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Três filmes para assistir no Natal

"O Milagre na Rua 34" (1947): Dirigido por George Seaton, ganhou três Oscar, incluindo ator coadjuvante para Edmund Gwenn. Ele interpreta o Papai Noel de uma loja de departamentos que afirma ser o bom velhinho de verdade.
"Um Herói de Brinquedo" (1996): Arnold Schwarzenegger e Sinbad interpretam pais rivais que, na última hora, tentam desesperadamente comprar um cobiçado boneco para dar de Natal a seus filhos. Direção de Brian Levant.
"Simplesmente Amor" (2003): Comédia romântica na qual personagens tão diferentes quanto o primeiro-ministro da Inglaterra e um decadente astro do rock veem suas trajetórias se cruzarem durante o Natal. Dirigido por Richard Curtis, tem um elenco cheio de estrelas, incluindo Hugh Grant, Colin Firth, Keira Knightley, Laura Linney e o brasileiro Rodrigo Santoro.
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Cinema - Azul é a cor mais quente

Os oito minutos mais comentados do cinema no ano passado fizeram parte do filme francês Azul É a Cor Mais Quente. A cena de sexo entre duas garotas era tão explícita e longa que o drama dirigido por Abdellatif Kechiche, sobre a passagem para a vida adulta, poderia ter sido desprezado como sendo pornografia.
No entanto, mesmo em meio a um grande debate sobre a moralidade de um cineasta de 52 anos orientando duas jovens atrizes nuas a se contorcerem, o filme ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes e foi um sucesso de crítica. A maioria dos especialistas viu no filme um retrato duro e honesto do primeiro amor.
Não foi um caso isolado. Quando passamos os olhos pela lista de filmes de 2013, poderíamos pensar que os diretores de hoje só querem saber de sexo.
Gwyneth Paltrow e Mark Ruffalo, dando um tempo na função de salvar o planeta em Os Vingadores, estrelaram Terapia do Sexo, um drama sobre um grupo de apoio a viciados em sexo.
Lovelace contou com Amanda Seyfried no papel da estrela de Garganta Profunda, sucesso que escandalizou o mundo nos anos 70.
E Joseph Gordon-Levitt, recentemente visto em Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, escolheu um estilo bem diferente ao estrear como roteirista e diretor. Em Como Não Perder Essa Mulher, ele é um barman que assiste a pornografia em seu computador várias vezes por dia, apesar de ter Scarlett Johansson como sua namorada.
A tendência continuou em 2014. O público teve à disposição pelo menos dois filmes americanos que contam a história de insuspeitos trabalhadores do sexo.
Concussion (ainda sem título em português), de Stacie Passon, é um drama sobre uma mãe de meia-idade que se torna prostituta; e Amante a Domicílio é uma comédia escrita e dirigida por John Turturro, que também estrela a fita como um florista que vira amante profissional.
Mas o filme que mais gerou polêmica foi Ninfomaníaca, de Lars von Triers, uma excêntrica experiência de quatro horas de aventuras carnais.


Sexo e Hollywood

Talvez não devêssemos nos surpreender muito com o fato de tantos novos filmes se passarem na cama (ou, no caso de Ninfomaníaca, em qualquer lugar menos na cama).
Henry Fitzherbert, crítico de cinema do jornal britânico The Sunday Express, acredita que essa porta foi aberta pela “banalização da pornografia”. Para ele, a internet está tão saturada de sites pornográficos, videoclipes sugestivos e selfies ousadas que as cenas de sexo já não são mais tabu no cinema.
Ironicamente, no entanto, a onipresença online desse tipo de imagens significa também que as pessoas tendem cada vez menos a pagar para vê-las no cinema.
Jonathan Romney, outro crítico, concorda. “Pesquisas recentes indicam que o conteúdo sexual até prejudica a bilheteria de um filme”, afirma. “O público dos blockbusters não está interessado em ver cenas de sexo, pelo menos não na telona.”
O que os filmes mencionados acima têm em comum – além das chamadas “cenas de natureza sexual” – é que todos aspiram a serem reflexões e estudos maduros sobre personagens. Estamos assistindo não a uma nova onda de filmes sobre sexo, mas a uma nova onda de filmes que tratam o sexo como parte da vida.
Já em termos de cenas de sexo mais convencionais – filmadas em ângulos mais favoráveis e com atores de corpos perfeitos –, o melhor não está nos cinemas, mas sim na TV a cabo. Os espectadores ficam menos constrangidos na privacidade de suas casas. E, longe das restrições impostas pelos anunciantes da TV aberta, séries como True BloodRome e Game of Thrones estão fazendo a telinha ferver como nunca.
Ainda é difícil dizer se Hollywood um dia será tão ousada quanto a televisão. “Creio que os grandes estúdios vão continuar evitando a sexualidade nua e crua”, afirma David Gritten, repórter de cinema do The Daily Telegraph, da Grã-Bretanha.
“Eles ficam mais à vontade com histórias dedicadas a famílias, que trazem mais lucros porque vendem mais. Às vezes, vemos sexo nos filmes hollywoodianos, mas geralmente porque os diretores têm uma reputação incontestável, como Martin Scorcese, com O Lobo de Wall Street.”
A única coisa que pode fazer diferença, claro, é o dinheiro. Sam Taylor-Johnson está atualmente filmando uma adaptação de 50 Tons de Cinza, o romance erótico campeão de vendas escrito por E.L. James. Se o filme tiver a metade do sucesso do livro, deverá surgir uma onda de imitações.
Mas quem estiver torcendo por um remake hollywoodiano de Azul É a Cor Mais Quente terá que esperar sentado.
Publicado originalmente na BBC Brasil

Google vence Xuxa outra vezem disputa judicial sobre filme pornográfico

Para a apresentadora os pais darem uma palmada num filho é um absurdo. Para ela ganhar dinheiro fazendo sexo com criança é normal.
Hipócrita!

