Luis Nassif - os números recordes de desemprego e o novo perfil do trabalho

Há um fator pouco analisado nas quedas das taxas de desemprego:  o que é erroneamente denominado de taxa de ociosidade, isto é, aqueles pessoas em idade ativa que não decidiram ainda trabalhar,
 
Esse fenômeno é fruto das políticas sociais dos últimos anos, especialmente do aumento do salário mínimo. Estudos do IBGE, de anos atrás, demonstravam que em mais de 50% dos casos, aposentados e pensionistas eram arrimo de família.
 
Antes dessa renda adicional, os jovens saíam muito cedo para o mercado de trabalho, sujeitando-se a salários aviltantes, interrompendo estudos, para complementar a renda familiar. Com a melhoria da renda, passaram a dedicar mais tempo aos estudos
 
Houve impactos positivos na educação, na saúde (melhor alimentados), na segurança (menos vulneráveis ao crime).
 
Sem esse chamado exército industrial de reserva, aumentou o valor do salário de entrada no mercado, impactando toda a cadeia salarial.
 
Quando foi divulgado o primeiro trabalho sobre o tema, houve certo reboliço no mercado, devido à comprovação da eficácia das políticas sociais. Incumbiram um economista ligado à Tendências Consultoria de rebater os estudos. Ele se juntou a um técnico do IPEA para tentar demonstrar que o aumento do salário mínimo aumentava a propensão à vagabundagem.
 
Foram páginas e páginas sem conseguir a comprovação estatística da tese. O estudo confirmou que em famílias de aposentados e pensionistas aumentava a propensão ao estudo.
 
O segundo fato a explicar a queda do desemprego - mesmo com a economia patinando - são os chamados fatores demográficos, com menos filhos por casal e menos jovens nascendo.
 
Chama atenção a queda do emprego em dois setores: o da indústria (o que não é novidade) e no emprego doméstico. Caminha-se para um novo tipo de trabalho doméstico, no qual futuramente condomínios recorrerão a terceirizadoras de mão de obra compartilhando diaristas e lavagem de roupa.
 

Emprego e Renda

Mas, pode chamar PT, Lula e Dilma
[...] 
"Renda sobe e país tem menor desemprego desde 2002"; publicada na página A4 do jornal Valor Econômico, essa notícia perdeu em importância editorial para a manchete "Cresce risco de IPCA ser superior ao de 2012"; mais esse flagrante da má vontade da mídia familiar com os resultados da economia conduzida pela presidente Dilma Rousseff em continuidade à gestão de Lula é compreensível; para muito além de questões sofisticadas da economia, como o déficit público, ou fatores externos como notas de agências de classificação de risco, o que vai governar o humor dos eleitores em 2014 é mesmo o binômio ao qual a dupla de vermelho está associada; será mesmo possível, no ano que está para começar, conter a força eleitoral de Dilma e Lula com o pleno emprego em curso e a renda em crescimento?

