Desconto na conta de luz

Mensagem dominical de Paulo Coelho

O lenhador e o diabo

Num albergue perdido na montanha, a senhora que chamam de Demônio Feminino, vestida com um quimono negro, veio me receber. Tirei os sapatos, entrei no quarto tradicional japonês, e descobri que jamais conseguiria dormir com o frio que fazia. Solicitei a interprete que pedisse um aquecedor; a velha japonesa, com um olhar de desdém, disse que eu precisava me acostumar com Shugêndo.

- Shugêndo?...Mas a mulher já havia desaparecido, dando instruções para que fôssemos jantar logo. Em menos de cinco minutos estávamos sentados em torno de uma espécie de fogueira cavada no chão, com um caldeirão pendendo do teto, e peixes em espetos colocados ao redor. Logo depois chegou Katsura, minha guia, e o lenhador.

- Ele sabe tudo sobre o caminho - disse Katsura. - Pergunte o que quiser.

- Antes de falar, vamos beber - disse o lenhador. O sakê em quantidade certa (uma espécie de vinho japonês, feito de arroz) afasta os maus espíritos.

- Afasta os maus espíritos?

- A bebida fermentada está viva, vai da juventude à velhice. Quando chega à maturidade, é capaz de destruir o Espírito da Inibição, o Espírito da Falta de Relações Humanas, o Espírito do Medo, o Espírito da Ansiedade. Porém, se bebida além da conta, ela se rebela e traz o Espírito da Derrota e da Agressão. Tudo é uma questão de saber o ponto que não se deve ultrapassar.

Bebemos sakê, e comemos os peixes que assavam em volta do fogo. A dona da pousada juntou-se a nós. Perguntei porque a chamavam de Demônio Feminino.

- Porque ninguém sabe onde nasci, de onde venho, qual a minha idade. Decidi ser uma mulher sem história, já que meu passado só me trouxe dor; duas bombas atômicas explodindo em meu país, o fim dos valores morais e espirituais, o sofrimento com as pessoas desaparecidas. Um belo dia resolvi começar uma nova vida; existem certas tragédias que não entenderemos nunca. Então deixei tudo para trás, e vim parar nesta montanha. Ajudo os peregrinos, cuido do albergue, vivo cada dia como se fosse o último. E me divirto ao conhecer todos os dias pessoas diferentes. Sempre conheço pessoas estranhas - como você, por exemplo. Nunca tinha visto um brasileiro em minha vida. Também nunca tinha visto um negro até 1985.

Bebemos mais sakê, o Espírito da Falta de Relações Humanas parecia ter sido afastado. Falei muito do Brasil, e comecei a me sentir estranhamente em casa.

- Por que as pessoas vinham até Kumano? - perguntei ao lenhador.

- Para pedir algo, pagar uma promessa, ou querer mudar sua vida. Os budistas percorriam os 99 lugares sagrados que estão espalhados por aqui, e os xintoístas visitavam os três templos da Mãe Terra. No caminho encontravam outras pessoas, dividiam problemas e alegrias, rezavam juntos, e terminavam por entender que não estavam sozinhos no mundo. E praticavam shugêndo.

Lembrei-me do que o Demônio Feminino me dissera, e pedi que me explicasse o que era aquilo.

- Difícil explicar. Mas digamos que é uma relação total com a natureza: de amor e de dor.

- Dor?

- Para dominar a alma, você tem que aprender também a dominar o corpo. E para dominar o corpo, você não pode ter medo da dor. Ele contou-me que, de vez em quando, ia com um amigo para um dos precipícios próximos, atava uma corda na cintura, e ficava pendurado no espaço vazio. O amigo balançava a corda até que ele se chocasse várias vezes com a rocha; quando sentia que estava a ponto de desmaiar, fazia um sinal e era de novo içado.

- O homem tem que conhecer a natureza em todos os seus aspectos - disse o lenhador. - Sua generosidade e sua inclemência; só desta maneira é capaz de nos ensinar o que sabe, e não apenas o que queremos aprender.

Sentado em volta daquela fogueira, num albergue perdido no meio do Japão, o sakê afastando as distâncias, o Demônio Feminino rindo para (ou de) mim, eu entendi a verdade das palavras do lenhador: era preciso aprender o que necessitava, e não apenas o que queria. Naquele momento, decidi que iria achar uma maneira de praticar Shugêndo no caminho de Kumano.

Crônica dominical de A. Capibaribe Neto


Diamante que respirava
Um diamante sem jaça é uma pedra preciosa sem defeito, e assim a queria o poeta, pois ela duraria bem mais que qualquer amor, por mais que esse amor durasse. Queria um tesouro, para acalentar os sonhos do amor perfeito que precisassem de joias raras e caras. Mas era assim que sentia, era assim que queria, era com esse diamante que sonhava. Anoitecia e quando ela chegava e dormia, ele ficava ali, em acalanto silencioso, a acarinhar-lhe a pele macia e morena, a enfiar os dedos, suavemente, por entre suas cabeleiras de castanho reluzente, fazendo com suavidade o contorno de seu rosto enquanto escutava seu ressonar cheio de paz.