O Google conquistou uma nova vitória em sua disputa nos tribunais com a apresentadora Xuxa nesta sexta-feira, 12. A justiça decidiu que era improcedente a solicitação de evitar que seu nome fosse vinculado nas buscas do site ao filme que produziu nos anos 1980, “Amor Estranho Amor”.

Na obra, a apresentadora da Rede Globo participa de cenas sensuais com um menor de idade. O filme acabou se perpetuando na internet e facilitado pela existência do Google, o que Xuxa considerou ofensivo.

No entanto, o juiz Arthur Eduardo Magalhães Ferreira decidiu seguir a jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça e determinou que o direito do livre acesso à informação é mais importante do que a intenção da apresentadora de ver este conteúdo desassociado ao seu nome.


Papo de homem

Faça da tua vida um road movie

Pronto para o passeio? A estrada é suave e a conversa vai ser boa.
Para dar a partida, temos todo um gênero no cinema dedicado a filmes que se passam nas estradas, com protagonistas em fuga ou em rumo de um destino especial. São road movies, e a lista desse gênero, além de enorme, inclui algumas das melhores obras da história do cinema.

Você provavelmente tem o seu road movie predileto, talvez até vários. A minha lista de prediletos inclui Coração Selvagem, Easy Rider, Into the Wild, Sideways, Pequena Miss Sunshine, Mad Max 2, Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia, Bye Bye Brasil, Estrada para Perdição, Thelma e Louise e Terra de Ninguém, na ordem de preferência.
Into the Wild
Into the Wild
Mas vamos colocar o pé no freio e desacelerar, pois estamos passando por uma pergunta digna de atenção. Qual o motivo do sucesso dos road movies? Não se engane, observe bem pois essa não é uma pergunta retórica. Da sua resposta podemos tirar uma lição para a sua vida.

Papo de homem

Brucutus e mocinhos num mundo além do preto e o branco

O mundo das produções culturais em geral usa como matéria prima a vida cotidiana. O sofrimento e sua superação são os temas mais usados, assim como o modo como entendemos esse sofrimento. 
Esse jogo constitui um fluxo em que realidade e ficção moldam uma a outra, ficando pouco claro quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, embora saibamos que tudo se trata de uma via de mão dupla. É assim que nascem personagens que tanto nos influenciam. 
O entendimento sobre o que é o sofrimento e como lidar com ele, em suma, a filosofia de vida das pessoas, está intimamente ligada ao zeitgeist (termo que se refere às características do tempo e do local onde se vive; o espírito da época). Observando a linha do tempo de filmes dos anos 70 para cá podemos traçar essa mudança de padrões.


 

Se antigamente predominava o jeitão Clint Eastwood, com cara de mau e um pé sempre pronto para chutar o traseiro dos problemas, hoje temos um grupo mais misto, com homens que escolhem uma abordagem diferenciada (mais discursivos, mais empáticos).
Essa mistura indica que estamos numa época de transição, ou que encontramos um meio termo para agir.
Não estou presumindo que homens nos anos 80/70 eram brutamontes incultos e burros. Sim, eles podiam ser inteligentes, mas o estilo era muito mais pragmático. Soluções eram vistas muito mais como ação do que como mudança de perspectiva sobre a realidade circundante.
Quando via um problema o machão setentista/oitentista pensava no que poderia fazer para derrotar as adversidades; as gerações posteriores, entretanto, passaram a ter um olhar mais interno, se perguntando sobre como podiam mudar a perspectiva sobre o problema. Esse jeito de agir (o primeiro citado) moldou o cinema de ação e ao mesmo tempo esses homens foram moldados por ele. 
Esse padrão aparece em diversos personagens, como RamboRockyJohn McClane e outros. 
Imagine um desses sujeitos discutindo direito de minorias, filosofia, ou discutindo relacionamento com a esposa. Sairiam falando que são todos uns frescos tagarelas.
É o protótipo do macho que acha que tudo é simples e que quem reclama de algo não está exigindo um direito ou querendo uma negociação, mas sendo fresco e fracote. Na prática a coisa poderia não ser tão estereotipada quanto os filmes mostravam, claro, mas essa era a imagem passada. 
Isso é o que um brucutu dos anos 80 faz com os problemas. Aguenta seus golpes, mas no final manda-os para a lona
Isso é o que um brucutu dos anos 80 faz com os problemas. Aguenta seus golpes, mas no final manda-os para a lona
Por determinado ângulo é admirável um cara sisudo, com aquela marra de badass, capaz de proteger a si e aos que estão ao redor, sem medo de desafios nem do perigo. Isso deve fazer a cabeça de mulheres, que por mais independentes que sejam hoje, são atraídas por homens com recursos e meios capazes de protegê-las. 
Para esses caras, problemas são comidos no café da manhã, simples assim. 
Se restar algo pendente, uma boa dose de birita no bar com os amigos e falar bastante mal do chefe e do político da vez resolve as coisas. 
Essas características estão sumindo – para o bem ou para o mal, e isso tem a ver com o espírito de nossa época, que vem mudando desde o fim da Guerra Fria. 

