Odarp Notielc - fora do contexto, mas pertinente

Os tucanos acabam de bater mais um recorde de gestão.
Desta vez na área de saúde e sem Mais Médicos.
Os campeões da Dengue neste ano são:

  • Goiás - governador Marconi Perillo (PSDB)
  • Minas Gerais - governador Antonio Anastacia (PSDB)
  • São Paulo - governador Geraldo Alckmin (PSDB)
  • Paraná - Governador Beto Richa (PSDB)
É claro, pura coincidência...
Com a palavra o candidato...
Ah é sim...


Fernando Moraes - Perderam a compostura

Eu já disse. No dia em que o Zé Dirceu andar sobre as águas, a Veja vai noticiar: "Mensageiro não sabe nadar".
Acha que é exagero? Então veja esta notícia, fresquinha: os casos de dengue no Brasil neste verão caíram 80% em relação ao ano passado. Os óbitos caíram 95%. Olha o título da matéria publicada há pouco no site veja.com:
Brasil tem 1.046 cidades em situação de risco ou alerta para surto de dengue
Perderam a compostura.
***
Como perder o que nunca tiveram?

A banalização do mal

Ao analisar a história do criminoso nazista Adolf Eichmann, a filósofa alemã Hannah Arendt chamou de “a banalidade do mal” os signos de pretensa normalidade de que se revestiam o planejamento e a execução do envio de levas de judeus para os campos de extermínio. Eichmann era visto como um bom funcionário, zeloso cumpridor de ordens. Numa palavra: era um sujeito normal.

Corta para o morro da Congonha, bairro de Madureira, zona norte do Rio de Janeiro. Manhã de domingo. A auxiliar de serviços gerais Cláudia da Silva Ferreira, 38 anos, mãe de quatro filhos, mulher de um vigilante, saiu de casa para comprar pão e mortadela. A caminho da padaria, levou dois tiros —um no pescoço, outro nas costas. Tombou.

Abre parênteses: as versões sobre o que aconteceu minutos antes são divergentes. Na versão dos agentes do Estado, Cláudia atravessou uma troca de tiros entre policiais e traficantes. No relato de familiares e vizinhos, não houve tiroteio. Só a polícia atirou na direção de Cláudia. Fecha parênteses.

Dois subtenentes e um soldado da Polícia Militar carioca aproximaram-se de Cláudia. Estirada no chão, ela sangrava. Os policiais a recolheram. A pretexto de prestar-lhe socorro, enfiaram-na no porta-malas de uma viatura. E partiram, com a baleada a sacolejar no compartimento de bagagem.

Imterrompa-se por um instante a narrativa para sugerir ao leitor um exercício singelo de imaginação: suponha que uma moradora bem-nascida da zona Sul resolvesse sair do seu apartamento chique em Ipanema para comprar pão na panificadora da esquina. Imagine essa moradora branca de um bairro elegante sendo socorrida por policiais depois de levar dois hipotéticos tiros. Ela seria enfiada no porta-malas? Improvável. Seria confortavelmente acomodada no banco de trás da viatura. Talvez chamassem para ela uma ambulância.

Voltemos à cena real, iniciada em Madureira. No trajeto para o hospital, a tampa do porta-malas abriu. Com o carro em movimento, a trabalhadora pobre e negra do morro da Congonha deslizou para o asfalto. Foi arrastada por mais de 200 metros. Ao parar no semáforo, os policiais foram avisados de que uma mulher, presa por uma peça de roupa, pendia do lado de fora da viatura. Desceram, apanharam a “mercadoria”, devolveram-na ao porta-malas, fecharam a tampa e seguiram viagem.

Por mal dos pecados, um motorista que vinha num carro logo atrás filmou tudo com a câmera do celular. Sem essa filmagem, a coisa passaria como mais uma invisível operação de rotina da PM do Rio. Ação meritória, já que os policiais “socorriam” uma vítima de “balas perdidas”. Não fosse pela exibição das cenas que feriram a rotina como uma lâmina fria, a vida dos três policiais continuaria resplandecendo de normalidade.

