Feliz 2011! - "Receita de Ano Novo"


Desejo um extraordinário 2011! Um abraço, Delúbio Soares.




Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
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Briguilino


Turismo

Deixa as malas aí, vamos levar só as mochilas.

Em discurso de posse, Dilma prometerá “continuar mudança” iniciada por Lula


Neste 1º de janeiro a presidente eleita Dilma Rousseff cumprirá o longo ritual da posse que inclui, depois da primeira etapa do desfile em carro aberto e da subida da rampa do Congresso Nacional, a solenidade de posse propriamente dita, no plenário da Câmara dos Deputados, que sediará uma sessão do Congresso.
Dilma e Temer entram solenemente no plenário, ouvem a leitura do termo de posse, são declarados presidente e vice, e então Dilma fará seu primeiro pronunciamento como Presidente da República. Exatos oito anos antes, em janeiro de 2003, “mudança” foi a palavra de abertura do discurso de Lula, e o termo pontuou todo o pronunciamento. Afinal, a esperança havia vencido o medo – sustentou o então presidente. 

O modelo de crescimento estava esgotado, a sociedade já não aguentava “o fracasso da cultura do individualismo, do egoísmo, da indiferença perante o próximo” – pontificou Lula, prometendo uma cruzada contra a fome, três refeições por dia para cada cidadão, o combate à miséria... Era o marco zero do primeiro mandato, que já vai longe. 

Um cenário completamente diverso emoldura o primeiro pronunciamento de Dilma Rousseff: não o da mudança, mas o da continuidade. Os redatores da presidente acentuarão o novo compromisso: não mais o das três refeições ao dia, mas da erradicação da pobreza, como prometido na campanha. Dilma deixará claro seu pacto com a “continuidade da mudança” iniciada por Lula ao reforçar o compromisso com os mais pobres, com a estabilidade econômica e com os direitos e liberdades individuais. 

Mas olhando de perto o discurso de Lula em 2003 é impressionante o quanto se progrediu. Mas é também fácil notar onde não se avançou e quantos novos problemas se tornaram urgentes, provocados até pelo próprio crescimento. Entre os passivos antigos, salta aos olhos a segurança pública, e entre os novos, os gargalos da infraestrutura, como os dos aeroportos. Neste sábado será a vez de Dilma Rousseff lançar as bases de seu mandato que terão agora a força de compromissos de governo e que ficarão documentados pela história.

Christina Lemos, colunista do R7

2010 muitas lembranças, as boas ficarão

2010: ano dos blogs sujos, da bolinha de papel , da Dilma, do Lula e da direitona...

Esse foi dos anos mais duros – e mais ricos – na minha vida de jornalista, blogueiro e cidadão.

Fui a Johannesburgo, no meio de 2010, cobrir a Copa do Mundo. Adorei ver de perto a engrenagem do futebol – essa mega empresa mundial. E adorei, sobretudo, conhecer a África – ainda que de forma limitada, com as lentes embaçadas pelo espetáculo da bola.
Muitas lembranças boas ficaram.

Uma tarde de rugby no Soweto – o bairro negro tomado pelos torcedores brancos! Negros abriram suas casas para os brancos – muitos nunca tinham pisado ali. Cena inusual. Emoção verdadeira.

Depois, a  boa conversa com a bailarina que, durante o apartheid, dava aula de dança para negros e brancos, desafiando o regime racista. Detalhe: a bailarina era judia, ouvira do pai o que significava viver em guetos. Resistiu com a dança.

A visita ao Cabo da Boa Esperança, ou Cabo das Tormentas. As histórias de navegantes portugueses sempre me emocionam. Mar bravio, terrível. Paisagem maravilhosa. E a Cidade do Cabo tão linda. Quero voltar pra lá em breve.

Foram 50 dias longe de casa. E antes disso o ano já tinha sido cheio. De coisas boas. E de alguns sustos na vida familiar (já superados).