A influência dos tempos de guerra sobre o cinema e sobre a personalidade

O afastamento progressivo dos tempos de guerra, que precisam, de fato, de homens belicosos e durões, nos deu uma amolecida. Isso é natural, já que as gerações hoje nascem em meio à relativa paz. Não temos mais um grande medo a compartilhar mundialmente, como a guerra. 
Num nível individual, pode ser que esse estilo esteja falhando como um solucionador de problemas. Ao invés de resolver pepinos, as pessoas acabam achando que é melhor reprimi-los. Talvez isso explique o motivo pelo qual, em homens, a agressividade possa ser um sintoma de depressão. 

O maniqueísmo está sendo deixado de lado

Vivemos também numa realidade muito mais complexa. Em tempos de Guerra Fria, um clima de dualismo rondava as esferas da moralidade e da política. Era o bem e o mal, o preto e o branco. 
Atualmente, num cenário internacional bem mais pacífico, demoramos mais para extrair um padrão moral (certo ou errado) da realidade. Vemos uma enorme gama de cores intermediárias, não apenas o preto e o branco. 
Se os próprios americanos começam a querer eliminar seu maior símbolo do “bem” contra o “mal”, é porque eles não sabem mais tão claramente o que é bom e o que é mau
Se os próprios americanos começam a querer eliminar seu maior símbolo do “bem” contra o “mal”, é porque eles não sabem mais tão claramente o que é bom e o que é mau
Esse, inclusive, é um dos dilemas do Capitão América, tanto nos quadrinhos quanto nos filmes. Ele, um soldado da Segunda Guerra Mundial, foi parar numa época totalmente diferente, cujozeitgeist refuta toda a sua filosofia de vida. 
A partir dos anos 90 passa a diminuir os personagens e as histórias maniqueístas e vem os enredos mais mistos. 
Nossas melhores produções hoje combinam essa confusão na bússola moral, antes apontada somente para o norte. Histórias que nos permitem questionar o que é a virtude e o que é o vício, quem está certo e quem está errado, são as que mais instigam. 
O estilo dos personagens mais atuais indica que estamos repensando a filosofia de vida do macho dos anos 80. A chegada dos brucutus-coração-mole, essa espécie que acaba de ser descoberta, combina elementos um tanto contraditórios entre si, mas cuja combinação resulta numa liga fortíssima quando entrelaçados adequadamente. 
Duas boas referências desse novo universo masculino é o Rocky Balboa do sexto filme da série Rocky e Rust Cohle, da série True Detective. Os dois mantém uma postura badass, mas o primeiro parece sábio, reflexivo e com disposição para os desafios que virão, enquanto o outro é mais pessimista e desorientado. Ambos estão muito mais articulados e falastrões do que o típico brucutu.
Sobre Rocky, basta assistir a esse discurso inspirador para entender o que estou falando. 
true-detective-cohle

Muitos outros filmes e séries poderiam compor um infográfico recheado de personagens e histórias que ajudam a contar o rumo da filosofia pessoal das pessoas desde a Guerra Fria até hoje. A sétima arte ajuda muito bem a traçar essa jornada na medida em que é espelho e ourives do mundo.
A julgar por esse critério, então, diria que o novo modo de viver e se relacionar com o mundo é estar disposto a ser  prático, rápido e objetivo como uma katana, mas ao mesmo tempo, analítico, disposto ao diálogo e à reflexão, adicionar uma dose de sensibilidade.
De fato, creio que um indivíduo que aprendeu a conciliar essa multiplicidade de traços está preparado para a maioria dos dilemas da vida.


por Felipe Carvalho



Cinema - Vale tudo

O filme de Mauro Lima, baseado no livro "Vale tudo - Som e fúria de Tim Maia", chega as salas de cinema no dia 30 deste mês, ele conta a história do desregrado cantor e músico.
O ator Babu Santana encarna o protagonista na fase adulta.
Cauã Reymond faz o papel de um amigo e a atriz Aline Moraes uma paixão do personagem principal.
É para anotar na agenda, vale a pena.





A epopeia de Anthony Steffen, o Django brasileiro

"Anthony Steffen é certamente um nome conhecido entre os aficionados dos faroestes italianos, acostumados a assistir aos clássicos do gênero. Mas a nova geração de cinéfilos provavelmente nunca ouviu falar deste ator, protagonista de mais de duas dezenas de bangue-bangues, alguns deles, emblemáticos. Afinal o que muita gente não sabe é que Steffen foi, na verdade, o ítalo-brasileiro Antonio Luiz de Teffé von Hoonholtz, que atuou em mais de 60 filmes, dos quais apenas 26 tinham como cenário o Velho Oeste!"



Papo de homem

Precisamos falar de pornô

Você chega em casa e abre o computador. Acessa a internet, olha o Facebook, e vai pra um site qualquer, um desses de filmes pornôs. Escolhe o vídeo que tem a imagem mais interessante, bate uma, toma uma água e liga a TV… Normal. Inofensivo. Muitos diriam: saudável.

Mais um dia. Você chega em casa, vai pro computador, acessa a internet e, desta vez, clica em uma dessas reportagens que aparece na timeline. Na imagem que chama para o texto, destaque para uma mulher americana de meia idade: o nome dela é Shelley Lubben.

Bastante revoltada, ela fala de garotas que, durante a gravação de pornôs, foram forçadas a fazer o que não queriam. A reportagem mostra vídeos de mulheres chorando de dor, enquanto os parceiros de atuação não param de meter e machucá-las. Em seguida, ela fala sobre dados de atores e atrizes que morreram de AIDS – afinal, não é aceitável gravar pornô usando preservativos. Shelley mostra também a lista das muitas atrizes que se suicidaram por depressão ou morreram de overdose.