E quase num sussurro, repetia sem canseira, "meu amor querido" e quando o sono lhe vencia ia dormir pensando no diamante para no dia seguinte acordar para a realidade. Dinheiro não traz felicidade! Mentira! E nem precisa ser muito, basta o bastante redundante, que seja o suficiente para comprar seu diamante reluzente, dentro do qual se pode enxergar a luz que ilumina e guia os passos da mulher feliz. Mas ela era, mesmo sem diamante, sem tesouro com o qual sonhava, sua melhor joia. Nos seus lábios doces, depois dos beijos sem hora para acabar, havia sempre um brilho, mais reluzente que a luz do brilhante e mais que a pureza da pedra sem jaça. E das mãos fazia uma taça e na taça bebia os vinhos, os licores e nada se comparava ao néctar dos lábios perfumados por natureza. Gostava de sentir seu respirar que parecia a própria vida fluindo do coração como um córrego de águas cristalinas surgindo por entre as pedras de uma fonte escondida na montanha. E ficava ali perto, bem perto, só sentindo, respirando seu ar, vendo seu coração pulsar no colo em repouso dentro do decote generoso largado no repouso depois da canseira do amor ou do cansaço do dia. De manhã, quando saía para o trabalho, ficava abraçado ao travesseiro feito criança a brincar com as lembranças da noite apenas passada. "Esse travesseiro é o seu, está todo amassado..." Ela não sabia que eram os amassados dos abraços que ele dava na sua ausência, sentindo seu cheiro na fronha, vendo seu rosto sorrindo.

Eram seus melhores fantasmas que só iriam embora quando outra noite chegasse e ela voltasse para o mesmo lugar, para os mesmos sonhos silenciosos. Lembrava da crônica que lhe escrevera o pai, quando ficou rapaz. "Hoje, manhã cedo, fui abraçar o fedelho de apenas alguns centímetros de ontem. E vi-o erguer-se um guapo rapaz assumindo o rosto de um homem feito em que se tornaria breve, e perguntei-me que tipo de presente se pode oferecer a um jovem que atinge a plenitude da sua mocidade, quando se tem origem humilde e recursos modestos?

Então, depois de um abraço forte ele disse: meu filho, existe uma razão para haver acabado desde cedo com a sua crença em Papai Noel, dando desculpas por ele haver lhe esquecido. Hoje, pensei muito no tipo de presente para lhe dar no seu aniversário de dezoito anos. Tudo o que tenho para lhe oferecer, meu filho, é um nome decente, para você carregar com orgulho pelo resto da sua vida, como um tesouro". Lembrou disso no aniversário dela. O nome limpo lhe dera melhores condições de vida, é verdade, mas não o dinheiro para comprar um diamante sem jaça para ela. Queria dizer palavras parecidas com as que lhe dissera o pai desde há muito, agora morando entre as estrelas. Pensou em dizer que tudo o que tinha era um amor enorme, mesmo na moldura dos medos de perdê-la. Queria dizer com as suas melhores palavras, fazer juras e renovar promessas, mas queria o diamante que infelizmente, não podia lhe dar. Logo amanheceria e antes de vê-la despertar para mais um dia como os outros, puxou-a para si com cuidado para não acordá-la antes da hora, e em silêncio chorou suas lágrimas mais sentidas. E foi nesse momento, que se deu conta de que ele, tinha seu maior tesouro e estava ali, abraçado a ele, um diamante sem jaça que respirava. 

Eleição 2014: o projeto fundamental das oposições é preparar-se para o futuro.


