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Caso Cachoeira: chefe de gabinete de Agnelo pede demissão para se defender

do CH
Chefe de gabinete do governador do DF, Agnelo Queiroz, com status de secretário de Estado, e coordenador da Copa do Mundo em Brasília, Cláudio Monteiro decidiu se afastar do cargo para se defender de acusações de envolvimento no escândalo revelado pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. Gravações entre o representante da construtora Delta, Cláudio Abreu, e um arremedo de araponga preso pela PF, Idalberto Nunes (Dadá), reveladas nesta terça-feira, mostram o acerto de pagamento de uma parcela de R$ 20 mil e mensalidades de R$ 5 mil como prêmio pela nomeação do delegado João Monteiro para o cargo de presidente da empresa pública de lixo SLU. Cláudio Monteiro nega haver recebido qualquer quantia, afirmou há pouco que vai processar essas pessoas, "por usarem meu nome nessas circunstâncias", e decidiu enviar ofício ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, solicitando que seja investigado, autorizando a quebra dos seus sigilos bancário, fiscal e telefônico. Ele disse ainda que nada teve com a nomeação de João Monteiro, que, apesar da coincidência de sobrenomes, não é seu parente. E ainda desafiou os investigadores a apresentarem qualquer gravação de conversa dele com membros da quadrilha investigada, especialmente Carlinhos Cachoeira, acusado de chefiar o esquema. "Essas conversas, que aparecem agora, 485 dias depois de feitas, revelariam o cometimento de crime continuado, por isso os policiais federais que as interceptaram tinham o dever até de efetuar prisões, porque o foro privilegiado não protege ninguém em caso de flagrante. Se não o fizeram, duas duas, uma: ou cometeram o crime de prevaricação ou concluíram que a acusação contra mim é absurda", diz o ex-chefe de gabinete, policial civil aposentado.

CPMI investigará caso Cachoeira

Os presidentes da Câmara [Marco Maia PT] e do Senado [José Sarney] firmaram um acordo para criar uma CPI mista para investigar o caso Carlinhos Cachoeira.

“Não há por que haver uma CPI na Câmara e outra no Senado se é possível a construção de uma CPI mista” disse Marco Maia. 

Ele defende que a cpi “ cumpra a tarefa de investigação desse caso envolvendo Cachoeira com parlamentares, pessoas do Executivo, do Judiciário e também com pessoas ligadas à imprensa. Defendemos uma CPMI ampla para desvendar o que de fato ocorreu.”


“Como há um entendimento entre os presidentes das duas Casas e há um posicionamento claro dos líderes, acredito que não teremos nenhum problema na tramitação dos procedimentos legais para a instalação dessa CPI”, disse Marco Maia aos seus pares.

Agir antes que abafem


O PT e as forças progressistas precisam agir de imediato, pois está em curso uma tentativa de acabar logo com o caso Demóstenes & Cachoeira. Para muitos é incômodo discuti-lo. Vai atingir bastante gente por comissão ou omissão. Faz três anos que a Polícia Federal apresentou provas consistentes à Procuradoria Geral da República, agora reforçadas. Não dá para acreditar, num país em que vaza tudo o que é sigiloso, que era segredo a relação entre Demóstenes e o chefe de uma organização criminosa. Além disso, era notória no meio político de Goiás, a antiga amizade do senador com o bicheiro e as estreitas relações que este mantinha com o suplente de Demóstenes no Senado e principal financiador legal de sua campanha eleitoral. Deste círculo participavam deputados, secretários de Estado, prefeitos, delegados da polícia federal e estadual, oficiais da polícia militar, juízes, a chefe de gabinete do governador Marconi Perillo, e o próprio governador, de quem adquirira a casa em que morava quando foi preso.
Talvez a Procuradoria Geral da República e os governistas inibiram-se com as vacinas que a oposição e a grande mídia vieram sistematicamente injetando na sociedade contra a investigação de atividades ilícitas de membros da oposição, taxando-a de produção de dossiês e de perseguição política.
Logo que veio a público a existência, na mesma pessoa, de outro Demóstenes, aliado do crime organizado e da corrupção sistemática, o DEM quis logo ver-se livre de seu líder, por longos anos alçado a herói da luta contra a corrupção, cogitado para ser candidato a presidente da República ou vice da candidatura do PSDB. Os outros partidos de oposição mostraram-se perplexos e cautelosos, também porque tem políticos seus envolvidos no mesmo esquema.
Os poucos editoriais dos grandes jornais vão na linha de isentar o DEM das ações de sua maior estrela, e até elogiam o partido. O Estadão chegou a misturar Demóstenes com Pimentel e Palocci, como se os casos fossem iguais. A Veja, cujo diretor da sucursal de Brasília falou por telefone cerca de 200 vezes com Cachoeira, preferiu priorizar na capa uma polêmica de dois mil anos sobre o santo sudário. Um importante jornalista de O Globo ensaiou a hipótese de problemas mentais no personagem. A mídia não abriu neste caso uma campanha, como fez no governo Dilma as campanhas pela queda de ministros. Como fez várias no governo Lula, a primeira quando o mesmo Cachoeira filmou um pedido de propina de Waldomiro Diniz, antes deste ir para o governo federal. A mídia até chegou a lançar uma contracampanha, colocando em igual destaque o caso de uma contribuição legal ao PT de Santa Catarina feita por uma empresa fornecedora do Ministério da Pesca.
Cabe a nós do PT e a nossos aliados abrir uma campanha de esclarecimento e dela tirar todas as consequências para a luta contra a corrupção e para a reforma necessária da política brasileira. O que levou o ex-procurador geral de Justiça de Goiás, ex-secretário de Segurança Pública, senador reeleito de brilhante carreira, envolver-se com o crime organizado, e enganar uma nação? Foi o financiamento de suas campanhas, de sua atividade política, de suas ambições políticas? Quem foi beneficiado, quem participou? Quem colaborou no ocultamento de tantas evidências por tanto tempo? E muitas outras perguntas que exigem resposta.
Não será fácil levar esta empreitada adiante porque Demóstenes era um dos principais líderes do projeto conservador de país que se opõe ao projeto reformista em curso. Tem muita gente apoiando seu imediato sumiço da cena. A dupla personalidade política agora revelada, e por ele levada ao extremo, lembra a linha da velha escola udenista, que tem muita força ainda no Parlamento, no Judiciário, na mídia. O udenismo, quando fazia campanha contra a corrupção, escondia, sob a máscara desta campanha, seu objetivo real: assumir o poder para impor uma política elitista no lugar de uma política popular distributiva de direitos, e para substituir o nacionalismo por um alinhamento incondicional aos Estados Unidos. O ‘varre-varre vassourinha’ de Jânio, que veio em sequência na mesma tradição, ao assumir o poder quis dar um golpe na democracia para objetivos similares ao que se assistiu depois de 1964. A ‘caça aos marajás’, que mais tarde elegeu Collor presidente, quando no governo, confiscou as poupanças e quebrou boa parte da indústria com as primeiras medidas neoliberais.
Às forças conservadoras e à oposição que delas faz parte não interessa esclarecer este caso. As forças que defendem com o PT o mesmo projeto de país mais igualitário, mais democrático, e mais soberano tem que se mobilizar para desvelar a extensão desta farsa. Temos uma grande oportunidade para tornar mais clara a política brasileira. Não podemos perdê-la.

