Era necessário: ser Presidente a qualquer custo

E foi o que ele fez, agora, ao levantar a bandeira do aborto: passou com o trator por cima da própria mulher.

Monica Serra parece ter concordado.

Ela foi à Baixada Fluminense, no Rio, pedir para não votar na Dilma, porque ela defenderia a morte de criancinhas num aborto.

A Dilma atacou Serra no debate da Band por causa disso, mas o Serra não defendeu a mulher.

Agora, se entende por que.

Conversa Afiada por vários dias se recusou a publicar a reportagem da publicação Correio do Brasil, por não conseguir confirmá-la.

Ontem à noite, o Conversa Afiada recebeu cópia de uma troca de e-mails em que a aluna de Monica Serra, Sheila Ribeiro, explicava a um jornalista que queria entrevistá-la por que  fez a denuncia:
Gente, é MUITO SIMPLES

Vi do sofá o debate dos presidenciáveis.

Me surpreendi pq nem sabia de polêmica nenhuma sobre aborto (não estava acompanhando).

Postei minha reflexão no FB baseada nas minhas experiências e no meu susto.

Desde então, acham que

1- sou do PSDB: “armação contra a Dilma”;

2-  sou do PT: “boato contra o Serra”.

Não tem “boato”, teve um RELATO.

Eu não estou fazendo campanha de ninguém e muito menos ganhei $$ pra ser uma cidadã comum e colocar uma opinião indignada no FB. Voto na Dilma, pq prefiro um Brasil feliz com auto-estima e o Serra, para mim, representa um retrocesso espiritual.


O que ninguém vê, é que pode existir no Brasil, uma simples cidadã, que não é ligada à ninguém e que exerce a cidadania emitindo suas opiniões e experiências.


Como na França, na Argentina, as pessoas FALAM… o Brasil não vive na repressão.


Quando uma pessoa é um personagem público, como a Mônica Serra,  ela REPRESENTA muitas coisas, inclusive posição ética. Me assustei com o debate. Se eu visse o Nelson Mandela na TV, sendo racista.. me assustaria e escreveria igual.


Essa é a política cidadã que quero participar em meu país.


Agora, eu preciso continuar a viver minha vida.

Dei uma entrevista ao “correio do brasil” onde falo da minha postagem no FB e o que eu tinha a dizer, já está muito bem escrito lá.

Um abraço,


Leia, a seguir, o que publicou o Correio do Brasil”: 
Sábado, 16 de Outubro de 2010

Ano XI – Número 3941


“Monica Serra já fez um aborto e sou solidária à sua dor”, afirma ex-aluna da mulher de presidenciável


13/10/2010 12:39,  Por Redação, do Rio de Janeiro e São Paulo

O desempenho do presidenciável tucano, José Serra, no debate do último domingo pela TV Bandeirantes, foi a gota d’água para uma eleitora brasileira. O silêncio do candidato diante da reclamação formulada pela adversária, Dilma Rousseff (PT) – de que fora acusada pela mulher dele, a ex-bailarina e psicoterapeuta Sylvia Monica Allende Serra, de “matar criancinhas” –, causou indignação em Sheila Canevacci Ribeiro, a ponto de levá-la até sua página em uma rede social, onde escreveu um desabafo que tende a abalar o argumento do postulante ao Palácio do Planalto acerca do tema que divide o país, no segundo turno das eleições. A coreógrafa Sheila Ribeiro relata, em um depoimento emocionado, que a ex-professora do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Monica Serra relatou às alunas da turma de 1992, em sala de aula, que foi levada a fazer um aborto “no quarto mês de gravidez”.

Em entrevista exclusiva ao Correio do Brasil, na noite desta segunda-feira, Sheila deixa claro que não era partidária de Dilma ou de Serra no primeiro turno: “Votei no Plínio (de Arruda Sampaio)”, declara. Da mesma forma, esclarece ser apenas uma eleitora, com cidadania brasileira e canadense, que repudiou o ambiente de hipocrisia conduzido pelo candidato da aliança de direita, ao criminalizar um procedimento cirúrgico a que milhões de brasileiras são levadas a realizar em algum momento da vida. Sheila, durante a entrevista, lembra que no Canadá este é um serviço prestado em clínicas e hospitais do Estado, como forma de evitar a morte das mulheres que precisam recorrer à medida “drástica e contundente”, como fez questão de frisar.

