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Crônica dominical

- Ótimo conselho as mães que se veem refletidas na mãe abaixo (primeira fase). É um exemplo de vida que vale muito ser seguido. Leia com atenção e compartilhe com quem você acha que se enquadra na estória -.
***
Minha mãe tinha muitos problemas. Não dormia e se sentia esgotada. Era irritada, rabugenta e azeda. E sempre estava doente, até que um dia, de repente, ela mudou. A situação estava igual, mas ela estava diferente. Certo dia, meu pai lhe disse:
- Amor, estou há três meses à procura de emprego e não encontrei nada, vou tomar umas cervejinhas com os amigos.
- Tudo bem.
Meu irmão lhe disse:
- Mãe, eu vou mal em todas as matérias da faculdade.
- Tudo bem, você já vai se recuperar. E se não conseguir, é só repetir o semestre, mas você paga a matrícula.
Minha irmã lhe disse:
- Mãe, bati o carro.
- Tudo bem filha. Leve-o para a oficina, procure uma forma de pagar o conserto e, enquanto o arrumam, vá trabalhar de ônibus ou de metrô.
Sua nora lhe disse:
- Sogra, venho passar uns meses com vocês.
- Tudo bem, ajeite-se na poltrona da sala e procure uns cobertores no armário.
Todos nós na casa da minha mãe nos reunimos preocupados ao ver essas reações. Suspeitávamos que tivesse ido ao médico e que ele lhe tivesse receitado uns comprimidos de “Se Virem" de 1000 mg. Com certeza também estaria ingerindo uma overdose. Propusemos então fazer uma "Intervenção" a minha mãe para afastá-la de qualquer possível vício que viesse a ter com algum medicamento "anti-birras". Mas qual não foi a surpresa quando todos nos reunimos em torno dela e minha mãe nos explicou:
- Demorei muito tempo para perceber que cada um é responsável pela sua vida, demorei anos para descobrir que minha angústia, minha mortificação, minha depressão, minha coragem, minha insônia e meu estresse não resolvem seus problemas, mas sim aumentam os meus. E não sou responsável pelas ações dos outros, mas sim responsável por minhas reações diante disso. Portanto, cheguei à conclusão de que o meu dever para comigo mesma é manter a calma e deixar que cada um resolva o que lhe cabe. Já fiz cursos de yôga, de meditação, de desenvolvimento humano, de higiene mental, de vibração, de programação neurolinguística e de milagres, e em todos eles encontrei um denominador comum, todos conduzem ao mesmo ponto:
Eu só posso ter ingerência sobre mim mesma, vocês têm todos os recursos necessários para resolver as suas próprias vidas. Eu só poderei dar-lhes o meu conselho se por acaso me pedirem e, segui-lo ou não, depende de vocês. Por isso, de hoje em diante, eu deixo de ser o receptáculo de suas responsabilidades, o saco de suas culpas, a lavadeira de seus arrependimentos, a advogada de suas faltas, o muro de seus lamentos, o depósito de seus deveres. Deixo de ser quem resolve seus problemas ou cumpre suas responsabilidades.
A partir de agora, declaro-os a todos ADULTOS INDEPENDENTES E AUTO-SUFICIENTES. Todos na casa da minha mãe ficaram mudos.
A partir desse dia a família começou a funcionar melhor pois todos na casa sabem exatamente o que lhes compete fazer.
Recebido por e-mail, sem a autoria conhecida
Todo mundo quer ser bom, mas da lua só vemos um pedaço 
Vida que segue...

Paulo Coelho: meu funeral

Faz tempo que me pergunto: se eu morresse amanhã, como seria meu funeral?
E a partir daí, deixar de fazer aquilo que nos mantém como "mortos vivos" [ou vivo mortos], e arriscar tudo, pelos sonhos que sempre pensamos realizar. Querendo ou não a morte está nos esperando, Éla é a única certeza que temos na vida. 

Vida que segue...

Livro de cabeceira


Acho que
os evangélicos
que se incomodam
além da conta com preferências
e práticas sexuais dos outros tem
como livro de cabeceira o Kama Sutra e não a Bíblia.

Vida que segue...

O escrete de loucos, por Nelson Rodrigues



"Repito: o brasileiro é uma nova experiência humana. O homem do Brasil entra na história com um elemento inédito, revolucionário e criador: a molecagem."

