Se o ocaso da gestão Lula fosse escrito em pauta musical, se aproximaria do allegro agitato do último movimento do Concerto para Piano em Fá, de George Gershwin.

A iminência do fechamento das cortinas leva o ainda presidente a ocupar o que lhe resta de palco em ritmo frenético.
Os derradeiros refletores iluminam uma alma cuja agitação prenuncia o nascimento de um ex-presidente inconformado com o fim do espetáculo.

Bóia na atmosfera que antecede a posse de Dilma Rousseff uma roliça interrogação: até quando Lula conseguirá ficar longe da ribalta?

Na semana passada, no programa É notícia, da Rede TV, Lula foi inquirido sobre 2014. Perguntou-se se descartava a hipótese de re-re-recandidatar-se.

E ele: "Não posso dizer que não porque sou vivo. Sou presidente de honra de um partido, sou um político nato, construí uma relação política extraordinária".

Nesta segunda (27), a cinco dias do adeus, Lula foi reinquirido sobre o tema num café da manhã com os repórteres que cobrem o Planalto. Deu meia-volta:

Declarou que trabalha com “a ideia fixa de que a nossa companheira Dilma será outra vez a candidata à Presidência da Republica do Brasil".

Em que Lula acreditar, no Lula do “talvez” ou no Lula do “não, não, absolutamente”? Na dúvida, convém ao observador fixar-se na lição primeira da política.

Sempre que Lula soar como se dissesse algo absolutamente verdadeiro, o expectador deve se dar conta de que o melhor é não acreditar nesse tipo de afirmativa.

Neste seu penúltimo encontro com os holofotes, Lula revelou-se um ator à procura de uma nova peça. A ideia de repetir o papel não parece desagradá-lo:

"Quebrei tabu porque todo mundo dizia que era difícil governar o Brasil. Não achei difícil, achei até gostoso".

Lula acha que Dilma, uma presidente de sua cota pessoal, não fará feio. Por quê? Ela está familiarizada com o enredo.

"Conhece bem o conjunto da obra que está sendo feita no Brasil, os programas, os atores...” Entre eles, “boa parte dos ministros”, com os quais trabalhou.

Sobre as críticas à qualidade da equipe de sua pupila, disse: "Presidente da República é como técnico se futebol, você convoca quem tem".

Em verdade, Dilma convocou pouca gente. No atacado, escalou os convocados de Lula. No varejo, oficializou os jogadores da várzea partidária que a cerca.

Que técnico, no domínio das faculdades mentais, levaria à seleção da Esplanada Pedro Novais, o “craque” octagenário que o PMDB indicou para o Turismo?

Quanto aos soluços inflacionários que compõem o legado que deixa para sua pupila, Lula oscilou entre o otimismo e a desconversa.

Absteve-se de comentar a possibilidade de o Banco Central elevar os juros no alvorecer do “novo” governo:

"A dosagem do remédio dá quem tiver autoridade para cuidar do paciente". Considerou aceitável a previsão de uma taxa de 5,3% para 2011:

"Se a meta [de inflação anual] é 4,5%, e você pode [admitir uma margem de] dois pontos para mais ou dois para menos, qual é o problema? Estamos na meta".

Defendeu o salário mínimo de R$ 540. As centrais sindicais reivindicam R$ 580. Lula advoga o respeito à fórmula negociada com as mesmas centrais há quatro anos.

Acertou-se que o mínimo seria corrigido anualmente pela inflação, acrescida da variação do PIB. O diabo é que, em 2009, a economia murchou.

Daí a choradeira do sindicalismo. Para Lula, “os companheiros sindicalistas” não podem desejar que o acordo só valha “quando é para ganhar mais”.

No front externo, Lula esculachou Barack Obama, o companheiro que o chamara de “o cara”. Criticou a política dos EUA para a América Latina e o Oriente Médio.

Disse ter aconselhado Obama a modificar o tratamento aos países latinos. Acha que "sempre houve uma relação de império com os países pobres".

Contabilizou em 35 milhões os latino-americanos que vivem nos EUA. A despeito disso, sob Obama "não mudou nada a visão deles para a América Latina".

Quanto ao Oriente Médio, afirmou que os EUA "são parte do conflito". Acha que não haverá avanços enquanto não forem admitidos na mesa novos atores.

Considera inconcebível, por exemplo, que os belicosos Irã e a Síria não participem das negociações de paz.

A propósito, acomodou o malogrado acordo firmado por Brasil e Turquia com o Irã no rol dos grandes feitos de sua gestão. Atribui o malogro aos EUA: “De repente...”

“...Um país do 3º Mundo, como eles sempre consideraram o Brasil, consegue do Irã o que eles nunca conseguiram. Deve ter causado certa inveja, ciumeira, sei lá o quê".

No mais, vergastou a mídia, atribuiu ao acidente da TAM relevo maior que ao mensalão, e reiterou o lero-lero de que vai “desencarnar” da presidência antes de retormar suas atividades políticas.

Reafirmou que fará um instituto e um memorial. Desencarnado, vai "retomar a atividade política, dentro e fora do PT".

Ou seja: até 2014, sua sinceridade e a paciência de Dilma serão submetidas a incontáveis testes.