Viúvas de Demóstenes na imprensa choram por ele


Por Ricardo Kotscho 
Abandonado pelos seus pares do DEM e do que restou da oposição parlamentar no Congresso Nacional, o ainda senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) só encontra apoio em alguns setores da imprensa e agora joga todas as suas fichas no Judiciário, pois sabe que não tem como escapar da cassação do mandato. É tudo só uma questão de tempo.
Chega a ser comovente o empenho de alguns jornalistas em variadas mídias para separar o Demóstenes AC (Antes de Cachoeira), o implacável combatente contra a corrupção, do Demóstenes DC (Depois de Cachoeira), como se isso fosse possível.
tem essa história de antes e depois: Demóstenes e Cachoeira são umbilicalmente ligados faz muito tempo, atuavam juntos em atividades clandestinas e um cumpria ordens do outro, segundo as gravações feitas pela Polícia Federal.
Tratado agora como um traidor, Demóstenes sempre foi um impostor, e só se deixou enganar por ele quem o considerava um aliado útil contra o governo, independentemente dos seus objetivos. Agora não adianta chorar.
Tanto que nem o senador nem o seu advogado até hoje apareceram na imprensa para defender a sua inocência, mas apenas para negar a validade das provas obtidas nas escutas telefônicas.
A atividade criminosa pela qual Demóstenes está sendo denunciado é concomitante à sua atividade como parlamentar, na qual se destacou como grande ator, de acordo com seu ex-parceiro Sergio Guerra, presidente do PSDB, que gostava de vê-lo “de dedo em riste”.
A tragédia greco-goiana das duas vidas no mesmo personagem protagonizada pelo senador só se tornou pública porque ele tinha certeza de que nunca o iriam pegar.
De um lado, confiou na alta tecnologia do telefone Nextel à prova de grampos, que ganhou do bicheiro; de outro, tinha certeza da impunidade, garantida por seus fortes laços de amizade na alta cúpula do Judiciário e pela teia de apoios montada pelo seu cúmplice na área político-policial.
Pois agora é exatamente na Justiça que Demóstenes emprega todos os seus esforços para evitar a cadeia. Na terça-feira (10/3), como informou a colega Marina Marquez, do R7, em Brasília, a defesa do senador entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal pedindo a anulação das provas apresentadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República).
A defesa se resume nisso: ao incluir no inquérito contra o senador as gravações entre Demóstenes (o Doutor) e Cachoeira (o Professor) obtidas durante a Operação Monte Carlo, a Polícia Federal estaria “usurpando” as funções do STF, já que o órgão não autorizou qualquer investigação contra o senador.
Também na terça, o Conselho de Ética do Senado se reuniria para eleger seu novo presidente, primeiro passo para a abertura de um processo contra Demóstenes.
O problema é que o STF negou aos senadores cópia do inquérito da Polícia Federal, o que inviabiliza o processo na Comissão de Ética e praticamente obriga o Senado a instalar uma CPI. Só assim os parlamentares poderão ter acesso às provas.
Se tudo der certo, ainda assim levará pelo menos uns três meses para que o processo de cassação de Demóstenes Torres seja julgado no Senado – o tempo com que ele conta para que todo mundo esqueça o que aconteceu e o STF anule as provas. “Se conseguirmos trancar as provas, este inquérito estará morto”, já comemorava previamente o advogado Almeida Castro.
É bem possível, pelos antecedentes que conhecemos, que o procurador Demóstenes livre-se das garras da Justiça. Mas nem ele acredita numa absolvição política no Senado, onde virou um estorvo, um morto vivo sem chances de ressuscitar.
Com a palavra, os comentaristas: o que vai acontecer com Demóstenes?
a) vai ser cassado
b) vai ser condenado e preso junto com Cachoeira
c) não vai acontecer nada

Se Demóstenes Torres relatasse Demóstenes Cachoeira

por Carlos Chagas

Caso não sobrevenham retrocessos, instala-se hoje a Comissão de Ética do Senado, sob a presidência do senador Vital do Rego. Com um pouco de boa vontade, os senadores escolherão também o relator do processo aberto contra Demóstenes Torres. A impressão é de que tudo correrá bem depressa, para evitar o desgaste que seria o prolongamento do inquérito. Claro que o acusado terá amplo direito de defesa.
                                                     
Fosse qualquer outro o réu e dúvidas inexistiriam: Demóstenes Torres seria o relator, em função de sua postura sempre rígida na luta contra a corrupção e a ilegalidade. Seu passado responderia pela designação. Como a vida é sempre mais fascinante e mais complicada do que a ficção, eis que o senador por Goiás encontra-se do outro lado do muro.
                                                       
Fazer prognósticos sobre a decisão do Conselho de Ética será tão prematuro quanto perigoso. Mesmo assim, nos corredores do Senado sopra o vento da condenação, ou seja, da cassação do mandato de Demóstenes. Ninguém seria mais implacável no interrogatório dele mesmo e na coleta de argumentos para sua degola.
                                                      
O Conselho de Ética atua politicamente, acima e além das questões jurídicas. Importa  menos aos senadores saber se o ainda colega não poderia ter sido objetivo de investigações policiais sem licença do plenário. Mesmo com amargura, os 16 integrantes do colegiado decidirão tendo em vista os danos causados ao Senado pelo episódio envolvendo Demóstenes e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Quanto mais rápido  solucionarem a crise, melhor para todos. 