No texto, intitulado “Respeitemos a dor de Mônica Serra”, Sheila Ribeiro repete a pergunta de Dilma, que ficou sem resposta:

– Se uma mulher chega em um hospital doente, por ter feito um aborto clandestino, o Estado vai cuidar de sua saúde ou vai mandar prendê-la?


Leia o texto, na íntegra:


“Respeitemos a dor de Mônica Serra


“Meu nome é Sheila Ribeiro e trabalho como artista no Brasil. Sou bailarina e ex-estudante da Unicamp onde fui aluna de Mônica Serra.


“Aqui venho deixar a minha indignação no posicionamento escorregadio de José Serra, que no debate de ontem (domingo), fazia perguntas com o intuito de fazer sua campanha na réplica, não dialogando em nenhum momento com a candidata Dilma Roussef.


“Achei impressionante que o candidato Serra evita tocar no assunto da descriminalização do aborto, evitando assim falar de saúde pública e de respeitar tantas mulheres, começando pela sua própria mulher. Sim, Mônica Serra já fez um aborto e sou solidária à sua dor.


“Com todo respeito que devo a essa minha professora, gostaria de revelar publicamente que muitas de nossas aulas foram regadas a discussões sobre o aborto, sobre o seu aborto traumático. Mônica Serra fez um aborto. Na época da ditadura, grávida de quatro meses, Mônica Serra decidiu abortar, pois que seu marido estava exilado e todos vivíamos uma situação instável. Aqui está a prova de que o aborto é uma situação terrível, triste, para a mulher e para o casal, e por isso não deve ser crime, pois tantas são as situações complexas que levam uma mulher a passar por essa situação difícil. Ninguém gosta de fazer um aborto, assim como o casal Serra imagino não ter gostado. A educação sobre a contracepção deve ser máxima para que evitemos essa dor para a mulher e para o Estado.


“Assim, repito a pergunta corajosa de minha presidente, Dilma Roussef, que enfrenta a saúde pública cara a cara com ela: se uma mulher chega em um hospital doente, por ter feito um aborto clandestino, o Estado vai cuidar de sua saúde ou vai mandar prendê-la?


“Nesse sentido, devemos prender Mônica Serra caso seu marido seja eleito presidente?


“Pelo Brasil solidário e transparente que quero, sem ameaças, sem desmerecimento da fala do outro, com diálogo e pelo respeito à dor calada de Mônica Serra,


“VOTO DILMA”, registra, em letras maiúsculas, no texto publicado em sua página no Facebook, nesta segunda-feira, às 10h24.


Reflexão


Diante da imediata repercussão de suas palavras, Sheila acrescentou em sua página um comentário no qual afirma ser favorável “à privacidade das pessoas”.


“Inclusive da minha. Quando uma pessoa é um personagem público, ela representa muitas coisas. Escrevi uma reflexão, depois de assistir a um debate televisivo onde a figura simbólica de Mõnica Serra surgiu. Ali uma incongruência: a pessoa que lutou na ditadura e que foi vítima de repressão como mulher (com evento trágico naquele caso, pois que nem sempre o aborto é trágico quando é legalizado e normalizado) versus a mulher que luta contra a descriminalização do aborto com as frases clássicas do “estão matando as criancinhas”. Quem a Mônica Serra estaria escolhendo ser enquanto pessoa simbólica? Se é que tem escolha – foi minha pergunta.


“Muitas pessoas públicas servem-se de suas histórias como bandeiras pelos direitos humanos ou, ainda, ficam quietas quando não querem usá-las. Por isso escrevi ‘respeitemos a dor’. Para mim é: respeitemos que muita gente já lutou pra que o voto existisse e que para que cada um pudesse votar, inclusive nulo; muita monica-serra-pessoa já sofreu no Brasil e em outros países na repressão para que outras mulheres pudessem escolher o que fazer com seus corpos e muitas monicas-serras simbólicas já impediram que o aborto fosse descriminalizado.