Papo de homem - o erro, o culpado e o chefe

Senta aí!
“Então vai ser assim”, pensou Marcelo apreensivo, enquanto sentava na cadeira vazia em frente à mesa do chefe de operações da unidade de São Paulo. A cara dele não era das melhores e a conversa seria complicada. Marcelo havia errado feio.
— Entende o problema que você causou a essa empresa, Marcelo? Faz alguma ideia do que perder esse cliente significa?
— Na verdade, nós nunca perdemos algo que nunca tivemos.
— Se você for bancar o espertinho, nem vou me dar ao trabalho de ter essa conversa…
— Se você for me demitir de qualquer forma por ter errado, eu também não.
Nem Marcelo acreditou na coragem que teve para falar aquilo. No dia em que ele decidiu que faria as coisas da forma como fez na apresentação para o cliente, sabia que poderia chegar a esse ponto, se tudo desse errado. Era arriscado, era audacioso e com grandes chances de dar errado, e como Murphy nos ensinou, deu errado da pior forma uma vez que o cliente entendeu as ideias de Marcelo como chacota.
— Renato, eu sei que definimos uma estratégia há semanas, sei que conversamos várias vezes sobre isso e eu realmente gostava do nosso escopo inicial. De tanto que mergulhei nesse projeto, acabei tendo outra ideia, meio fora dos padrões… sim, concordo, mas se fosse tocada para frente, mudaria o mercado desse cliente para sempre. Caso a maioria dos objetivos fossem atingidos usando aquela estratégia, estaríamos falando da criação de uma nova Apple…
— Não importa, Marcelo! Você fez a empresa passar vergonha, a diretoria em Minas está querendo sua cabeça. E eu não vou nem mencionar o que o pessoal do Rio quer fazer com você, já que eles conseguiram essa reunião.
— Eu sei que agora não importa mais. Eu preciso que você entend…
— Se eu não entendesse, você acha que estaria tendo essa conversa comigo agora?
— …
— Você é um rapaz inteligente. É tranquilamente um dos melhores colaboradores…
 Não sou colaborador, sou empregado…
— Posso terminar?
— Desculpe.
 Você é meio petulante, meio arrogante, mas tem ótimas ideias. Convive bem com o pessoal, quando não enfia uma ideia na cabeça e começa a não aceitar a opinião de mais ninguém. Eu vejo um futuro brilhante para você, Marcelo, mas você tem que me ajudar, pô! Pare de achar que você vai resolver tudo sozinho. Se não trabalhar junto com outros, e não usar o que tem de melhor para um objetivo maior do que conquista pessoal, então você vai ser pra sempre o que é hoje… um grande ponto de interrogação.
Todos nós sabemos que em qualquer situação existem momentos-chave que, dependendo da sua escolha, irão mudar completamente o final da história. Marcelo sabia que o que ele dissesse agora decidiria o rumo das coisas. Independente do resultado, ele iria seguir seu feeling – que afinal de contas era o que tinha colocado ele nessa situação.
Marcelo respirou fundo e preparou o discurso:
“Eu errei por não ter vendido a ideia antes para todo mundo, mesmo que não houvesse tempo para isso. Devia ter seguido sua liderança e não agido de forma egoísta. Às vezes, acreditamos tanto em alguma coisa que seguimos adiante, não importam as consequências. Mesmo assim, acho toda essa reação um tanto exagerada. Você não pode me culpar por tentar. Eu sou culpado por aquilo que disse e não por aquilo que outra pessoa entendeu.
Não posso ser execrado como um pária porque um cliente ou qualquer outra pessoa não entendeu o que eu disse. Você mesmo disse que concordava com o que fiz, mas claramente discorda da forma que eu fiz. Tudo bem. Mas me puna apenas por aquilo que sou culpado. Todos nós erramos por vários motivos, grandes homens ou homens sem importância.
É dito por aí que Einstein era péssimo em algumas matérias na escola. Nobel explodiu o laboratório inteiro quando inventou a dinamite, Colombo errou o caminho das Índias, Michael Jordan inventou de jogar beisebol antes de encerrar a carreira, Sergei Korolev explodiu inúmeros foguetes antes de conseguir mandar pela primeira vez para o espaço, James Cameron dirigiu Piranhas antes de Exterminador do Futuro 2, Henry Ford faliu duas empresas antes de abrir a Ford.
Eu, você, nossos pais, colegas, amigos erram, mas as grandes mentes e prodígios da humanidade também erraram feio antes de conseguirem grandes feitos.
A lista é interminável. Você pode nomear quase qualquer um e ele terá algo no currículo do que não se orgulha muito.
Os russos foram os primeiros em tudo na corrida espacial, menos pisar na lua, e eles só não foram primeiros nisso também por causa da morte prematura de Korolev. E se eles tivessem desistido dele antes?
Isso sem falar na humanidade como um todo e nas atrocidades que já cometemos. Erros imperdoáveis que nunca devem ser esquecidos mas que devem ser superados através do esforço em conjunto para que eles jamais se repitam.
Eu não estou, obviamente me colocando no mesmo nível de algumas dessas grandes mentes que citei.
Estou apenas dizendo que o senhor estaria cometendo um grande erro ao me demitir sem me dar outra chance.”
— De acordo com sua lógica, se eu cometer esse “grande erro” de demiti-lo eu poderia dormir tranquilamente sabendo que grandes homens também cometem erros.
— Várias editoras recusaram Harry Potter antes de ser lançado pela Bloomsbury. Walt Disney foi demitido do jornal que trabalhava, por não ter imaginação, nem boas ideias. A Decca Records disse que uma certa banda chamada Beatles não tinha futuro no show business…
— …
— Eu não vou prometer que não vou errar. Porque eu vou. Errarei grande e pequeno. Só posso prometer me envolver mais com a equipe e confiar no seu direcionamento.
No meio do argumento Marcelo já tinha certeza de qual seria o resultado. Mesmo assim, aqueles segundos antes do chefe de operações Renato Costa dizer qualquer coisa eram torturantes.
— Eu quero um e-mail endereçado para toda a equipe envolvida com uma retratação. E quero que você se concentre no próximo trabalho. – disse Renato por fim.
— Obrigado.
— Até mais.
Marcelo então saiu da sala do chefe e sentiu vários olhares atraídos para si.
Sentou e voltou a escrever.