Para ela, tudo isso é reflexo de uma indústria pornô hardcore que vitimiza e danifica permanentemente aqueles que fazem parte dela.

Inclusive ela mesma.

Shelley atuava em pornôs nos anos 90. Depois de ser expulsa de casa e ir trabalhar em uma boate de strip, viu nos filmes uma oportunidade de ganhar mais dinheiro e dar uma boa vida à filha pequena.

Durante os 4 anos de carreira, sofreu agressões. Chegou a perder metade do útero por um câncer causado pelo HPV. Mesmo assim, a atriz só largou a indústria quando contraiu herpes e teve grandes problemas de saúde por que esta se espalhou pelo resto do corpo. Se enxergou alcoólatra e só deu uma guinada na vida pessoal ao casar com um filho de pastor e construir a família tradicional com que sempre sonhou.

Hoje é presidente da Pink Cross Foundation, organização voltada para os trabalhadores do pornô americano, acusa a indústria pornográfica de realizar tráfico sexual e acobertar estupros, além de exibir alguns deles na íntegra.

Eu a conheci clicando em um destes links, e fiquei com isso na cabeça. Ela te mostra uma lado tão feio e tão perturbador do pornô que fica difícil navegar pelos sites ou pensar em assistir aos filmes da mesma maneira. Todas as vezes em que um cara apertar o pescoço da garota, você pensará: “Será que isso é uma expressão de tesão ou de dor? Será que nós, espectadores voyeristas, continuamos consumindo porque é justamente a dor alheia que alimenta o nosso prazer? Será que eu tô contribuindo e sendo conivente com a destruição da vida de algumas dessas pessoas?”

Trabalhando na TV USP, eles me deram a liberdade de fazer uma reportagem sobre o assunto. Afinal, será que no Brasil é assim também? Será que os mesmos problemas da maior indústria pornográfica do mundo também são problemas aqui, na nossa pequena fábrica de pornôs?

Eu fui atrás da Shelley Lubben, de algumas atrizes brasileiras e de mais um monte de gente interessante pra falar sobre o assunto. Foram poucos os que toparam me dar entrevista. O vídeo a seguir, uma reportagem feita e exibida pela TV USP, é o resultado dessa busca.

No Brasil, a indústria pornô não reserva luxos.

Apesar de ser um diretor (e representar a figura do “acusado”), Valter não teve cerimônias em se abrir. Contou sobre os pagamentos miseráveis, sobre as garotas que topam fazer de tudo sem questionar, porque precisam de dinheiro a qualquer custo. O diretor falou ainda sobre a prostituição que anda de mãos dadas com o estrelato na indústria dos filmes. “Há 20 anos, uma atriz entrava num set de filmagem e saia com dinheiro pra comprar um carro novo. Hoje, o dinheiro só dá pra pagar as contas.”

Não é por acaso, portanto, que os entrevistados foram unânimes em afirmar que quase todas as atrizes brasileiras do gênero trabalham como garotas de programa. “Eles me veem num vídeo e aí ligam porque querem sair com aquela mulher do filme”, explicou Patrícia.

A atriz, aliás, foi outra que também conversou conosco sem pudores. Falou dos problemas que teve com algumas produtoras que agem de maneira abusiva, mas deixou igualmente claro que tinha outras opções na vida. Não era de família rica, nem de classe média alta, mas dava aulas de inglês e queria fazer um curso universitário de secretariado. Mesmo assim, escolheu a indústria do sexo: se identificou com a profissão, se sentiu bem sendo desejada, recebendo atenção e não reclama do dinheiro que a atividade rende.

No final das entrevistas, depois de apresentarem todos os problemas, ambos sorriram e explicaram, de maneira bem semelhante, por que continuam na área – a repulsa à rotina de bater cartão e trabalhar de 8h às 18h.

Patrícia disse: “Eu não trocaria pra trabalhar em uma outra coisa, numa dessas salas fechadas…” No dia de sua conversa, Valter, depois de explanar todos os problemas pelos quais as atrizes passam, completou: “É… ainda assim, é bem melhor que trabalhar em escritório, né?”.

Elas estão fingindo
Patrícia garante que gosta da profissão e que até sente prazer em algumas cenas. Por sua vez, Shelley não acredita que seja possível ter prazer fazendo filmes. Shelley é enfática.

“Elas estão atuando! Elas são atrizes, tudo que elas fazem é atuar. – Ahhhhhh eu adooooro. Ahhh eu amo! – MENTIRA!”.

E o desejo e as referências a sexo que vemos na vida das profissionais mesmo quando estão fora das telas – no Twitter por exemplo? Shelley diz que as atrizes precisam se vender como personagens que vivem pro sexo mesmo na vida real, e por isso nunca saem por completo de seus papéis.

Na visão da ex-atriz, a degradação psicológica e a pressão causada pelos desempenhos humilhantes e fisicamente difíceis obriga as garotas a recorrerem ao álcool e às drogas. “Você quer saber se uma estrela pornô é feliz mesmo? Então não escute o que ela diz, só olhe pra vida real dela: indo e voltando de clínicas de reabilitação, flagrada bêbada chorando, perdendo a guarda de seus filhos num tribunal”.

Com essas situações em mente, a ativista não quer apenas que sejam garantidos direitos básicos e segurança aos profissionais que trabalham com filmes. Ela quer o fim da indústria pornô. “Shelley tem muita razão em algumas coisas que diz, mas é uma fanática religiosa. Esse é o problema dela”, diz Valter, católico praticante. Fanática ou não, fizemos o teste que ela propôs: olhamos para a vida real de Patrícia.

