Zé Dirceu: A semana que se encerra hoje balizou disputa presidencial e valeu por um ano

Ela passa para a história das disputas e das campanhas eleitorais presidenciais como a semana em que uma das candidatas, a ex-senadora Marina Silva, que concorre abrigada temporariamente no PSB se autodesconstruiu.

Ela é a autora dessa façanha, ainda que pretenda se fazer de vítima e atribuir aos adversários suas inconsistências, contradições, falta de firmeza, oportunismo e sua rendição as conveniências eleitorais sem qualquer parâmetro programático ou político.

Enfraqueceu a sua candidatura à Presidência da República sozinha com seu pragmatismo sem nada programático. Aliás, o contrário do que ela anunciou quando se aliou ao ex-governador Eduardo Campos dia 4 de outubro do ano passado. Enfraqueceu, deixou mambembe sua candidatura com o vazio de seu discurso, a insegurança nas propostas, as mudanças de posição e a fraqueza para expor ideias que incorporou via assessores tucanos e ou liberais extremados.

Ela estragou minha crônica

Eu tinha todo um texto bonito sobre uma menina que lia notícias da nova ciclovia na Avenida Paulista, mas que não parava de pensar nos peitos da Jennifer Lawrence. Ela não tinha visto as fotos, achava aquilo tudo bem invasivo, mas imaginar nua aquela garota linda que todos amavam lhe dava espasmos no corpo todo.

Pensava, eu, que a situação havia sido resolvida, que todos concordavam com as faixas vermelinhas nas ruas, celebravam o avanço de um dos pontos mais importantes da cidade estar no foco de tal inovação. Com essa tranquilidade do consenso, eu ia escrever sobre a doce menina que acordara já com as pernas inquietas, pressionando uma coxa contra a outra coxa, as palmas das mãos suadas e roçando os dedinhos dos pés no lençol que jazia sem utilidade na ponta da cama.

Afinal, não havia mais com o que me preocupar. Em Moema, a nova realidade haveria de ser um sucesso e os moradores do bairro do Higienópolis certamente celebrariam a chegada das boas novas. Sem os problemas, restaria à minha pessoa divagar sobre o dia em que uma garota passou apuros com suas vontades, usar palavras gostosas, incitar a imaginação alheia.

Ela passaria o dia enfurnada em casa, sentada no sofá e controlando os faniquitos debaixo da saia. Leria coisas que incitariam ainda mais as labaredas na bochecha, a cara queimando o dia todo, os cabelos bem presos porque qualquer pensamento já lhe causava suores na nuca. Lá fora, o mundo corria normalmente e todos seríamos felizes.

Mas aí comecei a desconfiar. Estava tudo calmo demais. Adentrei na realidade fictícia dela e fui até a janela — ela não tirava os olhos das maravilhas que a tecnologia propiciava para sei deleite visual — e o sol brilhava naquele laranja agradável e as pessoas conversavam nas calçadas e o vento tinha a temperatura certa e, nos oito minutos que fiquei analisando a rua, nenhum carro atravessou a faixa de pedestres no farol já vermelho quase atropelando quem atravessava.

Algo estava errado.

Deixei a mocinha com as mãos se enfiando para dentro das calças e fui para a rua dela. Era um apinhado de gente bonita em clima de azaração, todos com tempo de sobra, caminhando e dando “ois” e “olás”. Elas estavam serenas e caminhavam olhando para as outras pessoas, admirando o contorno das árvores, a luz do sol rebatida nos prédios. Um rapaz com roupas esportivas me ofereceu um suco que estava tomando, estava gelado e no ponto certo de açúcar.

Era tudo bom demais para ser verdade. Teria o mundo tomado jeito e resolvido os petardos que esse ano plantou em cada pontinho estratégico do globo? E cá, em minha cidade, a paz reinava e tínhamos água na Cantareira novamente?

Fora daquela imersão e sentado novamente em frente ao computador, olhei aqui para fora e estava tudo como sempre foi. Gente que não usa bicicleta reclamando do espaço perdido para os ciclistas. Gente que não usa carro bradando contra o excesso de espaço para veículos motorizados. A velha treta de pessoas que querem ver a cidade avançar, mas desde que isso não mexa em nada com seu dia a dia.