Amigos, a bola foi atirada no fogo como uma Joana d’Arc. Garrincha apanha e dispara. Já em plena corrida, vai driblando o inimigo. São cortes límpidos, exatos, fatais. E, de repente, estaca. Soa o riso da multidão — riso aberto, escancarado, quase ginecológico. Há, em torno do Mané, um marulho de tchecos. Novamente, ele começa a cortar um, outro, mais outro. Iluminado de molecagem, Garrincha tem nos pés uma bola encantada, ou melhor, uma bola amestrada. O adversário para também. O Mané, com quarenta graus de febre, prende ainda o couro.
A partida está no fim. O juiz russo espia o relógio. E o Brasil não precisa vencer um vencido. A Tchecoslováquia está derrotada, de alto a baixo, da cabeça aos sapatos. Mas Garrincha levou até a última gota o seu “olé” solitário e formidável. Para o adversário, pior e mais humilhante do que a derrota, é a batalha desigual de um só contra onze. A derrota deixa de ser sóbria, severa, dura como um claustro. Garrincha ateava gargalhadas por todo o estádio. E, então, os tchecos não perseguiram mais a bola. Na sua desesperadora impotência, estão quietos. Tão imóveis que pareceram empalhados.

»Confira a íntegra do livro

Garrincha também não se mexe. É de arrepiar a cena. De um lado, uns quatro ou cinco europeus, de pele rósea como nádega de anjo; de outro lado, feio e torto, o Mané. Por fim, o marcador do brasileiro, como única reação, põe as mãos nos quadris como uma briosa lavadeira. O juiz não precisava apitar. O jogo acabava ali. Garrincha arrasara a Tchecoslováquia, não deixando pedra sobre pedra. Se aparecesse, na hora, um grande poeta, havia de se arremessar, gritando: — “O homem só é verdadeiramente homem quando brinca!” Num simples lance isolado, está todo o Garrincha, está todo o brasileiro, está todo o Brasil. E jamais Garrincha foi tão Garrincha, ou tão homem, como ao imobilizar, pela magia pessoal, os onze latagões tchecos, tão mais sólidos, tão mais belos, tão mais louros do que os nossos. Mas vejam vocês: de repente, o Mané põe, num jogo de alto patético, um traço decisivo do caráter brasileiro: — a molecagem.
O Hélio Pellegrino, que é poeta e psicanalista, dizia-me, outro dia: — “O brinquedo é a liberdade!” E para Garrincha, o brinquedo, no fim da batalha, foi a molecagem livre, inesperada, ágil e criadora. Varou os pés adversários, as canelas, os peitos. Não tinha nenhum efeito prático a sua jogada arrebatadora e inútil. Mas o doce na molecagem é a alegria insopitável e gratuita. E não houve, em toda a Copa, um momento tão lírico e tão doce.
Amigos, ninguém pode imaginar a frustração dos times europeus. Eles trouxeram, para 62, a enorme experiência de 58. Jogaram contra o Brasil na Suécia, trataram de desmontar o nosso futebol, peça por peça. Toda a nossa técnica e toda a nossa tática foram estudadas com sombrio élan. Sobre Garrincha, eis o que diziam os técnicos do Velho Mundo: — “Só dribla para a direita!” Era a falsa verdade que se tornaria universal. O próprio Pelé parecia um mistério dominado.
Após quatro anos de meditação sobre o nosso futebol, o europeu desembarca no Chile. Vinha certo, certo, da vitória. Havia, porém, em todos os seus cálculos, um equívoco pequenino e fatal. De fato, ele viria a apurar que o forte do Brasil não é tanto o futebol, mas o homem. Jogado por outro homem o mesmíssimo futebol, seria o desastre. Eis o patético da questão: — a Europa podia imitar o nosso jogo e nunca a nossa qualidade humana. Jamais, em toda a experiência do Chile, o tcheco ou o inglês entendeu os nossos patrícios. Para nos vencer, o alemão ou o suíço teria de passar várias encarnações aqui. Teria que nascer em Vila Isabel, ou Vaz Lobo. Precisaria ser camelô no largo da Carioca. Precisaria de toda uma vivência de botecos, de gafieira, de cachaça, de malandragem geral.
Aí está: — no Velho Mundo os sujeitos se parecem, como soldadinhos de chumbo. A dessemelhança que possa existir de um tcheco para um belga, ou um suíço, é de feitio do terno ou do nariz. Mas o brasileiro não se parece com ninguém, nem com os sul-americanos. Repito: o brasileiro é uma nova experiência humana. O homem do Brasil entra na história com um elemento inédito, revolucionário e criador: a molecagem. Citei a brincadeira de Garrincha num final dramático de jogo. Era a molecagem. Aqueles quatro ou cinco tchecos, parados diante de Mané, magnetizados, representavam a Europa. Diante de um valor humano insuspeitado e deslumbrante, a Europa emudecia, com os seus túmulos, as suas torres, os seus claustros, os seus rios.
Vocês assistiam, pelo videoteipe, todos os jogos. O europeu aparecia com uma seca, exata objetividade, sem uma concessão ao delírio. Ele próprio se engradava dentro de um esquema irredutível. Ao passo que o Brasil faz um futebol delirante. Numa simples ginga de Didi, há toda uma nostalgia de gafieiras eternas. O nosso escrete era vidência, iluminação, irresponsabilidade criadora. Só a Espanha é que chegou a lembrar o Brasil. Seu escrete parecia passional também. Mas logo se percebeu a falsa semelhança. Os espanhóis têm uma paixão sem gênio, uma paixão burra. Chegaram a nos ameaçar, por vezes. Veio, porém, um sopro da praça Sete, do Ponto de 100 Réis1, e Amarildo, o Possesso, encampou dois.
Contra a Inglaterra foi uma vitória linda. Não tínhamos rainhas, nem Câmara de Comuns, nem lordes Nelsons. Mas tínhamos Garrincha. E tínhamos Zagalo, o de canelas finíssimas e espectrais. E Nilton Santos, com a sua salubérrima eternidade. E negros ornamentais, folclóricos, como Didi, Zózimo e Djalma Santos. Logo se viu, entre o nosso craque e o inglês, todo um abismo voraz. O inglês apenas joga futebol, ao passo que o brasileiro “vive” cada lance e sofre cada bola na carne e na alma. Djalma Santos põe, no seu arremesso lateral, toda a paixão de um Cristo negro.
E mesmo fora do futebol, o europeu faz uma imitação da vida, enquanto que o brasileiro vive de verdade e ferozmente. Ninguém compreenderá que foi a nossa qualidade humana que nos deu esta Copa tão alta, tão erguida, de fronte de ouro. E mais: — foi o mistério de nossos botecos, e a graça das nossas esquinas, e o soluço dos nossos cachaças, e a euforia dos nossos cafajestes. Jogamos no Chile com ardente seriedade. Mas a última jogada de Mané, no adeus os Andes, foi uma piada, tão linda e tão plástica. No mais patético das batalhas, o escrete soube brincar. Esse toque de molecagem brasileira é que deu à vitória uma inconcebível luz.
Fatos & Fotos, Edição histórica, junho de 1962
(1) O Ponto de Cem Réis é como ficou conhecida a Praça Vidal de Negreiros, localizada em João Pessoa (PB)
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Ateu, não: agnóstico


