Isto não é um poema é apenas um desabafo, por Arnaldo Antunes

isto não é um poema

desabafo
que não pude não
fazer e não pude fazer
de outra forma
que não fosse
assim
fatiando as frases
no espaço
aqui
hoje
eu vi
aterrorizado 
um artista assassinado
Moa do Catendê,
mestre de capoeira,
autor do Badauê —
por conta de uma divergência política num bar
da Bahia
depois corri o dedo
sobre a tela e
vi e ouvi
arrepiado
Luiz Melodia
(também negro e compositor,
também com o cabelo rastafari,
como a vítima do post anterior)
cantando 
"no coração do Brasil"
e repetindo muitas vezes
esse refrão
"no coração
do Brasil"
"no coração do Brasil"
que tento sentir
pulsar ainda
entre a luz de Luiz
e a treva
desse buraco vazio
que não pulsa mais no peito
de Moa do Catendê
e "não existe amor em SP"
ou "no coração do Brasil"
fraturado
nesses dias
brutos
de coturnos
chucros 
a chutar a cara
de quem
ama
arte
cultura educacão
liberdade de expressão
diversidade
cidadania
solidariedade
democracia
mas não se dá
a mínima
o que importa é se subiu
a bolsa
caiu
o dólar
se todos vão prosseguir
seguindo
docilmente para o abismo
nessa insanidade coletiva
em que o Brasil nega
qualquer Brasil
possível
cega
qualquer futuro possível
e o ódio
o horror e o
ódio
e nada que se diga faz sentido
mais
para quê
expor na cara desses caras
a palavra explícita
(gravada em vídeo e repetida, repetida, repetida)
do seu "mito"
dizendo
"eu apoio a tortura"
"eu defendo a ditadura"
"eu vou fechar o congresso"
"não servem nem para procriar"
"não te estrupro porque você não merece"
"a gente vai varrer esses vagabundos daqui"
"o erro foi torturar e não matar"
"viadinho tem que apanhar"
etc etc etc etc etc
e tudo mais
que repete incansavelmente
há anos
ante câmeras e microfones
para quê mostrar de novo
e de novo
o mesmo nojo
se é justamente 
por isso
que o idolatram?
e sempre haverá
os que vêm disfarçar
dizendo:
"estamos entre dois extremos"
"sim, mas veja a Venezuela"
"é para acabar com a corrupção"
"nós queremos segurança"
ou
"não é bem assim…"
enquanto constatamos cada vez mais
que sim,
é assim
mesmo, é assim
que é 
mas
como li por aí:
"como explicar a lei Rouanet para quem
ainda não assimilou a lei Áurea?"
ou: como explicar a lei da gravidade 
para quem ainda crê
que a terra é plana?
e querem defender sua ignorância com dentes
e garras
querem
matar atirar vingar
a quem?
em nome de quem?
(pátria, família, propriedade, segurança?)
se nessa seara não há direitos
nem respeito 
ensino ou dignidade
só horror e
ódio, ódio
e horror
as palavras perdem a clareza
os valores perdem o valor
a vida perde o valor
Marielle
remorta remorrida rematada
por sua placa
rompida rasgada desonrada
pelas mãos truculentas de
brutamontes prepotentes
com suas camisetas estampadas
com a face do coiso
que redemonstra sua monstruosidade
quando vende
em seus próprios comícios
camisetas de outro
ultra-monstro
ustra