Mensalão: Novas pistas sobre a construção de uma farsa

por Zé Dirceu

O "Domingo Espetacular" da Rede Record veiculou, ontem à noite, uma reportagem que lança luzes sobre a construção dos primeiros momentos da farsa do mensalão. Paulo Henrique Amorim, âncora do programa, entrevistou o ex-prefeito de Anápolis pelo DEM, Ernani de Paula. Ele acusa o bicheiro Carlos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (ex-DEM) de estarem por trás de acusações que provocaram a crise do governo Lula, em 2005, iniciada com a divulgação de vídeos gravados com cenas de achaques e propinas.

Segundo Ernani, vídeos gravados pela equipe de Cachoeira, entre os quais um que mostra o empresário de jogo e Waldomiro Diniz negociando propina, divulgados em 2004, foram gravados dois anos antes, quando Diniz nada tinha a ver com o governo Lula (que ainda nem existia, nem tomara posse) e era vinculado a Loterias do Estado do Rio de Janeiro (LOTERJ).

Ainda assim foram usados naquele momento do primeiro governo Lula de forma descontextualizada e com o objetivo de desestabilizá-lo. Cachoeira está detido no presídio federal de segurança máxima de Mossoró (RN) Brasília por conta das investigações da Operação Monte Carlo da Polícia Federal sobre os jogos de azar no país. É formalmente acusado por esta contravenção.

Recomendo que vocês vejam este programa do Paulo Henrique (clique aqui) e, também, que leiam o artigo do jornalista Emiliano José "O partido da mídia e o crime organizado", que publico neste blog hoje. Nele, Emiliano avalia o comportamento da imprensa desde a cobertura da "farsa" até agora frente a essas revelações mais recentes. 

Denuncismo some da Veja

Abaixo as 6 edições da revistinha depois que a PF desbaratou o esquema entre ela, Cachoeira , Demóstenes, Gilmar Dantas e Cia. Nenhuma tem como capa o tema corrupção tucademopiganalha. Nada mais natural, eles não vão atirar nos próprios pés de lama.

O que me enoja mesmo é que alguns outros arautos da moral, ética e honestidade ainda defendem esta corja. Quem quiser acredite que seja de boa fé, para mim é porque de fato não passa de farinha do mesmo saco. Vivem no mesmo chiqueiro "cheirosinho", comendo no mesmo cocho.

Re: Fora de Pauta
Abaixo algumas capas da porcaria durante o escândalo do "mensalão". A diferença é visível. E a defesa que fazem a [in]Veja...Nojenta!
Corja!


Autoritarismo
 
Involução
 
Mensalão
  
22/6/2005
Crise política
 29/6/2005
Fisiologismo
 13/7/2005
Mensalão
  

O Presidente Demóstenes em New Yorque

O personagem do texto irônico do jornalista Elio Gaspari é Demóstenes Torres. Porém, fosse José Serra, Aécio Neves ou qualquer outro tucademo sabe o que seria quase certo?...A nomeação de Demóstenes Torres para o Ministério da Justiça. Apreciem uma boa ironia abaixo:



Setembro de 2015: eleito presidente da República em novembro do ano passado, Demóstenes Torres chegou ontem a Nova Iorque para abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas. Reuniu-se com o presidente Barack Obama, de quem cobrou uma política mais agressiva contra os governos da Bolívia, do Equador e da Venezuela, ‘controlados por aparelhos partidários que sonham em transformar a América Latina numa nova Cuba’. Antes de embarcar, Demóstenes abriu uma crise diplomática com o Paraguai, anunciando sua intenção de rever o Tratado da Hidrelétrica de Itaipu.
O presidente brasileiro assumiu prometendo fazer ‘a faxina ética que o país precisa’. Para isso, criou um ministério com superpoderes, entregue ao ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Numa reviravolta em relação a suas posições anteriores, o presidente apoiou um projeto que legaliza o jogo no país. Ele reestruturou o programa Bolsa-Família, reduzindo-lhe as verbas e criando obstáculos para o acesso aos seus benefícios. Patrocinou projetos reduzindo a maioridade penal para 16 anos e autorizando a internação compulsória de drogados. Determinou que uma comissão especial expurgue o catálogo de livros didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação. Atualmente, percorre o país pedindo a convocação de uma Assembleia Constituinte. A oposição do Partido dos Trabalhadores denuncia a existência de uma aliança entre o presidente e quase todos os grandes meios de comunicação do país.
Ao desembarcar no aeroporto Kennedy, Demóstenes ironizou as críticas à presença de umajovem assessora na sua comitiva: ‘Lamentavelmente, ela não é minha amante, porque é linda’. À noite, o presidente compareceu a um jantar no restaurante Four Seasons, organizado pelo empresário Claudio Abreu, que até março de 2012 dirigia um escritório regional de relações corporativas da empreiteira Delta. Abreu é o atual secretário-executivo da Comissão de Revisão dos Contratos de Grande Obras, presidida pelo ex-procurador geral Roberto Gurgel. Chamou a atenção na comitiva do presidente o fato de alguns integrantes carregarem celulares habilitados numa loja da rua 46. Eles são chamados de ‘Clube do Nextel’.
Em 2012, a carreira do atual presidente foi ameaçada por uma investigação que o associava ao empresário Carlos Augusto Ramos, também conhecido como ‘Carlinhos Cachoeira’, marido da ex-mulher do atual senador Wilder Pedro de Morais, que era suplente de Demóstenes. O trabalho da Polícia Federal foi desqualificado pela Justiça. O assunto foi esquecido quando surgiram as denúncias do BolaGate contra o governo da presidente Dilma Rousseff envolvendo contratos de serviços e engenharia de estádios para a Copa do Mundo cancelada em 2013. A eleição de campeões da moralidade é um fenômeno comum no Brasil. Em 1959, Jânio Quadros elegeu-se montando uma vassoura. Em 1989, triunfou Fernando Collor de Mello. O primeiro renunciou numa tentativa de golpe de Estado e terminou seus dias apoquentado por pressões familiares para que revelasse os números de suas contas bancárias no exterior. O segundo deixou o poder acusado de corrupção e viveu por algum tempo em Miami, elegeu-se senador e apoiou a candidatura de Demóstenes. O tesoureiro de sua campanha foi assassinado.
Presente ao jantar do Four Seasons, o empresário Carlos Augusto Ramos não quis falar à imprensa. Ele hoje lidera o setor da indústria farmacêutica brasileira beneficiado pelos incentivos concedidos no governo anterior. Ramos chegou acompanhado pelo ministro dos Transportes, Marconi Perillo, que governou o Estado do presidente e foi o principal articulador do apoio do PSDB à sua candidatura. Uma dissidência do PT, liderada pelo deputado Rubens Otoni, também apoiou a candidatura de Demóstenes. O presidente anunciou que a BingoBrás será presidida por um ex-petista.
Abril de 2012: quem conhece o tamanho do conto do vigário moralista de Fernando Collor e Jânio Quadros sabe que tudo o que está escrito aí em cima poderia ter acontecido.