No primeiro semestre, fundamos o Centro de Estudos Barão de Itararé. Idéia do Altamiro Borges. Quando ele me ligou, no fim de 2009, com o convite para que eu entrasse na diretoria do Barão, cheguei a desdenhar: “Mas, Miro, pra que outra entidade na área de comunicação?” Ele me convenceu. E o Barão já fez muito. Foi no lançamento do instituto que surgiu a idéia de organizar um Encontro Nacional de Blogueiros. Idéia do Azenha – que viu esse movimento florescer nos Estados Unidos. E nós botamos em prática aqui no Brasil.
Foi uma delícia organizar o encontro. Primeiro, pelas reuniões. Todas elas no glorioso “Sujinho”, o bar-restaurante paulistano. Serra deve ter ficado sabendo, por isso resolveu chamar (acusar?) os blogueiros de ”sujos”. Assumimos o apelido, como uma medalha!
Mas o melhor foi ver o evento acontecer em São Paulo, no mês de agosto. 300 e tantos blogueiros de 19 estados. Uma trabalheira organizar isso tudo. Mas uma delícia conhecer tanta gente boa.

Logo depois,a pauleira da eleição. A mais suja da história: e aí a culpa não foi nossa. Era bola cantada. O embate entre Serra e Aécio já fora sujíssimo (todo mundo conhece os bastidores: dossiês, ameaças, “pó parar, governador” etc e tal). Quando Dilma disparou nas pesquisas, em agosto, era só esperar. Serra não decepcionou quem conhecia a fama dele – desde os anos 80. Foi uma campanha tensa, a mexer com os nervos e o estômago de qualquer um.

Tive a o orgulho e a felicidade de participar das batalhas – ajudando a desmontar farsas, e a iluminar um pouco o caminho: a bolinha de papel, o aborto, a gráfica dos panfletos…

Ex-blog do Cesar Maia

CAPILARIDADE DA PUBLICIDADE E A PRESSÃO SOBRE A IMPRENSA!


Cesar Maia

linha

1. Se os problemas financeiros enfrentados pela imprensa, no mundo todo, mostram uma taxa crescente de perecibilidade na grande imprensa -jornais, revistas, rádios, TVs- imagine-se em relação à pequena imprensa. A entrada pesada do governo Lula nos pequenos veículos (plano Gushiken, pré-mensalão, quando era ministro da propaganda), ao tempo que gerou um alivio, gerou um risco e um constrangimento, em caso de descontinuidade.

2. Nas pequenas cidades, a importância do rádio é muito maior. As repetidoras das redes nacionais de TV têm seus programas locais, cuja busca de patrocínio é sempre problemática. E os jornais de porte médio e pequeno porte nem se fala. O governo Lula multiplicou o gasto em propaganda (publicidade, patrocínios, eventos, marcas culturais e esportivas, promoções, papelaria...) que, somando tudo (empresas estatais, convênios com estados e municípios que têm item de propaganda...), deve ter alcançado cerca de 10 bilhões de reais em 2010, invisíveis, pois boa parte não é contabilizada como propaganda/publicidade.

3. Essa imensa capilaridade cria pressões e constrangimentos à pequena imprensa, pelo risco de "perder a publicidade". Os comunicadores populares têm que sublinhar seus testemunhais a cada release enviado pelo governo. A agência do governo federal deve ser replicada, etc. O TCU poderia avaliar, comparando os gastos em um e outro veículo, aqui e acolá para checar se os valores guardam relação com a comunicação ou com a política. E agora entram os blogs e afins, todos das redes "sociais" de militantes.

4. (Folha de SP, 28) "Quando Lula tomou posse, em janeiro de 2003, apenas 499 veículos de comunicação recebiam verbas de publicidade do governo federal. Agora, o número foi para 8.094. Esses jornais, revistas, emissoras de rádio, de TV e "outros" estão espalhados por 2.733 cidades. Em 2003, eram só 182 municípios. Só neste ano eleitoral de 2010, o dinheiro para publicidade de Lula passou a ser distribuído para 1.047 novos veículos de comunicação. A categoria "outros" inclui portais de internet, blogs, comerciais em cinemas, carros de som, barcos e publicidade estática, como outdoors ou painéis em aeroportos."

5. Chama a atenção o aumento do número de "outros". Em 2003, eram apenas 11. Agora, são 2.512. A informação do governo é que a maioria é composta por sites e blogs na internet.

