O leilão do Banco Postal e o pescoço de Agnelli
No dia 3 de abril passado o Estadão perpetrou uma reportagem com toda a aparência de ter sido bem apurada. O título era “O que selou o destino de Agnelli para que ele perdesse o comando da Vale”.
A reportagem se vendia bem. Na abertura informava terem sido envolvidos na matéria 11 jornalistas - incluindo o diretor da sucursal de Brasília. Teriam sido ouvidos dois diretores e um ex-funcionário da Vale, três ministros, quatro parlamentares e dois advogados do sistema financeiro.
Depois dessa apresentação, afirmava taxativamente que o Bradesco tinha rifado o pescoço do presidente da Vale, Roger Agnelli, em troca da manutenção do seu contrato com os Correios, no Banco Postal e da parceria com o Banco do Brasil. Antes de ontem houve o leilão da concessão do Banco Postal. E o Bradesco perdeu para o Banco do Brasil. Obviamente, a notícia era falsa.
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O edital do leilão foi estruturado da seguinte forma: o vencedor teria de pagar R$ 500 milhões pelo direito de utilizar as 6 mil unidades dos Correios, mais R$ 350 milhões pelo direito de explorar produtos e serviços financeiros na rede e mais o lance que for vitorioso em leilão.
Somadas as três parcelas, o desembolso total do BB foi de R$ 3,15 bilhões. O prazo do contrato é relativamente curto – de 5 anos. Ao final, o vencedor poderá renovar, pagando o mesmo valor acrescido de juros do período.
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O Banco Postal tem a mesma função do correspondente bancário. Não permite nem conta corrente, fornecimento de talão de cheques ou compensação bancária. Hoje em dia há milhares de supermercados, farmácias, restaurantes, loterias e comércio em geral cumprindo essa função, sempre em parceria com um banco comercial.
No caso do Bradesco, são cerca de 29 mil correspondentes em todo país, sem contar os do Banco Postal.
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O Banco Postal começou a operar em 2001. Na época o Bradesco venceu o leilão como candidato único, pagando R$ 200 milhões. Em dez anos conquistou 5 milhões de clientes.
Até janeiro de 2012, o Bradesco continuará operando a parceria. O desafio do Bradesco será manter a clientela; o do BB, tirá-la do Bradesco.
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Para Alexandre Correa Abreu, vice-presidente do BB, a operação permite antecipar em cinco anos os investimentos que o banco iria fazer na ampliação da sua rede, atrás de dois focos: os clientes de baixa renda e a regionalização da economia.
Foi um investimento estratégico, embora de maturação lenta. Os Correios possuem 6.100 pontos, 2.500 deles em locais onde o BB não tem agência. O BB economizará tempo de implantação de tecnologia, montagem de pontos, contratação e treinamento de pessoas.
O BB possui hoje 55 milhões de clientes. Os estudos do banco indicaram que o Banco Postal tem potencial de 10 milhões de pessoas – 5 milhões dos quais já são correntistas do Bradesco.
O BB disputará com sua linha de produtos e com algumas linhas que só ele opera, como o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar ) e o Minha Casa Minha Vida para clientes de até 3 salários mínimos de renda.
O fator Agnelli
O mero fato de ter havido disputa e o BB ter vencido comprovava que era falsa a tese de que o Bradesco teria se curvado à pressão do governo no episódio Vale. Mas a versão passou a ser mais importante que o fato.
A matéria da Folha dizia que o «leilão surpreendeu o mercado e até a presidente Dilma Rousseff». Mais: «Por ser um negócio atrativo, todos esperavam que o Bradesco iria cobrir qualquer oferta para manter o negócio. O banco, aliás, concordou em tirar Roger Agnelli da presidência da Vale, em busca de apoio do governo em questões estratégicas como o Banco Postal». Embora desmentida pelos fatos, a versão foi mantida.
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