Roberto Requião - O déficit recorde, o pacto entreguista e a armadilha para a volta da Dilma


Vão dilapidar o que puderem e deixar uma armadilha para tornar Brasil ingovernável caso Dilma volte

Houve quem se surpreendesse quando a equipe econômica de Meirelles pediu autorização ao Congresso para fixar uma nova “meta” fiscal extremamente folgada, uma meta de 170 bilhões de reais. Afinal, o valor é o dobro da meta que a presidente Dilma pediu e que na época foi considerado “irresponsabilidade fiscal” pela imprensa e pelo Congresso.

O que Meirelles quer não é uma meta, é uma autorização para gastar à vontade. Os tais 170 bilhões de reais certamente correspondam ao maior déficit primário da nossa história, em valores correntes. Muito estranho para um governo que foi alçado ao poder em meio a uma campanha pela austeridade fiscal, a que Dilma, supostamente, era avessa.

Se a Dilma está sofrendo processo de impeachment por ter dado as tais pedaladas, na ânsia de cumprir uma meta fiscal muito ambiciosa, que sentido faz dar um imenso cheque em branco para o governo interino?

Tanta incoerência explícita, escancarada, tanto cinismo militante incomodam. As réguas e as regras que valem para uma não valem para outros? Noventa e seis bilhões de meta fiscal pedidos por Dilma são irresponsabilidade, mas os 170 bilhões pedidos por Temer transmudam-se em virtude.

Enfim, considera-se normal que os políticos, na luta pelo poder, façam pronunciamentos incoerentes, contraditórios.Desdizem hoje com toda ênfase o que declaravam com fervor ainda ontem. Políticos que queriam o impeachment diziam uma coisa antes. Agora dizem o contrário.

No entanto, o que mais assusta é que a mídia, os economistas e “o mercado” finjam que não há incoerência, que não usam dois pesos e duas medidas. Da crítica azeda, desaforada de antes ao entusiasmo de hoje não decorreram sequer 30 dias.

Isso é grave, gravíssimo, pois indica que faziam terrorismo com o déficit menor de antes e agora nem se importam com o déficit muito maior. Enfim, ao que tudo indica, os políticos, “o mercado” e seus economistas investiram pesado, até mesmo sua credibilidade, para viabilizar o impeachment e agora investem pesado para viabilizar o novo governo.

Há anos, todo santo dia, estamos acostumados a ler nos jornalões, a ver e ouvir na mídia monopolista que o terror dos terrores para os economistas, para o mercado, para as agências de risco, para os investidores, que o terror dos terrores para eles é o déficit público crescente. Mas, agora, nada comentam sobre o crescimento exponencial desse déficit proposto por Meirelles.

Isso significa que esperam ganhar algo muito maior? O que será?

Antes de conjecturar sobre isso, faço uma pequena explanação a respeito dos fatos já conhecidos, para entender as estratégias que movem a atual equipe econômica:

A previsão de um déficit primário colossal mostra que o governo está se preparando para adotar uma espamódica política fiscal contra-cíclica keynesiana só para 2016 para recuperar a economia, mas supostamente revertendo em 2017. Porém, na prática, para 2016 ao menos, será muito mais arrojada do que a estratégia fiscal adotada por Dilma em seu primeiro mandato. Estratégia essa, sabemos, objeto de todos os tipos de críticas e xingamentos por parte da imprensa, dos economistas de mercado e da antiga oposição.

Se o governo busca adotar uma política fiscal arrojada, infere-se que ele esteja disposto a usar todos os meios para fazer a economia crescer, inclusive radicalizar aqueles meios usados por Dilma e que foram a base para o horror que “o mercado” e a “elite” têm da presidente.

Mas isso seria considerado uma loucura, que precipitaria a explosão da dívida pública, se não fosse esperado pelo “mercado” uma redução abrupta e substantiva dos juros.

Como a duplicação da previsão de déficit foi digerida amistosamente pelo “mercado”, a redução dos juros já está acertada entre “equipe econômica” e “mercado”.