“Muitas pessoas já foram lapidadas em praça pública por adultério e muitas outras lutaram pra que a sexualidade de cada um seja algo de direito. A minha questão é: uma pessoa que é lapidada em praça pública não faz campanha pela lapidação, então respeitemos sua dor, algo está errado. Se uma pessoa pública conta em público que foi lapidada, que foi vítima, que foi torturada, que sofreu, por motivos de repressão, esse assunto deve ser respeitadíssimo.


“Vinte por cento da população fazem abortos e esses 20% tem o direito absoluto de ter sua privacidade, no entanto quando decidem mostrar-se publicamente não entendo que estes assimilem-se ao repressor”, acrescentou a ex-aluna de Monica Serra, que teria relatado a experiência, traumática, às alunas da turma de 1992.


Exílio e ditadura


Sheila diz ainda, em seu depoimento, que “muitas pessoas querem ‘explicações” para o fato de ela declarar, publicamente, o que a ex-professora disse às suas alunas na Unicamp.


“Eu sou apenas uma pessoa, uma mulher, uma cidadã que viu um debate e que se assustou, se indignou e colocou seu ponto de vista na internet. Ao ver Dilma dizendo que Mônica falou algo sobre ‘matar criancinhas’, duvidei.


“Duvidei porque fui sua aluna e compartilhei do que ela contou, publicamente (que havia feito um aborto), em sala de aula. Eu me disse que uma pessoa que divide sua dor sobre o aborto, sobre o exílio e sobre a ditadura, não diria nunca uma atrocidade dessas, mesmo sendo da oposição. Essa afirmação de ‘criancinhas assassinadas’ é do nível do ‘comunista come criancinha’. A Mônica Serra é mais classe do que isso (e, aliás, gosto muito dela, apesar do Serra não ser meu candidato).


“Por isso, deixei claro o meu posicionamento que o aborto não pode ser considerado um crime – como não é na Itália, na França e em outros países. Nesse sentido não quero ser usada como uma ‘denunciadora de um ‘delito’. Ao contrário, estou relembrando na internet, aos meus amigos de FB (Facebook), que o aborto é uma questão complexa que envolve a todos e que, como nos países decentes, não pode ser considerado um crime – mas deve ser enfrentado como assunto de saúde.


“O Brasil tem muitos assuntos a serem tratados, vamos tratá-los com o carinho e com a delicadeza que merece.


“Agora volto ao meu trabalho”, conclui Sheila o seu relato na página da rede social.


Sem resposta


Diante da afirmativa da ex-aluna de Sylvia Monica Serra, o Correio do Brasil procurou pelo candidato, no Twitter, às 23h57:


“@joseserra_ Sr. candidato Serra. Recebemos a informação de que Dnª Monica Serra teria feito um aborto. O sr. tem como repercutir isso?”


Da mesma forma, foi encaminhado um e-mail à assessoria de imprensa e, posteriormente, um contato telefônico com o comitê de Serra, em São Paulo. Até o fechamento desta matéria, às 1239h desta quarta-feira, porém, não houve qualquer resposta à pergunta. O candidato, a exemplo do debate com a candidata petista, novamente optou pelo silêncio.



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O Poderoso Paulo Preto - parte 1


Ex-auxiliar acusado de sumir com R$ 4 milhões da campanha de tucademo faz ameaças e é defendido Serra.  
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INAUGURAÇÃO DO RODOANEL 
Serra aparece em foto de 30 de março de 2010 junto com
Paulo Preto, que meses mais tarde alegou não conhecer
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Como candidato à Presidência da República, José Serra deve explicações mais detalhadas à sociedade brasileira. Elas se referem a um nome umbilicalmente ligado à cúpula do PSDB, mas de pouca exposição pública até dois meses atrás: Paulo Vieira de Souza, conhecido dentro das hostes tucanas como Paulo Preto. Desde que a candidata do PT, Dilma Rousseff, pronunciou o nome de Paulo Preto no debate realizado pela Rede Bandeirantes no domingo 10, Serra se viu envolvido em um enredo de contradições e mistério do qual vinha se esquivando desde agosto passado, quando ISTOÉ publicou denúncia segundo a qual o engenheiro Paulo Souza, ex-diretor da estatal Dersa na gestão tucana em São Paulo, era acusado por líderes do seu próprio partido de desaparecer com pelo menos R$ 4 milhões arrecadados de forma ilegal para a campanha eleitoral do PSDB. Na época, a reportagem baseou-se em entrevistas, várias delas gravadas, com 13 dos principais dirigentes tucanos, que apontavam o dedo na direção de Souza para explicar a minguada arrecadação que a candidatura de Serra obtivera até então. Depois de publicada a denúncia, o engenheiro disparou telefonemas para vários líderes, dois deles com cargos no comando da campanha presidencial, e, apesar da gravidade das acusações, os tucanos não se manifestaram, numa clara opção por abafar o assunto. O próprio presidenciável Serra optou pelo silêncio. Então, mesmo com problemas de caixa e reclamações de falta de recursos se espalhando pelos diretórios regionais, o PSDB preferiu jogar o assunto para debaixo do tapete. 
 