Retorne-se, por oportuno, à filósofa alemã Hannah Arendt e seu relato sobre Adolf Eichmann. Ao ser julgado em Jerusalém, o criminoso nazista contou detalhes de uma reunião de oficiais da SS, a polícia de Hitler. Eles planejavam a execução de judeus, chamada de “solução final”. Depois de acertados todos os detalhes, serviram-se de aperitivos. Foram à mesa de almoço. Houve o que Eichmann chamou de “uma pequena e íntima reunião social”.

Cláudia da Silva Ferreira está morta. Os policiais que a trataram com desumanidade estão presos. A defesa já prepara o pedido de habeas corpus. Sustenta-se que os três não podem ser punidos por terem “socorrido” uma vítima. Sim, ela foi arrastada do lado de fora da viatura. Mas isso foi uma “fatalidade”.

Pode-se antever a defesa oral dos advogados num eventual tribunal de júri. Fulano é um bom homem. Na noite daquele domingo, ao chegar em casa, a mulher perguntou como fora o seu dia de trabalho. E ele: “Tudo normal, meu amor!”.

Beltrano é um pai exemplar. Quando entrou em casa, o filho acordou com o barulho da porta. E ele brincou com seu caçula antes de recolocá-lo na cama. Ah, o cicrano é um filho prestimoso. Na segunda-feira, antes de ser preso injustamente, fora comprar pão quentinho na padaria a pedido da mãe.

O tratamento dispensado pelos policiais à trabalhadora Cláudia da Silva Ferreira, moradora do morro da Congonha, não é inusual, eis o que se deseja realçar aqui. Assim são tratados pela polícia os brasileiros pobres que habitam os morros, as favelas e os bairros sujos dos fundões do país.

A cena do Rio está impregnada de uma insuportável normalidade. Fora da rotina, apenas a filmagem. As imagens constituem uma evidência —mais uma— de que algo de muito anormal precisa suceder para que o Brasil vire um país verdadeiramente normal. No caso da polícia, a situação ideal será atingida no dia em que o que vale para o morro for válido também para Ipanema.

por Josias de Souza

Alberto Dines - Novo surto de vale tudo

Na tarde de 12 de abril de 2011, em aula da primeira edição do Curso de Pós-Graduação em Jornalismo, da ESPM-SP, Eurípedes Alcântara, diretor de Redação da Veja, na condição de professor-convidado, declarou, para espanto dos 35 alunos presentes: “Tratamos o governo Lula como um governo de exceção”. Na capa da última edição do semanário (nº 2365, de 19/3/2014), o jornalista ofereceu trepidante exemplo da sua doutrina.

Para comprovar a ilegalidade das regalias que gozaria o ex-ministro José Dirceu no Complexo da Papuda, Veja cometeu ilegalidade ainda maior. Detentos não podem ser fotografados ou constrangidos, o ato configura abuso de poder, invasão da privacidade e, principalmente, um torpe atentado ao pudor e à ética jornalística. Um bom advogado poderia até incriminar os responsáveis por formação de quadrilha ao confirmar-se que o autor da peça (o editor Rodrigo Rangel) não entrou na penitenciária e que alguém pagou uma boa grana aos funcionários pelas fotos e as, digamos, “informações”.

“Exclusivo – José Dirceu, a Vida na Cadeia” não é reportagem, é pura cascata: altas doses de rancor combinadas a igual quantidade de velhacaria em oito páginas artificialmente esticadas e marombadas. As duas únicas fotos de Dirceu (na capa e na abertura), feitas certamente com microcâmera, não comprovam regalia alguma.

Ao contrário: magro, rosto vincado, fortes olheiras, cabelo aparado, de branco como exige o regulamento carcerário, não parece um privilegiado. Se as picanhas, peixadas e hambúrgueres do McDonald’s supostamente servidos ao detento foram reais, Dirceu estaria reluzente, redondo, corado. Um preso em regime semiaberto pode frequentar a biblioteca do presídio, não há crime algum.