Porém, o governo é fraco e continua na mão de todos que viabilizaram o impeachment. Isso significa que o “mercado”, que se regozija com os juros altos, está ganhando em troca algo muito melhor.

O que seria? O Pré-Sal?A radicalização das privatizações? A suspensão dos direitos trabalhistas e dos direitos previdenciários? A apropriação de uma gorda fatia dos recursos que iriam para educação e saúde? Tudo isso e um tanto mais. Na verdade, essas medidas já foram anunciadas pelo novo governo. Então, para ganhar tais prebendas, o mercado aceita a política fiscal contra-cíclica em 2016 e juros baixos. Esse é o pacto de que tanto se fala nesse novo ambiente político, o “pacto entreguista”.

Mas isso não é muito impopular para ser realizado por um governo interino? Sim. E pode não dar certo e não dando certo sempre existe a possibilidade da volta do governo eleito.

Nesse caso, a equipe econômica do Meirelles estaria preparando uma armadilha para manterDilma amarrada aos compromissos e políticas neoliberais propostas pelos interinos.

A armadilha chama-se “mecanismo de fixação do teto da dívida” obrigando que os gastos públicos fiquem congelados em 2017, em termos reais!

Sabemos que a trégua do “mercado” à política fiscal irresponsável do governo interino se deve ao “pacto entreguista”. No entanto, na mídia, Meirelles vende que a trégua do mercado se deve à proposição do “mecanismo de fixação do teto da dívida”. Ou seja, o “mercado” está dizendo: “Eu não me preocupo com o fato de Temer ter um déficit duas vezes maior do que Dilma, porque Meirelles vai aprovar no Congresso um mecanismo que congela os gastos públicos em 2017, mesmo se Dilma voltar ao governo”.

Se isso acontecer, o Estado e o país ficarão ingovernáveis, no caso de volta de Dilma. Ou no mínimo, colocará Dilma novamente de joelhos frente ao Congresso e ao dono do Congresso, a mídia.

Caso Dilma não volte, Temer fulmina essa armadilha facilmente com o apoio que tem no Congresso, na mídia e no “mercado”.

Mas, antes disso, irão aprovar todo tipo de entrega do país. E Dilma, caso volte, estaria tão fraca e tão à mercê Congresso que não poderia reverter nada e teria que dar continuidade e implementar as políticas neoliberais de Meirelles.

O ex-ministro Nelson Barbosa já deu indicações de que deve continuar a mesma política de Meirelles, caso volte, pois, segundo ele, o que o governo interino está fazendo “não é novidade” e que propostas que ele mesmo lançou em março, como ministro de Dilma, Meirelles está anunciando agora.

Meirelles quer colocar o país entre o fogo e a frigideira. Logo, precisamos combater essas medidas.

Roberto Requião é senador da República no segundo mandato. Foi governador do Paraná por 3 mandatos, prefeito de Curitiba e deputado estadual. É graduado em direito e jornalismo e com pós graduação em urbanismo e comunicação.

Sérgio Machado prova que "crime da Dilma" foi não obstruir a Justiça



Sérgio Machado (Pmdb-CE), ex-presidente da Transpetro, responsável pelas gravações com José Sarney, Romero Jucé e Renan Calheiros, prova de forma cabal qual o verdadeiro motivo dela ser alvo de do golpe. "Tá todo mundo se cagando presidente. O erro dela foi deixar essa coisa andar, afirmou, numa referência à Lava Jato; áudios captados por Machado já derrubaram Jucá, que afirmou que era preciso trocar o governo, colocando Michel Temer no poder, para “parar essa porra” e “estancar essa sangria”

Josias de Souza - feridos, caciques do Pmdb estão aterrorizados


Caíram todas as fichas do PMDB. A conversão de Sérgio Machado de operador do partido em colaborador da Lava Jato revelou a alguns cardeais que ainda se imaginavam acima das leis que a festa acabou.