Os 44 defensores de Demóstenes no Senado


sugestão (artigo e foto) de Gerson Carneiro
 Há exatamente um mês, parlamentares de todos os partidos se revezavam na tribuna para defender o senador goiano, hoje isolado e sem partido. Veja o que cada um deles disse
 Bem que o presidente do DEM e hoje líder do partido no Senado advertiu na ocasião: “A cautela recomendava que as pessoas não fizessem qualquer tipo de aparte”. Porém, ele próprio se traiu. E na companhia de outros 43 colegas. “Mas este Plenário, sábio como é, pela voz dos seus líderes, dos seus integrantes, reduziu o fato à sua real dimensão. [...] Vossa Excelência não cometeu nenhuma afronta à ética!”, emendou José Agripino (RN).
   A sessão de 6 de março do plenário do Senado passará à história pelo desagravo coletivo ao senador Demóstenes Torres (então DEM-GO), acusado de envolvimento com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Será lembrada também pelo corporativismo explícito de boa parte dos 44 aparteantes e pelo derradeiro voto de confiança de um diminuto grupo de parlamentares que, a exemplo de Demóstenes, também empunha a bandeira da ética e do combate à corrupção. 
Um mês depois da encenação, Demóstenes está sem partido e só. Esses mesmos senadores que o apoiaram agora convivem com o constrangimento e a decepção. Muitos se dizem traídos pelo colega após o desdobramento das investigações, que jogaram por terra a retórica desfilada naquele dia, quando o senador usou o aparato de comunicação do Senado para mentir que mantinha apenas relação de amizade com o contraventor. 
Confira abaixo trechos das loas proferidas em plenário por cada um dos aparteantes, por ordem de registro*: 
Eduardo Suplicy (PT-SP) – “Aprendemos a respeitá-lo como um dos membros do Senado que, sobretudo na área jurídica, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, que Vossa Excelência presidiu, e como membro do Ministério Público, sempre demonstrou um conhecimento em profundidade da Constituição e das leis brasileiras.” 
Luiz Henrique (PMDB-SC) – “Nobre senador Demóstenes, quero saudar Vossa Excelência como um verdadeiro homem público, de primeira qualidade. A minha solidariedade e a minha confiança.” 
Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) – “Levantei o microfone de aparte, porque, embora tivesse sido feito um entendimento para não se apartear, já que apartearam, eu não poderia ficar de fora. Vossa Excelência foi uma das coisas boas que conheci no Senado desde que aqui cheguei. [...] pela sua correção, pela sua coragem cívica, pela sua determinação e pela sua grandeza. Vossa Excelência é uma pessoa com imensa grandeza.” 
Pedro Simon (PMDB-RS) – “Em todos os momentos, quer nas questões internas do Senado, quer nas questões mais graves, mais difíceis e mais escandalosas que apareceram nesta Casa, Vossa Excelência sempre esteve firme, com argumentos, com conteúdos e com absoluta firmeza. Sinceramente, não me passa pela cabeça a imagem que querem fazer de Vossa Excelência.” 
Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) – “Minha palavra é de confiança de que a sua atuação aqui no Senado, e fora do Senado, é uma atuação que não compromete a sua honra, a sua dignidade e o seu passado.” 
Eduardo Braga (PMDB-AM) – “Vossa Excelência é daqueles que, quando erra [sic], sabe reconhecer o erro e, com o espírito humano, chega até a pedir desculpas. Agora, quando fazem uma acusação a esse ponto, vem à tribuna e diz: ‘Não, não apenas quero refutar as acusações, como me coloco para ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal’. Só assim agem aqueles que têm valores éticos e humanos elevados, e um comportamento e uma conduta, na função pública, elevados.” 
Waldemir Moka (PMDB-MS) – “Conheço a sua trajetória, a sua luta e a sua postura. [...] Tenho certeza absoluta de que sairá desse episódio exatamente da mesma forma que fez em sua vida inteira.” 
Vital do Rêgo (PMDB-PB) – “Cheguei a esta Casa nutrindo muito respeito por Vossa Excelência, uma admiração a distância. A convivência com Vossa Excelência neste plenário, na Comissão de Justiça, vendo a sua grandeza, a sua coragem cívica, o seu espírito republicano, fez-me aumentar esse conceito, esse respeito e essa admiração.”
Cristovam Buarque (PDT-DF): “Senador Demóstenes, feliz aquele que, quando é criticado, acusado, pode subir à tribuna e dizer que não tem nada a esconder, que não precisa usar subterfúgios, que não precisa dizer nem que o que está sendo dito é ou não verdade. [...] mesmo aqueles que divergem sabem que o senhor é o homem não apenas do DEM, mas do bem.” 
Alfredo Nascimento (PR-AM) – “Estamos diante de um companheiro, de um colega do Senado, de um homem que tem passado e presente de retidão, de comportamento ilibado, e que, com todas as forças, tem defendido os interesses do Brasil e do Estado que representa.” 
Romero Jucá (PMDB-RR) – “Todos nós sabemos da sua seriedade, do seu compromisso, da sua honestidade. Mas, sem dúvida nenhuma, essa palavra é uma palavra para toda a sociedade brasileira, tranquiliza a Casa, a sociedade brasileira [...] Vossa Excelência deu as explicações necessárias, e todos nós estamos tranquilos, satisfeitos.” 
Lobão Filho (PMDB-MA) – “Quero demonstrar minha absoluta, inamovível confiança na figura do senador Demóstenes, na sua probidade, na sua moral inatacável. [...] Não acredito que alguém nesta Casa seja medíocre, até porque eu acredito que o momento espetacular vivido pelo Brasil de hoje [...] é consequência dos políticos que estão vivendo agora, do seu Executivo e do Legislativo. Mas, entre todos nós, Vossa Excelência é uma figura que realmente merece ser destacada.” 
Cyro Miranda (PSDB-GO) – “Conheço a sua probidade como promotor, como secretário da Justiça, quando ficou conhecido como ‘o grande justiceiro’, sempre aliado à lei. Melhor do que ser seu colega é ser seu amigo. Obrigado.” 
Lúcia Vânia (PSDB-GO) – “Todos nós, de Goiás, esperávamos de Vossa Excelência uma conduta como essa. [...] faz as explicações com seriedade e responsabilidade. Vossa Excelência sabe da admiração que o povo brasileiro, especialmente o goiano, tem por sua trajetória. Receba os meus cumprimentos e a minha solidariedade.” 
Alvaro Dias (PSDB-PR) – “Queremos manifestar, em nome do PSDB, nossa confiança absoluta em Vossa Excelência, nossa crença no seu comportamento e dizer, sobretudo, da importância de Vossa Excelência para o país na oposição. Somos limitados numericamente na oposição e sua presença tem oferecido grandeza à tarefa de se opor. Infeliz do país que não tem uma oposição responsável e competente.” 
Jayme Campos (DEM-MT) – “Vossa Excelência tem todo o nosso apoio. Essa conversa é aquela velha história de ‘chover no molhado’. Ninguém acredita nela; todo mundo sabe que Vossa Excelência é um homem de retidão, de caráter invejável – não só como promotor, mas, certamente, como senador da República, que é exemplo para todos nós.” 
Blairo Maggi (PR-MT) – “Disse-lhe ontem, por telefone, quando conversamos, que não se abata com isso, porque todos nós, homens públicos, estamos sujeitos a esse tipo de situação. Portanto, é um período de turbulência, mas nenhum período de turbulência permanece para sempre. Ele passará e o senhor sairá vitorioso.” 
Pedro Taques (PDT-MT) – “Eu o conheço desde 1996, nas barrancas do rio Araguaia, do rio Tocantins. Nós defendendo a parte lindeira dos nossos estados. Nós dois fomos forjados na luta contra a criminalidade.” 
Inácio Arruda (PCdoB-CE) – “Quase todos nós somos alvo desse tipo de meia chantagem, que é como vejo isso às vezes, para a gente entender do ponto de vista político, para a gente não perceber isso apenas do ponto de vista também moral. [...] Falei para Vossa Excelência que tinha a minha solidariedade, e posso dizer que também tem a solidariedade do meu partido, o Partido Comunista do Brasil.” 