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No debate da Rede Bandeirantes, Serra mais uma vez silenciou. Instado por Dilma a falar sobre o envolvimento de Paulo Preto no escândalo do sumiço da dinheirama, não respondeu. Mas o pavio de um tema explosivo estava aceso e Serra passou a ser questionado pela imprensa em cada evento que participou. E, quando ele falou, se contradisse, apresentando versões diametralmente diferentes em um período de 24 horas. Na segunda-feira 11, em Goiânia (GO), em sua primeira manifestação sobre o caso, o candidato do PSDB negou conhecer o engenheiro. “Não sei quem é o Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado para que vocês (jornalistas) fiquem perguntando.” A declaração provocou uma reação imediata. Na terça-feira 12, a “Folha de S.Paulo” publicou uma entrevista em que o engenheiro, oficialmente um desconhecido para Serra, fazia ameaças ao candidato tucano. “Ele (Serra) me conhece muito bem. Até por uma questão de satisfação ao País, ele tem que responder. Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam este erro”, disparou Paulo Preto. Serra demonstrou ter acusado o golpe. Horas depois da publicação da entrevista, em evento em Aparecida (SP), o candidato recuou. Com memória renovada, saiu em defesa do ex-diretor do Dersa. Como se jamais tivesse tratado deste assunto antes, Serra afirmou: “Evidente que eu sabia do trabalho do Paulo Souza, que é considerado uma pessoa muito competente e ganhou até o prêmio de engenheiro do ano. A acusação contra ele é injusta. Ele é totalmente inocente. Nunca recebi nenhuma acusação a respeito dele durante sua atuação no governo”. Aos eleitores, restou uma dúvida: em qual Serra o eleitor deve acreditar? Naquele que diz não conhecer o engenheiro ou naquele que elogia o profissional acusado pelo próprio PSDB de desviar R$ 4 mihões da campanha? As idas e vindas de Serra suscitam outras questões relevantes às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais: por que o tema lhe causou tanto constrangimento? O que Serra teria a temer para, em menos de 24 horas, se expor publicamente emitindo opiniões tão distintas sobre o mesmo tema?
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Ainda está envolto em mistério o que Paulo Preto teria na manga para emparedar Serra. A movimentação do engenheiro nas horas que sucederam o debate da Rede Bandeirantes mostra claramente como ele é influente, poderoso e temido nas hostes tucanas. Conforme apurou ISTOÉ, logo depois do programa, Paulo Preto, bastante irritado por não ter sido defendido pelo candidato do PSDB, começou a telefonar para integrantes do partido. Um deles, seu padrinho político, o ex-chefe da Casa Civil de São Paulo, senador eleito Aloysio Nunes Ferreira, que deixou o debate logo que o nome do engenheiro foi mencionado. Outras duas chamadas, ainda de madrugada, foram para as residências de um secretário do governo paulista e de um dos coordenadores da campanha de Serra em São Paulo. Nas conversas, Paulo Preto disse que não ia admitir ser abandonado pelo partido. E que iria “abrir o verbo”, caso continuasse apanhando sozinho. Com a defesa de Serra, alcançou o que queria. Para os dirigentes do partido restou o enorme desconforto de passarem o resto da semana promovendo contorcionismos verbais para defender as ações de um personagem que acusavam dois meses antes. Em agosto, o PSDB vivia outro momento político, vários líderes tucanos reclamavam do estilo “centralizador e arrogante” de Serra, tinham dificuldades para arrecadar recursos e vislumbravam uma iminente derrota nas urnas. Agora, disputando o segundo turno e sob a ameaça de Paulo Preto, promovem uma ação orquestrada para procurar desqualificar as denúncias que eles próprios fizeram. “Às vésperas da eleição podemos ganhar o jogo. Portanto, não vou dizer nada a respeito do Paulo Preto”, disse uma das principais lideranças do partido na noite da quarta-feira 13. Esse mesmo tucano, em agosto, revelara detalhes sobre a atuação do engenheiro na obra do trecho sul do rodoanel. “Não é hora de remexer com o Paulo Preto. Isso poderá colocar em risco nossa vitória”, afirmou na manhã da quinta-feira 14 um membro da Executiva Nacional do partido, que em agosto acusara o engenheiro de desviar R$ 4 milhões da campanha. “Em agosto, depois da reportagem de ISTOÉ, procuramos empresários e eles negaram que Paulo Preto tenha pedido contribuições”, disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Se fez de fato esse movimento, Guerra não teve pressa em revelá-lo. Só foi fazê-lo agora, pressionado pelas declarações do engenheiro.
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O Poderoso Paulo Preto - parte 2