Aos poucos, desaparece aquele Brasil que oferecia às eminências políticas a segurança de que nenhum ilícito justificaria a incivilidade de uma reprimenda pública. No seu lugar, surge um país que ensina a Sarney, Renan e Jucá que nem tudo termina num grande acordão.

Acometido de ‘morofobia’, Sérgio Machado foi de cacique em cacique para avisar que estava prestes a suar o dedo. “Esse cara, esse Janot que é mau caráter, ele disse, está tentando seduzir meus advogados, de eu falar”, disse para Sarney.

“O Janot tem certeza que eu sou o caixa de vocês”, declarou para Renan. “Então, o que ele quer fazer? […] Ele quer me desvincular de vocês, […] e me jogar para o Moro. E aí ele acha que o Moro vai me mandar prender. Aí quebra a resistência. E aí fodeu.”

“Eu estou muito preocupado”, afirmou Machado na conversa com Jucá. “O Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.”

Ouviram-se juras de proteção a Machado. “Sem meter advogado no meio”, orientou Sarney. Um pacto para “estancar a sangria”, definiu Jucá. “Tem que ser conversa de Estado-Maior”, pediu o ex-presidente da Transpetro.

Homologado nesta quarta-feira (25) pelo ministro Teori Zavascki, do STF, o acordo de delação premiada que Sérgio Machado celebrou com o Ministério Público Federal é uma evidência de que malograram as tentativas de acordão. Afora os depoimentos já prestados pelo novo delator, a turma da Lava Jato manuseia gravações que somam quase sete horas de conversa.

Feridos pela traição, os caciques do PMDB estão atemorizados. O pânico tem razão de ser. Eles sabem o que fizeram nos verões passados. E acabam de descobrir que já não é tão fácil celebrar conchavos com pedaços do Judiciário, para triturar investigações.

A caciquia do PMDB ainda não conseguiu concretizar o desejo de aprovar alterações às leis que regulam os acordos de leniência e as delações premiadas. Enquanto ainda têm mandato, Renan e Jucá deveriam perseguir um objetivo mais modesto —um tributo a Sérgio Machado. Assim como há ruas batizadas de Voluntários da Pátria, a dupla poderia sugerir a inauguração de outras que se chamassem Traidores da Pátria.
Comentário: O jornalista faz questão de esquecer que o fim da impunidade começou quando o PT assumiu o poder em 2003. Todo arcabouço jurídico institucional foi criado por Lula e Dilma. Por que será que essa gente do pig gosta tanto de esconder esta verdade?

Gilmar Mendes delira e compromete o Supremo

O juiz tucano do STF Gilmar Mendes parece acometido de alguma síndrome de delírio. Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, delírio é um substantivo masculino que significa "1 [psicop] convicção errônea baseada em falsas conclusões tiradas dos dados da realidade exterior, mantida por uma pessoa, ainda que a maioria dos membros do seu grupo pense o contrário e possa provar que está certa" e "2 [psiq] problema mental orgânico reversível, cujos sintomas são: ...., confusão, ilusão, interpretação delirante da realidade, alucinações visuais, auditivas, táteis etc".

Apesar do "esquema do Aécio" ser conhecido por todo mundo, Gilmar Mendes é a única pessoa do mundo que não conhece "o esquema do Aécio".

Aécio Neves é campeão de menções em listas de corrupção e em conversas entre corruptos. Na conversa dos delinqüentes Sérgio Machado e Romero Jucá, Machado chega a dizer que "o primeiro a ser comido [pela Lava Jato] vai ser o Aécio", tal é a proeminência do senador tucano no "esquema".

Mas, apesar disso, Gilmar olimpicamente entendeu "não haver elementos novos que justifiquem a investigação" [sic] do Aécio pelo STF, e proibiu depoimentos do próprio investigado e de testemunhas, e devolveu o processo do seu parceiro à Procuradoria da República.