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por Josias de Souza 

Resposta do ministro Jorge Hage a editorial de balanço da revista [in]Veja

Brasília, 27 de dezembro de 2010.

Sr. Editor,

Apesar de não surpreender a ninguém que haja acompanhado as edições da sua revista nos últimos anos, o número 52 do ano de 2010, dito de “Balanço dos 8 anos de Lula”, conseguiu superar-se como confirmação final da cegueira a que a má vontade e o preconceito acabam por conduzir.

Qualquer leitor que não tenha desembarcado diretamente de Marte na noite anterior haverá de perguntar-se “de que país a Veja está falando?”. E, se o leitor for um brasileiro e não integrar aquela ínfima minoria de 4% que avalia o Governo Lula como ruim ou péssimo, haverá de enxergar-se um completo idiota, pois pensava que o Governo Lula fora ótimo, bom ou regular. Se isso se aplica a todas as “matérias” e artigos da dita retrospectiva, quero deter-me especialmente às páginas não-numeradas e não-assinadas, sob o título “Fecham-se as cortinas, termina o espetáculo”. Ali, dentre outras raivosas

adjetivações (e sem apontar quaisquer fatos, registre-se), o Governo Lula é apontado como “o mais corrupto da República”.

Será ele o mais corrupto porque foi o primeiro Governo da República que colocou a Polícia Federal no encalço dos corruptos, a ponto de ter suas operações criticadas por expor aquelas pessoas à execração pública? Ou por ser o primeiro que levou até governadores à cadeia, um deles, aliás, objeto de matéria nesta mesma edição de Veja, à página 81? Ou será por ser este o primeiro Governo que fortaleceu a Controladoria-Geral da União e deu-lhe liberdade para investigar as fraudes que ocorriam desde sempre, desbaratando esquemas mafiosos que operavam desde os anos 90, (como as Sanguessugas, os Vampiros, os Gafanhotos, os Gabirus e tantos mais), e, em parceria com a PF e o Ministério Público, propiciar os inquéritos e as ações judiciais que hoje já se contam pelos milhares? Ou por ter indicado para dirigir o Ministério Público Federal o nome escolhido em primeiro lugar pelos membros da categoria, de modo a dispor da mais ampla autonomia de atuação, inclusive contra o próprio Governo, quando fosse o caso? Ou já foram esquecidos os tempos do “Engavetador-Geral da República”?

Ou talvez tenha sido por haver criado um Sistema de Corregedorias que já expulsou do serviço público mais de 2.800 agentes públicos de todos os níveis, incluindo altos funcionários como procuradores federais e auditores fiscais, além de diretores e superintendentes de estatais (como os Correios e a Infraero). Ou talvez este seja o governo mais corrupto por haver aberto as contas públicas a toda a população, no Portal da Transparência, que exibe hoje as despesas realizadas até a noite de ontem, em tal nível de abertura que se tornou referência mundial reconhecida pela ONU, OCDE e demais organismos internacionais.

Poderia estender-me aqui indefinidamente, enumerando os avanços concretos verificados no enfrentamento da corrupção, que é tão antiga no Brasil quanto no resto do mundo, sendo que a diferença que marcou este governo foi o haver passado a investigá-la e revelá-la, ao invés de varrê-la para debaixo do tapete, como sempre se fez por aqui.

Peço a publicação.

Jorge Hage Sobrinho

Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União

Uma "Dama de Ferro" na presidência

Dilma Rousseff, uma economista de 63 anos com um perfil mais técnico que político, assumirá no dia 1º de janeiro o lugar de seu mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, para se tornar a primeira presidente do Brasil.

Seu governo recebe um Brasil como uma das potências emergentes mais promissoras da próxima década, onde a figura de Lula parece estar diretamente ligada a este período de bonança econômica e desenvolvimento social.

Dilma ganhou a fama de funcionária eficiente e por sua personalidade forte, de "Dama de Ferro", nos ministérios de Minas e Energia e na Casa Civil que ocupou no governo Lula, mas era praticamente uma desconhecida para a maioria da população há um ano, quando o líder a impôs como candidata presidencial do Partido dos Trabalhadores (PT).

Dilma Vana Rousseff nasceu no dia 14 de dezembro de 1947 em Belo Horizonte, filha do advogado búlgaro Pedro Rousseff, naturalizado brasileiro, e da dona de casa Dilma Jane Silva.

Adquiriu o gosto pela leitura influenciada por seu pai, filiado ao Partido Comunista Búlgaro e um habitual dos círculos de leitura, que no final dos anos 1930 teve que se exilar, deixando em seu país uma esposa e um filho, com quem a presidente eleita manteve contato por carta até sua morte, em 2007.

Suas inquietações políticas despertaram pouco depois do golpe de estado de 1964 que instaurou a ditadura militar, quando Dilma começou a estudar no Instituto Estadual de Belo Horizonte, onde existia um forte movimento estudantil.

Foi lá que ela começou seu ativismo político e fez parte de vários grupos armados que operavam na clandestinidade contra a ditadura.

Conhecida pelas autoridades militares como a "Joana d''Arc" da guerrilha, Dilma foi detida em 1970, torturada e presa até o fim de 1972, condenada por subversão.