reportagem de Sérgio Pardelas e Claudio Dantas Sequeira
Diferentemente do que alegou Serra em sua primeira declaração, Paulo Preto está longe de ser um desconhecido, principalmente nas altas esferas do PSDB. Ele já havia sido alvo de reportagens de veículos como “Veja” (que o chamou de “o homem-bomba do PSDB”) e “Folha de S.Paulo” (leia quadro na pág. 40). Para um político que se apresenta como um gestor atento a todos os movimentos de seus comandados, é difícil crer que o então governador Serra estivesse alheio a notícias envolvendo um dirigente da estatal que executa as principais obras do governo paulista. Além disso, Serra não pode afirmar não ter sido alertado sobre os métodos do engenheiro. Em novembro do ano passado, em e-mail enviado ao então governador Serra, o vice Alberto Goldman já dizia que o ex-diretor do Dersa era “incontrolável”. “Ele (Paulo Preto) é vaidoso e arrogante. Fala mais do que deve, sempre. Parece que ninguém consegue controlá-lo. Julga-se o super-homem.” A mensagem eletrônica também foi remetida ao secretário de Transportes, Mauro Arce, a quem o Dersa é subordinado. “Não tenho qualquer poder de barrar ações. Mas tenho o direito, e a obrigação, de opinar e tentar evitar desgastes desnecessários”, ponderou Goldman. Os e-mails deixam claro que não estava se falando sobre um funcionário qualquer do governo. Afinal, não é corriqueiro um vice-governador perder tempo discutindo com o governador do maior Estado do País a atuação do funcionário de uma estatal.
Além dos e-mails de Goldman a Serra, as atividades do engenheiro já haviam espantado o tesoureiro-adjunto e ex-secretário-geral do partido, Evandro Losacco. Na reportagem de ISTOÉ, publicada em agosto, Losacco reconheceu que o engenheiro tinha “poder” para arrecadar e confirmou o sumiço dos R$ 4 milhões. “Todo mundo já sabia disso há muito tempo. Essa arrecadação foi puramente pessoal, mas só faz isso quem tem poder de interferir em alguma coisa. Poder infelizmente ele tinha.” O “empresariado”, segundo Losacco, entendia que Paulo Preto “tem a caneta”. “No governo às vezes você não consegue fazer tudo o que você quer. Você tem contingências que o obrigam a engolir sapo. E eu acho que esse deve ter sido o caso”, disse Losacco na ocasião.
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Apesar dos alertas de Goldman, Paulo Preto ficou no cargo até abril deste ano, tocando a principal obra de São Paulo, o rodoanel. Só foi exonerado quando o próprio Goldman assumiu o governo. Se Serra não explica o porquê da permanência de Paulo Preto à frente da estatal, o próprio ex-diretor do Dersa, na entrevista à “Folha”, fornece alguns dados importantes. Paulo Preto disse que sempre criou as melhores condições para que houvesse aporte de recursos em campanhas, por ter feito os pagamentos em dia às empreiteiras terceirizadas que atuaram nas grandes obras de São Paulo, como o rodoanel, a avenida Jacu-Pêssego e a ampliação da Marginal. “Ninguém nesse governo deu condições de as empresas apoiarem mais recursos politicamente do que eu”, afirmou Paulo Preto. De fato, Paulo Preto teve um peso enorme na gestão tucana em São Paulo. Os contratos administrados pelo engenheiro estavam entre as principais obras do País, somando R$ 6,5 bilhões. De acordo com relatório do TCU, obtido por ISTOÉ, o ex-diretor chegou a pagar às empreiteiras não apenas no prazo, mas também de maneira antecipada. Os auditores do tribunal recomendaram ajustes ao que consideram uma conduta indevida de Paulo Preto, pois sempre há o risco de as empresas receberem todo o pagamento sem garantias de cumprimento das obras.
Nesse enredo nebuloso também chama a atenção o patrimônio milionário do engenheiro. Na declaração de bens de 2009, Paulo Vieira de Souza diz possuir um patrimônio avaliado em R$ 3,4 milhões, sendo R$ 560 mil referentes a imóveis. Dois anos antes, declarou em seu nome um apartamento, três casas e mais três terrenos localizados em áreas nobres das cidades de Campos do Jordão e Ubatuba, num total de R$ 2 milhões, além de um hotel-fazenda. Os valores não estão atualizados, como permite a legislação do Imposto de Renda. Só o apartamento de Paulo Vieira, com 550 metros quadrados, no edifício Conde de Oxford, situado à rua Domingos Fernandes, na Vila Nova Conceição, vale pelo menos R$ 5 milhões, de acordo com corretores. O jeito esbanjador de Paulo Vieira de Souza é apontado por amigos e ex-colegas de trabalho como seu calcanhar de aquiles. Na comemoração de seu aniversário, em 7 de março do ano passado, ele deu uma megafesta na Casa das Caldeiras, uma exclusiva área de eventos em São Paulo. Com motivos árabes, os convidados, inclusive vários tucanos de alta plumagem, se deliciaram com danças de odaliscas e passeios de camelo. A quem quisesse ouvir, Paulo dizia que desembolsou nada menos que R$ 1 milhão com a recepção.