Agentes provocadores
A grande imprensa desta vez não deu cobertura ao semanário como era habitual. Constrangido, o Estado de S.Paulo foi na direção contrária e já no domingo (16/3) relatava, com chamada na primeira página, as providências das autoridades brasilienses para descobrir os cúmplices do vazamento (ver “Dirceu teria mais regalias na cadeia; DF nega“). Na segunda-feira, na Folha de S.Paulo, Ricardo Melo lavou a alma dos jornalistas que repudiam este jornalismo marrom-escuro (ver “O linchamento de José Dirceu”).

O objetivo da cascata não era linchar Dirceu, o que se pretendia era acirrar os ânimos, insuflar indignações contra uma suposta impunidade, alimentar a agenda dos black-blocks (ou green-blocks?).

Os agitadores e agentes provocadores estão excitadíssimos às vésperas dos 50 anos do golpe militar. O violento quebra-quebra na sexta-feira (14/3), na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) – o maior do gênero na América Latina – não foi provocado pelos caminhoneiros que passariam a pagar pelo estacionamento. Foi obra de profissionais do ramo da agitação política com a inestimável ajuda da PM, que demorou três horas para chegar ao campo de batalha.

As convocações para atos e passeatas destinadas a homenagear o golpe de 1964 não falam na derrubada de Jango, falam em derrotar o PT. Convém lembrar que a rede Ceagesp é, desde 1997, federalizada, ligada ao Ministério da Agricultura.

Num governo de exceção vale tudo. Também no jornalismo de exceção.
***
Depois de três edições e três turmas de valentes profissionais, o Curso de Pós-Graduação em Jornalismo com Ênfase em Direção Editorial, parceria da Editora Abril com a ESPM, foi suspenso. Na véspera do primeiro aniversário da morte de Roberto Civita, está desativada uma de suas mais lindas façanhas no campo da formação profissional. Não merecia. 



Eduardo Campos é um *Blablarino


O governador de Pernambuco e presidenciável Eduardo Campos acaba de falar para uma plateia seleta, no evento da CartaCapital.
Ainda não encontrou a embocadura. Em seu discurso, colocou apenas os pontos de unanimidade e alguns princípios gerais de governança.
Considera que o mundo atravessa uma crise geral de valores, de temas ligados ao meio ambiente, das novas formas de comunicação, da busca da qualidade de vida além do simples consumismo, da busca das cidades melhores.
Em geral, são valores inerentes a sociedades mais desenvolvidas, em que já se alcançou um estágio avançado do estado de bem estar - atualmente ameaçado pela crise financeira global.
Identifica mudanças políticas em muitas nações, tentando romper com a inércia e pensar o longo prazo. Para ele, o ponto central do debate político é a estratégia de desenvolvimento nacional: de onde viemos e para onde pretendemos ir, saindo da mediocridade dos temas atuais, que consta da agenda política nacional.
Segundo ele, depois do regime militar a sociedade se manifestou em três ciclos sucessivos com apoio das ruas.
No primeiro reconstruiu-se a democracia, com a sociedade na rua, ciclo que se encerra com a deposição do primeiro presidente eleito, Fernando Collor.
O segundo ciclo foi o da estabilização econômica, passando pelo Plano Real.
O terceiro ciclo foi a eleição de Lula e a grande mobilização social e política em torno de uma agenda social. Criou-se uma nova agenda vcom novos e velhos políticos e, no centro, os anseios da sociedade em aderir a um projeto de construção do país.
Agora, na ausência de uma agenda estratégica, de um debate dos políticos, diz Eduardo Campos, a sociedade, de maneira autoral, usando as novas formas de comunicação, manifesta-se mostrando a crise de representação, a má qualidade dos serviços públicos e a sensação de que o país parou de melhorar.
Prossegue em seu diganóstico mostrando a crise da desindustrialização e evitar embarcar no alarmismo.  "Teremos que fazer debate sobre essa conjuntura, não do alarmismo, com uma visão equilibrada: temos problemas que podem ser resolvidos ou ampliados".
Critica o fato de problemas estarem sendo varridos para baixo do tapete. E um conjunto de mudanças nas regras do jogo, atrapalhando a formação do grande consenso nacional, devido às incertezas, falta de capacidade de mediação e regras de transição no planejamento do governo. "A crise é de expecativa e confiança: logo é uma crise eminentemente política", diz ele.
Segundo ele, na sociedade brasileira já está em construção um novo pacto social, ao largo dos partidos e dos políticos. "Há ausência de debate em todos os partidos", diz ele, "ninguém está isento. Houve um envelhecimento das estruturas políticas da sociedade".
A rigor, há muitos analistas identificando esses problemas e tendências. E as propostas?
Segundo Campos, a nova agenda tem que se fundar em dois princípios.
O primeiro, o desafio de melhorar a produtividade brasileira, ouvindo todas as partes. O segundo, a melhoria da qualidade de vida, que piorou substancialmente nas grandes cidades.
Há um conjunto de pressupostos a orientar os debates.
Tem que haver diálogo permanente, diz ele. As novas gerações querem rapidez, não querem um Estado pesado, que sabe de tudo. "O governo passa a impressão que não gosta de ouvir", critica. "Não pode deixar um ambiente onde o pavio vai encurtando".
O segundo pressuposto é a existência de regras claras e transparência em tudo o que for feito. Ter a capacidade de mostrar o problema e enfrentá-lo.
Segundo Campos, há uma janela demográfica de vinte anos, em que a maioria da populaçao brasileira será de população economicamente ativa. "Nao podemos perder a possibilidade de arrumar as contas e o futuro da metade da população brasileira, que é jovem", diz ele.
E aí cita genericamente um conjunto de reformas, mas que deverão ser implementadas lentamente, para não se concentrar em um mandato apenas de governantes - o que provocaria resistências muito grandes.
No seu discurso, acrescentou outros pontos de crítica e outras ideias de consenso. Mas ainda falta articular o todo.
*Blablarino - masculino de Blablarina (aquela que diz um monte "coisa" que não significa nada