Após o período, o mais obscuro de sua biografia, Dilma estudou economia e ocupou vários cargos administrativos no Rio Grande do Sul, onde desenvolveu sua atividade profissional até que Lula a chamasse no final de 2002 para ser ministra de Minas e Energia em seu primeiro mandato.

Ao contrário de Lula, Dilma mantém uma atitude muito mais discreta e comedida, fala pouco sobre sua vida particular e evita brincadeiras, uma prática recorrente nos discursos do atual líder.

A futura presidente faz questão de manter sua privacidade, inclusive quando nasceu seu primeiro neto, Rafael, filho de sua única filha, Paula, em setembro deste ano e em plena campanha eleitoral.

Dilma também não abandonou suas responsabilidades como ministra da Casa Civil quando, em abril de 2009, anunciou ter câncer linfático e que se submeteria a um tratamento de quimioterapia. Após passar meses usando peruca, em setembro do mesmo ano anunciou que tinha superado a doença.

Quem a conhece ou já trabalhou com Dilma a descreve como uma pessoa de personalidade forte e autoritária, além de eficiente, pragmática e com capacidade de liderança.

Suas preferências gastronômicas (arroz, feijões, carne) são tão simples quanto seus hobbies (assistir a filmes, visitar museus e passar tempo com a família), o que não ocorre com muita frequência.

A imprensa de Brasília conta que, como braço direito de Lula na Casa Civil, suas broncas já foram motivo para choros de funcionários e até provocaram a demissão de um ministro, fato que ela nega.

"O que é difícil não é meu temperamento, mas minha função. Devo resolver problemas e conflitos. Sem descanso. Não me criticam por ser dura, mas por ser mulher", declarou uma vez.

Dilma sabe que a sombra de Lula, que tem popularidade de 87%, estará presente durante todo seu mandato e que as comparações serão constantes, tanto na imprensa como por parte da sociedade civil e da classe política.

Lula a escolheu como sua sucessora, mas há uma grande diferença entre eles com relação à sociedade, pois enquanto o presidente conquistou a massa, Dilma terá que se esforçar para governar com eficiência e sem transmitir a imagem de "Dama de Ferro".

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A posse da presidente Dilma Rousseff vai reuniu pelo menos 47 autoridades estrangeiras de acordo com o Itamaraty


Foto: DivulgaçãoA  presidente da Argentina, Cristina Kirchner, avisou que vai enviar como seu representante o chanceler Héctor Timerman. Já os presidentes de outros países da América Latina como Uruguai, Costa Rica,  El Salvador,  Guatemala,  Venezuela, Bolívia e  Paraguai, entre outros, já confirmaram presença.

A cerimônia acontece no dia  1º de janeiro  a partir das 14h30 com um desfile em carro aberto ou fechado, opção do veículo vai depender das condições climáticas. A presidenta e o vice-presidente eleito, Michel Temer, desfilarão pelas ruas de Brasília. Dilma vai passar pelo Congresso, o Palácio do Planalto e, por último recepcionará os convidados brasileiros e estrangeiros no Itamaraty. A previsão inicial é que as festas terminem por volta das 21h.

Para a recepção dos convidados, no Itamaraty,  vai ser oferecido um coquetel. O vinho escolhido é da vinícola gaúcha Casa Valduga, que venceu a licitação feita pelo Ministério das Relações Exteriores. A empresa é sediada em Bento Gonçalves, a 120 quilômetros da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.


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Ex-blog do Cesar Maia

MÉXICO: UM ESTADO ENCURRALADO ENTRE TRÁFICO, ZETAS, POLÍCIA, EXÉRCITO, MILÍCIAS, DEA!


Cesar Maia

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Trecho do artigo de Ignacio Ramonet (21), no Le Monde Diplomatique.

1. Há uma guerra interna no México. Ou melhor, três guerras. Numa delas, diferentes cartéis do narcotráfico combatem pelo controle territorial; em outra, grupos Zetas (organizações mafiosas, constituídas por ex-militares e antigos policiais) especializam-se em sequestros e extorsões contra a população; a terceira provém da opressão e abusos cometidos pelos militares e forças especiais contra os civis. Nessas guerras, o número de mortos provocados por elas desde 2003 chega próximo dos 30 mil.

2. O México parece cada vez mais com um "Estado encurralado", preso em uma armadilha mortal. Todos os tipos de agressores armados desfilam pelo país: as forças especiais do exército e os comandos de elite da polícia; bandos de paramilitares e para-policiais; clãs de assassinos e gangues de todos os tipos; agentes norte-americanos da FBI, CIA e da DEA; e por fim os Zetas, que persistem na perseguição dos imigrantes latino-americanos, na travessia em direção aos Estados Unidos.

3. A cada ano, cerca de 500 mil latino-americanos atravessam o México em direção ao "paraíso norte-americano", mas antes de alcançá-lo, seu percurso assemelha-se ao inferno. Ataques sucessivos de hordas predatórias depenam-nos no decorrer da trilha, com roubos, sequestros, violações… Oito mulheres entre dez são vítimas de abusos sexuais; grande parte delas é transformada em "serventes escravizadas" por bandos criminais, ou contratadas como prostitutas. Centenas de crianças são arrancadas de seus pais e obrigadas a trabalhar nos campos clandestinos de maconha.