                                                * * *

CRIME CONTRA O CORREDOR CULTURAL DO RIO!
                 
1. Pensando que o tempo levaria ao esquecimento, o Governo do Estado do Rio vendeu à Eletrobrás, ontem, um terreno na Avenida Chile, para aquela construir sua sede. É ilegal, e um crime contra o patrimônio histórico-cultural do Rio. A reação, um ano atrás, os levou a recuar. Agora -em meio às festas de final de ano- voltam suas garras de especuladores urbanos contra o centro histórico do Rio.
                 
2. Ações serão retomadas na justiça e os atuais diretores e conselheiros, já notificados extrajudicialmente, serão responsabilizados pelo fato e pelo valor pago, já que a Eletrobrás -sem poder construir- sofrerá prejuízo. Os novos diretores serão, da mesma forma, notificados extrajudicialmente e da mesma forma.
                 
3. Chamar de "vizinhança da Petrobrás e do BNDES" é como construir um prédio no Leme e dizer que é nas vizinhanças de Ipanema. Arghhh!!!!!
                 
4. (coluna Ancelmo-Globo, 29) "A Eletrobrás comprou ontem, por R$ 84 milhões, um terreno do governo fluminense na Avenida Chile. Lá, vai ser construída sua nova sede, na vizinhança da Petrobrás e do BNDES."

                                                * * *

HUGO MOYANO, LÍDER SINDICAL, PARA A ARGENTINA QUANDO QUER!

1. Com 66 anos, assumiu a confederação argentina dos trabalhadores do transporte em 2003, relegalizada por Kirchner. Em maio de 2004, no congresso que estabeleceu a unidade do movimento sindical em torno da confederação geral do trabalho -CGT-, assumiu a secretaria geral. Em 2009 é designado vice-presidente do partido justicialista (peronista), na província de Buenos Aires. Em 25 de agosto de 2010 assume a presidência, por doença do titular. Moyano para toda a Argentina quando quer. E já o fez várias vezes.

2. (Trecho do artigo de Beatriz Sarlo - La Nacion, 27) Ao contrário dos candidatos que são eleitos através de pesquisas, Moyano é o poder real: capitalista do sindicalismo, cujo capital são os bens adquiridos na obra social dos caminhoneiros, onde emprega uma força de trabalho pronta para operar. Eles o seguem porque são os funcionários mais bem pagos da Argentina. A Empresa Moyano & Filhos não tem antecedentes no sindicalismo local. O presidente do seu diretório decidirá como, quando e em que condições irão sentar em uma mesa de negociações com os empregadores e o Estado (o diálogo, anunciado no início deste ano, continua sendo só publicidade). Moyano é uma potência que fala com De Vido (ministro do planejamento), em seu próprio nome. Não precisa que lhe seja dada nenhuma autorização. Kirchner sabia disso. Moyanno só teme que as decisões judiciais avancem sobre o território livre, chamado de "Moyanolandia", por Graciela Ocanã, uma geógrafa que descobriu os abismos dessa fabulosa região.

                                                * * *

"ECONOMIA DE ESCALA REDUZ GASTOS NA ÁREA DE SAÚDE"!
                
1. Nos últimos anos, na área de saúde pública, como forma de superar os problemas, se tem entregado unidades de saúde pública -de postos a hospitais- à iniciativa privada via empresas, cooperativas ou OSs. Isso fraciona os custos do sistema, já que -pelo menos nos casos dos hospitais- as novas compras, os serviços..., passam a ser de responsabilidade de quem assume a gestão. Agora leia o que diz o presidente da AMIL -Edson Godoy Bueno- à coluna de Flávia Oliveira, no Globo de hoje.
                
2. "Na hora em que se integram (Samaritano e o Pró-Cardíaco), a um grupo que negocia milhares de leitos, só a economia de  compras rende 20%. No Pró-Cardíaco, os custos caíram R$ 1 milhão, de cara. É sensível a economia de escala. Em vez de comprar um tomógrafo, compramos 10,15. O Samaritano compra para 90 pacientes, nós para 4 mil. Com uma canetada, se gasta 20% menos. Depois quando aumenta o volume de compras, o grupo negocia preços ainda menores. Se compramos para mil leitos e passamos a comprar para 1.500, o fornecedor tem que dar desconto."   

