Escravidão

Marco Antônio Leite

Os 11 trabalhadores que sofriam em condições análogas à escravidão numa carvoaria em Eldorado dos Carajás (PA) foram libertados na última sexta-feira (4), mas o grupo móvel de fiscalização do governo federal mantém as investigações no rastro dos responsáveis pela situação encontrada.

Sete das pessoas que eram exploradas retornaram ao Maranhão, de onde vieram como migrantes em busca de empreitadas; os outros quatro voltaram para suas casas localizadas na mesma região da operação. Todos estão recebendo o Seguro Desemprego para o Trabalhador Resgatado.

A condição em que os carvoeiros viviam foi classificada pelo auditor fiscal do trabalho Benedito Lima como "extremamente grave". Eles estavam em barracos de lona sem estrutura básica (não havia sequer banheiro) e consumiam água sem nenhum tratamento. O mesmo açude servia para refrescar o gado. "Há tempos não via uma água para beber tão suja", confidenciou Benedito, coordenador da ação. Os trabalhadores não tinham carteira assinada, não recebiam salários de forma regular e não utilizavam Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) durante a jornada de trabalho.

Para chegar ao local, à fiscalização partiu de Marabá (PA) e percorreu cerca de 90 km pela Rodovia PA-150. Da estrada, eles tiveram que adentrar mais 18 km até as proximidades do povoado de Gravatá, já em Eldorado dos Carajás (PA), município que ficou conhecido após o massacre que resultou na morte de 19 sem-terra em abril de 1996. De Gravatá, a comitiva superou mais quatro quilômetros até chegar à carvoaria, instalados num terreno modesto não maior que 30 alqueires. A região é ocupada por pequenos posseiros que adquiriram terras irregularmente de ex-assentados.

O dono da propriedade - que, segundo Benedito, era um pequeno agricultor que mantinha cerca de 10 bois, uma moto e uma casinha pequena - ficou sabendo da fiscalização e fugiu. A madeira queimada para dar origem ao carvão vegetal era de restos de lenha. Intermediários da cadeia, como transportador e representantes da empresa fornecedora da nota fiscal para legalizar a carga, também não contribuíram para que o comprador final do carvão produzido por trabalhadores escravizados viesse à tona.

Há indícios de que siderúrgicas da região possam estar ligadas à carvoaria, mas o grupo móvel, mesmo com a contribuição de agentes da Polícia Federal (PF), não conseguiu obter vínculos consistentes entre as partes. O carvão vegetal gera (não só como combustível de altos fornos, mas como parte constitutiva) ferro-gusa, usado dentro e fora do país para dar origem ao aço.

 "As siderúrgicas negam peremptoriamente ter recebido a produção da carvoaria", conta Luercy Lino Lopes, procurador do trabalho que acompanhou a operação. Ele lamenta não ser possível determinar com segurança quem estava por trás do crime. "Infelizmente, o quadro é esse. Sem provas concretas, qualquer ação civil pública seria temerária", pondera Luercy, que atua na Procuradoria Regional do Trabalho da 9ª Região (PRT-9), no Paraná.

Sem responsáveis, ainda não foi possível fazer com que as rescisões trabalhistas fossem pagas e nem cobrar indenizações pelo ocorrido. As dificuldades, porém, não desanimam por completo o procurador, que aguarda investigações complementares para encontrar os consumidores que utilizavam diretamente o carvão vegetal. "Pela primeira vez, não foi possível chegar a nenhum responsável", coloca o procurador Luercy. Ele participa do grupo móvel desde 2000. Em nove anos, já esteve em cerca de 18 operações e jamais passara por situação semelhante. "Isso nunca aconteceu antes".

O flagrante na carvoaria, acrescenta Benedito, confirma a necessidade da execução de trabalhos de inteligência que possam se dar antes da fiscalização propriamente dita, já que as regulações e os controles existentes sobre o escoamento do carvão são frágeis. No caso em questão, restou evidente para o coordenador fiscal que o posseiro da área da carvoaria e o transportador intermediário, apesar do vínculo com os explorados, também eram pobres. "O negócio só se viabilizava em função dos aproveitadores finais", assevera.

Fifer a fida

Pesquisa tucanal


Uma característica destaca o tucano de todos os demais pássaros. Não é a sua capacidade de voar, pois ele é bastante vagaroso. Não voa, mas pula de galho em galho. Não é seu canto, pois ele grita. Também não é seu tamanho, pois ele é pequeno. O que destaca o tucano é uma característica que se um de nós a tivesse também não gostaria muito: o tucano tem um bico tão grande que às vezes chega a tropeçar nele! Aos saltos, o bando faz grande algazarra. É considerada uma espécie em extinção... Segundo estudiosos, o tucano é também conhecido como tucanossaurus-privatizantis. O bico, comprido e pesado atrapalha sua visão. Além disso ele é vesgo e míope. O bico, pesado e comprido em relação ao corpo, faz do tucano um desastre aerodinâmico. O vôo é curto, o cérebro diminuto, mesmo comparado com outras aves. Destemperado, mas segundo os cientistas, se acalma ao ouvir tilintar de moedas. Por ter intestinos pequenos, evacua o tempo todo. 