- Te dou quinhentos reais se tu souber o que quer dizer esta palavra.

- Ora, pra começo de conversa tu num tem quinhentos reais. Tô falando sério e te vem com molecagem. Acho que Deus é uma coisa, padre, pastor, monje outra. O ranço, o cheiro de mofo das igrejas me embrulham o estomago, dá nojo. tenho horror ao bafo clerical dos confessionários! O bem que a confissão pode nos fazer é o de uma catarse, um extravasamento, que a psicanálise também faz, e com mais sucesso. Estou mesmo com vontade de me especializar em psiquiatria.


- Só mesmo um doido te procuraria. Maur não pôde deixar de rir. Eduardo acrescentou:

- Você vai ter de se curar para depois curar os outros.

- É isso mesmo - concordo o outro, sério - Estou exatamente preocupado com o meu próprio caso. Já iniciei o que eu chamo de "a minha libertação".

- E o que eu chamo de "a sua imbecilização".

- Vista pela sua, que já é completa. O que eu chamo de libertação é a possibilidade de me afirmar integralmente, como homem. O homem é que interessa. Se Deus existe, posso vir a me entender com ele, mas há de ser de homem para homem.


Fernando Sabino - cronistas, escritor, jornalista e cineasta brasileiro. Nasceu em Mnas Gerais em 14 de outubro de 1923 e faleceu no Rio de Janeiro em 11 de outubro de 2004

Vida que segue...

A última crônica



A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica. 

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome. 

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. 

O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim. 




São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. 

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.