Conselho

Cuidado, não ache que só são inteligentes as pessoas que pensam e concorda com você. 
Humildade e tolerância não faz mal a ninguém.

Direito de resposta de Leonel Brizola, lido por Cid Moreira

Há vinte anos no Jornal Nacional
por Luiz Augusto Erthal no blog Toda Palavra


O relato de Fernando Brito  sobre “o tiro que acertamos no cu de um mosquito” – no dizer de Leonel Brizola, a improvável vitória judicial que obrigou Cid Moreira a ler o seu direito de resposta contra a TV Globo, há exatos 20 anos – abre um baú de recordações e revelações que não se pode mais deixar fechado.


Aquela foi sem dúvida uma das mais espetaculares façanhas políticas e jornalísticas da qual tive o privilégio de participar – modestamente, é verdade – ao lado de um dos mais competentes e íntegros profissionais de imprensa que conheço. Durante uma boa dúzia de anos vivi a aventura de colaborar com Fernando Brito, como seu fiel escudeiro, na assessoria de imprensa do Brizola, dentro e fora de seus dois governos no Estado do Rio.
Partilhamos lutas e sonhos numa posição da trincheira difícil de se estar, lutando contra inimigos poderosos, tentando romper, mesmo que em pequenas brechas, a muralha de cinismo, hipocrisia e mau jornalismo erguida pela grande imprensa ao longo desses últimos 50 anos para tentar impedir o reencontro do povo brasileiro com a sua história. Na esteira dos anos de chumbo, a mídia e as elites criaram os anos de silêncio, cassando a palavra de líderes como Brizola (lembro de um casuísmo do TSE nas eleições estaduais de 1986 que chegou a proibir a presença dos governadores – leia-se Brizola – na propaganda eleitoral gratuita, quando Darcy Ribeiro disputava o governo fluminense contra Moreira Franco).
Aí entraram os tijolaços e as nossas quixotescas tentativas de buscar pelas vias judiciais os espaços que nos eram negados na mídia. Estas, na maioria das vezes, esbarravam no facciosismo do judiciário, depois de nossas respostas serem solenemente ignoradas dentro das redações. Eu mesmo cumpri algumas vezes o papel – apenas formal – de entregar pessoalmente na redação de O Globo textos que dali iam diretamente para a cesta do lixo, antes que os enviássemos aos tribunais.
Cabia ao Brito compor esses textos, ora ao lado do Brizola, mas muitas vezes a duas mãos apenas. E não só os tijolaços e os pedidos de direito de resposta, mas muitas peças de campanha e manifestações políticas que levavam a assinatura do Chefe. O processo era exatamente como descrito por ele em seu artigo. Uma sintonia perfeita com o estilo discursivo e o pensamento político de Brizola o levava a incorporá-lo. Sem qualquer insinuação metafísica, parecia mesmo ser tomado por ele.
Brito não apenas redigia, com o nosso auxílio, pois nesses momentos preferia discursar, cabendo-nos a tarefa de transcrever, com um ou outro debate sobre algum ponto do texto. Ele o sentia. Gerava-o sofregamente. Experimentava a dramaticidade daquela argumentação empírica, como o próprio Brizola a definia, às vezes até às lágrimas.
