O que espanta no depoimento de Antônio Palocci ao juiz Moro não foi a traição que ele perpetrou contra Lula, mas o despudorado cinismo da traição - a total desfaçatez com que foi feita. O depoimento foi, praticamente, uma delação. Nestes termos, seguiu o padrão de outras delações. Todas revelam o apodrecimento do caráter moral da política brasileira e de boa parte dos políticos e de empresários que se relacionam com o mundo político e com o Estado.
Palocci, a exemplo de tantos outros delatores, não revelou "verdades" a Moro como forma de arrependimento moral, como sinal de consciência penitente de alguém que havia cometido graves violações da lei, como alguém que vem a público confessar imperdoáveis pecados contra a sociedade, como alguém que sente uma dor moral insuportável e um sentimento angustiante de perda da honra pessoal. Nada disso está presente no depoimento de Palocci. O único objetivo do depoimento foi torpe: conseguir um benefício pessoal, buscando que lhe seja concedido o privilégio da delação premiada. Este tipo de pessoa está apta a alcançar a liberdade para continuar persistindo no crime, assim como Temer se habilitou pela traição a chegar à presidência da República para continuar na senda criminosa.