Pedro Turambar

blog O Crepúsculo e No Twitter, atende por @pedroturambar.


Outros artigos escritos por 

Barbara Gancia - parabéns Haddad por peitar as máfias que dominam São Paulo

Explique-me se puder, você que faz parte dessa gente bron­zeada e saiu às ruas para pro­testar contra "tudo isso que está aí". Alguém consegue conceber a re­forma de uma quitinete, que seja, sem causar incômodo?

Estou curiosa: como se pretende romper o muro (rodoanel?) da de­sigualdade que insiste em embru­tecer nossa cidade sem passar por alguns percalços?

Tudo bem, a imagem é pretensio­sa e talvez exija recursos mentais dos quais, por ora, não dispomos. A visão de uma São Paulo inclusiva, em que uma Paraisópolis possa conviver harmoniosamente com um Morumbi ainda não aterrissou em Congonhas ou desembarcou na rodoviária do Tietê.

Mas por que saímos às ruas então? Não foi por mudanças? Se existis­sem pesquisas de opinião na época da construção dos aquedutos ro­manos, será que a turma acusaria algum desconforto quanto às obras? "Aumentou o tráfego de bi­gas perto de casa, aquilo está um fe­dor de estrume que só vendo".

Não é preciso ir tão longe. Basta lembrar da revolta ocorrida quan­do Oswaldo Cruz iniciou o mutirão da vacinação.

Tudo isto para dizer que o paulis­tano é um desorientado que fala uma coisa e faz outra. Saiu às ruas pedindo melhores serviços, mas quer que isso aconteça num piscar de olhos, como se fosse possível dormir em Perdizes e acordar em Bel Air, só porque quis assim.

O Minhocão é o monumento maior ao modelo "recauchutagem rápida", dá-lhe um tapa e não se fala mais nisso, de uma cidade sem pla­nejamento de longo prazo e sem modelo do que quis ser quando crescesse, que não ousou passar por mudanças algo dolorosas para endireitar e deu nisto.

Está na hora de amadurecer. An­dei pensando e estudando o nosso prefeito. E cheguei a algumas con­clusões. Para começar, alguém que consegue desagradar Lula, Paulo Skaf, Serra, Kassab e Geraldo Alck­min ao mesmo tempo deveria rece­ber, o quanto antes, a medalha da Ordem do Rio Branco.

Ué? O sapo barbudo não disse que seria melhor se Haddad tivesse perdido? Pronto. Sinal que deve ser o cara certo para a missão. E, olha só: o sujeito foi adjunto do Sayad (ponto) inventou os CEUs (fre­quento e sei da importância -mais um ponto), inventou também o Prouni a custo zero para o governo (golaço) e está indo lá enfrentar so­zinho o STF. Quem o chama de bur­raldo e ingênuo só pode estar mal informado, né não?