Não pode fazer buraco pra enterrar fios dos postes, não pode botar comércio no pé dos prédios, não pode deixar aquele povo dos bairros “perigosos” virem morar aqui no “nosso” centro, não aumenta meus impostos, não bota ônibus na minha faixa, não me abaixa o preço daquele restaurante porque eu não quero me misturar com certo tipo de gentinha. E o Pelé continua falando merda pra cacete.

Preferi não voltar para a menina. Certamente ela estava prestes a gozar sozinha e ser feliz. Não quis incomodar.

por Jader Pires


El País: Dilma inquebrável

A presidenta brasileira, Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT) utilizando-se de seu perfil inquebrável, começa a subir pouco a pouco nas pesquisas, dando uma reviravolta em uma situação em que tudo, há uma semana, parecia jogar contra ela. A irrupção meteórica e inesperada da candidata Marina Silva, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que logo a colocou ao lado, (quando não na frente) da atual presidenta, fez tremer os dirigentes do PT.

Nada parecia deter a figura ascendente de Marina. E entretanto, o ataque frontal da presidenta à candidata, a quem acusa, entre outras coisas, de servir e ser servida pelos bancos e de não esclarecer muitas partes obscuras de seu programa, parece que começam a surtir efeito. Uma pesquisa divulgada na quarta-feira apresentou uma tímida subida da atual mandatária brasileira e, em termos gerais, um empate técnico entra as duas mulheres, tanto no primeiro como no segundo turno. Hoje outra sondagem mostra que Dilma Rousseff seria a candidata mais votada no primeiro turno, com 39%: Marina Silva obteria 31% e o terceiro na disputa, cada vez mais relegado ao papel de figurante, Aécio Neves, do mais conservador Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), ficaria com 15%. No segundo turno, por enquanto, Dilma Rousseff e Marina estão praticamente empatadas, com 42% e 43%, respectivamente.

A sondagem também lança dados sobre os seguidores de uns e outros: Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente com Lula, posteriormente afastada do PT, é a preferida da classe média emergente e dos habitantes das grandes cidades como São Paulo ou Rio; enquanto isso, Dilma mantém entre seu eleitorado a faixa mais pobre da população e das zonas rurais.

A irrupção e o avanço de Marina juntaram-se no sábado passado com mais um problema relacionado com Dilma: a existência de uma emaranhada e gigantesca rede de corrupção criada às custas da maior empresa pública brasileira, a petrolífera Petrobras. A revista Veja revelou nesse dia que, em troca de uma diminuição da pena por lavagem de dinheiro, Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras, na qual começou a trabalhar 35 anos atrás, entregou para o juiz uma lista de dezenas de nomes de políticos brasileiros que se beneficiaram dos subornos que as construtoras davam para a empresa para liberar obras. Segundo a revista, na lista do delator existem desde ministros a deputados federais.

Os políticos aparentemente envolvidos pertencem a vários partidos mas o escândalo, que sacudiu a já convulsionada campanha política brasileira, acertou em cheio Dilma Rousseff, responsável principal pela empresa pública. Na próxima quarta-feira, o ex-diretor testemunhará diante de uma comissão de investigação parlamentar que pode se converter em outra bomba nos meios de comunicação.

O episódio fez com que os membros da campanha de Dilma Rousseff temessem uma nova queda na candidatura da presidenta. Isso não ocorreu, a julgar pelos dados das sondagens. Dilma, além de ajustar sua mira contra Marina, endurecendo a campanha, colocando-a já como único adversário a combater, aproveitou suas inúmeras aparições públicas (a campanha monopoliza todo o espaço midiático brasileiro) para sair do foco do escândalo e repetir que sempre lutou contra esse tipo de práticas corruptas e defender sua perseguição: “Nunca, durante toda minha vida política, ninguém me viu tentar esconder coisas debaixo do tapete. Estamos combatendo a corrupção não com palavras vazias, mas com ações concretas”.