4. Milhares de imigrantes são sequestrados e para liberá-los, os Zetas exigem de suas famílias o pagamento de um "regaste". "Para as organizações criminais é mais fácil sequestrar durante alguns dias alguns desconhecidos em troca de 300 a 1500 dólares cada um, que correr o risco de sequestrar um grande patrão." Se ninguém é capaz de pagar o regaste dos sequestrados, eles são simplesmente liquidados.

5. Cada célula dos Zetas possui seu próprio carrasco, muitas vezes responsável pela decapitação e esfolamento dos corpos das vítimas, até por queimá-los dentro de barris metálicos. No decorrer da última década, cerca de 60 mil imigrantes ilegais, cujos familiares não puderam quitar o resgate, "desapareceram" dessa forma…

6. Por outro lado, o governo de Obama considera que o banho de sangue que submerge o México ameaça ser um grande perigo para a segurança norte-americana. A chefe da diplomacia, Hillary Clinton, não hesitou em declarar: "A ameaça que representam os narcotraficantes está crescendo; parecendo cada vez mais com a de grupos de insurgentes políticos (…) O México começa a parecer cada vez mais com a Colômbia dos anos 1980."

7. O poder mexicano continua batendo na tecla de que nos últimos anos o viés militar foi a única solução para a desordem e a violência do país. Resultado: cada vez mais os cidadãos parecem concordar com as decisões dos militares diante da situação vigente… Uma solução encorajada sem dúvida pelo Pentágono, apesar de o Departamento e Estado e a Presidência do EUA manterem a velha retórica dos "princípios democráticos".

8. São as máfias norte-americanas que tiram a maior vantagem de todo o narcotráfico latino-americano: cerca de 90% do lucro total, 45 bilhões de euros por ano… Enquanto todos os cartéis da América Latina juntos compartilham apenas os 10% restantes…

                                                * * *

SEGUNDO TURNO DILMA DIZ QUE É CONTRA O ABORTO!

Terceiro turno. Sua ministra da mulher, Iriny Lopes, escolhida a dedo por ela, mesmo antes de assumir já diz que não é bem assim, em entrevista na Folha de SP (27).
 
FSP- A sra. fala sobre o aborto? Sim. Temos a responsabilidade no zelo da saúde pública, dentro da lei, de não permitir nenhum risco às mães.
 
FSP- A sra. tem uma posição pessoal sobre o assunto? Minha posição é que temos que ter muitas políticas de prevenção e de esclarecimento. Agora, eu não vejo como obrigar alguém a ter um filho que ela não se sente em condições de ter. "Ah, é defesa do aborto..." Ninguém defende o aborto, trata-se de respeitar uma decisão que, individualmente, a mulher venha a tomar.

                                                * * *

COCAÍNA QUE SAI DO BRASIL ATRAVÉS DO NORTE DA ÁFRICA PAGA PEDÁGIO À AL-QAEDA!
                
(Estado SP, 28) 1. A droga que sai do Brasil na direção à Europa é um dos pilares do financiamento da rede terrorista Al-Qaeda. Isso é o que revela uma investigação feita pelo governo da Argélia obtida com exclusividade pelo Estado. Ele mostra que, cada vez mais, o norte da África tem se transformado em um dos motores das finanças do grupo terrorista. Entre as maiores fontes de renda hoje da organização está a cobrança de "pedágio" para os carregamentos de drogas vindos dos portos brasileiros, que têm a Europa como destino final.  
                
2. Segundo a Interpol, as novas rotas passam pelos portos brasileiros. Santos e os portos do Nordeste seriam os mais utilizados. Em 2009, por exemplo, cerca de 10% de toda a droga que chegou à Europa de navio e 40% da que chegou à França usou o Brasil como rota, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC).
                
3. A caminho da Europa, porém, essa droga passaria pelo norte da África e, lá, encontram grupos dispostos a ajudar fazer a mercadoria chegar até os europeus. Um dos principais grupos que se beneficiam desse "serviço" seria a AQMI, o Al-Qaeda no Magreb Islâmico, com cúpula da organização na Argélia, Marrocos e Tunísia.
                
4. O Escritório Nacional Argelino para a Luta contra a Droga, afirmou que, em 2008, 240 toneladas de cocaína haviam sido apreendidas no país, antes de ser levada à Europa. Em 2009, 52 toneladas foram identificadas apenas no Deserto do Sahel, no sul despovoado do país.   Segundo ele, o produto viria do Brasil, Peru e Colômbia e ao usar o norte da África como rota para a Europa, deixava milhões de dólares para a Al-Qaeda. "A comunicação entre os traficantes de drogas e os terroristas ocorre na região do Sahel", afirmou.

                                                * * *

DEA (AGÊNCIA ANTIDROGAS DOS EUA) É HOJE UMA REDE GLOBAL DE INTELIGÊNCIA!

(WikiLeaks - New York Times - La Nacion, 27) 1. A DEA possui 87 escritórios em 63 países e trabalha em estreita colaboração com os governos, que preferem manter a CIA a uma certa distância. Devido à presença global do flagelo da droga, a DEA tem acesso aos governos, incluindo os que mantêm relações tensas com os EUA. Vários querem tirar vantagem da capacidade tecnológica da agência indo além do foco das drogas.