                                                * * *

PARTIDO COMUNISTA FRANCÊS COMPLETA 90 ANOS!

Primeiro partido francês depois da Segunda Grande Guerra (28,6 % dos votos nas eleições de novembro de 1946), ainda foi apoiado por 20% dos franceses até aos anos 1970. Desde então, sofre forte queda, atingindo o fundo do poço nas eleições presidenciais de 2007: Marie-George Buffet, então Secretária Geral do PCF, teve apenas 700 000 votos (1,9 % do total), distante do candidato trotskista, Olivier Besancenot. Em 30 anos, perdeu ¾ de seus aderentes (oficialmente, 100.000 nos dias de hoje, dos quais 60.000 em dia com o pagamento de suas cotas) e a maior parte de seus parlamentares (17 deputados eleitos em 2007). Recebeu, nas eleições de 2007, apenas 4% dos votos dos operários. A CGT, antiga "corrente de transmissão" sindical, se distanciou do PCF há 10 anos. Dirige 28 cidades com mais de 30.000 habitantes (contra 72, há 30 anos).

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“Lula mostrou-se um estadista”, diz Eugênio Staub, o primeiro grande empresário a apoiar o petista há oito anos

No dia 23 de setembro de 2002, em meio à acirrada disputa presidencial entre Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra, o empresário Eugênio Staub, um tucano de carteirinha na época, concedeu entrevista à Folha de S. Paulo afirmando que Lula seria um estadista e declarando seu voto ao candidato petista.

Hoje, após pouco mais de oito anos e no apagar das luzes do segundo mandato de Lula, Staub não tem dúvidas em afirmar que acertou todas as previsões feitas há oito anos.
Naquela entrevista, Staub afirmava que Lula seria o único nome capaz de juntar empresários, trabalhadores e a classe média, o que provocou, na época, uma reação indignada de muitos dos seus pares.
“Não há dúvida que o Lula mostrou-se um estadista”, afirmou Staub ao iG. “Acertei sim todos os pontos daquela entrevista, até nos detalhes.”
Para Staub, Lula acertou, por exemplo, ao ter melhorado a projeção do País no cenário internacional, ao ter tomado decisões importantes no mercado interno, como na crise de 2008, quando transformou o tsunami numa marolinha, e, principalmente, na diminuição sensível da desigualdade social, com a incoporação de dezenas de milhões de pessoas no mercado de consumo, além de ter devolvido a auto-estima aos brasileiros.
Lula também mostrou-se um estadista, na responsabilidade fiscal e financeira. Não foi um irresponsável fiscal como muitos achavam”, afirmou Staub. “E, ao contrário do que as pessoas falavam há oito anos, sempre trabalhou muito, de forma incansável.”
Outro ponto que Staub destaca do governo Lula foi o de ter percebido que a grande alavanca para o desenvolvimento num País é o investimento público, coisa que, a seu ver, os americanos e os europeus só concluíram agora, após a crise de 2008.
O empresário afirma que é evidente que Lula não resolveu todos os problemas do País, mas promoveu um grande avanço. “Ele conhecia e conhece os problemas do Brasil como ninguém”.
Segundo Staub, há oito anos, Lula tomava posse em meio a muita desconfiança e desesperança dos empresários, e, agora, ele deixa o cargo consagrado tanto no meio empresarial como em todo o País.
O empresário diz que as mesmas previsões otimistas para Lula ele repete para Dilma Rousseff.
Dilma vai fazer um governo igual ou melhor que o de Lula“, diz Staub. “Dilma é uma pessoa muito competente e responsável e que vai construir sobre esse alicerce enorme que Lula fez”.
Para Staub, “Lula colocou o País numa trajetória positiva de crescimento e de melhora de todos os parâmtros importantes e Dilma vai dar sequência a isso”.
O detalhe é que a empresa de Staub, a Gradiente, não recebeu nenhum benefício durante os oito anos do governo Lula - “muito pelo contrário”, diz ele – e enfrenta hoje sérias dificuldades, que ele tenta reverter há alguns anos.  A empresa se encontra em recuperação extrajudicial e Staub promete anunciar em janeiro um plano para sua volta ao mercado em grande estilo.
Veja a entrevista de Staub à Folha em 2002 Aqui