Do outro lado, Marina Silva lança uma acusação também muito concreta: “O PT colocou o diretor da Petrobras para assaltá-la”. Daqui até o final do primeiro turno, tudo vai ser assim: as duas mulheres acusando-se mutuamente enquanto Aécio Neves paulatinamente perde relevância. Paradoxalmente, retomará importância quando, se as pesquisas se confirmarem, for eliminado e seu partido aconselhar seus eleitores em quem votar. Seus 15% serão então cruciais. Tudo indica que optarão por Marina, mas ainda é cedo para afirmar.

por Antonio Jiménez Barca


Humor

do The i-piauí Herald

Marina defende o fim da polarização entre par e ímpar

ORION - Após lançar os alicerces da nova física ao provar que um corpo pode ficar, ao mesmo tempo, à esquerda de Dilma e à direita de Aécio, Marina Silva apresentou as bases de uma nova matemática. "Não podemos mais ficar presos a essa polarização entre par e ímpar. Essa é uma visão antiga da matemática que empobrece o debate. É preciso distensionar o Impa", ressaltou. Ao tomar conhecimento da declaração, Dilma Rousseff comparou Marina a Zélia Cardoso de Mello.

Em seguida, Marina participou de um almoço beneficente à base de soja orgânica. Na hora de pagar a conta, o garçom perguntou: "Crédito ou débito?". "É preciso acabar também com essa polarização", irritou-se Marina. Numa atitude inovadora, coçou os bolsos e sacou um talão de cheques. Ao tomar conhecimento da atitude, Dilma Rousseff comparou Marina ao Curupira. "Ela anda para a frente com os pés para trás", bufou.

Merval Pereira especula que o fim do par ou ímpar alterará drasticamente a corrida presidencial. "Trata-se de um fato novo que coloca em xeque a gestão do PT", analisou.

No final da tarde, Marina mudou de opinião: "Sempre fui ímpar", explicitou.


Livre concorrência

Cartaz na porta do comércio do Seu Cilas Malasfaia:

"IRMÃO, SE VOCÊ ESTÁ CANSADO DE PECAR, ENTRE!"




Aí alguém escreveu embaixo:

"MAS SE NÃO ESTIVER.... ME LIGUE !"

- Serviço Completo - 99315.6874
eu garanto que vai sair muito mais barato.......
e você vai se sentir bem mais animado.

Paulo Nogueira: Dilma pode levar no primeiro turno?

O momento é de Dilma.

Esta é a principal conclusão trazida pela última pesquisa Ibope.

Se este momento se prolongar até as eleições, as chances de tudo se encerrar no primeiro turno serão enormes.

Se fosse um jogo de xadrez, você diria que Dilma está numa posição em que pode dar xeque mate nos adversários.

Considere.

Marina não apenas parou de crescer como diminuiu. Nesta pesquisa, caiu dois pontos.

Sua candidatura, arrebatadora nos primeiros instantes, sofre um forte desgaste agora.

O marco zero do refluxo marinista veio com o recuo na questão LGTB depois que Malafaia tuitou ameaças tonitruantes.

Para um eleitorado de esquerda que via Marina como uma boa opção à polarização entre PT e PSDB, soaram os alarmes. Colocar na presidência alguém suscetível de pressões pelos fundamentalistas evangélicos começou a ser visto como algo realmente complicado.

Com o correr dos dias, também veio à tona a incoerência entre as falas de Marina e seu programa severo na área econômica.

Uma entrevista do mentor econômico de Marina, Eduardo Giannetti, escancarou o impasse. Segundo ele, os compromissos de Marina só serão cumpridos se os recursos para eles não comprometerem o combate à inflação e o ajuste na economia.

Isso quer dizer: os compromissos não são, na verdade, compromissos, mas uma carta vaga de intenções.

Sob a pressão dos fatos e da liderança nas pesquisas, Marina piscou. E seu momento passou.

Seu maior desafio, agora, passa a ser a estabilidade nas intenções de voto de tal forma que chegue ao segundo turno.

Para isso, Aécio não pode se esvaziar a tal ponto que vire um novo Eduardo Campos, com 7% ou 8% dos votos, porque o risco de vitória de Dilma no primeiro turno seria enorme.

Caso Dilma continue a avançar no ritmo atual, um Aécio com a votação de Campos seria a senha para a definição das eleições no primeiro turno.

Suponha que Dilma se fixe, até outubro, em 43% ou 44%. Se Aécio recuar para 10%, Marina vai ter que se segurar onde está para forçar o segundo turno.