2. No Panamá, mensagem urgente do presidente pedia ao embaixador dos EUA que a DEA grampeasse seus inimigos. Em Serra Leoa, uma importante investigação judicial por tráfico de cocaína esteve a ponto ser desativada porque o procurador geral pretendia 2,5 milhões de dólares de suborno. Os altos comandos das forças armadas mexicanas levaram a DEA pedidos pessoais de colaboração, confessando sua desconfiança nas forças policiais do país.

3. Na Guiné, o maior capo do narcotráfico era o filho do presidente, e diplomatas dos EUA descobriram que antes de uma gigantesca incineração de cocaína capturada pelas autoridades, esta havia sido substituída por farinha. Os cabos enviados desde Myanmar, alvo de estritas sanções dos EUA, revelam os informantes da DEA, enviavam informações tanto de modo que a junta militar se enriquecia com o dinheiro da droga como das atividades políticas dos opositores da junta.

4. Desde o '11 de Setembro', os altos funcionários da agência sublinham a existência de um vínculo cada vez mais extenso entre o narcotráfico e o terrorismo, o que justificaria sua maior presença no exterior.

                                                * * *

DEA DIZ QUE ÁFRICA OCIDENTAL CAI NAS MÃOS DOS NARCOTRAFICANTES!

(WikiLeaks - El País, 27) 1. Filhos de presidentes convertidos em grandes capos. Ministros e comandos militares que protegem gigantescos envios de drogas. Portos e aeroportos controlados pelos cartéis. Vistosas incinerações de cocaína que na verdade eram farinha ou detergente. O panorama que enfrenta a DEA na África Ocidental não pode ser mais desalentador, lendo os cabos emitidos por várias embaixadas da região. As unidades de segurança pública têm sido cooptadas pelo narcotráfico.

2. Alguns países, como Guiné-Bissau "são presas de organizações criminais oportunistas e sofisticadas". Outros como Serra Leoa ou Libéria, se defendem como podem. Mas no conjunto, "O tráfico de drogas está aumentando, e sem uma vontade política forte para combater o flagelo, a África Ocidental será incapaz de deter essa maré perigosa", informa a embaixada dos EUA em Serra Leoa em abril de 2009.

3. O embaixador dos EUA em Guiné Conakry, Phillip Carter, em maio de 2008, informou que seu interlocutor o primeiro ministro Lansana Kouyaté "se levantou da cadeira, antes de explicar que Ousmane Condé, filho do presidente, era de fato o principal narcotraficante". Um avião vindo da Venezuela ou Colômbia foi interceptado em Faranah, mas pouco depois a tripulação e o carregamento de cocaína foram liberados. O chefe da polícia, quando questionado, informou que a operação estava dirigida pelo filho do presidente.

4. Guiné Conakry se acerca de Guiné Bissau "este, o primeiro narco-estado emergente na África". Aí nem há necessidade de simulação de incineração de cocaína como na Guiné Konakry. Outro cabo da embaixada dos EUA no Senegal diz que "as unidades de segurança pública estão cooptadas pelo narcotráfico". Na frente dessas redes estão o ministro da defesa e o chefe das forças armadas. Não há provas contra o presidente João Vieira, mas este prefere "olhar para o outro lado".

5. Os cabos da embaixada dos EUA em Accra -capital de Gana- são igualmente sombrios. Os responsáveis da Nacob -agência antidrogas local- não veem a droga passar diante de seus narizes e em suas agendas foram identificados os telefones dos principais capos.

                                                * * *

ARGENTINA: EXPOSIÇÃO DAS CRIANÇAS AOS PROGRAMAS DE TV!

Trecho do artigo do diretor de programa de educação do Cippec - La Nacion, 27.

Segundo a última pesquisa sobre cultura de consumo do COMFER, 95% das crianças de 6 a 13 anos assistem a mais do que duas horas diárias de televisão; 36,5% assistem de duas a quatro horas por dia; 41,2% de quatro a oito horas; e 17,5% assistem a oito ou mais horas de televisão diariamente. Isso significa que mais da metade das crianças passa mais horas vendo televisão do que na escola. Um levantamento da Fundação Telefônica mostra que mais de 50% das crianças ligam a TV assim que chegam em casa, e que 49% fazem os deveres assistindo TV, os índices mais altos entre os sete países da América.
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José Alencar não quer perder a posse de Dilma Rousseff


Internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, o vice-presidente José Alencar não quer perder a posse da presidente eleita Dilma Rousseff, no próximo sábado (1º). Porém, de acordo com os médicos, não há previsão de alta.

O médico Roberto Kalil Filho afirmou nesta segunda-feira (27) que não recomenda que o vice-presidente José Alencar vá à cerimônia de posse da presidente eleita e do vice-presidente Michel Temer, no próximo sábado (1º), em Brasília.

Kalil Filho, que faz parte da equipe responsável pelo tratamento de Alencar, disse que, na opinião dele, o vice-presidente não tem condições, no momento atual, de comparecer à solenidade.

O vice-presidente está internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) desde a última quarta-feira (23), quando passou por uma cirurgia de emergência por causa de hemorragia digestiva grave.

De acordo com o médico, o quadro de saúde de Alencar é estável. Ele é submetido a sessões de hemodiálise.