A gestão do orçamento milionário que estava a cargo de Paulo Preto levanta ainda outras suspeitas. Preocupada com o destino desse dinheiro, a bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo entrou com uma representação no Ministério Público paulista, na tarde da quinta-feira 14, pedindo uma investigação completa. Embora não conste da representação entregue pelo deputado José Mentor ao Ministério Público, uma equipe técnica do PT está debruçada em duas frentes principais de investigação. A primeira busca checar se houve desvio de verbas no rodoanel, com o suposto uso de material de baixa qualidade a preços superfaturados. “Não é possível que uma obra inaugurada há seis meses já precise de reparos, como os que vemos ao longo do trecho sul. Além disso, quando se anda a 80 quilômetros por hora o carro trepida como se estivéssemos numa estrada de terra”, questiona um petista. A desconfiança também recai sobre o processo de desapropriação de imóveis ao longo do anel viário. “Temos informação de que muitas propriedades e terrenos foram renegociados várias vezes”, acrescenta o mesmo parlamentar. Confirmados os indícios que pesam contra Paulo Preto, o PT paulista trabalhará para instalar uma CPI a fim de apurar o caso ainda mais a fundo.
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Seguindo o espírito dos correligionários, que se calaram, Serra argumentou que Dilma, ao trazer o episódio à tona, está se preocupando com uma questão interna das finanças do PSDB, enquanto o caso da Casa Civil envolvia dinheiro público. Isto não é verdade. As arrecadações feitas por Paulo Preto e denunciadas pelo próprio PSDB só se realizaram em razão de obras públicas, financiadas com dinheiro do contribuinte. Além disso, o desvio, se comprovado, caracterizaria a prática criminosa de caixa 2 eleitoral. Por isso, o silêncio, nesses casos, é conveniente tanto para quem arrecadou quanto para as empresas que contribuíram. Há, ainda, indícios de que ele praticava tráfico de influência, já que contratou o escritório Edgard Leite Advogados Associados, banca em que trabalha a sua filha, Priscila Arana. “Paulo Preto contratou a própria filha para defender o Dersa, ao mesmo tempo que advogava para as construtoras. É um aberração, já que era o engenheiro que liberava o dinheiro paras as empresas clientes da filha e do governo”, denuncia o deputado Mentor (PT). Parte das empresas que supostamente fizeram as doações para a campanha do PSDB é representada pelo escritório onde a filha do engenheiro trabalha. “O escritório presta serviço, há mais de dez anos, a praticamente todas as empresas privadas que compõem os consórcios contratados para a execução do trecho sul do rodoanel”, afirma Edgard Leite Advogados em e-mail enviado à ISTOÉ. Mesmo assim, ele alega que são “inconsistentes e maldosas as tentativas de vincular o nome do escritório com qualquer ilicitude”. Os advogados confirmam ainda que a filha de Paulo Preto é funcionária da empresa desde 2006, ano em que o engenheiro assumiu o cargo de direção do Dersa. Sobre a defesa da empresa pública, o escritório diz que “jamais foi contratado pelo Dersa”. Não é, entretanto, o que mostra o processo judicial TC-011868/2007-6 sobre uma disputa jurídica entre o DNIT e o Dersa. Na peça, o nome de Priscila Arana aparece como advogada constituída para defender a estatal.