FernandoTavares Sabino - um dos maiores e melhores crônistas brasileiro, também era jornalista. Nasceu em Belo Horizonte -MG em 12 de outubro de 1923 e morreu em 11 de outubro de 2004, deixando muitas saudades e uma imensa lacuna na literatura.
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Campanha da leitura




Leia sempre
Leia bastante
Leia atentamente
Ler é um excelente antídoto contra a estupidez, a ignorância e o fascismo.
A leitura é a porta mais larga que existe para o conhecimento e a solidariedade. Só estes motivos já seriam mais que sufiente para convence-lo a ler. Mas, existem muito outros, entre eles o ler para aprender a se divertir.
Leia!

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Jeca Tatu volta a dar as caras, por Isaías Dalle

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A figura do Jeca Tatu, sinônimo de atraso e de ausência de força vital e presença de espírito, está completando 100 anos de sua chegada ao grande público leitor. Em novembro de 1918, o autor Monteiro Lobato inseriu o conto “Urupês” em livro de mesmo nome. O texto já havia sido publicado como artigo (textão!) no diário O Estado de S. Paulo, em 1914, mas foi sua entrada no nascente mercado de livros publicados no Brasil que lhe consolidou a fama.
Lobato descreveu o Jeca Tatu como o caipira abandonado à própria sorte, vítima da fome que lhe parecia natural e imutável – exceto se ocorresse um lance de muita sorte ou divina intervenção – e prisioneiro de uma ignorância inamovível. Era um retrato do Brasil, ainda majoritariamente rural, que o escritor e jornalista atacava com mordacidade para ver se era possível tirá-lo do estupor.
Indisfarçável nessa fase da obra de Lobato uma inclinação a crenças eugenistas. Não declamadas com o estufar do peito ou com o prazer de quem se sente no direito de condenar o que julga inferior, mas essas crenças estão lá. Como estiveram presentes na campanha eleitoral deste 2018, cem mudanças de calendário depois, com a diferença de que atualmente veio embalada com a ideia, muitas vezes explícita, da hipótese de remoção (ou “varrição”) do outro como saída plausível.
A fome, a falta de saneamento básico, a completa distância de acompanhamento médico e, tristemente curioso, o mesmo desconhecimento dos rumos políticos de que sofria Jeca Tatu voltam a grassar, após breve período recente em que tentativa de superação dessas mazelas deixou de ser guiada pela tese que enxerga sofrimento e sofredor como um só e indelével fenômeno.
No seu ataque ao Jeca, o escritor nascido em Taubaté (SP) começa por ridicularizar a romantização do homem original brasileiro, à moda de José de Alencar, primeiro demonstrada na louvação do índio Peri e que naqueles idos de 1910, segundo acusa Lobato, era transferida para a figura do homem do campo numa representação de pureza e destemor, como se representações do atraso – tais como as queimadas atacadas em outro texto por Lobato – não existissem como obstáculo ao progresso e a uma possível emancipação. Essa idealização iria compor anos mais tarde o ideário do integralismo, em sua louvação das “origens” como amálgama do fascismo à brasileira.
“Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço – e nisto vai longe”, descreve Lobato em seu conto, em contraponto ao “indianismo” heroico redivivo na crônica daquele tempo. A interiorização do destino trágico como algo normal ao Jeca é retratada pelo escritor a partir de hipotética banqueta dotada de três pernas que o pobre caipira reserva em sua casa de palha para os visitantes– já que o próprio Jeca não se senta em um, para isso bastam-lhes os calcanhares sobre os quais acocora-se: “Seus remotos avós não gozaram de maiores comodidades. Seus netos não meterão quarta perna ao banco. Para quê? Vive-se bem sem isso”.
No plano simbólico, o conto “Urupês” retrata o Jeca como supersticioso, avesso à política (salvo o voto quadrienal) e invejoso do vizinho mais próximo com ares de patrão bem sucedido.
Esse Jeca Tatu criado por Monteiro Lobato pode muito bem ser apropriado pelas narrativas tanto da esquerda quanto da direita. Esta, tradicionalmente, utilizou-se da mediocridade do caipira lobatiano para menosprezar nossas chances como nação, no que foi seguida por incautos caipiras de diversos matizes.
Lobato tinha 36 anos nessa época. Seu afã por um Brasil independente e desenvolvido evoluiu e transformou-se em ações práticas e campanhas de grande envergadura. A começar pela criação de uma editora 100% nacional, a partir de onde projetou seus livros como sucessos de venda inéditos até então. Sua intervenção mais conhecida foi a campanha O Petróleo é Nosso, que entre tropeços e sucessos redundou anos depois na criação da Petrobras.
Foi entusiasta da Revolução Russa e da campanha soviética contra os nazistas. Foi acusado de comunista pela igreja – na época, a hegemônica Igreja Católica – por conta de seu livro História do Mundo para Crianças, apontado como subversivo pelo padre Sales Brasil. Como preso político em 1941, sob o Estado Novo, no presídio Tiradentes, aprofundou seu conhecimento sobre comunismo com seus companheiros de prisão.
Resumiu assim o cenário político e social brasileiro: “A nossa ordem social é um enorme canteiro em que as classes privilegiadas são as flores e a imensa massa da maioria é apenas o esterco que engorda essas flores. Esterco doloroso e gemebundo. Nasci na classe privilegiada e nela vivi até hoje, mas o que vi da miséria silenciosa nos campos e nas cidades me força a repudiar uma ordem social que está contente com isso e arma-se até com armas celestes contra qualquer mudança.”
Vida que segue...
O mais divertido e contraditório, é que antigamente Jeca Tatu era apenas um personagem literário. Hoje são milhões de internautas e eleitores atuantes, que evangélicamente se orgulham da imbecilidade e truculência (com os mais fracos), porque na real são iguais o verme que elegeram,  vivem de puxar e babar ovo...

