Laerte e o amor à ambiguidade, por Rosane Pavam - Carta Capital



O artista popular proseia enquanto versa. É prosaico enquanto eleva. Nada fácil para Laerte Coutinho, com seu talento de melhor traço, ainda desenhar as contradições com leveza. Nada fácil ser menina. O que parece contentá-lo é o amor à ambiguidade, ao humor que tudo golpeia, porque tudo é preciso refazer. Trezentos originais e 2 mil itens nesta vigésima edição da Ocupação Itaú Cultural mostram o percurso de quatro décadas deste grande artista popular do Brasil.


Alguém que, nos célebres quadrinhos de A Insustentável Leveza do Ser, desenhou a possibilidade de sua família não ser exatamente a sua, enquanto você pode ser mais do que é. Do pobrezinho Deus à fúria capaz de resolver conflitos nos Piratas do Tietê, ao espelho televisivo, aos heróis sem pose, ao sarcasmo ou à joia de pensar, tudo se encaminha nesta exposição para que se dê o domínio de Laerte sobre a dúvida.
Eis por que as fotografias de sua pessoa ali presentes, possuída de vestidos, colares, bocas e coques, estendem-se como uma ilustração bastante explícita do que já se intui ao ler Laerte. Prosa e verso, o artista tem muitas faces, como explica seu filho Rafael Coutinho, outro desenhista dos bons e curador da exposição: “Neste labirinto que é a sua obra, existe uma criatura que ronda, tal como no mito do Minotauro. Inquietação ou angústia, um superego solto, uma entidade sem sexo, que, acuada, ataca. Vive dentro do artista ou é parte dele. Exoesqueleto que o controla e o direciona. Pode ser o próprio Laerte, criatura entre nós. Ele, meu familiar pai, um monstro”.
Ocupação Laerte
Itaú Cultural, São Paulo
21 de setembro a 2 de novembro
itaucultural.org.br/ocupação



Conversa Afiada: Dilma tritura a Urubóloga

A Presidenta Dilma Rousseff foi ao Mau Dia Brasil e passou com um trator cima dos números e da doutrina neolibelês da Urubóloga.

Foram 30 minutos de massacre.

Dilma começou por mostrar que foi a Polícia Federal do Governo dela quem descobriu os malfeitos do Paulo Roberto Costa, que estava há 30 anos na Petrobras.

Que no Governo dela não tem engavetador.

O Paulo Roberto era diretor da Gaspetro no tempo do FHC (quando o engavetador engavetava … – PHA).

Ana Paula Poeta (revisor, por favor, não toque !) atirou com uma Uzi: ah !, mas a senhora faz uma campanha do “medo”.

“Medo” ? Está tudo no programa dela, disse a Dilma – (dela a gente sabe quem é … – PHA).



Banco Central independente significa instalar um quarto poder na Praça dos … Quatro Poderes, disse a Dilma.

(É o sonho neolibelês – substituir o Executivo e o Legislativo por um Banco Central camarada, sob a batuta do Itaúúú– PHA).

Está no programa dela reduzir o papel dos bancos públicos.

Ah, é ?, perguntou a Dilma.

Sem os bancos públicos não tem Minha Casa Minha Vida, porque, na faixa mais baixa, o subsidio é entre 90% e 95%.

O banco privado vai topar ?

Sem o banco público não tem o Plano Safra de R$ 156 bilhões para a agricultura, em que R$ 134 bilhões são a juros negativos !

Não tem obra de infra-estrutura a 30 anos de prazo …

“Ela” também é contra a indústria nacional, porque é contra o “conteúdo local”.

A certa altura, a PhD pela Universal Municipal de Caratinga, sub-sede da Chicago University, disse que os argumentos da Presidenta “não faziam sentido.”

Travou-se, então, uma discussão sobre a estrutura dos bancos centrais e a situação da economia mundial.

A PhD por Caratinga demonstrava que o mundo está uma maravilha e o Brasil é um desastre retumbante.

O Chile !, ela cita ! Mas, o Chile, Urubóloga ? O Chile é do tamanho do Rio Grande do Sul – PHA.

O tempo todo a Presidenta tentava concluir o raciocinio: “deixa eu continuar, se não, é impossível”, “o debate é comigo, não”?