Vicentinho Alves (PR-TO) – “Vim aqui dizer que lhe sou grato e um amigo leal. Portanto, confio em Vossa Excelência. Essa sua conduta de abrir ao Ministério Público, ao Supremo, não tenho nenhuma dúvida e tenho segurança de que não vão encontrar nenhum deslize da parte de Vossa Excelência.” 
Aécio Neves (PSDB-MG) – “Vossa Excelência é um homem digno, sempre agiu dessa forma em todos os cargos públicos que ocupou. E digo mais, Vossa Excelência, senador Demóstenes, é dos mais preparados e destemidos homens públicos deste país. E, por isso mesmo, dos mais respeitados.” 
Roberto Requião (PMDB-PR) – “As insinuações de que Vossa Excelência foi vítima [...], não se compatibilizam com a sua história de vida e com as suas atitudes. Neste plenário múltiplo, que funciona como uma espécie de júri, todas as insinuações foram rejeitadas. Portanto, recomendo-lhe tranquilidade.” 
Mário Couto (PSDB-PA) – “Quero pedir licença ao nobre presidente para apartear o nobre Senador Demóstenes Torres de pé. [...] Quem dera, senador Demóstenes Torres, todos os políticos fossem iguais a Vossa Excelência!” 
Eunício Oliveira (PMDB-CE) – “Acompanho a trajetória política de Vossa Excelência há vários anos por ter negócios e uma propriedade no estado de Goiás. Portanto, há vários anos, acompanho a trajetória de Vossa Excelência como seu admirador.” 
Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) – “Admiro Vossa Excelência pela luta que desempenha. Vossa Excelência é uma referência inclusive no respeito à lei. [...] Saiba que tem a nossa confiança.” 
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) – “Acredito que todos os oradores que me antecederam já foram pródigos na manifestação de confiança a Vossa Excelência por toda uma trajetória de vida ilibada, honrada, digna, transparente, corajosa. [...] receba não apenas o meu abraço, minha solidariedade, mas o reconhecimento de que o senhor é um dos melhores exemplos de que é possível, sim, se fazer política com honra e com dignidade no nosso país.” 
João Ribeiro (PR-TO) – “Sucesso, senador Demóstenes! Tenho certeza de que não existe nada contra Vossa Excelência. Então, minha compreensão de que Vossa Excelência é um homem limpo, um homem público dos mais corretos que eu conheço.” 
Benedito de Lira (PP-AL) – “O exercício da democracia é exatamente isso aí… O homem público tem de estar altamente preparado para todas e quaisquer demandas, e nós, homens públicos, temos uma missão nobre: representar o povo dos nossos estados no Senado Federal com absoluta dignidade.” 
Casildo Maldaner (PMDB-SC) – “Não podia ficar calado neste instante sem dizer que por onde ando no meu estado, Santa Catarina, as pessoas me perguntam como que eles podem conseguir que Vossa Excelência vá lá fazer uma palestra. [...] Perguntam-me: que homem é esse? De onde vem, Maldaner, esse homem? Esse é o clamor, isso é o que a gente sente. [...] Santa Catarina acompanha de pé a maneira, a coragem, a hombridade, o destemor, as linhas que tem adotado aqui no Senado e neste país.” 
Randolfe Rodrigues (Psol-AP) – “Vossa Excelência sabe muito bem que um dos princípios fundantes do Estado como nós o conhecemos, do pacto civilizatório que nos rege, é aquele da presunção da inocência. Todos são presumidamente inocentes até que se prove o contrário. [...] aqui é lógico que estabelecemos relações. Em particular, tenho a honra de estabelecer relação pessoal com Vossa Excelência, com o querido senador Pedro Taques.” 
Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) – “Geralmente um político, quando é acusado, a primeira coisa que faz é declarar que isso é armação dos seus inimigos políticos, ou que é uma conspiração da imprensa, ou que, por fim, está sendo caluniado. Vossa Excelência, ao contrário, disse que quer ser investigado e, em nenhum momento, se disse vítima de algum tipo de conspiração.” 
Flexa Ribeiro (PSDB-PA) – “O que nós vimos aqui [...], de reconhecimento pelo seu trabalho e pela sua conduta, é suficiente para que a nação brasileira o tenha como uma das reservas morais do nosso país.” 
Francisco Dornelles (PP-RJ) – “Eu queria reiterar a Vossa Excelência o meu maior respeito e a minha maior admiração, e manifestar a minha confiança ampla, geral e irrestrita na conduta e nos procedimentos de Vossa Excelência. Muito obrigado.” 
Ana Amélia (PP-RS) – “Confesso que, no final de semana, ao ler o noticiário sobre a divulgação das gravações de escutas telefônicas das conversas de Vossa Excelência, fiquei perplexa [...]. E, num momento de perplexidade, fico mais tranquila agora com os esclarecimentos [...] aos seus colegas que, aqui como eu, aprenderam a admirar essa firmeza e esse compromisso com a legalidade, com a responsabilidade e com o trabalho comprometido com a ética na política.” 
Paulo Paim (PT-RS) – “Convivo com Vossa Excelência há praticamente dez anos. Nem sempre defendemos as mesmas posições. Mas eu aprendi a respeitar Vossa Excelência pela transparência.” 
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) – “Ilustre senador Demóstenes Torres, não é por acaso que a Casa hoje verifica esta interminável sucessão de apartes ao pronunciamento de Vossa Excelência. É que todos nós aqui o conhecemos. [...] Então, para quem o conhece, evidentemente, não carecia nenhuma explicação.” 
Jorge Viana (PT-AC) – “Certamente, Vossa Excelência vai ajudar-nos a fazer com que este país fique um pouco melhor do ponto de vista do manuseio de processos inconclusos, de acusações sem provas e, especialmente, de ilações. [...] Há questões absolutamente pessoais, que não se podem confundir com a postura pública de Vossa Excelência.” 
Marta Suplicy (PT-SP) – “Quero dizer que sua atitude de vir aqui e de se posicionar levou toda esta Casa, pela sua trajetória pública e também pela maneira como está lidando com essas insinuações, a ter uma postura uníssona de situação e de oposição, o que é muito raro. [...] A seriedade de acusações desse tipo, vazamentos, insinuações fazem com que o cidadão, no caso um senador brilhante de oposição, passe por uma situação absolutamente constrangedora.” 
Kátia Abreu (PSD-TO) – “Tenho a convicção de que tudo isso não vai passar de um grande dissabor, e de que Vossa Excelência vai provar sua inocência, como já está fazendo neste momento. Com muita dignidade, sobe à tribuna, pede o apoio dos colegas, fala sua versão, trabalhando com transparência, como sempre fez no Senado Federal.” 
Ricardo Ferraço (PMDB-ES) – “A obra de Vossa Excelência como promotor e como secretário de Segurança Pública, com o combate destemido ao crime organizado em Goiás, e a trajetória de Vossa Excelência no Senado da República já me faziam ser seu admirador ainda a distância – quando, do meu estado, eu admirava a forma destemida, com o coração aberto, com o peito aberto, com que Vossa Excelência sempre exerceu suas convicções.” 
Armando Monteiro (PTB-PE) – “A proximidade do convívio me permitiu ser testemunha de sua atuação, do zelo e da seriedade no desempenho de seu mandato. [...] Receba, portanto, o testemunho do meu apreço e a manifestação da minha confiança.” 
Antonio Russo (PR-MS) – “Professor Demóstenes, eu queria agradecer-lhe os ensinamentos que nos oferece neste momento. [...] E, com altivez, dando um ensinamento, o senhor dá um exemplo do que é a classe política, do quanto ela paga, de qual o preço que ela paga, injustamente às vezes.” 
José Agripino (DEM-RN) – “A cautela recomendava que as pessoas não fizessem qualquer tipo de aparte. Para surpresa do plenário, quando Vossa Excelência ia descer da tribuna, o senador Suplicy pediu um aparte. [...] Mas este Plenário, sábio como é, pela voz dos seus líderes, dos seus integrantes, reduziu o fato à sua real dimensão. [...] Vossa Excelência não cometeu nenhuma afronta à ética!” 
Ivo Cassol (PP-RO) – “De repente, alguém de dentro da família, infelizmente, no meio da caminhada, pode seguir um caminho torto, e o restante da família não se pode sacrificar. Portanto, sou solidário ao senhor.” 
* Declarações registradas em plenário pelo serviço de taquigrafia do Senado.