 

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Staub vê Lula estadista e declara voto

Nos últimos meses, o empresário Eugênio Staub, 60, presidente da Gradiente, uma das maiores empresas do setor eletroeletrônico do país, viveu um dilema. Amigo há quase 20 anos do candidato à Presidência José Serra e eleitor histórico do PSDB, ele estava dividido entre votar no tucano ou no petista Luiz Inácio Lula da Silva. Há um ano, ele mantinha conversas frequentes com Lula. Poucos tinham conhecimento disso. Os dois discutiam um projeto econômico para o Brasil.
Na semana passada, depois de assistir ao programa de Serra com ataques ao PT, ele comunicou ao PT que iria votar no Lula e que gostaria de tornar pública sua decisão. Na sexta-feira passada, Staub gravou um depoimento de 30 segundos para o programa eleitoral do PT, que foi ao ar na noite de sábado. Foi o primeiro grande empresário de São Paulo a declarar o apoio a Lula.
Em entrevista exclusiva, concedida à Folha depois de gravar sua participação no programa, Staub diz que tomou essa decisão por achar Lula, hoje, o candidato com melhores condições de elaborar um projeto nacional aglutinando todos os segmentos da sociedade. “O Lula é o nome mais capaz de juntar empresários, trabalhadores e classe média”, diz Staub.
Folha – Por que o sr. decidiu votar no Lula?
Eugênio Staub – A questão é ampla. O Brasil está numa grave crise. Na verdade, o mundo está num momento de grave crise. Nós não sabemos se haverá uma guerra e que consequências poderá trazer essa guerra. O momento é extremamente crítico.
O governo Fernando Henrique Cardoso fez o papel dele e ele mesmo reconhece que há ainda muita coisa por fazer. E essas coisas a fazer são difíceis. Só podem ser conseguidas com união. Quem tiver uma visão mais míope disso vai dizer que o melhor candidato a promover essa união é aquele que tenha maior apoio do Congresso. Não é por aí.
Independentemente do partido, nós temos que fazer parte do PC no B, que é o Partido da Confiança no Brasil. Nós temos que restituir a auto-estima do país. Eu tenho certeza que esse é o sentido do “Lulinha, paz e amor”.
O Lula falou uma coisa importante, de improviso, na casa do empresário Ivo Rosseti (Valisère), que, mesmo que o PT perca as eleições, iria continuar como um partido muito importante para ajudar a construir o país. Eu acho essa uma visão de estadista.
Folha – O sr. acha que o Lula reúne mais condições do que o Serra?
Staub – As pessoas podem ficar assustadas com essa afirmação, por todas as razões que a gente conhece, mas o Lula tem essa visão de estadista. Por outro lado, o José Serra, que eu conheço até muito melhor, há 18 anos, e respeito e gosto, que é competente, inteligentíssimo, eficiente, obsessivo nas coisas que faz, não é o nome que reúne hoje as melhores condições para conseguir essa união da sociedade.
O cargo de presidente da República exige uma pessoa 100% política, já o cargo de ministro, dependendo do ministério, é 50% político e 50% técnico, e daí para baixo é técnico. Nós temos de ter um político na Presidência.
Um dos melhores presidentes que tivemos foi o Juscelino Kubitschek. Ele era 100% político. Fez Brasília, fez estradas, fez a indústria automobilística. Ele era um estadista, um político, uma pessoa que somava, que perdoava os inimigos, tinha uma visão estratégica para o país.
Hoje nós não temos mais visão estratégica para o país, não temos mais planejamento e vivemos numa grande crise interna e externa. É a hora de unir o país e é hora de pôr na Presidência um candidato com visão estratégica.
Folha – O Lula é essa pessoa?
Staub – Eu acho que os historiadores vão reconhecer o Lula melhor do que nós hoje. O Lula saiu da situação de operário metalúrgico e conseguiu uma grande influência no cenário nacional nos últimos 25 anos. Ele está sempre presente e sempre crescendo.
A história vai registrar que ele construiu um partido coerente, um partido que tem um nível de integridade moral e ideológica acima dos demais, um partido que expulsa um membro que saia da linha. Eu não sou petista e não tenho pretensão de pertencer a partido nenhum, mas, se a gente olhar para a vida do Lula, não tem como não admirá-lo e, mais, não é justo tratá-lo com preconceito.
Se prestar atenção no que ele tem dito, conclui-se pela coerência e correção de quase a totalidade de suas afirmações.
Folha – O sr. já o tratou com preconceito?
Staub – Eu acho que todos nós, em algum momento, tivemos preconceito dele, até porque não o conhecíamos. Um empresário me falou que, após uma reunião com o Lula, disse a ele que pensava que ele fosse o pior dos seres humanos. Lula respondeu da seguinte forma: “Eu também, mas hoje estamos nos entendendo”.
Folha – Quando o sr. decidiu votar no Lula?