O pequeno príncipe abrasileirado

Então será maravilhoso quando tiverem me cativado
capim dourado fará lembra-me de ti
E amarei o som do vento no cerrado
***
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É preciso entender

Infelizmente, Jair Bolsonaro é a auto imagem de muitos brasileiros e brasileiras:
Sádico
Racista
Misógino
Intolerante
Homófobico e subletrado
Todo nós temos um Bolsonaro perto de si, dizendo diariamente tudo que ele disse (antes da eleição). 
Pais
Tios
Avôs
Primos
Amigos
Conhecidos...
Bolsonaro não é um mito. Bolsonaro é um exemplo e espelho da ignorância humana.


***

Como dizia meu pai

JÁ SE TORNOU HÁBITO MEU, em meio a uma conversa, preceder algum comentário por uma introdução:
— Como dizia meu pai…
Nem sempre me reporto a algo que ele realmente dizia, sendo apenas uma maneira coloquial de dar ênfase a alguma opinião.
De uns tempos para cá, porém, comecei a perceber que a opinião, sem ser de caso pensado, parece de fato corresponder a alguma coisa que Seu Domingos costumava dizer. Isso significará talvez — Deus queira — insensivelmente vou me tornando com o correr dos anos cada vez mais parecido com ele. Ou, pelo menos, me identificando com a herança espiritual que dele recebi.
Não raro me surpreendo, antes de agir, tentando descobrir como ele agiria em semelhantes circunstâncias, repetindo uma atitude sua, até mesmo esboçando um gesto seu. Ao formular uma idéia, percebo que estou concebendo, para nortear meu pensamento, um princípio que se não foi enunciado por ele, só pode ter sido inspirado por sua presença dentro de mim.
— No fim tudo dá certo…
Ainda ontem eu tranqüilizava um de meus filhos com esta frase, sem reparar que repetia literalmente o que ele costumava dizer, sempre concluindo com olhar travesso:
— Se não deu certo, é porque ainda não chegou no fim.

Vontade Popular e Democracia: Candidatura Lula?


Debate e lançamento do livro homônimo, em que estarão presentes os coordenadores e co-autores da obra. 

Participarão da mesa de debates o ex-ministro da Justiça do governo Dilma Rousseff, Eugênio Aragão (UNB), a professora Weida Zancaner (USP) o professor Aldo Fornazieri (FESPSP) e o jornalista e escritor Fernando Morais.

O debate acontecerá na Casa Tupi or not Tupi, rua Fidalga 360 - Vila Madalena, em São Paulo às 19:00.