Sobre bandidos, políticos e governantes


por Carlos Chagas
A gente fica pensando quantos Carlinhos  Cachoeira andam soltos por aí, apesar de o próprio estar momentaneamente atrás das grades. Porque virou rotina o relacionamento entre bandidos, políticos e governantes. Virou é modo de dizer, porque esse conluio vem de tempos imemoriais. Apenas ficou mais exposto, agora, por ação da mídia, da Polícia Federal, do Ministério Público e do Poder Judiciário. Evidência de que, apesar de tudo, o país vai melhorando.

O bicheiro tinha ligações espúrias em Brasília, Goiás, Tocantins e alhures. Deixou-se inebriar pela impressão de ser influente, manobrista de cordéis que convergiam para suas atividades ilícitas e algumas até lícitas. Talvez tenha ficado megalômano, já que dava sugestões e até  ordens para seus cúmplices chegassem aos detentores do poder. Queria, por exemplo, que o senador Demóstenes Torres trocasse o DEM pelo PMDB e se aproximasse até da presidente Dilma. Imaginando, no seu desvario, que poderia valer-se de favores do palácio do Planalto.

Não parece difícil identificar esses personagens, sempre evoluindo em torno de políticos de expressão, tanto faz se falsa ou verdadeira. Para esses políticos, a tentação é grande, a ponto de muitos buscarem a simbiose, ou seja, transformarem-se também em bandidos. Como no terceiro ângulo do triângulo, dos governantes, encontramos da mesma forma indivíduos propensos a lambanças, completa-se a trindade que nada tem de santíssima: três pessoas numa só unidade e com um único objetivo, no caso, de enriquecer fraudulentamente.

Em  maioria, os governantes são honestos.  Os políticos, também. Os bandidos é que atravessam o samba, alguns  empenhados em acabar com os intermediários,  tornando-se  políticos e governantes. Essa geleia só se desfará pela ação da  Polícia Federal, do  Ministério Público, do Judiciário e da mídia. Só que essas instituições também podem ser contaminadas pelos bandidos...