aquele que além de torturar
levava crianças para verem
suas mães torturadas

e esses mesmos
abomináveis
que, diante de uma claque vergonhosa,
se orgulham 
de terem
rasgado as placas
com o o nome Marielle Franco
estão sim
agora
eleitos
satisfeitos
mas não saciados
de todo o sangue
de inocentes
que há de correr
só por serem
diferentes
excitando em outros
o desejo de exercer
seu obscuro
poder
de milícia polícia esquadrão da morte
e o anúncio da Rocinha metralhada
como solução
a barbaridade finalmente
institucionalizada
como diversão 
o Brasil finalmente
sem coração
fora da ONU
e dos acordos internacionais pelo
meio-ambiente
sem controle
de sensatez ou mentalidade
sem limite humanitário
"não vai ter ong!"
"não vai ter ativismo!"
"não vai ter mimimi!"
bradam
cheios de si e de ódio
criminosos contra o crime
opressores pela família
amorais pela moral
apesar de todos
os alertas
da imprensa internacional
de esquerda, de centro, de direita
só não vê quem não quer
a tragédia anunciada
divulgada
não como boato
mas escancarada
-mente
enquanto
empoderados pelo discurso
de ódio
de horror e ódio
seus eleitores
já saem pelas ruas 
dando tiros
e gritos
enxurradas de fakes
suásticas nazistas gravadas com canivete
na pele da menina
que usava "ele não" estampado na blusa
e a promessa de violência desmedida
se concretizando
antes mesmo de começar o segundo turno
e nem um centímetro de terra para os índios
e nem um pingo de direitos civis ou humanos
e a volta da censura e o ódio,
o ódio, o horror
e o ódio
pra encerrar de vez
o sonho de uma nação
que tem a chance
de dar ao mundo
sua contribuição
original
agora fadada a repetir o que de pior já houve
na história
sem história agora
sem Museu Nacional
nem cultura nem educação
abolir filosofia e arte
em seu lugar:
moral e cívica
escola militar
religião
geografia dos lucros e dividendos
massacre das minorias
horror e ódio
e ódio
e horror
crescente permanente enquanto dure
pois ninguém larga o osso assim tão fácil
depois de um golpe 
que precisa parir outro golpe
ou autogolpe
alimentado por todas as fakes e facas
contra as costas de artistas
como Moa
mas na cabeça de quem apóia
tudo se justifica:
o fascismo
a tortura dos presos
o sumário julgamento sem juri
autorização dada à polícia
para matar
e o ódio aos pobres
as blitzes ostensivas
a guerra declarada
dos que aceitam assassinos para combater bandidos
se está tudo invertido mesmo
pobre elegendo milionário,
pelo avesso e ao contrário
então se autoriza a sórdida
barbárie
dos fortes contra os fracos
algo está muito doente
no Brasil
no descoração do Brasil
que mente, se omite, agride, regride
para avançar sem freios
em direção ao fascismo
seguindo a música hipnótica do
ódio,
horror e ódio
pregados em igrejas
em nome de Deus
e de Cristo
só desamor em nome de Cristo
violência e brutalidade em nome de Cristo
armas e tortura
e preconceito em nome de Cristo 
de Deus e de Cristo 
armar a população
para metralhar os adversários
os diferentes
os miseráveis
os favelados
os do outro lado
os que se manifestam
ou contestam
ou pensam de outra forma
ou se vestem
de outra cor ou tem
outra cor ou
qualquer pretexto
que se crie
para espalhar o ódio, o horror
e o ódio
do machismo ao estupro
da mentira ao linchamento
do homicídio ao genocídio
("tinha que ter matado pelo menos trinta mil!")
já sem democracia
palavra vazia 
em boca
de quem compactua
(e não são poucos)
pensando ser
possível
alguma forma de
neutralidade
nesse momento
como Pilatos 
lavando as mãos
a chamada mídia
tenta fazer média
ao dizer que os dois lados são igualmente
extremistas e perigosos
mas então 
onde estavam nos últimos três mandatos
e meio
antes do pesadelo Temer?
estavam numa ditadura comunista
e não sabiam?
na verdade
todos sabem muito bem
que o extremismo
vem de um só
lado, que 
quer se eleger para acabar
com eleições
e que o grande perigo é mesmo
esse jogo
de equivalências que,
na verdade
serve ao monstro
pois a omissão é missão impossível
neste agora
impossível
mascarar o sol
da ameaça
hostil e explícita
do nazismo
crescente
com a peneira furada
de um bom senso
mediano hipócrita indiferente
que sempre
vai dizer:
sim, mas a Venezuela…
como se não tivéssemos ouvido exatamente isso
em 64,
quando diziam:
— Sim, mas Cuba…
para justificar a ditadura militar
que tanto elogiam
hoje em dia
e que o atual 
presidente
do nosso Supremo Tribunal Federal
decidiu
que agora vai chamar
de "movimento"
em vez de 
"golpe militar"
para adoçar um pouco a boca
amarga
do sangue
impregnado
que não vai sumir assim
mudando a nomenclatura
desnomeando a já tão dita
"ditadura"
mas esse des-
-equilíbrio
ético
que diz
preferir uma autocracia
perfeita
a uma
defeituosa
democracia
esse
erro
que nenhum arrependimento será
capaz de reparar
quando for tarde
demais
ainda dá
para evitar
ainda
é tarde
de menos
para
conter
o ódio,
o horror e o ódio
ainda