Luciana Genro pode complicar ainda mais as coisas para Marina.

Quanto mais Luciana aparece neste final de campanha, mais ela conquista corações de jovens idealistas que nos protestos de junho de 2013 viram em Marina uma esperança de renovação.

Caso Luciana consiga 1% ou 2% dos votos, eles serão muito provavelmente subtraídos de Marina.

A maior surpresa dessas eleições é exatamente Luciana, com seu jeito gaúcho e desassombrado de chamar as coisas pelo seu nome.

O futuro da esquerda, no Brasil, se chama Luciana, com o PT no centro-esquerda e o PSDB na direita.

Para Dilma, hoje, a cena é amplamente favorável.

Os números favoráveis nas pesquisas – depois de uma situação em que ela parecia prestes a ir a pique – lhe trouxeram uma confiança que não se viu antes na campanha.

Na sabatina de hoje com colunistas do Globo, isso ficou claro.

Ricardo Noblat deu a ela, a certa altura, uma ordem: “Fale um pouquinho menos senão a gente não consegue fazer mais perguntas.”

Foi obrigado a ouvir uma resposta bem humorada que trouxe gargalhadas mesmo aos entrevistadores.

“Gente, vamos esclarecer aqui de quem que é a sabatina”, disse Dilma, rindo.

Dilma estava claramente à vontade na sabatina, muito mais que na entrevista que deu ao Jornal Nacional.

Num momento em que debates e sabatinas se sucedem, isso pode também fazer diferença.

Estas eleições serão travadas pela marca da instabilidade. Os ventos ora sopraram para um lado, ora para o outro, e em alguns instantes ficaram indefinidos.

Hoje, sexta, 12 de setembro, os ventos estão ajudando poderosamente Dilma.

Se eles não mudarem de direção, é possível – provável, talvez seja a palavra – que não haja segundo turno.


Dilma: por trás dos panos tem coisa pior que partidos políticos

Jornal GGN - Dilma Rousseff (PT) encerrou nesta sexta-feira (12) a série de sabatinas com os principais presidenciáveis promovida pelo jornal O Globo afirmando que "por trás dos panos, tem coisa pior que partidos". A declaração foi uma resposta ao discurso de Marina Silva (PSB), que defende uma "nova política" rejeitando as legendas convencionais, vibrando pelos "homens de bem". Segundo a presidente, a visão marinista de reforma beira, ingenuamente, o sentimento antidemocrático.

A petista, que lidera as pesquisas de intenções de voto, pincelou algumas propostas para economia, segurança, educação e saúde. Ela defendeu uma reforma política conduzida por um plebiscito. Rejeitou o discurso anti-política abraçado por Marina. Reafirmou uma agenda pró-LGBT com o que cabe ao Estado como prioridade: lutar pela criminalização da homofobia e garantir direitos civis.

O GGN selecionou alguns tópicos:

“O que deu de errado em seu governo, presidente?”

O colunista Artur Xexéu quis ouvir os “arrependimentos” de Dilma enquanto comandante do Palácio do Planalto. Incitou um balanço de governo com foco “no que deu de errado”. A petista disse que nenhum gestor público fica satisfeito com o que fez, porque “sempre é possível fazer mais”. Emendou com diretrizes para a saúde.

“Nós temos uma grande escala de brasileiros para atingir, e em alguns programas não estou satisfeita, precisamos aumentar a escala. Na saúde, por exemplo, acho que o Brasil ainda tem deficiência em especialistas. As pessoas ficam nas filas esperando para marcar consultas, exames. É uma área que eu atacaria num segundo mandato com o mesmo destemor que eu ataquei a falta de médicos [com o Mais Médicos]. E vou te dizer que aquilo não foi fácil. Tinham regiões no Pará que não viam médicos desde o descobrimento do Brasil!”, exclamou a presidente. Em educação, ela adiantou que acredita numa reforma do ensino médio, mas não detalhou.

Segurança: reforma federativa e ações integradas

Questionada sobre um visível enfraquecimento das instituições e políticas de segurança nas últimas décadas, Dilma disse que é consenso, em seu governo, que enquanto o crime organizado atua de maneira completamente orquestrada, falta integração às forças policiais do Estado. Ela afirmou que vai mudar isso em um possível segundo mandato, tomando como modelo os esforços para garantir a segurança da população e turistas durante a Copa do Mundo no Brasil.