Mas, como demonstrou o Lula, os pigais (ver o ABC do C Af) merválicos (idem no ABC) agora fazem perguntas para que eles mesmos respondam, porque o importante são eles e, não, o coitado do entrevistado (especialmente se for a Dilma.)

Dilma explicou que está numa estratégia defensiva, à espera da recuperação dos Estados Unidos e da China, quando, então, a economia brasileira pode entrar numa outra fase, de menos estímulos para voltar a crescer.

O Brasil tem uma das menores dívidas do mundo.

(Como se sabe, o queridinho da PhD de Caratinga quebrou o Brasil três vezes, tirou os sapatos e, descalço, de pires na mão, foi ao FMI.)

A Dilma enfatizou que, enquanto há 100 milhões de desempregados no mundo, o Brasil tem uma taxa de desemprego – 5% – que equivale a pleno emprego.

O Brasil preservou, em plena crise, o emprego, a renda e o investimento !

E a Urubóloga que, como o Renato Machado, adora o “Reino Unido”, tentava enaltecer os “métodos” neo-libelês que lá fracassaram.

A erudição da Urubóloga sobre a “situação do mundo” não ultrapassa as páginas de O Globo …

A Petrobras já se recuperou, bradou a Dilma.

E isso terá um papel decisivo na recuperação do Brasil, disse.

A Petrobras bate records de produção, com 2,3 milhões de barris/dia.

O pré-sal – que maravilha !, viu Bláblá ? – já produz 530 mil barris/dia.

A Petrobras vai resolver o problema que ela mesma tinha criado no passado: o do déficit externo.

E o pré-sal e o petróleo vão investir maciçamente na Educação: 75% dos royalties e 75% dos resultados do pré-sal vão para a Educação.




Ai a PhD de Caratinga tentou demonstrar que os estudantes – 8 milhões das 436 escolas do Pronatec – estão, na verdade, desempregados.

Como se sabe, nos sombrios tempos do Farol de Alexandria e seu Ministro da (des)Educação, Paulo Renato de Souza, era proibido abrir escola técnica …

E o Pronatec foi, precisamente, uma forma de reforçar o ensino médio, já que o pobre não pode cumprir um currículo de 12 matérias com a premente necessidade de ajudar a família com salário.

(Rediscutir os currículos é um desafio, disse a Presidenta.)

Bom dia

*Céli Pinto: onde estão os Partidos?

De tudo que Dilma disse nesta campanha eleitoral, talvez sua manifestação mais importante tenha sido a seguinte: “Marina ficou 27 anos no Partido dos Trabalhadores. Todos os seus mandatos ela obteve graças ao PT. Dos 12 anos aos quais ela se refere, oito ela esteve no governo ou na bancada do partido no Senado Federal. Eu acredito que não é possível que as pessoas tenham posições que não honram a sua trajetória política e tentam se esconder atrás de falas que não medem o sentido dos seus próprios atos durante a vida. A militância do PT e a história do PT foram fundamentais para a candidata chegar onde chegou”.

Não foi importante porque Dilma bateu em Marina, nem porque tenha significado qualquer virada nas projeções eleitorais, mas porque trouxe para o centro do discurso de campanha o partido político, no caso, o PT. Não se faz política sem partidos e o Brasil tem partidos fortes, bem estruturados, que estão por trás de cada candidato ou candidata. Aos críticos já respondo de imediato que sei que há 32 partidos no Brasil, que a maioria é inexpressiva, que alguns têm propósitos longe da luta política stricto sensu, que é preciso fazer uma reforma etc, etc, etc.




Isto posto, volto ao argumento: os partidos políticos importam, têm ideologias, interesses, passado, mesmo que alguns troquem de nome a cada nova oportunidade. Mas, nas presentes eleições, os candidatos e candidatas às eleições majoritárias, principalmente, se esforçam para aparecer como indivíduos excepcionais, lutadores, dotados de força interior, capazes de superar as maiores mazelas da vida. Isto é uma farsa. E essa farsa teve como condição de emergência o discurso repetido ad nauseam pela grande mídia: que os partidos são apenas espaços para falcatruas, que o importante é a pessoa. O tempo desta construção discursiva correspondeu, não sem malícia, aos anos de governo do PT na Presidência da República. Nas manifestações de rua de junho de 2013, a direita se juntou a uma juventude idealista que gritava contra os políticos, a política e os partidos, e as bandeiras partidárias eram varridas das ruas agressivamente pelos “jornadeiros”. Nada aconteceu por acaso.