O alvo era a presidente Dilma

da revista Época
por Andrei Meireles e Murilo Ramos

Como qualquer empresa, as organizações criminosas têm seus planos de sobrevivência e expansão. O grupo do empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, inovou em muita coisa, mas não nesse aspecto. Cachoeira tinha negócios escusos e planos de novos empreendimentos em Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Tocantins, onde contava com a ajuda de políticos e agentes públicos, de acordo com as investigações da Polícia Federal. Mas Cachoeira queria mais. Conversas telefônicas entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (ex-DEM, agora sem partido), gravadas com autorização judicial e obtidas com exclusividade por ÉPOCA (ouça os áudios ao fim desta reportagem), mostram que os dois planejavam se aproximar de alguma forma do Palácio do Planalto. Numa das ligações captadas, Cachoeira orienta Demóstenes a aproveitar um convite para trocar o DEM pelo PMDB, com o propósito de se juntar à base de apoio do governo e se aproximar da presidente, Dilma Rousseff. “E fica bom demais se você for pro PMDB... Ela quer falar com você? A Dilma? A Dilma quer falar com você, não?”, pergunta Cachoeira. Demóstenes responde: “Por debaixo, mas se eu decidir ela fala. Ela quer sentar comigo se eu for mesmo. Não é pra enrolar”. Cachoeira se empolga: “Ah, então vai, uai, fala que vai, ela te chama lá”. Como se fosse um bom subordinado, Demóstenes acata a recomendação.
Quando esse diálogo ocorreu, no final de abril de 2011, Demóstenes estava em plena negociação com caciques do PMDB, como os senadores Renan Calheiros e José Sarney, para mudar de legenda. Um dos maiores opositores do governo – e carrasco de petistas acusados de corrupção – tencionava aderir ao governo do PT. Segundo dirigentes do PMDB, àquela altura a mudança de partido já tinha o aval do Palácio do Planalto. Tudo nos bastidores, porque em público Demóstenes continuava oposicionista. As gravações mostram agora que um dos objetivos da radical troca de lado era estar mais bem situado para ajudar o esquema de Cachoeira.
Cachoeira, preso pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro, está trancado no presídio federal de Mossoró, Rio Grande do Norte. No ano passado, quando ainda em liberdade, ele tinha outro projeto concreto, além da aproximação de Dilma. Sua intenção era conseguir apoio do PMDB para que Demóstenes chegasse um dia a ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Seria um ativo inestimável para suas atividades.O plano de Cachoeira de se aproximar do governo deu errado. Demóstenes, ao que tudo indica, ficou com receio de acabar alijado do Congresso. Ele estava convencido de que a cúpula do DEM pediria à Justiça a cassação de seu mandato por infidelidade partidária. A assessoria do Palácio do Planalto afirma que a presidente, Dilma Rousseff, não falou com Demóstenes desde que assumiu a Presidência.
De acordo com as gravações, o STF já era alvo de ações de Cachoeira. Na mesma conversa em que fala sobre Dilma, ele pede a Demóstenes para tentar influenciar uma decisão do ministro Luiz Fux, do STF. Estava na mesa de Fux um recurso do ex-governador do Tocantins Marcelo Miranda, impedido de assumir uma vaga para a qual fora eleito no Senado, por ter sido condenado por “abuso de poder político” na eleição de 2006. “Ele (Miranda) é um cara nosso”, afirma Cachoeira a Demóstenes. Miranda recorreu ao STF, e Demóstenes prometeu atender ao pedido de Cachoeira e ajudar. O ministro Fux afirma não ter sido procurado por Demóstenes. “O senador não falou comigo sobre isso”, disse Fux a ÉPOCA. “Se ele tivesse me procurado, eu o teria recebido, sem nenhum problema.” Em uma primeira decisão, Fux deu ganho de causa a Miranda. Dez dias depois, mudou sua decisão e cassou o registro da candidatura. “Depois que fui informado de que ele havia sido cassado na Justiça Eleitoral por abuso de poder político, e não pela Lei da Ficha Limpa, eu modifiquei a decisão”, afirmou Fux.
NEGÓCIOS O governador  de Goiás, Marconi Perillo (ao lado), o iate Casino Princesa  e a transcrição da conversa captada pela PF. Cachoeira tinha interesses na área de obras do governo Perillo.  Em Miami, comprou um cassino iate por uma pechincha (Foto: Monique Renne/CB/D.A Press e reprodução)
Outra gravação revela que, entre uma e outra decisão de Fux, houve tempo para a turma de Cachoeira comemorar a vitória parcial. A conversa ocorreu entre Cachoeira e Cláudio Abreu, diretor agora afastado da Delta Construções, apontado pela polícia como sócio de Cachoeira numa empresa. Num papo cheio de intimidades, um empolgado Abreu chama Cachoeira carinhosamente de “viado” e “desgramado”. Ele o avisa da decisão sobre Miranda. “Chefia, o Marcelo Miranda é senador”, diz Cláudio. “O bom é que eu sei que ele vai ser procurador seu e meu, né?” 
Na mesma conversa, Abreu e Cachoeira emendam outro assunto de estratégia político-empresarial no Tocantins. Abreu defende que a parceria com Miranda não represente uma ruptura com o adversário dele, o ex-senador Eduardo Siqueira Campos. Eduardo é secretário de Relações Institucionais no governo chefiado por seu pai, José Wilson Siqueira Campos, conhecido como Siqueirão. Cachoeira questiona se vale a pena continuar apostando em Eduardo Siqueira. “Eduardo também é bom, Carlinhos. Não pode falar mal dele não, cara”, diz Abreu. “Ele mandou dar o negócio pra nós lá: a inspeção veicular do Tocantins.”
Eduardo Siqueira Campos nega ter destinado um contrato para beneficiar empresa ligada a Cachoeira e Abreu. “Não há ainda definição sobre quem executará o serviço de inspeção ambiental em Tocantins”, afirma. Miranda nega ter pedido ajuda a Cachoeira, a Cláudio Abreu ou a Demóstenes para ter sucesso no STF. “Estou surpreso de ver meu nome citado por essas pessoas”, diz ele. “Cachoeira, por exemplo, eu mal conheço, só o cumprimentei uma vez.”
O Palácio do Planalto tem procurado se manter distante do assunto Cachoeira. Assessores da presidente Dilma avaliam que as denúncias podem paralisar o Congresso, com investigações sobre envolvimentos de parlamentares. Até agora, além de Demóstenes, cinco deputados aparecem nas investigações. O Planalto sabe que o governo de Goiás e o do DF serão os mais afetados pelo que ainda pode vir à tona. Governado pelo petista Agnelo Queiroz, o DF é uma preocupação do PT.
Em outra conversa captada pela polícia, Cachoeira e Abreu discutem a possibilidade de a Delta Construções obter um contrato na agência do governo de Brasília responsável pelo transporte público, a DF Trans. Cachoeira queria que a Delta fosse agraciada com um contrato de R$ 60 milhões para atuar no sistema automatizado de cobrança de passagem nos ônibus. Segundo ele, seria possível aumentar o valor do contrato em 30%. Cachoeira pede a Abreu que fale em nome da Delta porque “aí pesa mais”. A Delta afirmou que desconhece qualquer assunto relativo ao DF Trans e afirma não ter contratos com a estatal.
OUSADIA Cachoeira, Demóstenes e a transcrição do diálogo. Cachoeira queria que Demóstenes mudasse para o PMDB para se aproximar do Planalto e falar com a presidente, Dilma Rousseff. Não deu certo (Foto: Celso Junior/AE  e Sergio Lima/Folhapress)
Cachoeira também foi recebido por Jayme Rincón, presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), uma espécie de secretaria responsável pelas obras em Goiás. Rincón foi um dos principais arrecadadores de dinheiro para a campanha eleitoral do governador Marconi Perillo (PSDB) em 2010. Ele é citado no inquérito da PF como alguém que conversou sobre a venda de uma casa com o ex-vereador tucano Wladmir Garcez. Segundo a Polícia Federal, Garcez é um dos principais assessores de Cachoeira.De acordo com Rincón, Cachoeira foi à Agetop acompanhado de Garcez e de um empresário do Tocantins. Segundo a PF, Garcez servia de intermediário nas conversas entre Cachoeira e Perillo e ajudou o governador a vender uma casa num condomínio nobre de Goiânia. Cachoeira morava nessa casa quando foi preso pela PF. Rincón disse a ÉPOCA que conhece Garcez, mas que jamais tratou sobre negociação de qualquer casa com ele.
Diante das crescentes denúncias envolvendo personagens da política de Goiás, Cachoeira começou a provocar baixas no governo goiano. Na terça-feira, Eliane Pinheiro, chefe de gabinete do governador Perillo, pediu para ser exonerada. Dias antes, ÉPOCA revelou que Eliane fora flagrada pela polícia em conversas com Cachoeira. Ela soube por Cachoeira que a PF iria à casa do prefeito de Águas Lindas, Geraldo Messias (PP), e o avisou. Diante do alerta, Messias fugiu.
O senador Demóstenes Torres tem preferido o silêncio. Seu advogado, Antônio Carlos Almeida Castro, o Kakay, disse que pedirá ao STF a anulação das provas em mãos da PF, especialmente as escutas telefônicas. Segundo Kakay, o STF deveria ter sido comunicado da investigação imediatamente após a descoberta do envolvimento de Demóstenes. Como senador, ele só pode ser investigado com autorização do Supremo. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirma que os procedimentos da polícia e as escutas são legais.
Demóstenes foi levado, pela cúpula do DEM, a deixar o partido, na terça-feira. Por muitos anos, ele foi uma importante fonte de credibilidade e votos para a legenda. Agora, Demóstenes tenta retardar seu processo no Conselho de Ética do Senado. Conversou com o presidente da Casa, José Sarney, e com o líder do PMDB, Renan Calheiros. A presidência do conselho está vaga, e ninguém quer a posição. Os três conselheiros do PMDB – Renan Calheiros, Edison Lobão Filho e Romero Jucá – já foram protagonistas de escândalos. “Me deixa fora dessa!”, diz Lobão Filho. “Me botaram lá no conselho contra a minha vontade.”
A partir da investigação da PF é possível inferir que Cachoeira tinha uma estratégia ambiciosa. A crise financeira de 2008 abriu oportunidades nos Estados Unidos – e Cachoeira não as desperdiçou. Amigos afirmam que Cachoeira comprou um cassino instalado num iate de luxo, de 200 pés, o Casino Princesa. De acordo com a PF, Cachoeira e o empresário Mauro Sebben negociavam a compra de outro barco cassino, o Big Easy. No auge da crise, ofereceram uma ninharia. Os antigos donos haviam investido cerca de US$ 40 milhões no barco, mas não conseguiram pagar as contas. Numa conversa gravada pela PF em novembro de 2008, Sebben diz que o “velho”, sócio dele e de Cachoeira nos EUA, propôs que fizessem uma oferta de US$ 2 milhões. “É excelente. Mas não podemos pagar mais do que dois”, afirma Cachoeira. Na mesma época, numa conversa, Cachoeira e Sebben avaliam a compra de um contrato da empresa Multimedia Games com a loteria de Nova York. Sebben calcula que o faturamento anual seria de US$ 10 milhões. Os planos de Cachoeira não tinham limites – financeiros, geográficos ou políticos.
Escuta de 27 de abril de 2011
Carlinhos Cachoeira e Demóstenes Torres 