Sobre a conversa delinquencial de Sérgio Machado e o ainda senador Romero Jucá, Gilmar disse: "Não vi isso [tentativa de obstrução de justiça]. A não ser, uma certa impropriedade [sic] em relação à referência ao Supremo".
Não se pode esquecer que Gilmar foi o juiz do Supremo que no dia 18 de março de 2016 concedeu a liminar ao PSDB e PPS que suspendeu a posse do ex-presidente Lula na Casa Civil alegando suposta tentativa [de Lula] de obstrução de justiça!

É extremamente preocupante que um juiz da Suprema Corte seja acometido por tão grave transtorno de delírio. A preocupação é ainda maior uma vez que Gilmar vai assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral [TSE].
Pode-se prever o esdrúxulo que será ele julgando as contas da campanha da eleição da Dilma: por um lado, vai conseguir a magia de sustentar uma tese muito singular de que as prestações de contas de Dilma e do conspirador Temer devem ser separadas, para livrar o presidente do governo usurpador.

Por outro lado, Gilmar será capaz de ter a cara-de-pau de dizer que os repasses para a campanha da Dilma, feitos pelos mesmos caixas das mesmas empresas que contribuíram para a campanha do Aécio – em alguns casos com valores maiores – são ilícitos, enquanto os repasses para seu correligionário tucano são legais, limpos e abençoados por deus.

Gilmar Mendes precisa ser submetido urgentemente a um exame anti-doping. É fundamental identificar se o juiz do STF padece de simples mau-caratismo ou se está atuando dopado.

Em qualquer diagnóstico, o tratamento é o mesmo: ele já demonstrou que deve ser impedido de atuar na Suprema Corte.

Super Dilma contra o sistema, por Leopoldo Oliveira

O vazamento do áudio de Romero Jucá e Renan Calheiros não deixa dúvida: ou o Brasil acaba com seu sistema político ou sistema político acaba com o Brasil.

A presidenta Dilma, agora escancaradamente, honesta e derrubada, por isso, por políticos com medo dos próprios futuros, encarna este enigma a ser decifrado ou que devorará a cidadania.
A Coração Valente foi carimbada como a gerentona inábil para o meio político, no entanto, a cada dia fica mais claro que ela apenas ousou um passo adiante no inédito feito do presidente Lula de combater a pobreza e a desigualdade social: dar aos brasileirinhos a oportunidade de uma política limpa, sem interferência do poder econômico, baseada em ideias, propostas e ideologia.

É dela o legado inquebrantável de ter empurrado o Supremo Tribunal Federal a declarar inconstitucional o financiamento empresarial de campanha. Antes desta tragédia para a política tradicional se realizar, golpearam-na.

Temer disse que, como secretário de segurança de São Paulo, aprendeu a lidar com bandidos.

Não é verdade. Sabe servi-los, vide ter premiado Jucá, após as revelações de que o golpe fora planejado para encerrar a Lava Jato, com o elogio de "competente". Vide entregar as tarefas que exigem fé ao autêntico chefe de Estado do Brasil, Eduardo Cunha, do qual é apenas o primeiro-ministro. Renan Calheiros, embora não tenha alegado sobrevivência pessoal diante das investigações, agiu para preservar os seus dentro do "efeito manada" que a rede Globo gerou (e não alertou).

A disputa geral aberta nesta nova fase permite apenas o confronto global contra o sistema como um todo, juntamente contra o projeto do governo Temer, que é a favor do atual sistema político e contra agenda social dos últimos 13 anos.

Não há meio termo.

Ou Temer fica, com o rabo e o focinho do "tudo como antes no quartel de Abrantes", nos lançando à hecatombe social e gaveta-geral da República de FHC, ou Dilma volta trazendo consigo o quarto pilar do Sonho Brasileiro: estabilidade da moeda, crescimento econômico, distribuição de renda e...uma verdadeira reforma política.

Daí para frente, a vida quererá coragem, que a ex-presa política tem de sobra. Aliás, coragem e estatura moral sobre seus inimigos.