Uma oportunidade para aprender jornalismo

Jornalismo para quem precisa

Leandro Fortes 


Há alguns dias, lancei na minha página do Facebook uma idéia que tenho acalentando há tempos, desde que encerrei um curso de extensão para uma faculdade privada de jornalismo, aqui em Brasília. O curso, de Técnica Geral de Jornalismo, reuniu pouco mais de 10 alunos, basicamente, porque era muito caro. Embora tenha sido uma turma de bons estudantes, gente verdadeiramente animada e interessada no ofício, me senti desconectado da real intenção do curso, que era de fazer um contraponto de método, opinião e visão ideológica a esse jornalismo que aí vemos, montado em teses absurdas, em matérias incompletas e mentirosas, omissas em tudo e contra todos, a serviço de um pensamento conservador, reacionário e golpista disseminado, para infelicidade geral, como coisa normal. Não é. E é sobre isso que eu queria falar enquanto ensinava, dia a após dias, os fundamentos práticos da pauta, da entrevista, da redação jornalística, da nobre função do jornalista na sociedade, no Brasil, na História.

Perguntei, então, no Facebook, o que estudantes de jornalismos e jornalistas formados achariam de eu transferir essas aulas para um espaço barato e democrático, capaz de levar esses conhecimentos a muito mais gente, sobretudo ao estudante pobre – e, quem sabe, credenciar também os pobres a brigar por uma vaga nas redações, que se tornaram ambientes muito elitistas. Encaretadas por manuais de doutrina e comportamento, adestradas pela conduta neoliberal dos anos 1990, quando passaram a responder diretamente pelas demandas do Departamento Comercial, as redações brasileiras se desprenderam da ação política, dos movimentos sociais, do protagonismo histórico a favor dos direitos humanos e da luta contra a desigualdade. Passaram, sim, a reproduzir um universo medíocre de classe média, supostamente a favor de uma modernidade pós-muro de Berlim, onde bradar contra privatizações e a adoração ao deus mercado passou a ser encarado como esquerdismo imperdoável e anacrônico.

Não por outra razão, os movimentos corporativos a favor da manutenção da obrigatoriedade do diploma de jornalista, que resistiram a todo tipo de investida patronal ao longo de duas décadas, foram definitivamente golpeados com o apoio e, em parte, a omissão, da maioria dos jovens profissionais de imprensa, notadamente os bem colocados em redações da chamada grande mídia. Vale lembrar que o jornalismo é, provavelmente, a única profissão do mundo onde existem profissionais que pedem o fim do próprio diploma. Há muitas nuances, claro, nessa discussão, inclusive porque há gente muito boa que, historicamente, se coloca contra o diploma, sobretudo velhos jornalistas criados em velhas e românticas redações, cenas de um mundo que, infelizmente, não existe mais.

Na essência, o fim da obrigatoriedade do diploma não é uma demanda de jornalistas, mas de patrões, baseada num argumento falacioso de liberdade de expressão – na verdade, de opinião –, quando a verdadeira discussão está, justamente, na formação acadêmica dos repórteres. E há uma distância abissal entre opinião e reportagem, porque a primeira qualquer um tem, enquanto a segunda não é só fruto de talento, mas de aprendizado, técnica e repetição.

Nas grandes empresas, o fim da obrigatoriedade do diploma coroou uma estratégia que tem matado o jornalismo: a proliferação de cursinhos internos de treinees, tanto para estudantes como para recém-formados, cuja base de orientação profissional é a competitividade a qualquer custo, um conceito puramente empresarial copiado, sem aparas, do decadente yupismo americano. Digo que tem matado porque esses cursinhos de monstrinhos competitivos relegam o papel universal do jornalista ao segundo plano, quando não a plano algum. A idéia de que o jornalista deva ser um profissional solidário, inserido na sociedade para lhe decifrar os dramas e transmiti-los a outros seres humanos passou a ser um devaneio, um delírio socialista a ser combatido como a um inimigo. Para justificar essa sanha, reforça-se o mito da isenção e da imparcialidade de uma mídia paradoxalmente comprometida com tudo, menos com a sua essência informativa, originalmente baseada no universalismo e no compromisso com o cidadão.