Staub – Eu sempre fui PSDB, sempre votei no PSDB, cheguei a dizer que iria votar no Serra, mas eu sentia desconforto com essa decisão por inércia, e, nos últimos dois meses, eu fui me convencendo de que numa situação tão crítica como essa nós precisávamos de um nome que transcendesse a coalizão dos partidos no Congresso. Eu estava sentindo esse desconforto e quando o PSDB lançou essa nova tática eleitoral, não sei se acertada ou não [de atacar o PT], eu achei que era o momento de apoiar um candidato que somasse. Qualquer um dos outros candidatos não vai ter a mesma condição de unir a nação em torno de um novo e dinâmico projeto estratégico. O Lula vai ter? Não sei, mas é o que tem mais chances.
Folha – O sr. não aprovou a nova tática de atacar o PT da campanha de Serra?
Staub – É uma operação de guerra. É uma tática que não se coaduna…talvez ele não tenha mesmo outra alternativa.
Folha – Como o sr. manifestou seu apoio ao Lula?
Staub – Eu já tinha conversado com o Lula. Eu disse a ele que, no momento certo, eu iria me sentir bem em declarar publicamente meu apoio à sua candidatura. Eu estava pensando até em juntar um grupo de empresários, mas acho que, como a maioria do empresariado está com Serra e o Serra aparentemente vai para o segundo turno, essa pretensão se tornou muito difícil. Então, consultei minha consciência e falei com a pessoa certa que está cuidando dos detalhes da programação da campanha.
Folha – O sr. não teme que essa sua adesão, agora, na reta final, seja confundida com oportunismo?
Staub – As interpretações de alguns companheiros poderão ser ruins, mas quem me conhece sabe que não estou fazendo isso para buscar alguma vantagem. Nem para a empresa nem para mim.
Folha – O sr. quer que Lula o ouça?
Staub – Não estou esperando isso. O que posso dizer é que estou muito impressionado com a preocupação do PT em ouvir o maior número de pessoas sobre o que deve ser feito. Esta é uma diferença muito grande dos outros partidos. Ultimamente, o PSDB faz reuniões com empresários para pedir dinheiro. O PT faz reuniões com empresários para pedir conselhos. Isso foi outra coisa que pesou nessa minha decisão. Você só constrói alguma coisa se você, além de falar, também ouvir. Eu vejo hoje no PT um respeito muito maior à opinião dos empresários do que nos outros partidos…
Folha – …inclusive no PSDB?
Staub – …inclusive no PSDB. O PSDB não é um bom partido de dialogar com os empresários. Ele não valoriza o diálogo com os empresários. O PT valoriza muito. No PT não tem nada a ver com “você me dá a opinião e quanto você vai doar para custear a campanha”. Não tem nada disso. Eles querem saber sua opinião e, se tiver uma dúvida, eles voltam e discutem. Já iniciou-se comigo um diálogo na preparação de alguns projetos. Eu recebi dois desses projetos antes de ir para publicação. Portanto, esse negócio de criar um projeto de consenso é uma coisa legítima. Não é uma enganação do Lula. Isto é uma coisa que pesou muito numa decisão como essa. Nós temos de pensar no “day after” e construir um novo projeto para o Brasil.
Para isso, é preciso de alguém com apoio político que transcenda o Congresso. As grandes mudanças feitas pelo Congresso na última década partiram da sociedade. E a mídia teve um papel importantíssimo nesse processo. O impeachment do Collor foi a sociedade que fez, e não o Congresso. A quase cassação dos senadores e a expulsão dos deputados são coisas da sociedade. O Lula é o mais capaz de juntar empresários, trabalhadores e classe média.
Folha – Para fazer um pacto?
Staub – Eu não falo em pacto porque se trata de uma palavra desgastada, mas é um pacto. Isto é que vai fazer o Congresso se mover. Há ainda muita desconfiança e preconceito de parte a parte. Hoje, eu acho que as desconfianças e os preconceitos estão mais localizados na elite. Você tem os xiitas do lado de lá e os xiitas, que ninguém fala, do lado de cá, do lado da elite. Os xiitas daqui são piores porque ainda têm dinheiro. Você precisa juntar os que estão entre esses dois extremos. Para isso, precisamos de um político, uma pessoa que enxergue isso, e não uma pessoa que tenha se atritado com todo mundo…
Folha – …como o Serra?
Staub – Não vou falar do Serra, mas não podem ser pessoas que tenham arestas. O Fernando Henrique tem grande aptidão para isso, mas não é mais elegível. Ele demonstrou isso quando disse que não precisa de ninguém formado para ser presidente. Isso desmente o candidato dele.
Fernando Henrique é uma dessas pessoas que enxerga o todo e conversa com todo mundo. Agora é a vez do Lula. O diploma é muito importante no início de uma carreira. Nessa idade que eu estou, que o Lula está, o que você aprendeu na vida supera o diploma. E, no caso específico do Lula, é até uma maldade dizer que ele ficou sem fazer nada durante esses últimos anos. Ele conhece o Brasil como muito pouca gente.
Qualquer assunto que se converse com ele, ele viu “in loco”. Ele conhece a coisa no chão do Brasil, enquanto outros conhecem fazendo PhD nos Estados Unidos, ou cursos em Harvard, ou ainda em gabinetes, que também são formas lícitas de adquirir conhecimento. O dele é um conhecimento prático. O Lula também é uma pessoa idônea. Eu conheço empresários que negociaram com ele, no calor das disputas sindicais, e todos acordos que fez ele cumpriu até o fim.
Folha – Como o sr. acha que essa sua decisão será recebida por seus colegas empresários?