Aviso: qualquer semelhança com fatos e pessoas reais, terá sido mera coincidência. 

Obrigado.

João Magalhães Alves 
Goiânia - GO

Poesia e melodia vestidas de sutileza

O cantor e compositor Fausto Nilo e a cantora Paula Tesser se apresentam amanhã, no Projeto BNB Clube de Cultura. Saiba mais Aqui

Começou o vale tudo


Tinha que ser o “Estadão”. Vanguarda do atraso, no passado, ferrenho adversário da luta nacionalista e da criação da Petrobras, o jornal escalado para dar o tom na campanha contra o novo marco regulatório do petróleo e organizar o discurso da oposição para 2010. Já que esta é incapaz de ir além da agenda denuncista da mídia.
Com seu editorial de domingo (06/09), “Em preparo uma herança maldita”, plagiando nosso mote sobre a situação encontrada em 2003, o jornal mais conservador do país deu a largada na campanha presidencial. Verdadeiro partido político da oposição, os jornais e a mídia em geral tentam fazer uma caricatura do governo Lula.
O “Estadão” ensaia o programa de governo da oposição e afirma que o governo Lula está fazendo uma contra-reforma na Previdência, na política fiscal do país e nas leis trabalhistas. A verdade é bem outra. Aos fatos:
A Previdência foi salva pelo crescimento do emprego e da economia, com a criação de mais de 8 milhões de empregos formais desde 2003, pela reforma que realizamos em 2003 e 2004, pela sua modernização e ampliação, sendo a expedição da aposentadoria por idade em 30 minutos e a melhora no atendimento dos aposentados apenas a face externa das mudanças. Avanços esses que culminaram com a implantação de 5,6 milhões de novas aposentadorias, entre 2003 e 2009. E o número cresce ano após ano.
Sobre a política fiscal, nunca o país teve uma dívida interna tão bem administrada, desdolarizada, alongada; uma dívida externa sob controle e reservas de US$ 201 bilhões, em junho último, segundo o Banco Central; um déficit nominal na casa de 2,2% do PIB (Produto Interno Bruto); e um superávit de R$ 38,4 bilhões, ou 2,3% do PIB; mais o Fundo Brasil Soberano.
A cantilena ridícula e atrasada do descontrole dos gastos públicos não suporta a luz dos dados nem a realidade. Não fosse o aumento dos gastos públicos e o aumento da concessão de crédito público, o Brasil teria quebrado de novo.
Foi decisão do governo, e não do Banco Central, liberar o crédito dos bancos públicos, já que as instituições privadas até hoje estão conservadoras.
Assim como foram decisões do governo baixar a taxa básica de juros, reduzindo o serviço da dívida interna e permitindo o aumento dos investimentos e a manutenção dos gastos sociais.
Foram os gastos sociais, o aumento dos salários, inclusive do salário mínimo e das aposentadorias, da massa salarial pela criação de mais de 10 milhões de empregos formais e informais, que garantiram, via mercado interno, a retomada rápida do crescimento e a reposição de empregos perdidos, quando a economia mundial entrou em colapso.
Em 2003, as agências reguladoras estavam sem recursos humanos e materiais, sem definição de seu papel. Ao contrário do que afirma o jornal, fomos nós que as reorganizamos e definimos seu caráter.
Foi o governo Lula que devolveu aos ministérios a função de definir as políticas de Estado e às agências o seu papel regulador. 

As contratações por concurso público e os aumentos salariais dos servidores são necessários para devolver ao Estado brasileiro a capacidade de gestão e a eficiência, a definição de políticas, o planejamento, a execução de obras e a prestação de serviços.
Não é fato que os investimentos do governo federal não aumentaram. Foram multiplicados por cinco, desde que assumimos o governo do país. Fora o crescimento dos investimentos da Petrobras e do sistema Eletrobrás, das concessões e agora do PAC.
A afirmação de que são os gastos com pessoal que crescem, e não os investimentos e os gastos sociais, não resiste à leitura do Orçamento.
Da mesma forma que o cenário apocalíptico e pessimista sobre eventuais mudanças na legislação trabalhista não resiste à realidade de retomada do crescimento e do emprego, dos investimentos e do clima de confiança no país.
É a tentativa desesperada de construir uma agenda negativa cuja expressão maior é acusação de nacionalismo e estatismo, como se isso fosse um mal ou um desvio, quando a saída e a solução são ser nacionalista, defender e recuperar as riquezas e reservas naturais do país, destinar a renda do petróleo para o desenvolvimento da nação.
São exigências dos tempos em que vivemos, quando se fez necessário abandonar o neoliberalismo e impedir que a nação se afundasse na especulação financeira e no rentismo, devolvendo ao Estado Brasileiro o papel que sempre teve em nossa história, razão de ser da eleição do presidente Lula e de sua recondução em 2006.