Na outra ponta, o fim da obrigatoriedade do diploma abriu a porteira para jagunços e capangas ocuparem as redações da imprensa regional, longe da fiscalização da lei e dos sindicatos, alegremente autorizados a fazer, literalmente, qualquer coisa com qualquer pessoa. Mesmo para o novo modelo de jornalismo que se anuncia na internet, baseado em disseminação mútua de informações primárias, como no caso dos vazamentos do Wikileaks, haverá sempre a necessidade do tratamento jornalístico dos conteúdos. E, para esse serviço, não há outro trabalhador credenciado senão um bom repórter treinado e formado para essa missão. Formação esta que, insisto, deve ser feita na academia e reforçada na experiência diária da reportagem.

Recentemente, li sobre a criação, em 2010, do Instituto de Altos Estudos em Jornalismo, sob os auspícios da Editora Abril. Entre os mestres do tal centro estavam o dono da editora, Roberto Civita, mantenedor da Veja, e Carlos Alberto Di Franco, do Master de Jornalismo, uma espécie de Escola das Américas da mídia nacional voltada para a formação de "líderes" dentro das redações. Di Franco, além de tudo, é um dos expoentes, no Brasil, da ultradireitista seita católica Opus Dei, a face mais medieval e conservadora da Igreja Católica no mundo.
Sinceramente, não vejo que "altos estudos", muito menos de jornalismo, podem sair de um lugar assim.

Não tenho dúvidas de que a representação do tal instituto não é acadêmica, embora seja dirigido por Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobrás no governo do PT, renomado estudioso da imprensa no Brasil. Trata-se de uma representação fundamentalmente ideológica, a reforçar as mesmíssimas estruturas de poder das redações, estruturas ultraverticalizadas, essencialmente antidemocráticas e personalistas, onde a possibilidade de ascensão funcional, sobretudo a cargos de chefia, está diretamente ligada à capacidade de ser subserviente aos patrões e bestas-feras com os subordinados.

Felizmente, o surgimento da internet deu vazão a outro ambiente midiático, regido por outras regras e demandas, um devastador contraponto ao funcionamento hermético das grandes redações e ao poder hegemônico da velha mídia brasileira, inclusive de seus filhotes replicadores e retransmissores Brasil adentro. O fenômeno dos blogs e sua capacidade de mobilização informativa é só a parte mais visível de um processo de reordenamento da comunicação social no mundo. As redes sociais fragmentaram a disseminação de notícias, fatos, dados estatísticos, informes e informações em um nível adoravelmente incontrolável, criando um ambiente noticioso ainda a ser desbravado por novas gerações de repórteres que, para tal, precisam ser treinados e apresentados a novas técnicas e, sobretudo, a novas idéias.

A "era do aquário", para ficar numa definição feliz do jornalista Franklin Martins – aliás, contrário à obrigatoriedade do diploma –, está prestes a terminar. O jornalismo decidido por cúpulas restritas, com pouco ou nenhum apego à verdade dos fatos, está reduzida a um universo patético de mau jornalismo desmascarado instantaneamente pela blogosfera, vide a versão rocambolesca da TV Globo sobre a bolinha de papel na cabeça de José Serra ou a farsa do grampo sem áudio que uniu, numa mesma trama bisonha, a revista Veja, o ministro Gilmar Mendes, do STF, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás.

Não será a escola de "altos estudos" da Veja e do professor Di Franco, portanto, a suprir essa necessidade. Essa demanda terá que ser suprida por repórteres ciosos de outro tipo de jornalismo, mais aberto e solidário, comprometido com a verdade factual e a honestidade intelectual, interessado em boas histórias. Um jornalismo mais leve e mais humano, mais preocupado com a qualidade da informação do que com a vaidade do furo. Um jornalismo vinculado à realidade, não a interesses econômicos. E isso, certamente, só poderá ser viabilizado dentro de outro modelo, cooperativo e democrático, a ser exercido a partir das novas mídias virtuais.