Staub – Isso não vai ser muito bem compreendido, principalmente por pessoas do meu meio, pelo menos de imediato.
Folha – O sr. acha que não irá conseguir arrastar outros empresários a tomar essa mesma decisão?
Staub – Espero que muitos venham a dar esse passo, já que todos terão que dar no final.
Folha – O sr. foi um crítico do governo Fernando Henrique Cardoso. Não há, nessa sua decisão, um certo rancor com este governo?
Staub – Eu sempre tive muita afinidade com o PSDB e, num certo momento, passei a ser crítico da política econômica. Outras coisas são positivas. Em ciência e tecnologia houve um progresso. Em educação também, mas o governo está terminando e o momento é de olhar para a frente.
Folha – O sr. sempre criticou, por exemplo, o fato de o governo não ter feito uma política industrial.
Staub – Mas agora será feito. O próprio PSDB, se ganhar as eleições, vai fazer. As lições foram aprendidas. Não se trata de quem vai fazer política industrial ou não, e sim de quem vai botar o país nos trilhos. O “Lulinha, paz e amor” não é uma frase de efeito.
Folha – Uma das críticas que se faz ao Lula é o fato de ele não ter equipe econômica.
Staub – Quando Fernando Henrique foi empossado no Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco, ele nunca tinha tido atividade executiva. Ele tinha sido parlamentar e chanceler, mas teve visão política para chamar as melhores pessoas. Nenhum partido tem a melhor equipe, e equipe econômica não é tudo. Há uma distorção no país em achar que o ministro da Fazenda exerce funções de primeiro-ministro. Não é assim. O Ministério da Fazenda e o Banco Central são muito importantes para garantir a estabilidade econômica do país, mas o resto do governo é que vai fazer o resto.
Folha – Por que o Lula ainda causa tanto medo? Nas últimas semanas, o mercado vive um clima de pânico com a possibilidade de vitória do PT no primeiro turno.
Staub – O Lula não assusta os brasileiros. O Lula assusta uma parte dos brasileiros. Aqui, por exemplo, existe essa entidade chamada mercado. Tem Deus e o mercado. O mercado é constituído de dois tipos de grupos de interesses. Tem aquele que é investidor, nacional e estrangeiro, que está atrás do melhor negócio. E tem aquele que é o intermediário, que está atrás da volatilidade para obter o ganho.
O medo do primeiro grupo é o de que, com Lula, a remuneração do capital não seja mais tão boa como era. Isso é miopia. Miopia porque, se continuar do jeito que está, com juros nessas alturas, o país vai quebrar. Já o raciocínio do outro grupo, que influencia a mídia, é o de ganhar quando o dólar sobe muito ou cai muito.
O mercado tem essas duas metades e, por isso, tem interesses. Os interesses falam mais alto. Não estou dizendo que o mercado que se lixe, mas nós temos de construir novos fundamentos na economia em parceria com o mercado, até porque não se pode deixar de falar com os banqueiros. O objetivo é fazer o país voltar a crescer a taxas de 7% e fazer com que o mercado de ações passe a ser mais importante que o de renda fixa.
Nos países desenvolvidos, o maior interesse dos investidores não é nos juros que o Banco Central estabelece, e sim a Bolsa. Nós precisamos evoluir para isso.
Folha – O sr. não teme que o Lula, caso vença, abandone essa sua postura mais conciliadora?
Staub – Isso é outra falácia. Muitas pessoas me falam para eu ter cuidado com o Lula. Dizem que ele é um lobo vestido de cordeiro. Ouvi isso várias vezes nas últimas semanas. Isso não é um depoimento contra o Lula e sim contra o Brasil. A democracia brasileira não permite uma coisa dessas.
Outro dia um empresário americano me perguntou se o Lula não seria um novo Chávez [Hugo Chávez, presidente da Venezuela]. Com todo o respeito, mas o Brasil não é a Venezuela. O Brasil tem instituições, tem imprensa e esse negócio de que o Lula está enganando a todos nós e depois vai voltar a ser radical e só vai chamar para o governo a ala xiita do partido, que é minoritária, isso é impossível de acontecer. No dia seguinte, a mídia irá denunciar isso. Ninguém melhor sabe disso do que o Lula.
Folha – E como o Lula será recebido lá fora?
Staub – Acho que ele deve ser recebido com respeito. O único presidente que foi recebido duas vezes pelo Congresso americano foi João Goulart. O Brasil precisa ser respeitado. Nós temos uma grande desigualdade social, nós temos potencial de crescimento, e precisamos pagar essa dívida social. Isso até o mais radical político de direita de um país desenvolvido vai entender.
Folha – E se o Serra vencer? Com o sr. fica?
Staub – Se o Serra ganhar, ele será um excelente presidente, e tenho certeza que ele terá grandeza suficiente para entender meu ato.
Folha – Se convidado, o sr. aceitaria um cargo num eventual governo Lula?
Staub – Não é o momento de tratar disso, e sim de projetos. Tendo um projeto que faz sentido, o Lula irá buscar as pessoas mais competentes para isso e vai ter de estabelecer um diálogo permanecente entre iniciativa privada e governo. Estou muito feliz em participar dessa mesa pelo lado da iniciativa privada.
GUILHERME BARROSda Folha de S.Paulo