Em uma conversa informal, ela contou sobre a relação com a família. Sua mãe e seus irmãos sabem da sua carreira: “minha mãe não deixou de me apoiar”. Nos dias de lazer vive normalmente, conta histórias corriqueiras da sua relação com a família, como ir em quermesse de igreja na época das festas juninas. Ela conta que alguns garotos e homens a reconhecem. Quando está em família, pede pra eles respeitarem seu momento.

Apesar de demonstrar que é possível viver de sexo sem ser emocionalmente demolida, Patrícia sabe que sua situação não é a de uma atriz qualquer. Ela tem nome, fama e 10 anos de carreira. Para as novatas, é muito mais difícil impôr respeito. E essa é a grande diferença.

Meu corpo, minhas regras
Ainda que aquela garota de que você gosta aceite ir ao motel contigo, isso não significa que você pode fazer o que quiser com ela. Mas por que ainda soa estranho ouvir que uma atriz pornô se recusou a fazer sexo anal? E que ela não aceitou apanhar durante uma cena? Ou, em um exemplo mais severo, classificar como estupro o desrespeito a qualquer um desses limites?

Decidir sobre como dispor do próprio corpo é um direito básico de cada um de nós – incluindo as atrizes pornôs e as prostitutas. A impressão de glamour que envolve algumas superproduções faz parecer que todas as garotas são bem tratadas, pagas e protegidas como se deve, mas ainda que o pagamento que ambos os tipos de trabalhadoras do sexo seja relevante, isso não é algo que tire delas a garantia à integridade física e psicológica.

E apesar do foco dessa reportagem recair sobre a questão da mulher na indústria do pornô, isso não quer dizer que são só elas que sofrem. Muitos atores são constantemente submetidos a injeções e remédios para manterem ereção por um período que a natureza não permitiria. Os atores homens, inclusive, são as maiores vítimas da Aids no universo pornô.

Camisinha: usar ou não usar?
A proteção é uma peça chave na discussão sobre o respeito e segurança dos profissionais do sexo. Aqui no Brasil, depois de alguns anos de pressão do Ministério da Saúde, a maioria dos filmes são gravados com preservativo – mas muitos empresários da pornografia alegam que esse modelo não é rentável.

Produtores americanos acreditam que não é isso que o público quer ver e, por isso, garantem que os consumidores não compram filmes do tipo. Shelley rebate dizendo que são os produtores que determinam o que o público vai assistir: se só houver filmes com preservativos, os espectadores só assistirão a filmes com preservativos. E não adianta ficarmos alheios à discussão, pois a decisão dos EUA afeta o mundo todo. Os filmes gravados “para exportação” aqui no país, por exemplo, também são gravados sem preservativo.

Atualmente, as produtoras dos Estados Unidos estão sendo pressionadas a aderir ao uso de camisinha por causa da Medida B, lei aprovada no Estado da Califórnia, coração da indústria pornográfica.

A legislação trabalhista americana já determinava que empresas que submetam profissionais a entrar em contato com fluídos potencialmente contaminantes devem fornecer e aplicar toda a proteção necessária, mas a nova regra especifica que atores e atrizes pornôs estão inseridos nessa legislação.

Para evitar que a camisinha seja obrigatória, as produtoras recorreram à primeira emenda da Constituição americana: acusam a medida B de interferir na liberdade de expressão artística de seus contratados.

Parece muito razoável exigir o uso de preservativos na gravação de filmes. Mas para dimensionar a polêmica, é importante lembrar que a proteção não seria apenas no momento da penetração: de acordo com a Medida B, homens e mulheres deveriam usar camisinhas masculinas ou femininas no sexo oral também.

Pense consigo. Se usar uma camisinha feminina para fazer um sexo oral numa mulher não é algo que normalmente se pratica na vida real, será que a prática deveria mesmo ser obrigatória nos vídeos? Ou seria uma prova de que usar camisinha, não importa em que circunstância, pode ser excitante? É parte da função de um filme pornô participar de um processo educativo para mudar nosso hábito e cultura?

Que outro pornô é possível?
Quantos clichês você vê numa só imagem?
Quantos clichês você vê numa só imagem?
Se como espectadores nós encaramos a questão da segurança, as agressões, cenas extremas e a falta de reconhecimento dos direitos como parte da causa dos danos que podemos perceber entre os membros e ex-membros da indústria pornográfica, também precisamos entrar no debate.

Ao contrário do que pensa Shelley, que quer acabar de vez com os pornôs, eu acredito que a solução não é eliminar os filmes, e sim, a violência e as opressões cometidas dentro de um set.

“O pornô é um microcosmos do mundo em que a gente vive. O que se vê nos filmes é o que se vê no mercado. É como a marca de cerveja competindo pra ver quem faz o comercial mais babaca. Um diretor faz um filme de anal, aí vai o outro e tem que fazer o super super anal e assim por diante…” –Valter

“Não dá pra voltar pro pornô arroz com feijão. (…) Elas usam álcool e drogas porque sabem que não dá pra cumprir certas exigências sóbrias.” –Shelley

Tanto na fala da Shelley quanto na do Valter pode-se perceber a falta de perspectivas que amenizem o problema. Os dois falam sobre a competição cada vez mais agressiva e mais distante do sexo comum: é a cultura do sexo hardcore. As orgias têm que ser cada vez mais numerosas; o freak, cada vez mais freak; e assim o sexo “comum” se torna cada vez menos atrativo comercialmente e, portanto, inviável.