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Ao longo da campanha presidencial, o candidato do PSDB, José Serra, tem mostrado crescente irritação com o trabalho da imprensa. A intolerância de Serra a críticas é bastante conhecida. Durante o primeiro turno, a candidata do PV, Marina Silva, chegou a registrar a relação conflituosa do tucano com o ofício dos jornalistas. “Existem duas formas de tentar intimidar a imprensa”, disse Marina. “Uma é aquela que vem a público e coloca de forma infeliz uma série de críticas. Outra é aquela que, de forma velada, tenta agredir jornalistas, pedir cabeça de jornalista, o que dá na mesma coisa, porque o respeito pela democracia e pela liberdade de imprensa é permitir que a informação circule”, afirmou a candidada. Segundo Marina, Serra “constrange e tenta intimidar jornalistas”. Os ataques sucessivos de Serra, porém, vêm sendo tratados com inexplicável compreensão por alguns setores. Quando o presidente Lula criticou a imprensa, suas opiniões foram encaradas como um atentado à liberdade de expressão e às ins tituições democráticas. Já o presidenciável tucano, medido por uma régua diferente, faz a mesma coisa, mas não é acusado de nada disso. Veja exemplos recentes da animosidade de Serra.
VALOR ECONÔMICO 
Na terça-feira 13, em Porto Alegre (RS), Serra criticou a imprensa e acusou o jornal “Valor Econômico” de atuar em favor de Dilma Rousseff. “Seu jornal faz manchete para o PT colocar no horário eleitoral”, disse Serra ao repórter Sérgio Bueno. Ele ficou irritadíssimo quando questionado sobre o ex-assessor Paulo Vieira de Souza e se deu ao direito de determinar qual o assunto deveria ser tratado pela reportagem do “Valor”. “Eu sei que, no caso, vocês não têm interesse na Casa Civil, naquilo que foi desviado. Seu jornal, pelo menos, não tem. Agora, no nosso caso, nós temos.” Neste momento, o ex-candidato do PMDB ao governo gaúcho, José Fogaça, que acompanhava Serra, cochichou-lhe no ouvido alguma coisa sobre supostas tendências políticas do repórter. “Quem, ele? Mas o “Valor” também é meio assim, não é só ele não”, disse Serra. Mais tarde, a diretora de redação do Valor, Vera Brandimarte, lamentou a atitude do tucano: “Todos os candidatos devem estar dispostos a responder questões, mesmo sobre temas que não lhes agradem”, ponderou.
FOLHA DE S.PAULOEm 28 de setembro, em vez de responder à pergunta de um jornalista da “Folha de S.Paulo”, em Salvador (BA), Serra preferiu partir para o ataque. “Candidato, nesses últimos dias de campanha, qual deve ser a (sua) estratégia?”, perguntou o repórter Breno Costa. “Certamente não é perder tempo com matéria mentirosa como a que você fez”, respondeu Serra. O presidenciável referia-se à reportagem publicada pelo jornal três dias antes com dados negativos sobre sua gestão no governo de São Paulo. Em nota, a direção da campanha do tucano afirmou que os trechos levantados pela reportagem eram “irrelevantes” e acusou a “Folha” de “desinformar” o leitor e de “apostar na máxima petista de pregar que todos são iguais e cometem os mesmos equívocos na ação governamental”.
CNT – MÁRCIA PELTIERNo dia 15 de setembro, Serra irritou-se durante gravação e ameaçou deixar o programa “Jogo do Poder”, da CNT, apresentado por Márcia Peltier. Ele não gostou de perguntas feitas e depois de dizer que estavam “perdendo tempo” com aqueles assuntos, passou a discutir com Márcia. Disse que, em vez de tratarem do programa de governo, estavam repetindo “os argumentos do PT”. Em seguida, levantou-se para deixar o estúdio. “Não vou dar essa entrevista, você me desculpa. Faz de conta que não vim”, disse Serra, reclamando que a entrevista não era um “troço sério”. Logo depois, pediu que os equipamentos fossem desligados e disparou: “Isso aqui está um programa montado.” A apresentadora negou com firmeza a acusação e teve uma conversa reservada com Serra. Só então o candidato aceitou voltar ao estúdio.
CBN – MIRIAM LEITÃOEm 10 de maio, durante entrevista matinal à rádio CBN, Serra manteve uma ríspida discussão com a jornalista Míriam Leitão. Ao participar da entrevista realizada em São Paulo, Míriam perguntou, por telefone, se o presidenciável respeitaria a autonomia do Banco Central 
ou se presidiria também a instituição, caso vencesse a eleição. Serra primeiro respondeu que a suposição da jornalista era “brincadeira”. Na sequência, demonstrou que seu grau de irritação não parava de aumentar: “Você acha isso, sinceramente, que o Banco Central nunca erra? Tenha paciência!” Questionado se interviria na instituição ao se deparar com um erro, Serra interrompeu Míriam: “O que você 
está dizendo, vai me perdoar, é uma grande bobagem.”
Colaborou Alan Rodrigues