Lula já deveria ter morrido



Cedo, quando nasceu, quando Lula veio ao mundo em 1945, a mortalidade infantil no Brasil era de 146 x 1000. Quase 150 óbitos antes do primeiro ano de vida em cada mil crianças. Isto na média nacional que, hoje, a propósito, é dez vezes menor. Mas naquele tempo, para quem vinha aumentar família pobre, da área rural e do Nordeste, os números eram ainda mais atrozes.
Um dos 12 filhos de dona Lindu — quatro não sobreviveram — Lula nasceu em Caetés, então zona rural de Garanhuns/PE. Casa de taipa, erguida em barro e madeira, um quarto, uma mesa, cinco redes. Água? Amarela, das poças de chuva, dividida com o gado e povoada por girinos. Comida? Feijão, arroz e farinha, carne rara, às vezes de preá ou passarinho. Proteína animal acessível era a da içá, nome da tanajura no Agreste pernambucano.
Talvez por isso prosperou na região a prática não registrar os bebês logo após o parto. Aguardava-se o segundo aniversário. Era preciso que a criança “vingasse”. Aquelas que sucumbiam antes dos dois anos eram sepultadas sem nome nem história. Agitava-se então um sininho. Na tradição de vidas tão ásperas, era o sinal para informar que mais um anjinho subira ao céu.
Quem sabe a dieta de formiga frita tenha salvado Lula de virar estatística. É bem provável que aqueles que o odeiam passem a odiar também o inseto providencial que matou sua fome e o ajudou a sobreviver. E o sininho não bateu.
Vendedor de tapioca aos sete anos, depois tintureiro, engraxate, metalúrgico e presidente de sindicato, Lula poderia ter morrido naquele sábado, 19 de abril de 1980, quando seis agentes do Dops empunhando metralhadoras foram prendê-lo em casa às 5h30 de uma manhã nevoenta. Uma “condução coercitiva” em São Bernardo – com produção, cenografia, figurinos e efeitos especiais muito mais humildes que os atuais — cinco anos antes da ditadura exalar seu último suspiro. Temeu, como diria depois, aparecer morto num “acidente” na via Anchieta. Afinal, sob o regime civil-militar muita gente buscada em casa para “prestar esclarecimentos” nunca mais foi vista. Virou preso político mas, outra vez, não morreu.
Lula deveria morrer quando um câncer atacou sua laringe em 2011. Tão logo correu a notícia, as alcatéias, nutridas com o lixo tóxico da mídia, uivaram em regozijo nas redes sociais e caixaus de comentários. “Tenho dó do câncer ter que comer carniça petralha”, lamentou um piedoso internauta. Outras vozes se juntaram para chamar o presidente adoentado — que batera sucessivos recordes de popularidade atingindo índice de 83% de aprovação, o maior da história do país — de “verme”, “crápula”, “desprezível”, “nove dedos” e “imundo”. Mas Lula os decepcionou. E, novamente, não morreu.
Lula deveria morrer muitas vezes. Antes de fundar a CUT em 1983, a quinta maior central sindical do mundo. Antes de conceber o Partido dos Trabalhadores em 1980 que conquistaria no voto, quatro mandatos de presidente da república. Antes do Bolsa-Família, do Prouni, de retirar 27 milhões de brasileiros da pobreza extrema, do reajuste anual do salário-mínimo acima da inflação, do PAC, da ampliação da distribuição da renda, de implantar 14 novas universidades federais (contra nenhuma de seu antecessor), de criar mais de 200 escolas técnicas, da descoberta do pré-sal, da política externa independente…
Lula deveria morrer quando emergiu da plebe rude para reivindicar a Presidência da República. E conquistar um posto que, até então, era reservado por direito divino aos nhonhôs da Casa Grande. E este foi um pecado imperdoável. Mortal.
Lula deve morrer porque morto o querem os donatários das capitanias hereditárias da mídia. Os mesmos que, agora, estertoram em lenta agonia na senda da descartabilidade e da obsolescência. E se aferram ao golpe por razões políticas, partidárias e ideológicas mas, acima de tudo, mirando os cofres do Banco do Brasil e do BNDES como última esperança de sobrevida. Aqueles mesmos que, em 1954, revoluteavam com as “aves de rapina” a que Getúlio aludiu na sua carta-testamento: “A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios” – como se vê, ódio já era o combustível que ardia para conduzir o líder trabalhista ao holocausto. Aqueles mesmos para quem Jango, dez anos depois, apontaria no discurso da Central do Brasil: “A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do anti-sindicato, da anti-reforma (…) A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobrás; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício”.