Diretor das antigas, Valter critica a estrutura comum, não concorda com o modelo de produção atual e tem saudades da época em que os filmes eram mais eróticos, mais únicos e feitos em escala menor. “Se você for observar, os filmes seguem todos uma mesma estrutura, 4, 5 posições, ângulos de câmera muito parecidos, e até o ponto de corte chega a ser o mesmo”. Será que não é mesmo possível apostar em um modelo que não seja esse?

Será que não é possível fazer um filme que excite, que instigue, sem machucar? A maior parte da indústria pornô atende determinados grupos de homens héteros e outros grupos de homens gays. E digo ‘determinados grupos’ porque nem todos os homens héteros tem como fetiche ver mulheres com um padrão de beleza questionável, gemendo de maneira mais questionável ainda. Nem todos os homens héteros ou gays acham que os filmes com aquele sexo exagerado e tão claramente atuado é o que se pode ter de melhor num filme pornô.

Que tal pensar em algo que possa valorizar mais o casal, em que a interação e fetiches sejam mútuos e não levem em conta só o prazer masculino? E se fossem produzidos filmes em que o homem também seja objeto de prazer (não necessariamente voltados para o público gay)? Será que não é possível que o público lésbico seja de fato atendido, sem ficar refém do pornô em que duas mulheres se tocam com o claro objetivo de satisfação hétero-masculina?

Há até um vídeo em que garotas homo fazem comentários sobre o pornô lésbico main stream:

É possível encontrar filmes e produtoras alternativas, claro, mas ainda em uma quantidade muito pequena, com dificuldade para se manter e, por muitas vezes, com custo acima do pornô comum. Se você não é uma pessoa que se sente plenamente atendida pelo modelo atual e resolver procurar outro tipo, muito provavelmente vai levar três vezes mais tempo buscando um vídeo do que se masturbando.

Uma das alternativas atuais é o site “Make Love, Not Porn”. Criado por Cindy Gallop, pessoa chave na briga por novos modelos de pornô, o site tenta trazer o sexo da vida real para as telas. A criadora incentiva que casais normais façam filmes amadores reais e forneçam esse material para o site. Os visitantes pagam um taxa para assistir ao vídeo por um período determinado (algo em torno de US$5 por 3 semanas) e os usuários que fizeram a filmagem ganham metade dos lucros que o filme arrecadar.

No Brasil, a X-Plastic tem um trabalho relevante – até por ser a única grande produtora de pornô alternativo. Fundada por três integrantes de uma banda de rock, tem nas músicas um forte atrativo, assim como a inspiração na pornochanchada. A fotografia bem cuidada também chama atenção, e as garotas fazem o estilo de pin-ups modernas: tatuadas, com corpo natural e cabelos cuidadosamente diferentes (Patrícia Kimberly, nossa entrevistada, é uma das profissionais que gravam com a X-Plastic).

Alt Porn ou amador. Gonzo ou super produção. Tapas, apertões, puxadas de cabelo… Orgias, vários homens e uma só mulher… todas essas opções podem ser muito excitantes e não têm nada de errado, mas pra isso, é preciso que os envolvidos estejam gostando. Sentir prazer com algum desses tipos de interação é diferente de sentir prazer vendo uma mulher gritar aflita porque a penetração em grupo, os tapas, os puxões estão doendo sem lhe dar nenhum prazer.

Acredito que o ponto não é criar uma cartilha de “pode” e “não pode” dentro do pornô. A intenção desse texto, inclusive, é levantar o questionamento sobre os padrões que temos hoje. Creio que seja preciso encontrar um ponto de equilíbrio que garanta o bem estar dos profissionais, seja economicamente rentável e que, ao mesmo tempo, não criminalize as práticas sexuais de alguém.

O sexo agressivo não é, necessariamente, errado. O sexo com abuso é.

Como a Patrícia disse pra gente: “Enquanto eu estiver gostando e enquanto eu estiver tendo prazer, tudo vale.”

Gabriella Feola
Estudante de jornalismo da USP, apaixonada por músicas latinas, acredita que 'sexo' deveria ser uma editoria, assim como esporte.



Cultura

Glauber o subversivo, por Zuenir Ventura - O Globo
A Comissão da Verdade do Rio promove hoje à tarde, no Parque Lage, uma homenagem a Glauber Rocha, quando entregará a seus filhos uma série de documentos encontrados no Arquivo Nacional, entre os quais uma entrevista à revista britânica “Time Out”, de 1971, onde revelava que estava sendo perseguido pela ditadura militar e que considerava o Brasil de Médici “um estado totalitário”, comparável ao “nazifascismo alemão”.

Meia dúzia de filmes sobre a cornice que você precisa ver, antes de ser chifrado

É difícil demais identificar alguma coisa complexa por apenas um aspecto. Essa lista (abaixo), arbitrária como todas as demais listas elaboradas por uma pessoa só, comete exatamente esse pecado discriminatório. Contudo pelo menos a gente avisa.

Por vias tortas, já defendemos publicamente a opinião de que a cornagem é um tipo de virtude.  Agora, elaboramos uma coletânea de filmes a respeito do assunto. Todos eles contem o mesmo complexo de culpa e são atemporais, porque o homem é corno desde sempre ou desde o instante em que os relacionamento entre os casais se tornaram demasiadamente complexos.