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Vice- procuradora quer censurar com o bico

Muito, muito grave mesmo a iniciativa da vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau que classificou reportagem veiculada no último dia 5 pela TV Record sobre os dois candidatos do 2º turno à Presidência da República como tendo concedido "privilégio" a candidata Dilma Rousseff (governo-PT-partidos aliados) e por isso pede à Justiça Eleitoral que ela seja multada.

Sandra argumenta no processo que ao mostrar os resultados da votação em 1º turno nos diferentes bairros da capital paulista, a Rede Record criou "engenhosamente" uma divisão entre regiões nas quais cada candidato foi mais votado, associando Dilma às áreas mais humildes e o tucano José Serra (PSDB-DEM-PPS) às mais ricas da cidade.

A vice-procuradora eleitoral não gostou da reportagem. Mas o que dizem as pesquisas e confirmam os mapas eleitorais do 1º turno? Exatamente o que a reportagem mostrou, José Serra é o candidato preferido dos ricos e Dilma a dos pobres.

Sandra não gostou desta e de outras reportagens que tenham um caráter minimamente antitucano. Inclusive o Ministério Público Eleitoral (MPE) ajuizou representação, também, com pedido de multa, no TSE, contra o jornalista Paulo Henrique Amorim (da PHA Comunicação e Serviços S/C Ltda), e Geórgia Pinheiro por suposta propaganda irregular favorável a Dilma.

Candidata a chefe da censura, vai censurar com o bico
A propaganda teria sido publicada no dia 8, no site de Amorim e de acordo com o MPE, deixa "explícito pedido de votos" para Dilma. No caso do processo contra a Record, a Central de Comunicação da rede divulgou nota em que nega ter havido o favorecimento e afirma que a iniciativa parece tentativa de censura.

Como costuma escrever o colunista Ancelmo Góis em O Globo, "parece e é". Não gostar das reportagens é um direito da vice-procuradora. Mas, abrir processo é outra história, porque aí não passa de uma tentativa de censura à imprensa, inconstitucional pela Carta e leis brasileiras.

Se a moda pega, como ficam os comentaristas da CBN, Globo News, as matérias dos jornais diários, as das revistas semanais e o jornalismo nas emissoras de radio? A vice-procuradora-geral eleitoral Sandra Cureau, pelo visto, está simplesmente se candidatando a chefe da censura. No caso dela, nem precisa de uma tesoura, vai censurar com  o bico.

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