dd
a
d

Haddad: ninguém ofendeu mais o brasileiro que Bolsonaro


Ricardo Stuckert

Questionado sobre a proposta de seu adversário de oferecer o décimo-terceiro no Bolsa Família, o candidato da frente democrática, Fernando Haddad, bateu duro no candidato do PSL: "Se tem um cara que meteu o pau no Bolsa Família a vida inteira e que xingou o nordestino, xingou o pobre, foi meu adversário. Diz que pobre não trabalha para ganhar o Bolsa Família, pobre engravida para ganhar o Bolsa Família. Não conheço ninguém que tenha ofendido mais o brasileiro como ele. É um sujeito pouco consistente", afirmou, em entrevista ao site Metrópoles, de Brasília; Haddad voltou a condenar novamente os atos de violência que têm ocorrido no Brasil por apoiadores de Bolsonaro e os atribuiu ao candidato; "Quem é que defende regimes autoritários? Quem defende extermínio? Tortura?".
Brasil 147
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Política do AdSense: Não é permitido aos editores pedir que outras pessoas clique nos anúncios nem usar métodos de implementação fraudulentos para receber cliques. Isso inclui, oferecer remuneração para que os usuários visualizem anúncios ou realizem pesquisas, prometer arrecadar dinheiro para terceiros por meio de tal comportamento ou colocar imagens próximas a anúncios individuais.

Bolsonaro, vamos debater



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Ministério Público ameaçado: general escolhido por Bolsonaro atenta contra a democracia

Oswaldo Ferreira, cotado para o Ministério dos Transportes por Bolsonaro, acredita que a ordem jurídica e o combate à corrupção não passam de "encheção de saco".

Não é mais novidade para ninguém que Bolsonaro e seus aliados estão contra os interesses do povo. Seu vice, General Mourão, é contra o 13º salário e contra as famílias criadas por mães e avós; seu economista, Paulo Guedes, faz declarações polêmicas sobre aumento dos nossos impostos; e ele mesmo, e seu partido, é um grande aliado de Michel Temer e suas reformas antipopulares.
Hoje quinta-feira (11), mais um aliado de Bolsonaro fez uma declaração que põe em risco a democracia. Oswaldo Ferreira, cotado para ser ministro dos Transportes do deputado, fez uma grave declaração. Ele afirmou, segundo o jornal O Estado de S. Paulo:

“No meu tempo, não tinha MP e Ibama para encher o saco”.

O Ministério Público, caso o General Ferreira não saiba, é uma das instituições mais importantes da democracia. Ele é responsável pela ordem jurídica e os interesses da sociedade e é o principal observador das leis brasileiras. Instituição vital no combate à corrupção.
O IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - é outro órgão extremamente importante para o Brasil. Ele atua com poder de polícia ambiental, controla a qualidade ambiental, fiscaliza e autoriza a utilização de recursos naturais e é um dos principais mecanismos para a preservação do meio ambiente.

Quando o aliado de Bolsonaro ataca duas instituições tão importantes, ele ataca a democracia.

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Porta dos fundos: Barbie Rambo


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Bolsonaro é um avatar, como derrota-lo? por Wilson Ferreira