A mídia e os incautos

Rachado ao meio

A esta altura dos acontecimentos, vejo que a imprensa exalta a popularidade de seu generoso cliente, José Serra, garantindo que a candidata do PT estacionou na conquista da preferência popular. O que eu li, talvez não haja entendido.
É que o prestígio de Serra continua onde sempre esteve. Não há indicações de que o de Lula tenha decrescido, tanto quanto desejavam os meios de comunicação e precisava a oposição. Ao contrário, continua o presidente mais popular de nossa história. Tudo indica que Serra cumpre seu fadário, o da divisão, da fragmentação, da desunião.

Desunirá o PSDB que anda mal das pernas, desde que passou a enfrentar a competência e os êxitos de Lula. E assim permanecerá. Claro que, daqui para lá, os veículos de comunicação continuarão a garantir aos incautos que Serra será o futuro presidente, até sua derrota fatal. É o que tem acontecido desde que os tucanos ocuparam o poder e conseguiram atingir os donos de grandes veículos do Sul no ponto mais sensível do corpo humano, o bolso.

Torcida

Até agora, o pleito tende a ser plebiscitário, apesar de todo esforço da extrema direita em ameaçar a candidatura Dilm Rousseff com o ingresso no páreo do respeitado nome da senadora Marina Silva. Só o fato de estar ela sendo tão paparicada pelos tucanos e pelos jornalões que servem ao partido da oposição já deixa pairar a impressão de que ela entrou na disputa, por haver sido demitida do governo Lula com objetivo de prejudicar sua candidatura. E, óbvio, favorecer o candidato da oposição, José Serra. Será que ela quer isso em sua biografia?

Vereadora

Heloisa Helena, aquela que chamava todo mundo de ladrão, até ser processada como sonegadora de impostos, também foi paparicada pela mídia, a serviço do tucanato. Deu em nada. Terminou conquistando o modesto lugar de vereadora na capital de seu Estado. Será o que a senadora Marina Silva deseja?

Lustosa da Costa

O abandonado


Airton Monte

Encontrei um conhecido meu, a quem, logicamente, não darei o nome em público por motivos óbvios, assim sentado solitariamente na mesa de um bar, entornando umas cervejas, ostentando uma desamparada tristeza de um menino de quem acabaram de roubar a primeira bicicleta. Ao me ver, o amigo deu-me um forte abraço ensopado de lágrimas e só conseguia repetir, num tom de voz que era um misto entre o ódio e a saudade, uma melancólica ladainha: ”Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que?” 

Daí, eu já podia desconfiar que só podia ser alguma história de mulher. E realmente era. Pois o desgraçado acabara de levar um humilhante chute da mulher que ele amava, e que, diga-se de passagem, tratava-se de uma louraça cinematográfica. Dessas que se Deus não fosse perfeccionista, haveria nascido Vera Fischer. Como só acontecer nessas aflitivas situações, o infeliz contou-me o seu atribulado fim de caso, que naturalmente como todo fim de caso, traz em si embutido um enredo dramático de quinta categoria. A mesmíssima conversa fiada de sempre. 

Com viril solidariedade, ponho-me a pensar por que os homens sofrem mais intensamente do que as mulheres quando são abandonados. Creio que não é a mulher que não padece, de coração estraçalhado, das desditas de amor. Entanto, o homem sofre diferente e mais profundo. Eventualmente nem goste mais da mulher que se foi. O que predomina, por muitas vezes, é a insuportável perda do chamado e troglodítico direito de posse que o homem pensa possuir. Por exemplo, o homem sempre diz pra todo mundo ouvir, ao apresentar a consorte: esta é a minha mulher. 

Por sua vez, o imbatível mulherio jamais ousa usar a mesma fala e se sai da situação com os sambados eufemismos como “meu marido, meu companheiro, meu namorado, meu amor”. Penso que as mulheres têm um discreto pudor da posse. Mas enfim, o meu triste amigo foi embora como um senhor feudal completamente desmoralizado. Enchi-me de remorsos por não poder ajudá-lo em nada. Entanto, nada que eu pudesse dizer iria aliviar a sua lancinante dor. Podia ter-lhe dito os versos de Pablo Neruda: ”Ah, para além de tudo, é a hora de partir, ó abandonado”.