“Nós achamos que temos que mudar a Constituição, porque a União tem que ser responsável pela segurança pública. Hoje, isso é atribuição dos estados, e sempre vemos a atitude de lavar as mãos. Não pode ser assim. Na Copa, não podíamos deixar essa quebra na segurança. Fizemos o Centro de Comando e Controle. Cada corporação respondia à sua própria hierarquia, mas nós conseguimos um grau de atuação integrada de alta qualidade. Não queremos que isso seja transitório, mas sim reproduzir esses Centros em todos os estados”, propôs.

Reforma política

O colunista de política Ilimar Franco puxou a pauta das manifestações de junho de 2013 e o plebiscito da reforma política como uma das repostas de Dilma à população. “Sem sucesso”, segundo ele avaliou, já que o Congresso não levou adiante. Ilimar lembrou que Marina vocaliza o sentimento “anti-política” das ruas, e perguntou qual seria a estratégia de Dilma diante disso, além de pedir detalhes sobre a reforma política proposta pela petista.

Dilma defendeu que o País avançou, nos últimos anos, na direção de uma sociedade mais inclusiva e democrática. Porém, a política continua atrasada. “O que avalio é que não vamos passar a reforma que precisamos simplesmente pela mão do Congresso [como defende Marina]. Isso foi tentado pelo Lula e não teve sustentação. Eu acredito que, de fato, a melhor ideia é fazer consulta popular. Só essa consulta vai dar legitimidade e força àquilo que a população resolver. É a população que vai votar majoritariamente por uma reforma - e eu não vou dizer qual reforma é essa, pois isso também tem que ser decidido pelo povo”, defendeu a presidente.

Leia mais: O dia em que entrevistadores se explicaram para Dilma

Ela defendeu que um plebiscito traga à tona pelo menos “cinco tópicos”. Entre eles, o financiamento público de campanha, o tempo máximo de mandato para o Executivo e a realização conjunta ou não das eleições para prefeito, governador e presidente. Os outros dois não foram explicados graças a intervenções do jornalismo de O Globo.

“Por trás do pano, tem coisa pior que partidos políticos”

Enquanto Aécio defende um referendo e Marina, uma “reforma política nas urnas”, Dilma apostou no plebiscito. E criticou o discurso da pessebista: “Dizer que vai governar com os bons não é uma proposta. Quem é que vai governar com os maus? Todo mundo quer governar com os bons! Mas só isso não resolve o problema da reforma política. Eu tenho visão diferente [de Marina]. Para mim, a democracia não pode prescindir de partidos. Toda vez que isso aconteceu, caímos na mais negra das ditaduras”, alertou.

Dilma sugeriu ainda que a população discuta o número de partidos na praça hoje. “Acho que tem partidos demais, sim, que tem alguns que são excessivos. Mas é o povo que vai dizer. Não tenho dúvida de que não se governa sem partidos. Pode esperar que por trás dos panos, tem coisa muito pior que partido. Partido pelo menos briga na luz do dia. Nós temos muito pouco tempo de democracia para correr riscos”, explanou.

Religião e agenda LGBT

Questionada sobre religião, Dilma, “na condição de cidadã”, respondeu que foi aluna de um colégio de freiras na juventude e começou a fazer política com um núcleo chamado “Grupo Gente Nova”. “Depois, em Porto Alegre, eu tive uma relação mais ou menos desse tipo com um grupo religioso. Eu sou uma pessoa que acredita nos princípios da religião católica. A religião tem uma base ética entre as pessoas. Isso, para mim é um valor”, comentou. A Dilma presidente, entretanto, pediu destaque à seguinte ressalva: “O Estado é laico, o Estado não tem religião, não deve ter. E é inconstitucional transformar qualquer religião em religião do Estado”, bradou.

Quanto à agenda LGBT, Dilma reafirmou o compromisso com a criminalização da homofobia e a garantia de direitos civis a todos os cidadãos que integram o segmento. Mas colocou um limite ao papel do gestor público.

