Classe média frívola


Marco Antonio Leite

Quanto à "selvageria" dos protestos, queria dizer o seguinte:
Quando um professor da USP faz um protesto, ao fazer seu cartaz com as reivindicações, ele se preocupa em colocar acento nas paroxítonas terminadas em ditongo crescente. E a polícia do Serra parte pra pancadaria.

Quando um morador da periferia se revolta, amigo, é a revolta de um povo oprimido por, no mínimo, cinco gerações. É uma revolta que não é "civilizada", "ordeira", ou "pacífica". Eles sabem que a polícia, em se tratando de pobres, vai sair atirando para todos os lados, e não só com bala de borracha.

Uma jovem de 17 anos foi morta com um tiro na nuca, ao estilo das execuções da ditadura na década de 70. Imagine-se o estado d'alma dessas pessoas. Eles vão queimar ônibus, sim, vão jogar pedras, sim. E se o Brasil não melhorar muito nos próximos anos, essa gente sofrida vai é pegar em armas e produzir uma gigantesca convulsão social. A única forma de evitar isso é melhorando muito à condição de vida da população pobre. 

Onde esta a Globo que fomentou a gritaria dizendo que bandidos estavam envolvidos na revolta popular, inclusive inventaram tal bilhete que dizia para a população participar do evento que receberia um cesta-básica, quanto sofisma.

O Tombo

Furor legiferante!

Trechos da coluna de Cesar Maia na Folha de SP

1. Uma regra que cabe bem na cultura política brasileira: Governar é fazer leis. O furor legiferante produz quatro efeitos: a sensação de solução dos problemas; as relações de clientela com parlamentares; parques de diversões para os escritórios de advocacia; e riscos de uso de resíduos legais, em outro tempo.

2. Em relação a esse último efeito, há um caso clássico: a Teoria dos Resquícios Legais do jurista chileno –Eduardo Novoa- ao analisar a estatização de Allende. Novoa foi seu constitucionalista. Eram tantas as leis aprovadas por anos, e tantos dispositivos de leis esquecidos, que Novoa fez uma busca neste emaranhado residual. Viu que poderiam ser agrupados de forma a lhes dar consistência. E então, aplicados administrativamente como regulação especial e com garantia de constitucionalidade. Ele partiu dos dispositivos esquecidos pelos governos seguintes, dos decretos-leis que o Coronel Marmaduke Grove, em sua revolução socialista de 1932, aplicou nos dias que governou.

3. O primeiro efeito é exemplificado pelo entusiasmo na constituinte de 88, onde cada dispositivo aprovado era aclamado com a certeza de um problema resolvido. A cada crise –na segurança, na saúde, na economia,etc; - criam-se leis como solução, ou como esperteza, para ganhar tempo e criar expectativa. O segundo efeito é o envolvimento dos governos na aprovação de novas leis. Esse festival vira um jogo de barganhas para formar maiorias. Essa é a razão maior dos "mensalões", descobertos ou não. O terceiro efeito é a teia de aranha de leis, abrindo espaços para a diversão e os ganhos dos escritórios de advocacia. Na maior, parte as fontes pagadoras são os governos. E com eles o engarrafamento de ações no judiciário, acúmulos no STF, e o encilhamento de precatórios.

4. A quantidade de leis aprovadas pelos legislativos, sem ocorrer sistematizações periódicas, com limpeza de resíduos inócuos, contraditórios ou superados, produz no Brasil uma rede de possibilidades exóticas, para os governos, para as pessoas e advogados, e dificulta a dinâmica judiciária. Uma revisão dessa cultura legiferante traria naturalmente muito mais governabilidade: sem custo. A atual crise econômica vem sendo superada sem a necessidade de lei nova. Mas durou pouco. Para que lei do pré-sal? As que existem, servem. -É da minha natureza, diria o escorpião, na velha história.                                      

Drogas

Marco Antônio Leite 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu, em um artigo publicado neste domingo pelo jornal britânico "The Observer", que a guerra contra as drogas fracassou e que deveria haver um esforço internacional para promover a descriminalização dos usuários de maconha.

"Continuar a luta contra as drogas da mesma maneira seria absurdo. O que precisamos é de um debate sério que leve à adoção de estratégias mais humanas e mais efetivas para lidar com o problema global das drogas", escreveu Cardoso.

Segundo o ex-presidente brasileiro, a política linha-dura trouxe conseqüências desastrosas para a América Latina, onde milhares de pessoas perderam a vida em episódios de violência ligados às drogas, a pobreza aumentou e "a corrupção está ameaçando frágeis democracias".

Fernando Henrique Cardoso também afirmou que Argentina, México, Colômbia e Equador estão dando passos em direção à liberalização das leis antidrogas e que a mudança é "iminente" no Brasil.

Tratamento e prevenção

A solução, para Fernando Henrique Cardoso, estaria em deixar a política de repressão aos usuários de lado e investir em tratamento e prevenção.

"Está claro que a solução envolve uma estratégia de estender a mão, paciente e persistentemente, aos usuários, e não continuar travando uma guerra equivocada e contraprodutiva que transforma os usuários, em vez dos traficantes, nas principais vítimas", defendeu ele no Observer.