Estamos à beira do desfecho de uma guerra híbrida iniciada em 2013 com as chamadas “Jornadas de Junho”. Num mecanismo tão exato quanto um “tic-tac”, passo a passo, um depois do outro, irresistível, sistemático: a Política foi demonizada, um governo foi derrubado, o psiquismo nacional envenenado e a polarização despolitizou e travou qualquer debate racional. Tudo iniciado pelas bombas semióticas detonadas diariamente pelas mídias de massas. E nesse momento o desfecho ocorre na velocidade viral das redes sociais. Por isso, Bolsonaro converte-se em um “candidato-avatar”: a Nova Direita descobriu a tática do “Firehose” – a espiral de boatos e desmentidos pelos “fact-checking” cria paradoxalmente o subjetivismo e relativismo que blinda o próprio candidato-avatar. Apesar de toda essa pós-modernidade, a Nova Direita tem o mesmo elemento de estetização da política criada pelo fascismo histórico: a narrativa ficcional cômica – de programas de humor da TV, Bolsonaro despontou como um “mito” de quem ria-se e não se levava a sério. Por isso, circulou livremente. Hoje, é o protagonista do “gran finale” da guerra híbrida. Como enfrentar um avatar?
Caro leitor, observe a foto abaixo. No futuro, quando pesquisadores procurarem entender como o Brasil foi capaz de destruir a Nova República e a redemocratização que levou à Constituição de 1988 (jogando o País numa distopia muito próxima à série brasileira Netflix 3%), certamente escolherão essa foto como símbolo desse movimento irracional de autodestruição.

Janio de Freitas: Tratar Haddad e Bolsonaro como equivalentes é injusto


Janio de Freitas

- Serra e FHC estão com Bolsonaro. Ciro e o PDT deram uma de tucano, com esse lero-lero de "apoio crítico", fizeram quase igual a REDE da blablarina, Triste - 

Um ou outro. Assim é a atual eleição presidencial. Nenhum eleitor, absolutamente nenhum, ainda que se abstenha por ausência ou voto omisso, deixará de contribuir para a eleição de um ou de outro. Mas, se a decisão eleitoral se faz entre dois nomes, na verdade, o eleitor fará outra opção. Vai escolher entre democracia e autoritarismo.
Não há neutralidade diante desta bifurcação. A decisão do PSDB e do DEM (chama-se Democratas, veja só) de não apoiar Jair Bolsonaro (PSL) nem Fernando Haddad (PT) parece fuga à responsabilidade, a sua tradicional subida no muro.
É, no entanto, apoio a Bolsonaro e ao que ele representa, já que o beneficiam todas as opções que não sejam de apoio explícito a Haddad, carente de votos. Os pilatos envergonhados recorrem ao ardil apenas verbal da neutralidade.
Descendente direto da ditadura, o DEM mudou de nome sem mudar de natureza. O PSDB fez o inverso. Traído por vários de seus líderes, renegou as origens e os compromissos promissores, e se tornou o líder da direita até ver-se agora desbancado por um partido nanico. A escolha mal disfarçada dos peessedebistas por Bolsonaro e pelo autoritarismo pode ser coerente, mas é vergonhosa.
Os dois puxadores de tal posição não precisariam mais do que respeitar sua história remota. Nela se conta que Fernando Henrique e José Serra se sentiram ameaçados pela ditadura militar a ponto de buscar refúgio no exterior.
O primeiro teve vida mansa por lá, mas o outro passou por riscos e dificuldades superados só pela sorte. Hoje, é a defensores nostálgicos da força que os perseguiu, enquanto impunha no país a tortura, a morte, a censura, o atraso, que Fernando Henrique e José Serra dão a ajuda capaz de ser decisiva. É demais.Haddad e Bolsonaro não se equivalem, nem o PT e a corrente política bolsonarista são a mesma moeda, como muitos têm dito e escrito.
A respeito, Hélio Schwartsman já foi claro: “Bolsonaro já deu inúmeras declarações que escancaram seu descompromisso para com a democracia e os direitos humanos. Não é absurdo, portanto, imaginar que, uma vez alçado ao poder, ele dê início a uma escalada autoritária” // “Quanto a Haddad e o PT, se o passado vale alguma coisa, eles já foram aprovados no teste da democracia. O partido teve uma presidente destituída e seu líder máximo preso e em nenhum momento deixou de acatar as regras”.
Os defeitos de Bolsonaro que nos interessam, muitos, não são vistos em Haddad. As qualidades de Haddad, como pessoa e como homem público, nunca foram vistas em Bolsonaro nos seus 27 anos de político. Sem falar no seu tempo de perturbador dos quartéis. Tratar os dois como equivalentes não é apenas injusto, é também falso. E não é de boa-fé.
A democracia não é defendida com posição passiva nem, muito menos, com enganosa neutralidade. Defendê-la, pelos meios disponíveis, não é comprometer-se senão com a própria democracia. Não a defender, é traição ao presente do país e às gerações que nele ainda despontam.
Janio de Freitas
***