Lula deve morrer porque é o desejo dos pets dos barões da mídia: muitos “comunicadores”, colunistas, articulistas, apresentadores de rádio e TV e caudatários avulsos. Há quem reproduza a retórica patronal por convicção. E como é benéfico ser abduzido por tais ideias! Sobretudo para preservar a saúde empregatícia, receber aquele tapinha nas costas e, por um átimo, deixar-se levar pelo devaneio de pertencer ao mesmo clube, a despeito do precipício de classe social, renda e poder que cinde mundos tão opostos. Outros o fazem por obrigação – entre as três, a mais compreensível e respeitável das escolhas. E existem aqueles que cedem calculadamente por submissão. Os que se agacham para subir. E não merecem o mínimo respeito. Neles, é tal a sofreguidão com que entregam suas almas à concupiscência do amo que não parece disparatado supor que lhe regalariam as polpas com a mesma faceirice caso houvesse algum interesse na oferta.
Lula deve morrer porque tal aparenta ser a aspiração de uma PF cujos delegados agem como agitadores da direita nas redes sociais, ultrajando seus superiores. A mesma PF que serviu de polícia política prestando relevantes serviços à ditadura de 1964 sem um só gesto de repulsa ou de contrariedade. E que, na democracia, age sem prestar contas à democracia. Não é outra a avidez do MPF. Que afigura desertar do Estado laico para se guiar por um grotesco salvacionismo de ocasião tornando-se, além disso, aríete do golpe em conchavo com as panzer division da imprensa corporativa. E o que dizer dos anseios de um tiranete de província que se porta como o senhor do universo? Tudo sob a contemplação pusilânime, os joelhos tiritantes e as mandíbulas chacoalhando como castanholas do STF que, após construir uma breve historia de avanços sociais, acocora-se na hora de travar os reiterados abusos contra o Estado Democrático de Direito.
Lula deve morrer porque sua morte é o que mais ambicionam as madames botocadas e seus maridos botocudos, a lúmpen burguesia boçal, egoísta e plastificada, clamando pelo golpe nas ruas com seus tênis, óculos escuros e abrigos de grife, seus poodles no colo e seus labradores na coleira. Os jovens odiadores, os que bombam os bíceps e matam o cérebro por inanição. O saudosismo de homens e mulheres brancos, de meia-idade e classe média de um regime assassino que se arrastou por duas décadas de infâmia. A ditadura que seus pais e mães engolidores de hóstias pediram nas Marchas da Família com Deus pela Liberdade empunhando rosários e rezando aves-marias contra “a ameaça vermelha”. Fé, rosário e orações viraram arcaísmos. Agora, o nome de Roma é Miami, o da igreja é shopping, o da reza é academia, o da hóstia é botox. Ontem como hoje, porém, o medo e o rancor reverberados com a ascensão da ralé é igual.
Lula deve morrer. Está definido. Mas há um problema: ele não quer. Humilhado e ofendido, até avisou que se queriam matar a jararaca, erraram a paulada. Pior: pela amostragem, muita gente também não quer que ele morra. Gente que acha que, se Lula morrer, morrerá igualmente um olhar horizontal e inédito que percebeu os deserdados e deles cuidou. Enxergou a maioria e não os dez por cento de sempre. Está dado o impasse. Para Lula morrer, terão que matá-lo. Não será tarefa fácil. Prova disso é que o desprezo fantasiado de negro com prepotência e metralhadoras recebeu uma resposta popular que não imaginava. Nem os autores, nem seus cúmplices. Os desafetos que tranquem as portas, ponham as fraldas e mordam o travesseiro. 2018 está logo ali e a jararaca vai fumar. Aquele que se recusa a morrer está novamente em campanha.