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Ex-apaixonada


Não bloqueei, não deletei
Não exclui conversas nem mandei indiretas
Não publiquei no Facebook ou o ironizei noTwitter
Não precisei revelar minhas indignações no Isntagram 
Nem fiz fofocas  e correntes virtuais no Whatsapp contra ele
Quando decidi que não faria mais parte da minha vida, apenas ignorei
Fui me permitindo, saindo, me conhecendo, reconhecendo
E em meio a mesma calçada ele já teria passado frente a mim, sem que eu percebesse
Em meio a passos se distanciando já teria mais que certeza, deixei de ser a mesma
Eu já não era uma mulher apaixonada.


por Russo Antissocial


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Lula leu e recomenda


Mark Manson conseguiu me chocar, não ao longo das 224 páginas do livro… mas, logo na lapela.
Apesar de estar classificado como auto-ajuda é algo superior a isso, graças a forma como ele foi escrito que EM NADA remete aos clichês deste estilo.
Sabe aquela dos limões? Faça uma limonada? Então, Mark nos diz que não é bem assim, você só precisa a aprender a lidar com a gastrite posterior. Real, não é mesmo? E sobre as pressões do mundo moderno e conectado, quem nunca se sentiu sufocado diante da pressão infinita por parecermos otimistas? Nada disso, é super normal sentir que tudo isso é uma b*sta!
Chega de tentar buscar um sucesso que só existe na sua cabeça. Chega de se torturar para pensar positivo enquanto sua vida vai ladeira abaixo.
Assim que vi essa capa desejei e coloquei no topo das metas de leitura, não me decepcionando já que a leitura é fácil, dinâmica e muitas vezes bem humorada. Cada linha, nessa abordagem tão inusitada, é capaz de abrir seus olhos para muitas coisas que talvez o leitor já saiba, mas tenha deixado trancafiado em algum lugar…
MARK MANSON não tem meandros ou meias palavras. Com um estilo honesto, divertido e incrivelmente perspicaz, ele se tornou popular escrevendo em seu blog o que as pessoas realmente precisam ouvir, pois só isso funciona para nos fazer evoluir pessoal e profissionalmente. Mora em Nova York.
A Sutil Arte, conheça o site do livro AQUI.
No bom linguajar gaúcho, é um texto sem frescura que traz a vida como ela é.  Mais que isso, nos faz refletir de forma objetiva que é preciso enxergar a realidade e aceitar… Antes de dar um passo a frente e tentar mudar. Que não temos que ficar idealizando metas surreais e que talvez seja melhor focar onde realmente você poderá chegar.
George Orwell disse que enxergar o que está diante do
nariz exige um esforço constante. Bom, a solução para o estresse
e a ansiedade é óbvia, e não percebemos porque estamos
ocupados vendo pornô e propagandas de aparelhos
para abdominais que não funcionam enquanto nos perguntamos
por que não temos um tanquinho e não transamos
com mulheres lindas.
É revigorante essa leitura! Principalmente para pessoas que sofrem de ansiedade, assim como eu. Você pode ler gratuitamente um trecho do livro clicando AQUI! Confesso que não concordo com tudo que o autor propõe e ainda prefira a velha formula POLIANA de TEnTAR ser srsrs, tenar somente; mas me fez ver o quão nos pressionamos.
Caso já queira comprar o livro físico ou digital, aqui você pode espiar valores e mais detalhes. Eu recomendo e dou cinco estrelas para essa obra inovadora que te dá um tapa na bunda e no fim ainda diz que chorar também é positivo.

Escritora, graduada em Artes Visuais e pós-graduanda na área,Téc. em turismo e hotelaria, gaúcha de Pelotas que adora assistir séries de tv. Viciada em Lititeratura. Fundadora do site (em 04/10) e Editora Chefe deste Portal. No Twitter @aJuLund
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Tão importante quanto curtir, comentar e compartilhar é clikar na propaganda dos patrocinadores. Obrigado

Dilma Rousseff: a 1ª vítima do golpe de 2016 foi a Verdade

Costuma-se dizer que a primeira vítima de uma guerra é a verdade. Com efeito, numa guerra em sentido estrito ou numa guerra política, o assassinato da verdade e a ocultação dos fatos ocorrem em profusão. 
No Brasil, não é diferente. A primeira vítima do golpe parlamentar de 2016 não foi só a democracia. Foi também a verdade.
Antes do golpe, e para justificá-lo, as forças antipopulares e antinacionais difundiram, à exaustão, uma série de mentiras sobre os governos do PT.

