipar o que as urnas mostraram.
Em três, os favoritos no início do ano eleitoral terminaram vencendo. Em janeiro de 1998, Fernando Henrique Cardoso liderava e nenhum adversário apresentava  fôlego para derrotá-lo. Lula chegou a quase empatar nas pesquisas de junho, mas a vantagem do tucano prevaleceu.
Nas duas oportunidades em que Lula teve sucesso, a mesma coisa: em janeiro de 2002, obtinha índices parecidos à votação que recebeu no primeiro turno. José Serra, Anthony Garotinho e Ciro Gomes, cada um de sua vez, cresceram, mas nenhum se firmou. Quatro anos mais tarde, algo semelhante. De janeiro de 2006 para a frente, o petista nunca perdeu a dianteira.
Em 1989, 1994 e 2010 o líder de janeiro não venceu. Mas, adequadamente interpretadas, as pesquisas identificaram o que acabou acontecendo. A eleição mais difícil de prever foi a primeira. Ninguém apostava na vitória de Fernando Collor.
Era, no entanto, uma hipótese admissível. O desejo de renovação do eleitorado, sua disposição para o risco, a rejeição ao governo José Sarney, tudo se conjugava para torná-la possível. Feitas em maio de 1988 e janeiro de 1989, pesquisas da Vox Populi indicavam que quase 40% do eleitorado queria votar em “um candidato novo, desvinculado dos partidos tradicionais”. Collor surgiu como oferta para aquela procura.
Em 1994, o fraco desempenho de Fernando Henrique nas pesquisas de janeiro só enganava quem desconhecia a formidável armação em curso. Nada menos que um plano anti-inflacionário havia sido sincronizado com o calendário eleitoral, de forma a turbinar a candidatura do ministro da Fazenda que por ele era responsável.
(E ainda há quem, na oposição hoje, se diga “indignado” quando, por exemplo, o governo Dilma Rousseff anuncia, para 2014, metas mais ambiciosas para programas como o Minha Casa Minha Vida, achando que é “intervenção” do governo na eleição. Quem viu o tamanho da “intervenção” que foi o Plano Real só pode achar cômica a acusação.)
Quanto a 2010, a vantagem que Serra apresentava em janeiro tinha a consistência de uma quimera, na qual talvez apenas seus amigos na “grande imprensa” acreditavam. Qualquer um medianamente versado na análise de pesquisas percebia que Dilma seria eleita.
Assim, em todas nossas eleições modernas, seja quando apontaram o nome do vencedor, seja quando deixaram claros os sentimentos com que o eleitorado estava indo para as urnas, as pesquisas feitas a distância em que estamos da eleição foram capazes de mostrar o que terminou por ocorrer.
Há alguma razão para imaginar que, em 2014, será diferente? Considerando o cenário provável (em que enfrentaria Aécio Neves, pelo PSDB, e Eduardo Campos, pelo PSB) Dilma tem, nas pesquisas recentes, mais vantagem que Fernando Henrique em 1998 e Lula em 2002 e 2006, em momento semelhante. Seus 42% superam os 35% do tucano e os 30 e poucos pontos porcentuais de Lula em janeiro daqueles anos (dados do Datafolha e do Ibope).
Ou seja: se repetirmos, este ano, o padrão daquelas eleições (das quais duas de reeleição), ela deve ser considerada favorita absoluta.
Poderíamos, ao contrário, ter algo análogo às eleições de 1989, 1994 e 2010?
Nada indica que exista hoje um sentimento parecido àquele da primeira. O eleitor brasileiro típico não aceita aventurar-se na procura de mudanças vagas e calcula que tem muito a perder se acreditar na conversa de candidatos que mal sabem quem são. Um “novo Collor” é, a bem dizer, impossível.
Existe, nas oposições, alguém que possa ser um “novo Fernando Henrique”? Têm elas instrumentos para voltar a fabricar um personagem como aquele de 1994? Fora do governo, é certo que não.