Carlinhos Cachoeira pede a Demóstenes para ajudar o ex-governador de Tocantins Marcelo Miranda (PMDB) no Supremo Tribunal Federal, para que ele pudesse tomar posse como senador (nas eleições de 2010, Miranda foi o segundo mais votado do Estado, mas não pôde tomar posse por causa da Lei da Ficha Limpa).
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Demóstenes consulta Cachoeira sobre uma possível mudança de partido. O senador diz que pensava em deixar o DEM.
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Cachoeira estimula o senador a trocar o DEM pelo PMDB para se aproximar da presidente Dilma Rousseff.
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Escuta de 4 de maio de 2011
Carlinhos Cachoeira e Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Construções 

Cachoeira e Cláudio Abreu falam sobre o ex-governador de Tocantins Marcelo Miranda (PMDB-TO) – segundo mais votado para o Senado em 2010 – e a respeito do secretário de Relações Institucionais de Tocantins e ex-senador, Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO).
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Escuta de 18 de novembro de 2008
Carlinhos Cachoeira e Mauro Sebben, empresário 

Os dois conversam sobre negócios relacionados a uma loteria em Nova York.
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Cachoeira e Mauro Sebben falam da eleição de Maguito Vilela (PMDB-GO) para a prefeitura de Aparecida de Goiânia (GO) e a influência de Maguito no Banco do Brasil.
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Mauro Sebben fala a Cachoeira sobre a oferta de um barco de US$ 40 milhões. A ideia é comprá-lo para ser usado como cassino no Brasil.