Lembro do Brasil intei­ro xingando o Parreira de burro na Copa de 1994. Da classificação até a final. Pois é. Fernando Haddad criou uma controladoria que co­meçou detonando -veja só- a máfia da construção e do mercado imobi­liário. E carro, numa visão de admi­nistrador que trabalha pensando nos próximos 50 anos, é para ficar na garagem e servir só para fim de semana. Então cada um que segure sua onda por enquanto. Sem o sa­crifício voluntário de cada britâni­co, os aliados não teriam vencido a 2ª Guerra, sabia não?

São Paulo sofre as consequências de décadas de soluções levianas e pilhagem. E ainda tem de arcar com uma população de bebês chorões, comodistas e hipócritas. Pois eu folgo em saber que alguém tem co­ragem de peitar as máfias que do­minam Gotham City, a despeito da chiadeira, das pesquisas de opinião e de estarmos em véspera de elei­ção. Admiro quem toma riscos e de­monstra resiliência. Manda a bra­sa, coxinha!

Entrevista polêmica derruba secretário de Eduardo Campos

Após forte repercussão por causa de declarações polêmicas ao JC - Jornal do Commercio - titular da Defesa Social por quase quatro anos se demite.

Ao falar de abuso de policiais para a série sobre Casa-grande & Senzala, ex-secretário ligou homossexuais à ideia de “desvio de conduta”. Mulheres, segundo ele, teriam fascínio por farda.

Antes da renúncia, grupos ligados aos direitos humanos se reuniram para discutir medidas.
Nas redes sociais, críticas dominaram a cena.

Para entregar cargo, Wilson Damázio divulgou nota em que diz: “Declarações a mim atribuídas não constituem meu pensamento” e afirma que sai para proteger “o governo e seu legado”.

Ao aceitar a saída, governador assegurou que nada muda e nomeou Alessandro Carvalho para a pasta. 

Charge do dia

Quem vai ficar de molho por mais quatro anos é a oposição

Pedro Porfírio - Minha saúde, minha vida

...o tumor ou eu



Confesso que senti um friozinho na barriga, ontem,  quando a secretária do dr. Feliciano ligou para marcar o início do tratamento radiológico do tumor que foi localizado em meu fígado:

-  O plano já autorizou. Quer fazer amanhã?

- Amanhã? Não, amanhã, não. Preciso falar com a esposa e os filhos. Preciso me preparar psicologicamente. Pode ser na sexta?

Ela ficou de falar com o médico, contatar o hospital e me dar retorno: marcou o procedimento para amanhã, quinta-feira, às 14 horas, na Casa de Saúde São José, em Botafogo.

Quando ela ligou, estava começando a escrever sobre a judicialização do futebol, como reflexo de todo um ambiente de hipertrofia do Judiciário e com vista à preservação dos negócios da bola. Não poderia ser mais frustrante ver um time que não se classificou em campo no campeonato brasileiro beneficiar-se da aplicação burocrática e claramente direcionada de um artigo disciplinar para nele permanecer em detrimento de outro, penalizado conforme o velho adágio nordestino: aos amigos, tudo; aos inimigos, a Lei.

O que prevaleceu de fato foi o interesse do mercado. Para quem investe em um dos maiores campeonatos do mundo, ter apenas dois times do Rio de Janeiro entre os 20 de 2014 causaria prejuízo inevitável, afetando inclusive as transmissões televisionadas, que são as principais fontes do futebol: A GLOBO não teria como enviar imagens para o mercado do Rio de Janeiro todas as quartas e domingo com apenas 10% dos clubes cariocas no certame.  A Portuguesa paulista foi sacrificada por não ter torcida e audiência competitivas, em comparação com o Fluminense. Para os negócios do futebol, ainda bem que o Flamengo não caiu ao perder pontos.  Vamos ver o que vai acontecer no "pleno" do dia 27 ante o mal-estar causado pela decisão escandalosamente unânime do STJD.