Entre as muitas mentiras, disseram que os governos do PT haviam “quebrado o Brasil”, promovido uma imensa e irresponsável “gastança”, “destruído a Petrobras”, gerido as finanças públicas com “irresponsabilidade fiscal”, implantado o “maior esquema de corrupção da história”, inchado a máquina pública, implementado uma política externa “ideológica e terceiro-mundista”, entre outras acusações.
Essa cortina de fumaça de mentiras destinou-se e destina-se a ocultar um extraordinário legado social, político e econômico que foi deixado pelos governos do PT. Um legado que, em agudo contraste com a nossa tradição histórica de exclusão e desigualdade social, melhorou a vida de dezenas de milhões de brasileiras e brasileiros e fez do Brasil um país respeitado em todo o mundo.
De fato, ao longo do ciclo de desenvolvimento dos governos do PT, o nosso país experimentou, pela primeira vez, uma combinação virtuosa de aperfeiçoamento democrático, massiva inclusão social, distribuição de renda e crescimento com estabilidade macroeconômica.
Contudo, as forças golpistas que assaltaram a Nação querem fazer tabula rasa desse legado, ocultando os fatos da população e destruindo as extraordinárias realizações desse período histórico virtuoso.

Isaac no mundo da partículas

Olha a carinha da criança lendo Isaac! ❤📖
Apertem os cintos e soltem a imaginação! A viagem para o mundo mágico da ciência vai começar! Quem quiser fazer parte dessa tripulação da nave de Isaac e ainda não comprou a passagem:

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Não sei quem é o autor dessa “coisa” mas que é legal é



A palavra "coisa" é um bombril do idioma. Tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma ideia"Coisas" do português.

Gramaticalmente, "coisa" pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma "coisificar".
E no Nordeste há "coisar": Ô, seu "coisinha", você já "coisou" aquela coisa que eu mandei você "coisar"?
Na Paraíba, Rio G. do Norte e em Pernambuco, "coisa" também é cigarro de maconha.
Em Olinda, o bloco carnavalesco Segura a Coisa tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu Valença canta: Segura a "coisa" com muito cuidado / Que eu chego já."
Já em Minas Gerais , todas as coisas são chamadas de trem. (menos o trem, que lá é chamado de "coisa"). A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: "Minha filha, pega os trem que lá vem a "coisa"!.

E, no Rio de Janeiro?
Olha que "coisa" mais linda, mais cheia de graça...
A garota de Ipanema era coisa de fechar o trânsito!
Mas se ela voltar, se ela voltar, que "coisa" linda, que "coisa" louca.
Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas.
Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino.
Coisa-ruim é o capeta. Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa assim!
Coisa também não tem tamanho.
Na boca dos exagerados, "coisa nenhuma" vira um monte de coisas...

Mas a "coisa" tem história mesmo é na MPB. No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, a coisa estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré: Prepare seu coração pras "coisas" que eu vou contar..., e A Banda, de Chico Buarque: pra ver a banda passar, cantando "coisas" de amor...Naquele ano do festival, no entanto, a coisa tava preta (ou melhor, verde-oliva).
E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas:
"coisa" linda, "coisa" que eu adoro!
Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade
afinal, são tantas "coisinhas" miúdas.
E esse papo já tá qualquer "coisa". Já qualquer "coisa" doida dentro mexe...
Essa coisa doida é um trecho da música "Qualquer Coisa", de Caetano,
que também canta: alguma "coisa" está fora da ordem! e o famoso hino a São Paulo: "alguma coisa acontece no meu coração"!
Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar.
Uma coisa de cada vez, é claro, afinal, uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa.
E tal e coisa, e coisa e tal.
Um cara cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques.
Já uma cara cheio das coisas, vive dando risada. Gente fina é outra coisa.
Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma.
A coisa pública não funciona no Brasil. Político, quando está na oposição, é uma coisa,
mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura.
Quando elege seu candidato de confiança, o eleitor pensa: Agora a "coisa" vai...
Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma.
Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas coisas!
Se as pessoas foram feitas para ser amadas e as coisas, para serem usadas,
por que então nós amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas?
Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas.
Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras cositas más.
Mas, deixemos de "coisa", cuidemos da vida, senão chega a morte, ou "coisa"
parecida... Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento:
"AMARÁS A DEUS SOBRE TODAS AS "COISAS".
Entendeu o espírito da coisa?


Reestruturando Machado de Assis

Dois horizontes norteiam nossa existência:

Um horizonte é a morte, saudade de quem não há de voltar.

O outro horizonte é o nascimento, esperança de que nunca há de nós deixar.

Nesse intervalo, que chamamos de vida, aprendemos que de fato, nascer e morrer são apenas faces da mesma moeda.