Ayrton Centeno é jornalista.

Anular impeachment já

 As novas gravações divulgadas nesta quarta-feira (25) pela imprensa, de diálogos do ex-senador Sérgio Machado com o presidente do Senado, Renan Calheiros, reforçam a anulação imediata do impeachment, com a volta da presidenta Dilma Rousseff e o restabelecimento da democracia. A avaliação é do deputado federal Chico Lopes (PCdoB-CE).

De acordo com o parlamentar, "a sociedade está vendo agora que todo esse processo não passou de uma grande farsa, uma grande mentira. Com pretexto de combate à corrupção e das tais pedaladas que todo mundo sabe que não são motivo pra impeachment, tiraram do poder uma presidenta democraticamente eleita por 54 milhões de pessoas e promoveram um golpe no nosso País, em pleno 2016".

"Agora, quem está dizendo isso não somos nós, que denunciamos o golpe. São pessoas que estiveram em posição de destaque nas decisões que levaram ao impeachment. Isso é muito grave e pede resposta imediata da Justiça, com a responsabilização dessas pessoas e a anulação urgente do impeachment, o restabelecimento da democracia e do voto dos brasileiros", aponta Lopes.

Em conversa gravada por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), dizia ser inviável a permanência da presidente Dilma no poder. "Todos estão putos com ela", afirmou, em referência aos ministros do STF.

Nos áudios, Renan também defendeu mudanças nas leis das delações premiadas de forma a impedir que um preso se torne delator, artificio central da operação Lava Jato. Segundo reportagem de Rubens Valente, da Folha, assim como fez com o senador Romero Jucá, Machado sugeriu "um pacto", que seria "passar uma borracha no Brasil".

Machado afirmou ainda no áudio que o Procurador-geral da República, Rodrigo Janot estava querendo seduzi-lo.Renan responde: "antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação".

Renan criticou o STF, que no ano passado, manteve uma pessoa presa após a sua segunda condenação. Para ele, os políticos todos "estão com medo" da Lava Jato. "Aécio [Neves, presidente do PSDB] está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa'", contou Renan, em referência à delação de Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), que fazia citação ao tucano.

A presidente do Senado informou que os "diálogos não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer menção ou tentativa de interferir na Lava Jato ou soluções anômalas. E não seria o caso porque nada vai interferir nas investigações".

Segundo o parlamentar do PCdoB-CE, "o povo já não aceitava esse processo golpista, pela enorme injustiça cometida e pela ilegalidade total desse movimento, de um impeachment sem qualquer crime de responsabilidade, apenas com um pretexto frágil demais". "Agora, mais do que nunca, é urgente a anulação das sessões de votação do impeachment, a volta da presidenta Dilma e da democracia ao nosso País", defende Chico Lopes.

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by Taboola

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Jornalista Fernando Brito destaca o que chama de "retrato impiedoso da vergonha que se tornou o Poder Judiciário" no segundo capítulo dos áudios de Sérgio Machado; na conversa, Renan Calheiros explica por que Dilma não consegue conversar com os ministros do Supremo: "O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável"; Brito também destaca que, antes de a corte votar por unanimidade pelo afastamento de Eduardo Cunha, acertou com ele "a votação do aumento tão caro a Lewandowski e seus pares"

25 de Maio de 2016 às 11:08

Por Fernando Brito, do Tijolaço

O capítulo 2 dos áudios gravados por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, para negociar sua delação premiada, revelam dois extremos: dignidade e indignidade.

Capa

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Não há, aparentemente, nada que comprometa mais o presidente do Senado, já às voltas com as várias investigações que sobre ele faz Rodrigo Janot. Mas há, no que diz Renan Calheiros na intimidade, um retrato impiedoso da vergonha que se tornou o Poder Judiciário.