Vamos a Lista:


Certamente, o primeiro nome dessa lista não é um filme apenas sobre a conitude, essa virtude masculina. A obra trata do problema do corno a partir do ângulo de todos os aspectos que poderiam levar um homem a cornidão: fracasso profissional, apatia e desinteresse no relacionamento, preferência pela pornografia em detrimento da esposa, desinteresse da própria esposa, diminuição de testosterona na meia-idade e na paternidade.
Não podemos esquecer também o ideal de “vida nova” enganoso, estabelecido pelo personagem do Kevin Spacey. Realmente, um clássico do cinema para chifrudos.

Quem assistir esse filme italiano vai pensar que se trata de uma história de traição convencional. Um casal com um relacionamento ruim em busca de “algo mais”.
Bobagem.
O tal casal nada mais é do que uma ponte para os personagens reais, um gordinho corno estilo “marido perfeito” e uma mãe de família tentando reestabelecer qualquer tipo de tesão do marido. Ambos são traídos sistematicamente pelos seus parceiros. Giuseppe Battiston está impecável no papel de corno principal.
O cara conserta chuveiro, faz tudo pela mulher, é carinhoso. Mas simplesmente não comparece na cama. Se não bastasse, tem o comportamento de um corno manso tradicional quando descobre as puladas de cerca da mulher. Bom filme, roteiro original, tudo amarradinho.

Nesse filme, você demora a entender quem é o corno da história e eu não vou bancar o spoileraqui. É um filme a respeito das razões e justificativas do corno para manter a integridade do seu nome em uma pequena comunidade argentina. Como sustentar a própria moral, depois de ser chifrado?
Na cidadela, os caras estão preocupados com os novos caminhos políticos e a cornidão entra em cena no meio do caminho. Uma comédia bem humana. 

Esse é um filme de corno que eu adoro por vários motivos!
Primeiro, porque explora o comportamento de vários homens que não conseguem administrar o ímpeto da mesma mulher. Segundo, porque Olivia Molina está em alta conta na relação das atrizes espanholas mais admiráveis em várias décadas. Se tudo isso não fosse suficiente, é um daqueles raros momentos em que a cornice se transfora na polêmica iniciativa do poliamor, quando o amor supera a cornice, sem envolver nada mais do que isso.
O sexo não é pretexto, é consequência. Quem assistir pode fazer uma comparação imediata entre Dona Flor e Seus Dois Maridos. Pessoalmente, penso que o Jorge Amado tinha seus interesses primários desligados do ideal de corno em si. Repito: a cornice como uma virtude masculina.

Nome bonito para um filme de corno, né?
Zé Carlos Machado interpreta um clássico corno-puritano-religioso. Ele faz o típico corno fanático: um pastor que salva a personagem da Camila Pitanga da prostituição e das drogas, mas acaba esfregando mais galhos que bambuzal em tormenta. O filme explora a tentativa de corrigir o incorrigível, um dos erros mais tradicionais dos chifrudos.
É um bom filme sobre a cornice porque é impossível se compadecer do corno, a não ser que você se identifique muito com ele.
Um belo representante brasileiro para nossa lista.
Ah, lembrei: o filme é baseado num livro que eu não li. 

Reis não carregam só coroas na cabeça. Muitas vezes, o corno só encontra controle para o seu ímpeto destrutivo no próprio amante da mulher. Noutras, o elemento que controla a excentricidade do chifrudo é a traição nela mesma.
Esse é um filme que conta a história de uma Dinamarca retrograda, sendo parcialmente invadida pelo ideal iluminista. O problema é quando as ideias de Voltaire e Rousseau se chocam com os interesses de manutenção da monarquia. Neste caso, o problema político se transforma na única justificativa justa para lustrar os próprios chifres prejudicando o Ricardão metido a revolucionário.
E o rei faz isso.

Everton Maciel

 - é gaúcho e não suporta bairrismo. Só tolera bares que não permitem camisas polo. Nasceu jornalista, mas fez mestrado em Filosofia e mantém um blog próprio, o Blog do Maciel. Tem Facebook e Twitter




Vida de cinema, por Luiz Fernando Veríssimo

Os filmes que víamos antigamente não nos prepararam para a vida. Em alguns casos, continuam nos iludindo. Por exemplo: briga de socos. Entre as convenções do cinema que persistem até hoje está a de que socos na cara produzem um som que na vida real nunca se ouviu.

O choque de punho contra o rosto fazia estrago nos rostos — ou não fazia, era comum lutas em que os brigões quase se matavam a murros terminarem sem nenhuma marca nos rostos — mas poupava os punhos. E como sabe quem, mal informado pelo cinema, entrou numa briga a socos, o punho quando acerta o alvo sofre tanto quanto o alvo.

No cinema de antigamente você já sabia: quando alguém tossia, era porque iria morrer em pouco tempo. Tosse nunca significava apenas algo preso na garganta ou uma gripe passageira — era morte certa.

Quando um casal se beijava apaixonadamente e em seguida desparecia da tela era sinal que tinham se deitado. E depois, não falhava: a mulher aparecia grávida. Nunca se ficava sabendo o que acontecia, exatamente, depois que o casal desaparecia da tela, a não ser que o filme fosse francês.

Pode-se mesmo dizer que o começo da mudança do cinema americano começou na primeira vez em que a câmera acompanhou a descida do casal e mostrou o que eles faziam deitados. Depois desse momento revolucionário não demoraria até aparecerem o beijo de língua e o seio de fora. E chegarmos ao cinema americano de hoje, em que, de cada duas palavras ditas, uma é fucking.

Se a vida fosse como o cinema nos dizia, nunca faltaria bala nas nossas pistolas ou gelo no balde para o nosso uísque quando chegássemos em casa. E sempre que tivéssemos de sair às pressas de um restaurante, atiraríamos dinheiro em cima da mesa sem precisar contá-lo e sem esperar que o garçom trouxesse a nota.