O PT se acovardou e abriu mão de seu maior trunfo, o de ser um partido político que, mesmo com todos os seus problemas, teria muito para apresentar como estrutura partidária, como proposta partidária, como história. Ficou com medo da mídia, dos adversários, dos cartazes feitos com cartolina caseira das ruas. Dilma teria um capital político importante para pôr na roda: um partido que governou o país, muitos estados, muitas capitais, muitas cidades do interior. A cara deste país mudou, mesmo admitindo os grandes limites do PT. Entretanto, a candidata à reeleição caiu na esparrela de disputar beleza com Marina Silva, que também tem partido, também tem lado, mas precisa esconder. O programa de sua “injustiçada” Rede de Sustentabilidade nega tudo que sua campanha tem defendido atualmente.

Na campanha para governador do RS, Tarso Genro tem um partido que governou Porto Alegre por muitas vezes, bem como importantes cidades do interior, que já foi governo do Estado e tem um grande saldo positivo. Entretanto, também abriu mão de tudo isto e disputa beleza com Ana Amélia Lemos, que esconde, mas tem um partido, o PP, herdeiro direto da Arena do tempo do regime militar. Então eu pergunto: a quem interessa o desaparecimento dos partidos na campanha política?

O leitor poderá pensar que também interessa ao PT, porque há o mensalão a esconder. Esconder? Nada foi mais público, nada teve mais cobertura da mídia que o mensalão do PT, transformado, na boca dos jornalistas “imparciais”, no maior escândalo de corrupção da história do país. Dilma, Tarso ou qualquer outro candidato do PT não precisam ir para a TV humilhados pelo escândalo, que tem muito de corrupção, mas pouco de escândalo. Até porque, neste caso, o escândalo mora em outro lugar.




Temos duas semanas até o Primeiro turno das eleições, há tempo para que as campanhas recoloquem os partidos no centro, explorem suas realizações quando no governo, mas, principalmente, mostrem a partir de suas visões de mundo para quem vão governar. Para quem governaram quando estiveram no poder. Está mais que na hora de o PT, o PSDB, o PP e o PSB-Rede mostrarem a que vieram como grupos políticos que querem governar o país e os estados. O eleitor brasileiro não merece o festival de caras e bocas da presente campanha. Não estamos escolhendo a madre superiora do convento das clarissas descalças, nem a locutora do ano. Estamos escolhendo governantes.

* Cientista Política, professora do Departamento de História da UFRGS

"Festival de hipocrisia que assola o Brasil"

EDITORIAL - Gazeta de Alagoas
Nas derradeiras semanas antes do primeiro turno das eleições presidenciais, intensificam-se as pressões e a manipulação de informações por parte dos grupos econômicos mais tradicionais e poderosos do País perfilados, em esmagadora maioria dentre as elites tupiniquins (eles detestam esse termo, que, em verdade, é muito injusto com os selvícolas), contra a candidatura Dilma Rousseff.




Um dos malabarismos vernaculares mais interessantes que têm assaltado os noticiários mais badalados, especialmente nas TVs, está na dualidade do significado do termo “oscilar”. Na divulgação das pesquisas, quando Dilma ganha um ponto que seja, ela “oscila”; mas se Aécio e/ou Marina faturam seu ponto, ele e/ou ela “cresce”. No mesmo rumo do léxico elitista, se Marina/Aécio desce um ponto, ele/ela “oscila”, enquanto a mesma situação, se ocorrer, em relação a Dilma, esta “cai”. Curiosa essa nossa língua portuguesa/eleitoral, não é?

Noutro exemplo dual, se Dilma contesta alguma notícia veiculada contra ela, está praticando a “censura à imprensa”; ao mesmo tempo se Marina e Aécio entram na Justiça para tirar do ar algum site e/ou processam algum jornalista, este gesto passa a ser “legítima defesa” ou outra sandice do tipo. Ou seja, liberdade de imprensa é algo que se manifesta apenas quando se imprensa Dilma, PT e seus aliados; e se o noticiado é calúnia ou difamação, trata-se de detalhe secundário.