“O Estado não tem a obrigatoriedade de impor o casamento religioso. O Estado é laico e não pode interferir nas religiões. O Estado tem obrigação, sim, de reconhecer direito de herança, adoção e todos os direitos civis que pessoas heterossexuais tenham. Essa questão foi resolvida até pelo Supremo Tribunal Federal. Isso está pacificado. A discussão central agora é sobre a homofobia. A criminalização num país como o Brasil é absolutamente necessária, assim como foi necessário criminalizar a violência contra o negro e contra a mulher.”

Independência do Banco Central

Para Dilma, a proposta de tornar o Banco Central independente, de Marina, é um “equívoco”. “A independênca do Banco Central seria um quarto poder completamente questionável”, explicou. A petista defendeu relativa autonomia da instituição, de modo que o presidente tenha autoridade para nomear e destituir dirigentes. Ela concordou com o modelo de autonomia praticado durante o governo FHC, mas questionou os interesses de Marina em tornar o BC completamente independente. “O Banco Central não é um poder, não teve presidente eleito pelo povo. Tem que ter um mandato certo”, disse.

Embate com adversários

Sobre o embate político com os adversários, Dilma disse que apenas trava batalhas com Aécio e Marina no campo das propostas e ideias. “Toda minha divergência com Marina está baseada em propostas. Ela quer diminuir o papel dos bancos públicos, e isso preciso ser discutido sim. Vai acabar com uma série de financiamentos e investimentos. Não ficará pedra sobre pedra se acabarem com a presença dos bancos públicos”, disparou.

CPI e alianças com Collor e Sarney

Sobre CPIs que não avançam no Congresso, Dilma foi cobrada por não ter determinado à base governistas que, no caso Petrobras, por exemplo, as apurações fossem conclusivas. Ela respondeu que o Congresso tem autonomia em relação ao Executivo e ainda avaliou que investigações parlamentares, principalmente contra a estatal, têm caráter político.

“Todo ano eleitoral tem CPI da Petrobras, e outras CPIs necessárias não andam. Não houve uma CPI do Metrô, com a história da Alstom e o governo do Estado de São Paulo. Não há prosseguimento ao chamado mensalão mineiro. Acho que no caso das CPIs, elas não têm tanto poder investigatório como outros órgãos [Polícia Federal, Ministério Público, etc]. Elas podem contribuir com grande papel, mas não podem fazer CPI em cima de uma reportagem de uma revista. Não há base legal, não forma prova, isso”, criticou.

Confrontada por um internauta acerca da manutenção de figuras como Sarney e Collor no arco de alianças do governo, Dilma disse que é naturalmente possível firmar alianças diversas e ainda manter sua posição integral. Ela acrescentou que respeita o ex-presidente e que não é uma “instância de poder para julgar Collor” - embora seja pressionada a fazê-lo.

Ela lembrou que quem elegeu tais parlamentares foi o povo. “O que não é possível é querer que o presidente da República casse, tire direitos políticos e afaste as pessoas”, finalizou.




Economia de defesa do Estado

Dilma pintou o contexto do cenário global com os jornalistas de O Globo para sustentar o que chamou de “política econômica defensiva” durante seu governo. Segundo ela, cobram dela e do Ministério da Fazenda uma reação de crescimento que nenhum país esboçou ainda, em função da crise internacional.

“O importante é que durante a crise nós não desempregamos, não reduzimos salário e ainda investimos em coisas que nunca se investiu antes. Onde já se viu investir bilhões em transporte de massa durante uma crise?”, indagou. “Eu assumo que tive uma política defensiva em relação à crise. Eu sei o tamanho da crise e acho que vocês também conhecem os números. Vimos a falta absoluta de políticas de austeridade, no mundo, que acabou levando à tal da geração nem-nem - nem trabalha, nem estuda. Nós precisamos, agora, de uma política ofensiva, de retomada da produtividade”, acrescentou.

Segundo ela, a base para o salto na economia foi construída, em parte, pelos investimentos em cursos profissionalizantes. Ela citou o Pronatec e a formatura de mais de 8 milhões de pessoas. Outra base citada foi a criação do Ciência Sem Fronteiras. Ela ainda reafirmou a saída do ministro Guido Mantega do primeiro escalão de um possível segundo mandato.