Uma das mais lúcidas avaliações das perspectivas da oposição nos próximos dois anos foi apresentada esta semana pelo senador José Agripino (DEM-RN). Louve-se sua sinceridade e bom senso.
Atributos que nem sempre revela possuir. Quem não se lembra de sua lamentável interpelação, em 2008, à então ministra Dilma Rousseff, a respeito de mentir sob tortura? Teve a resposta que merecia, registrada para a posteridade em um vídeo que é até hoje acessado no YouTube.
São, no entanto, águas passadas.
O senador ocupa, desde 2011, um cargo complicado. É o presidente de seu partido, função a que chegou sem tê-la pleiteado. Assumiu-a em um momento em que o DEM parecia prestes a se dissolver, sangrando a céu aberto depois da debandada da maioria de seus integrantes em direção ao PSD de Gilberto Kassab.
Para piorar o cenário, seus correligionários remanescentes se dividiam em dois grupos antagônicos, um ligado a Rodrigo Maia (DEM-RJ) e outro ao ex-senador Jorge Bornhausen (SC). José Agripino tornou-se opção de conciliação.
Difícil encontrar alguém com currículo tão antilulopetista. Começou na política na ARENA e daí foi para o PDS. Foi fundador do PFL, líder do partido no Senado, integrante da tropa de choque das oposições ao governo Lula.
Biografia que o credencia a dizer o que disse e torna mais relevante a entrevista que concedeu à Folha de São Paulo.
O essencial estava em seu prognóstico de que, sozinhos, PSDB e DEM “não têm chances de vitória em 2014”.
Foi franco desde a largada, sequer incluindo na lista o PPS. Com razão, pois a agremiação tornou-se pouco mais que estafeta para missões desagradáveis - como protocolar requerimentos de instalação de CPIs e pedidos de abertura de inquérito no Ministério Público.
(Que destino triste o do velho Partido Comunista Brasileiro! Nesta semana em que perdemos Oscar Niemayer, um dos mais ilustres militantes do “Partidão”, dá pena ver aonde foi levado por suas lideranças atuais.)
Mas José Agripino foi ainda mais incisivo: disse que não sabia o que poderia ser feito para atrair outras correntes de opinião a integrar uma frente capaz de derrotar o governo na próxima eleição.  
Para ele, a soma de PSDB, DEM e, vá lá, PPS, não é competitiva e tem pouca possibilidade de crescer significativamente. 
Isso é mais verdadeiro que quase tudo que se lê hoje em dia. E tem consequências práticas, se ele e seus companheiros de oposição menos irracional forem ouvidos na hora de decidir que campanha farão na sucessão de Dilma.
Em política, raramente o errado acaba dando certo. Quase sempre, a conta chega, com juros e correção monetária.
Tivessem as oposições pensado olhando para a frente, dificilmente teriam feito o que fizeram em 2010. Apostar outra vez em Serra foi adiar a tarefa que permanece à frente delas. Continuam tendo que criar um novo rosto, diferente do que tinham há vinte anos.
É difícil construir uma candidatura vencedora ao longo de uma só eleição, como ilustram as exceções que confirmam a regra. Em 1994, Fernando Henrique precisou das fanfarras de um plano econômico lançado na véspera. No caso de Dilma, apesar da extraordinária popularidade de Lula, apesar do forte desejo de continuidade, a dúvida a respeito de alguém pouco conhecido levou a eleição para o segundo turno.
Em 2014, se José Agripino estiver certo, o projeto fundamental das oposições é preparar-se para o futuro.
O que significa fazer uma campanha afirmativa, propositiva, otimista, que leve até quem não votará em seu candidato a simpatizar com ele. Significa não fazer como Serra, tentar ganhar a qualquer preço e apenas sair da eleição com a imagem destruída.
Significa manter-se ao largo das maluquices da extrema direita oposicionista, dos pitbulls cujo único sentimento é a raiva. E parar de ler alguns comentaristas, que talvez saibam conspirar, mas de eleição não entendem nada.  
por Marcos Coimbra

O Brasil que Luiz Gonzaga percorreu e cantou no século 20 não é mais o mesmo

[...] Cresceu e apareceu para o mundo: virou potência econômica. Mas olhado por dentro, como fez o sanfoneiro a partir dos anos 1940, o país continua desigual, com grandes prejuízos a cada adversidade climática. 

"A seca compromete a produção agrícola e pecuária, que tem um peso grande no PIB (Produto Interno Bruto) dos pequenos municípios. Comas estiagens prolongadas, há uma grande perda da capacidade de renda das famílias desses lugares ", avalia o economista Geraldo Antonio Reis, professor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). 

Embora esteja no Sudeste, a região mais rica do país, o Norte de Minas, juntamente como Vale do Jequitinhonha, padece da mesma forma que o sertão nordestino. Mas por que a falta de água ainda mata o gado e provoca tamanha judiação? É o que os repórteres Paulo Henrique Lobato, Luiz Ribeiro e Alexandre Guzanshe respondem a partir de hoje, quatro dias antes dos 100 anos do Rei do Baião, na série de reportagens "O Brasil de Gonzaga".

Asa branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira, 1947)

Clipping do Briguilino

Bom dia


Faça valer a pena. Faça cada segundo da sua vida valer a pena. Não se arrependa de nada, nem das coisas que não fez. Não tenha vergonha do seu medo, afinal só tem coragem, quando se tem medo. Se arrisque. Agarre cada chance que tiver. Sorria, mesmo que tudo a sua volta esteja desabando, seu sorriso é sua maior arma. Ame a si mesmo em primeiro lugar, isso não é egoísmo e sim amor próprio. Se valorize a acredite em você. Busque o impossível, mostre a todos do que você e capaz! 

Diga pra vida eu sou mais eu, diga aí vou eu!

Excelente dia para vocês!!