Nesse mesmo raciocínio, pode-se insultar Dilma, Lula, PT e seus aliados à vontade, usando termos como “mula”, “anta”, “quadrilha”, “petralha” e preciosidades semelhantes à larga. Mas ninguém pode dirigir uma palavra sequer que possa ser entendida como “ataque” contra Aécio/Marina – aí a comoção se instalada em defesa das pobres vítimas, tadinho e tadinha!




Trombeteia-se denúncias e supostas denúncias contra a Petrobras (apenas no período dos mandatos Lula e Dilma, esquecendo-se de FHC) ao mesmo tempo em que, por exemplo, são abafadas as notícias sobre o caso do transporte de meia tonelada de pasta de cocaína num helicóptero de aliados políticos do presidenciável tucano.

É esse tipo de picaretagem ideológica que se pretende instituir como parâmetro para o cerceamento real da liberdade de expressão, conferindo generosos direitos a uns e draconianos deveres para outros."

Eleições 2014 - Rio Grande do Sul opta entre século 19 e 21 na disputa entre Ana Amélia e Tarso


Por Miguel Enrique, de Veranópolis,

especial para o Escrevinhador


Dois episódios estiveram no centro dos debates no Rio Grande do Sul nas últimas semanas: as manifestações racistas de torcedores do Grêmio contra o goleiro santista Aranha e as objeções à realização de um casamento homoafetivo em um Centro de Tradições Gaúchas (CTG).
Sem vínculos diretos com partidos ou com candidatos, os dois casos são ilustrativos do verdadeiro debate que está colocado nas eleições para o governo gaúcho.
No caso do racismo, após os primeiros protestos e o expurgo literal da torcedora, do seu emprego e do clube, ganhou espaço nos meios de comunicação um discurso em que agressora passou a vítima. Com direito a choro na televisão, apelou para se tornar símbolo anti-racista e finalmente ganhou um emprego na Central Única das Favelas (CUFA).
Já os protestos contra o casamento homoafetivo deixaram a retórica e ganharam a forma de um coquetel molotov jogado contra o Centro de Tradições poucos dias antes da cerimônia, obrigando a sua transferência para o fórum local.
Logo, surgiu o discurso relativista do “não é bem assim”, “não é que a gente seja contra o casamento gay…” a ponto de um Promotor de Justiça publicar um artigo onde afirma textualmente que se os homossexuais querem respeitar seus direitos “que respeitem o espaço e as tradições dos demais”.
No ano passado, o filósofo Vladimir Safatle já havia alertado para a prática de inversão que racistas e preconceituosos operavam, ao alegar que eles, sim, eram “perseguidos pela implacável polícia do politicamente correto”. A “nova moda” é travestir racismo e preconceito de “afirmação rebelde da liberdade”.
Pois bem, o conservadorismo que não tem vergonha de dizer seu nome e que justifica suas ideias como a defesa da liberdade (do mercado, diga-se) encontra-se bem encarnado na candidatura que lidera as pesquisas no estado, a senadora Ana Amélia Lemos (PP).
Ex-editora da sucursal de Brasília do grupo RBS, braço da Globo no sul do país, a senadora é considerada porta-voz legítima dos interesses do agronegócio, não apenas gaúcho. Portanto, sua candidatura apoia-se em duas mais poderosas forças do estado, o maior grupo de comunicação da região e um dos setores economicamente mais ricos.
A plataforma de governo de Ana Amélia é simples: liberalização absoluta e retirada do Estado de todos os setores. Em bom português: Estado mínimo e privatizações. No entanto, sua candidatura não é alavancada por suas ideias, mas pela popularidade obtida pela presença diária na televisão e no rádio por décadas. Neste sentido, ainda que não seja seu colega de chapa, sua candidatura equivale ao candidato ao senado Lasier Martins (PDT), também apresentador do jornal diário do grupo RBS.
Dessa forma, os rompantes de sinceridade de sua chapa cabem ao deputado federal Luiz Carlos Heinze (PP), candidato à reeleição, conhecido por um vídeo que circulou na internet no ano passado onde declarava que o gabinete do ministro Gilberto Carvalho reunia “quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo o que não presta” (veja aqui). No lançamento da candidatura de Ana Amélia, Heinze não resistiu e abriu o coração: “bom mesmo era na ditadura militar, quando nós da Arena é que mandávamos”.

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