O artigo de Fernando Henrique Cardoso foi bem recebido por ativistas que defendem uma reforma das leis antidrogas, segundo o jornal britânico.

O ex-presidente brasileiro faz parte da Comissão Latino-americana sobre Drogas e Democracia, juntamente com os ex-líderes da Colômbia, César Gaviria, e do México, Ernesto Zedillo.

O grupo tem negociado com o governo americano uma mudança na condução de sua política de combate às drogas.

Vôo


Tenham uma abençoada semana... MILUZ - poesia de MirnaMSCardoso

MEIO PONTO

A falta dele pode configurar a perda de uma grande oportunidade, o adiamento do sonho de um carnaval ou a conquista daquele campeonato.

Conquistá-lo, às vezes, implica ascender utopicamente na busca do desejo alentado e contido.

Atribuir-lhe um valor real é exercitar coerentemente a contextualização dos termos conjunturais.

Ele é demasiadamente pequeno e, por ser somente e nada mais do que a metade de um todo, revela-se aparentemente tão desimportante.

Sua função oscila entre o útil e a futilidade.
Pronunciá-lo, não raro, é quase uma indecorosidade.
Dada a sua pouca diferença na equação dos resultados globais, há quem o despreze.

Mas tem lá, ele, a sua importância.
Nas artes plásticas, sobretudo, requer-se habilidade e delicadeza para executá-lo.

Aí, ele se sobrepõe ao inteiro.
Literalmente, por inteiro.
E tem-se a perfeição expressa numa tela.

Na economia, o seu percentual de corte suscita críticas e elogios.
O mercado ou ataca ou defende o Copom por causa dele.
Os analistas o classificam como ponto de equilíbrio – para uns ou de conservadorismo – para outros.
Há os que o condenam e por isso o aboliram nas escolas.
Parte-se do princípio de que não faz sentido alimentar a ideia do homem pela metade.
Por conseguinte, é impossivel pensar-se no meio-advogado ou no meio-engenheiro.
Na vida o meio termo gera a dúvida e a dúvida na vida, o mau profissional.

E o ganho ou a perda de uma vida que se projetou... de um projeto de vida perde o sentido.
Ou a gente sabe tudo ou desconhece e sabe nada.
Ou subimos ou descemos.
O elevador não pode estacionar entre um e outro andar.

O caminho tem que ser seguido.
Ele sempre e necessariamente conduz a um fim.
E para alcançar esse fim, muitos são os que o encontrarão ao longo da jornada.
Ainda que ínfimo, ele é capaz de possibilitar mudanças, revelar a beleza e fazer transbordar lágrimas – sejam estas de tristeza ou alegria, de prazer ou de revolta.

Certo mesmo é que não dá, ainda, para fingirmos que ele não faz parte do nosso dia a dia – essa palavrinha meio insignificante – ela que jamais terá a validade completa inerente aos termos completos: esse tal de “meio ponto...”

Lula dá nó na oposição

Pesquisas de opinião mostram que a privatização é um tema maldito para os entrevistados. De pouco adianta argumentar a favor da venda do antigo sistema Telebras, lembrando como eram raros e caros os telefones. Muitos avaliam que a privatização da Companhia Vale do Rio Doce foi um erro. Enfim, uma parcela significativa do eleitorado acredita que a privatização significou oportunidade de enriquecimento de grupos privados à custa do patrimônio público.

Ciente disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tira proveito desse sentimento no debate sobre as reservas de petróleo do pré-sal. Antes de continuar, um registro: Lula está convencido mesmo de que um modelo exploratório mais estatizante é o correto. Acredita na tese. Essa crença dá credibilidade ao seu discurso público. Ele fala porque acha realmente que está certo.

Logo, ao debater com a oposição os projetos que enviou ao Congresso propondo uma nova Lei do Petróleo, Lula navega num mar favorável. Encurrala a oposição. Não é casual o governador de São Paulo, José Serra, economizar palavras ao tratar do pré-sal. Serra quer dialogar com o eleitorado de Lula para ganhar a eleição presidencial do ano que vem. O tucano acredita que o modelo atual, menos estatizante, é melhor do que o proposto por Lula. No entanto, não deverá entrar de cabeça nesse debate.

O papel de contraponto a Lula acaba sendo feito por outras lideranças tucanas e democratas. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e o presidente do DEM, deputado federal Rodrigo Maia (RJ), abriram fogo publicamente.

Opinião: é um debate perdido do ponto de vista da oposição. Lula sabe disso. Ao rejeitar a retirada da urgência dos projetos que enviou ao Congresso, o presidente quer dar gás às críticas da oposição à sua proposta para o pré-sal. Isso tende a ser bom para a eventual candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).

Nas disputas políticas, ditar a agenda do debate é fundamental. Encontrar um assunto favorável, melhor ainda. Lula deu um nó na oposição. Parece que está difícil desatá-lo.

*

Lula x FHC

A estratégia de comunicação de Lula no pré-sal reforça a tese de plebiscito nas urnas em 2010 entre os oitos anos do petista e os oito anos do tucano Fernando Henrique Cardoso. Eleitoralmente, essa comparação é favorável ao atual governo.

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Kennedy Alencar, 41, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.