Por isso, é preciso estabelecer também um contraponto à ideologia da mídia hegemônica no campo da formação, em complemento aos cursos superiores de jornalismo. Abrir espaço para os milhares de estudantes de comunicação, em todo o Brasil, que não têm chance de participar dos cursinhos de treinees dos jornalões e das grandes emissoras de radiodifusão. Dar a eles, de forma prática e barata, uma oportunidade de aprender jornalismo com bons repórteres, com repórteres de verdade.

Foi nisso que pensei quando idealizei, em 2007, a Escola Livre de Jornalismo, junto com outros dois amigos, ambos ótimos jornalistas, Olímpio Cruz Neto e Gustavo Krieger. Com eles, ajudei a montar bem sucedidos ciclos de palestras e oficinas de jornalismo em Brasília. Em 2009, um ano antes do 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, em São Paulo, a Escola Livre, em parceria com o IESB, já havia conseguido reunir, na capital federal, os principais expoentes desse movimento no país: Luis Nassif (Blog do Nassif), Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada), Rodrigo Vianna (Escrevinhador), Marco Weissheimer (RS Urgente) e Luiz Carlos Azenha (Viomundo). Uma semana de debates ricos, bem humorados, em um auditório permanentemente lotado de estudantes de jornalismo e jornalistas profissionais. Foi nosso único evento gratuito e, claro, o de maior sucesso. Os ciclos e oficinas, embora tenham tido boa audiência, esbarravam sempre no problema do custo para os estudantes: como nos cursinhos de treinee da velha mídia, acabávamos por privilegiar um segmento de jovens já socialmente privilegiados. É dessa frustração e dessa armadilha que proponho fugir agora.

Por isso, expus no Facebook a idéia de ministrar minhas aulas de Técnica Geral de Jornalismo, divididas em módulos, de modo que cada estudante pague um valor baixo por cada aula. Ou seja, os estudantes vão às aulas que quiserem, pagam na entrada e participam de duas horas de aula de jornalismo sobre tópicos práticos e temas relevantes. Minha idéia é convocar outros repórteres de Brasília a participar desse movimento da Escola Livre de Jornalismo, com o compromisso de, em troca da aula de duas horas, receber 70% do valor arrecadado no dia, porque 30% serão sempre destinados à administração e organização do curso.

Além do valor da aula, ainda a ser estipulado, cada aluno deverá também levar um alimento não perecível qualquer, a ser distribuído para comunidades pobres do Distrito Federal ou instituições de assistência social a serem definidas com futuros parceiros. Esses mantimentos, inclusive, poderão ser usados como moeda de troca para podermos utilizar gratuitamente algum espaço físico em Brasília para ministrar as aulas. É algo ainda a ser definido.

A idéia está lançada. No Facebook, recebi quase 100 adesões imediatas de estudantes, jornalistas, incluindo alunos e ex-alunos realmente satisfeitos com a perspectiva de participar de um movimento interativo desse nível, a preços populares. Espero poder iniciar as primeiras aulas em fevereiro de 2011 e, desde já, conto com a participação de todos os amigos e colegas jornalistas do Brasil que quiserem compartilhar essa experiência. Quanto mais gente boa dando aula, mais gente boa a ser formada. Como nas experiências anteriores, a Escola Livre de Jornalismo espera contar com a parceria das faculdades de jornalismo do DF para transformar em crédito a freqüência dos estudantes nas aulas, de modo a colaborar com uma necessidade acadêmica deles, as horas extra-sala de atividades complementares.

Por favor, quem quiser participar dê o ar das graças. Nossa missão inicial é achar um lugar amplo e legal, com cadeiras e uma boa mesa de professor, para dar as aulas. A depender do nível de adesão dos colegas jornalistas, vamos organizar uma agenda para as aulas, que serão sempre aos sábados, em princípio, das 9 às 11 horas da manhã.

Por enquanto, é esse o meu manifesto, é essa a minha idéia. O resto virá, tenho certeza, na garupa de bons ventos.


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