Em determinado trecho, Renan explica por que Dilma não consegue dialogar com os integrantes do Supremo:

Não negociam porque todos estão putos com ela. Ela me disse e é verdade mesmo, nessa crise toda –estavam dizendo que ela estava abatida, ela não está abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável, ela está gripada, muito gripada– aí ela disse: 'Renan, eu recebi aqui o Lewandowski, querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável'.

Sim, é inacreditável.

Tão inacreditável, aliás, que os ministros do Supremo não se pejaram de, dias antes de votarem unanimemente o afastamento de Eduardo Cunha, de acertarem com ele a votação do aumento tão caro a Lewandowski e seus pares. Registra o Estadão, para quem não se recorda:

A votação da urgência do projeto de Lei de reajuste do Poder Judiciário foi acertada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com lideranças partidárias após pedido feito pelo presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, em reunião com deputados na última terça-feira, 26  (de abril, não faz um mês!).

Mais adiante, vê-se o papel que o Judiciário jogou com o veto à posse de Lula como ministro da Casa Civil:

MACHADO –(…) Porque deixar esse Moro do jeito que ele está, disposto como ele está, com 18% de popularidade de pesquisa, vai dar merda. Isso que você diz, se for ruptura, vai ter conflito social. Vai morrer gente.

RENAN – Vai, vai. E aí tem que botar o Lula. Porque é a intuição dele…

MACHADO – Aí o Lula tem que assumir a Casa Civil e ser o primeiro ministro, esse é o governo. Ela não tem mais condição, Renan, não tem condição de nada. Agora, quem vai botar esse guizo nela (Dilma)?

RENAN – Não, [com] ela eu conversa, quem conversa com ela sou eu, rapaz.

No próximo post, trato do que o áudio revela sobre a Globo, na última (espero) ilusão petista de que ela poderia não ser o próprio golpe. E reproduzo, abaixo, o inteiro teor da gravação.

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GRAVADO, RENAN DIZ: "TODOS ESTÃO PUTOS COM ELA"

Em conversas com Sérgio Machado, o ex-presidente da Transpetro que também gravou Romero Jucá, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), dizia ser inviável a permanência da presidente Dilma Rousseff no poder; "todos estão putos com ela", afirmou, em referência aos ministros do STF; nos áudios, Renan também defendeu mudanças nas leis das delações premiadas e disse que o senador Aécio Neves estava com medo; "Aécio [Neves, presidente do PSDB] está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa'", contou Renan, em referência à delação de Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), que fazia citação ao tucano

25 de Maio de 2016 às 06:18

247 - Em conversa gravada por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), dizia ser inviável a permanência da presidente Dilma Rousseff no poder: "todos estão putos com ela", afirmou, em referência aos ministros do STF.

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Nos áudios, Renan também defendeu mudanças nas leis das delações premiadas de forma a impedir que um preso se torne delator, artificio central da operação Lava Jato.

Segundo reportagem de Rubens Valente, assim como fez com o senador Romero Jucá, Machado sugeriu "um pacto", que seria "passar uma borracha no Brasil". Dizainda no áudio que o Procurador-geral da República, Rodrigo Janot estava querendo seduzi-lo.

Renan responde: "antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação".

Renan também ataca decisão do STF tomada ano passado, de manter uma pessoa presa após a sua segunda condenação. Para ele, os políticos todos "estão com medo" da Lava Jato. "Aécio [Neves, presidente do PSDB] está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa'", contou Renan, em referência à delação de Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), que fazia citação ao tucano.

Por meio de sua assessoria, o presidente do Senado informou que os "diálogos não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer menção ou tentativa de interferir na Lava Jato ou soluções anômalas. E não seria o caso porque nada vai interferir nas investigações" (leia aqui).

Machado diz ainda no áudio que o Procurador-geral da República estava querendo seduzi-lo.