Todo mundo tem uma história para contar

Quando a gente ainda é moleque, tem uma cadeia de acontecimentos que acabam fundamentando os critérios que vamos adotando durante a vida.
O acontecimento que vou contar se deu naquela fase em que nossos pais estão morrendo de medo de nos tornarmos vagabundos e nos empurram para o primeiro emprego que surgir pela frente.
Em uma dessas nada glamourosas vagas, acabei me deparando com essa figura que acabou representando pra mim a imagem clássica do chefe. Ele era uma espécie de J. J. Jameson, sempre irritado, pronto a fazer brincadeiras desconcertantes e, principalmente, para dar broncas. Praticamente todos os dias alguém entrava pela porta do seu escritório e ele ouvia as justificativas para quaisquer eventuais falhas ou atrasos.
Para ele, não importava se a mãe de alguém tinha morrido, se o ônibus quebrou, se houve um alagamento que engarrafou a cidade inteira ou se o prefeito resolveu começar uma obra em alguma importantíssima via. Ele sempre fazia o julgamento que achava necessário, dizia o que tinha que dizer e, depois, quando o tal funcionário saia pela porta, dizia: “todo mundo tem uma história pra contar.”
Fiquei com essa frase na cabeça um bom tempo. Eu tinha a nítida impressão de que ele falava aquilo com bastante desprezo, julgando todo mundo como preguiçoso.
Agora, anos depois, encontrei essa tirinha. O autor, Luke Pearson, tentou submetê-la em um concurso de quadrinhos do The Guardian. Porém, o destino não sorriu amigavelmente para ele e a história foi rejeitada.
De uma certa forma, ela me lembrou a frase do meu velho chefe, mas por um outro viés. A gente está por aí, andando pelo mundo, errando, mandando mal, cobrando, sendo cobrado, se apegando, travestindo isso de amor, recebendo foras, odiando, as coisas estão saindo dos nossos planos, insistimos, choramos, choramos, choramos… mas a gente está fazendo o nosso melhor. Mesmo que esse melhor às vezes seja bem ruim.
Se a gente parasse pra ouvir ao invés de ficar tão preocupado com nosso próprio ponto de vista, ia ver que, realmente, todo mundo tem uma história pra contar.
Luciano Ribeiro


Editor do PapodeHomem, ex-designer de produtos, apaixonado por ilustração, fotografia e música. Ex-vocalista da banda Tranze (rock’n roll). Volta e meia grava músicas pelo Na Casa de Ana. Escreve, canta, compõe e twitta pelo @lucianoandolini.

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Vaquinha de Dirceu ta engordando

Com a providencial ajuda do Ministro Gilmar Mendes, que está repetidamente ajudando, com suas declarações,a arrecadação da “vaquinha” em favor do pagamento da multa imposta ao ex-Ministro José Dirceu, a “vaquinha” organizada pela internet, até o final da tarde de ontem, tinha passado de meio milhão de reais.
É possível que até amanhã o total seja atingido, porque a suspeita generalizada e grosseira que Mendes levantou mexeu com os brios de muita gente.
Talvez tenha sido a única utilidade da atitude insólita do Senador Eduardo Suplicy, que deu escada para que o  ex-auxiliar de Fernando Henrique Cardoso, num papel que não lhe cabia como juiz da causa, levanta suspeitas, sem qualquer prova, de que as contribuições fossem lavagem de dinheiro.
Eu não sei quais são os critérios do senhor Gilmar Mendes para imaginar quais as razões que façam alguém doar dinheiro.
Mas, talvez, uma delas seja manifestar seu desagrado com juízes que acusam, julgam e condenam pela mídia e com a mídia.
Como dizia o Ministro Joaquim Barbosa, antes de fazer par constante com ele nas decisões, há gente que acha que “ Vossa Excelência está destruindo a justiça desse país”.
Se o Ministro Mendes quiser processar, é no gabinete aí ao lado.
por Fernando Brito

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Isso mesmo

Atualizando Bertold Brecht

Para quem não tem
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Coisa da ralé.
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Eles estão de barriga cheia

Curto e grosso

Uma das críticas dos contrários a vinda dos médicos cubanos para trabalhar no Programa Mais Médicos, é por eles só receberem uma parcela do que o governo brasileiro brasileiro paga ao governo cubano. Alguém já ouviu, já leu algum desses críticos reclamarem da terceirização?...
Eu nunca ouvi, ou li alguém nem parecido.
Por que será?...

Leiam abaixo mais um texto sobre o assunto:

Alguma dúvida?, por Maria Helena RR de Sousa

Alguém duvida que o Brasil precise de mais médicos? Muitos mais?

Um país continental, com áreas onde jorra dinheiro, outras onde vive uma burguesia que luta para manter a cabeça fora d’ água e uma imensidão de miseráveis, não haveria de precisar de muitas e muitas coisas, mas, sobretudo, de mais médicos?
Dona Dilma, filha e sobrinha de idosas, mãe e avó, sabe o quanto é importante um médico ao alcance de nossa angústia diante da doença de um de nossos queridos. Tenho certeza disso.
Outros, quando ouvem ou leem alguém que discorda do programa padilho/caribenho, se apressam em dizer que é porque nós, os insensíveis, não sofremos o que sofrem os desvalidos dos grotões do Brasil.
Como tudo que vem do PT e dos petistas, é assim que a banda toca: eles são anjos de candura e, nós, os antipetistas, monstros tenebrosos. Mas algo me diz que dentro de alguns anos teremos em Brasília muitos retratos de Dorian Grey...
Nesse programa há médicos de outros países, como já se sabe. Algum deles ganha dez mil e recebe mil? Algum deles foi obrigado a deixar a família para trás? Algum deles, para se movimentar aqui dentro do Brasil, é obrigado a prestar contas a uma vigilante tipo a cubana Vivian Isabel Chávez Pérez? (VEJA, 19/02/2014).

Angústia e Vergonha, por David Alfaro Siqueros
para mim essa senhora não tem nenhuma 

O governo dos outros países recebe o salário dos seus médicos que aqui estão? Permite que eles sejam alocados na cidade tal e que de lá não possam sair sem ordens de um vigilante? Concordam em que só o médico tenha visto de entrada no Brasil e a família não?
Pior: por que os nossos médicos precisam confirmar sua graduação e os cubanos entram aqui com a cara e a coragem e nós temos que acreditar em sua graduação e mais, em suas especialidades?
Outra coisa é a barreira da língua. Só quem nunca morou em país de língua estrangeira acha que é possível explicar o que se sente, quais os sintomas da queixa, ou responder às perguntas dos médicos sem conhecer muito bem a língua falada por eles. Se em Portugal ou Angola ou Moçambique podemos nos confundir, imagine em Madrid, Lima ou Havana. E o vice-versa é a mais pura verdade.
Nós precisamos de Mais Médicos, não há a menor dúvida. Mas precisamos de Mais Vergonha na Cara: para reformar e restaurar as maravilhosas Santas Casas que herdamos de Portugal; para espalhar pelo país ambulatórios bem equipados; para atender às Escolas de Medicina de norte a sul; e, pelo amor de Deus, para prover de esgoto sanitário todas as ruas e praças de nosso Brasil.
E mais depressa do que imediatamente, cancelar esse absurdo contrato com Cuba. Se multa houver – e eu não acredito que algum tribunal dê ganho de causa a Cuba – ainda assim sairia mais barato indenizar os irmãos Castro do que passar pela vergonha de sermos o último país a abolir a escravidão e o primeiro a reinaugurá-la.