Recordo que, às vésperas da eleição presidencial de 1989, naquela que nos parecia, e era, a última grande encruzilhada histórica deste país, ele vomitava um artigo para ser publicado em O Dia na própria data do pleito. Lembro da última frase, que fechava o artigo mais ou mos assim: “Hoje, quando saíres de casa, olha para os olhos de teus filhos, de teus netos, me dê a tua mão e vamos juntos em busca do nosso destino…”. Na sala do Edifício Orly, onde ficava o nosso bunker, nossos olhos marejavam enquanto Brito corria, soluçando, para o banheiro.
Não, ele não era um ghost writer qualquer. Era, na verdade, a única pessoa capaz daquilo. E, a meu ver, por três razões conjugadas: primeira, por seu grande talento de redator; segunda, e mais importante, pela incorporação do pensamento, da identidade e da fidelidade política do próprio Brizola; e, terceira, sem a qual as duas anteriores de nada serviriam, por merecer a confiança absoluta do Chefe. Coisa para bem poucos dos que serviram a Brizola ao longo de sua trajetória.
Vivemos e choramos até hoje os nossos fracassos. Naqueles idos de 89 sentíamos como se fôssemos a última linha de defesa da histórica bandeira política do povo brasileiro – o Trabalhismo. Vi o grande Doutel de Andrade prantear, pouco antes de morrer, repetindo insistentemente: “A nossa geração fracassou!” Vi Darcy, também antes de partir, confessar os seus fracassos: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.
Muitos de nós, como eu, ficamos em determinado momento desesperançados e ensimesmados. Precisávamos encontrar nossos caminhos, e para jornalistas como eu, Apio Gomes, Osvaldo Maneschy e outros companheiros da mesma trincheira de Fernando Brito, dificilmente eles poderiam passar novamente pelas redações dos grandes jornais. Mas ao olhar para o que ajudamos a fazer há 20 anos, fica a sensação de que aquela fenda na muralha de cinismo continua aberta, minando essa estrutura iníqua até que ela um dia caia de podre.
Os vários arquivos que reproduzem no YouTube o direito de resposta conquistado por Brizola contra a TV Globo em 1994 somam centenas de milhares de exibições e continuam sendo visualizados a cada dia por mais pessoas. E quantas das muitas mentiras da Globo levantadas contra Brizola naquela época ecoam ainda hoje? Foram sepultadas para sempre no limbo da história.
Ao rever a cara de bunda do Cid Moreira  passo a pensar menos nos nossos fracassos e mais em uma das grandes imagens do Brizola, o único talvez que nunca admitiu o fracasso – a da lenha guarda-fogo. Ele dizia que nós, trabalhistas, somos como aquela tora mais grossa da fogueira do gaúcho no pampa, que guarda uma centelha de chama no seu interior mesmo quando não se vê. Durante a noite, a fogueira parece ter-se apagado. Mas, pela manhã, o gaúcho se levanta e assopra as cinzas, fazendo rapidamente levantar novamente o fogo necessário para a sua jornada.