Seria uma vida mais simples, em cores ou em preto e branco, interrompida a intervalos por números musicais em que cantaríamos acompanhados por violinos invisíveis, e quando dançássemos com nossas namoradas seria como se tivéssemos ensaiado durante semanas, e não erraríamos um passo, e seríamos felizes até the end.


Cinema: 50 tons de cinza

Aprenda os fetiches do trailer com Fatima Mourah

A ansiedade para ver o filme "50 Tons de Cinza", que será lançado em fevereiro de 2015 é grande, mas já dá para ter um gostinho logo no trailer, que mostrou cenas apimentadíssimas. Entre uma e outra, a protagonista Anastasia Steele (vivida por Dakota Johnson) aparece amarrada na cama e, logo depois, vendada: duas fantasias que fazem parte do imaginário masculino e feminino.
Para a sensual coach Fátima Moura, esses dois fetiches podem ser o tempero da relação. "Quando você amarra, você sinaliza que a pessoa não pode tocar em você. É o poder do proibido, e isso é extremamente excitante.
Já a venda priva a visão, aguçando os outros sentidos. Isso mexe com a imaginação do casal, aumentando o tesão", comenta a expert.
E aí, bateu uma vontade de experimentar esses fetiches depois de ver o trailer? Fátima dá dicas para praticar ainda hoje:
1- Você pode vendar e amarrar o parceiro e depois tocar todo o corpo dele com as mãos, começando pelos pés e subindo lentamente. Quando chegar ao tórax, use os seios para massageá-lo.
2 - Use o gelo para percorrer o corpo da pessoa vendada e amarrada. Depois passe a língua por onde você passou o gelo.
3 - Com a pessoa vendada, percorra os lábios dela com os seus bem devagar, depois sugue o lábio inferior.
4 - E, por fim, com a pessoa amarrada, esfregue todo seu corpo no dela, até ela não aguentar mais.

Tarja branca

Para despertar a criança que existe em você

Daniel acorda porque o olho pulsa. Eu acordo porque o despertador toca.
Quando anda, pula e imita sapo. Sobe na mesa e pula no chão. Dou risada, quanta energia, vem sapinho! “Sou dinossauro!” Inventa um pulo novo (de canguru, denomina de imediato). Dá cambalhota, estrela, fica de cabeça pra baixo. Não anda: oscila entre correr e inventar passos novos. Canso de olhar, encosto na cadeira, que fôlego Daniel tem!
Eu não pulo. À noite tenho uma hora e dez minutos na academia. Cronometrados. Passo séries agachando olhando minha própria imagem no espelho, separando meus movimentos em exercícios. Puxo uma barra para o bíceps, quase morro. De tédio. Acabo rápido para mais trinta minutos de caminhada feito rato de laboratório. Na televisão alguma bobagem me entretém enquanto conto os segundos para fugir de carro daquele lugar iluminado.
Passo o dia me arrastando entre compromissos. Olhar pro lado não posso, já são dez pra alguma hora, em cinco tenho que chegar, se não chegar em dois tenho que ligar, daí preciso correr mais. Chego e tenho compromisso. Não tenho tempo para o ócio, olhar no olho não consigo, desculpa, estou atarefada.
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Não acredito em ninguém na entrada do metrô. Dos que pedem dinheiro ou informação. Sou ressabiada, passo reto, converso pouco, seguro a bolsa, pego o celular: me divido entre me esconder nele e esconder ele. Sou triste no metrô.
Daniel vai para a escola sem se importar com o meio de transporte. Ele olha o mundo. Dorme no ônibus, cantarola pelo caminho. Quando a pé, conhece os cachorros de todas as casas, as árvores das quais mais caem folhas, os chãos de todas as calçadas.
Não romantizo a infância. Daniel se irrita. Sabe que pode mandar. Sabe ser cruel. Diz que não gostou do presente, que o bolo da tia é ruim, chora a alma porque está cansado e nem sabe. Mas quando acorda irritado não engole o choro e vai trabalhar. Não esconde o que sente. Grita, chora, se joga no chão, às vezes não consegue ouvir não.
Daniel tem a vida toda para aprender a se comportar. Tomara que ele entenda que crescer não é esconder sentimentos. Tomara que ele continue a fluir, tomara que a gente reaprenda com ele a brincar.

Tarja Branca: a revolução que faltava“, é um documentário brasileiro dirigido por Cacau Rhoden e feito pelo mesmo time dos incríveis “Criança, a alma do negócio” e “Muito além do peso“.
Para além da infância, o documentário fala do remédio que nossas sociedades estão esquecendo de tomar. Crianças e adultos cada vez mais distantes da cultura popular, da ludicidade, do senso de comunidade, de pertencimento a um grupo: estamos todos perdendo qualidade de vida junto com nossa capacidade de brincar.
Num equívoco imenso, associamos o brincar a não-seriedade, zombaria, imaturidade. Mas brincar é essencial para nossa sobrevivência e o documentário traz relatos de gente encantadora contando de suas infâncias e de suas brincadeiras de gente grande.
Tarja Branca é um filme para sair do cinema querendo pular corda, dançar na chuva, correr pelo parque, ser mais leve e reaprender a despertar o lúdico dentro da gente. Recomendo para a criança que existe dentro de você.
Isabella Ianelli


Pedagoga interessada em arte e educação. Escreve no blog Isabellices e responde por @isabellaianelli no Twitter.

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