Entrevista com Alexandre Padilha

Aos 42 anos, o médico e ex-ministro da saúde Alexandre Padilha concorrerá ao governo do estado de São Paulo pelo PT. Quando recém formado, Padilha trabalhou na Amazônia coordenando um núcleo da USP no combate à malária e outras epidemias.
Ter vivenciado a importância do médico em comunidades isoladas foi, segundo o candidato, fundamental para poder ajudar Dilma Rousseff a implantar o programa Mais Médicos. Num café na rua Avanhandava, Padilha falou sobre suas propostas com exclusividade ao Diário do Centro do Mundo.
DCM: Vamos começar abordando a ausência de Dilma no ato de confirmação de sua candidatura no último domingo. A mídia andou disseminando boatos de falta de prestígio.
Padilha: O maior sinal de prestígio foi a presidenta ter cunhado o primeiro slogan dessa campanha que foi dizer que sou o ‘volume vivo’ para o estado de São Paulo. E eu na condição de médico infectologista sou o primeiro a entender o motivo pelo qual a presidenta não pode estar presente no domingo. Não esteve fisicamente mas esteve com sua mensagem muito forte que repercutiu o que nós esperávamos. E ela sabe que o maior palanque, o mais intenso na defesa da campanha da reeleição dela será o nosso.
Dilma fez essa menção com relação à crise hídrica do estado (“São Paulo não merece o volume morto e você é o volume vivo”). Como corrigir o tempo perdido do Sistema Cantareira?
Nós faremos em quatro anos as obras que eles não fizeram em dez. Minha mãe é alagoana e todos já ouvimos histórias da seca no nordeste. Todo mundo sabe que um açude no sertão não evapora em uma só temporada de seca. O Cantareira não é um açude. São seis represas interligadas, que começa na divisa de Minas Gerais e vai até a região metropolitana em Mairiporã. Novecentos mihões de metros cúbicos de água, mais de 3 vezes o que é a represa Billings, por exemplo. Ninguém pode dizer que o Cantareira secou porque faltou chuva de dezembro pra cá. O que faltaram foram as obras que desde 2004, quando houve a renovação da outorga do Cantareira, haviam sido apontadas como necessárias. Um conjunto de obras para reduzir a dependência da capital, para distribuir melhor, para fazer com que a capital tivesse outras formas de recebimento de água, para reduzir as perdas que chegam a 30% por vazamentos, para tratamento de esgoto. E nenhuma dessas obras estruturantes foi realizada.
O racionamento começou em dezembro em Campinas, em fevereiro em Guarulhos e a partir de março começou a faltar água em vários bairros da capital. Existe o racionamento na prática mas que não é assumido. Mas só essas obras não bastam. Nós iremos apostar em soluções inovadoras de gestão da água. Estimular a captação de água pluvial, estimular o reuso. Quando fui ministro da saúde coloquei como regra colocar nos hospitais públicos e privados que estavam sendo construídos, mecanismos de reuso da água e de tratamento de esgoto. Tudo para reduzir a dependência no abastecimento de água, para garantir uma gestão sustentável de um recurso que é finito. A Sabesp lucra 2 bilhões de reais e não investe em obras. É preciso que ela invista e é preciso captar recursos do governo federal. Guarulhos fez isso. Captou recursos do PAC. Tinha zero de tratamento de esgoto e hoje tem 50%.
Qual sua opinião sobre a regulamentação da mídia?
Sou defensor intransigente da liberdade de expressão, da divergência de opiniões, acho bom que se tenha uma variedade cada vez maior. E meu governo terá um papel de respeito permanente, independentemente da opinião. Conosco não terá essa coisa de coerção, de agredir jornalista. É muito importante o debate nacional sobre regulação econômica que o PT está levantando sobre isso e que será levado ao congresso nacional. É fundamental que se aprimore regras que defendam a liberdade de expressão e fortaleçam a democracia estimulando vozes discordantes.
Tanto quando fui ministro da coordenação política quanto ministro da saúde sempre alertei minha equipe de que a imprensa, os blogueiros, as redes sociais, os vários meios de comunicação e debate ajudam o governo a agir, a acelerar as opções dos programas. Essa vigilência constante é fundamental e defendo inclusive que governo de estado de São Paulo utilize seus instrumentos de financiamento, de apoio e infraestrutura para ajudar a multiplicar a produção regional de conteúdo. Sonho em ter um concurso de blogs nas escolas, por exemplo, para fomentar a diversidade de opiniões. Podemos pegar a fundação TV Cultura, a fundação Padre Anchieta e estimular isso da forma mais interativa possível, com parcerias com jornais locais para que nosso estado tenha diversidade de opiniões pelos mais variados meios de comunicação. Defendo que se use recursos do estado para instalar estudos de produção de conteúdo para internet, para o Youtube. São Paulo pode ser um grande polo de produção criativa.
No início do programa Mais Médicos, São Paulo liderou a demanda. Hoje o estado conta com 2.187 médicos da atenção básica que garantem atendimento para 7,5 milhões de paulistas resultando em uma redução de 70% no encaminhamento a hospitais. É possível melhorar?
O Mais Médicos é um grande sucesso mas ele é só um primeiro passo. Agora São Paulo precisa organizar sua rede e o governo do estado tem um papel decisivo nisso para que os exames, as cirurgias, os atendimentos médico-hospitalares aconteçam mais perto de onde as pessoas moram. A grande demanda hoje é exatamente nas filas para exames e cirurgias, e nosso programa de governo tem uma proposta muito ousada no sentido de reduzir essas filas em cada região do estado. Portanto o salto que daremos será, com a estrutura que tem o governo, chegar mais próximo das regiões mais desassistidas para reduzir essas filas. O que não pode é o governo do estado continuar com a postura que tem hoje que é de disputar com o município. O estado de São Paulo é o único da região sudeste que não coloca um real no SAMU, que fica totalmente custeado e gerenciado pelo governo federal e governos municipais. O governo atual não construiu nenhuma UPA vinte quatro horas, as únicas que temos foram construídas, equipadas e financiadas pelo governo federal.
Por falar em disputa entre governo e município, ela é muito evidente na região da Cracolândia. As operações Braços Abertos e Recomeço não estão em sintonia.
Essa cooperação entre governo do estado e município é fundamental para enfrentar o problema das drogas nas duas frentes: na do cuidado, do acolhimento para aliviar o sofrimento de quem faz uso abusivo, reconstruindo o projeto de vida da pessoa, reconstruir valores em cooperação com a sociedade civil, bem como nas ações de segurança pública, de enfrentamento ao tráfico. Eu passei pela experiência de estar com o prefeito Haddad, com o secretário de saúde, com o tenente coronel responsável pela área numa manhã participando de um seminário com todos os funcionários, num esforço de interação, e à tarde ocorreu uma ação desastrosa da polícia que nem o tenente da polícia militar sabia, deixando sitiados os profissionais, médicos, pacientes, todos sofrendo com bombas de gás lacrimogêneo, ou seja, a cooperação é fundamental.
O senhor tem dito que agirá com rigor contra o crime organizado e a impunidade, que irá sufocar o fluxo de caixa das facções, valorizar policiais e aumentar o efetivo nas ruas. O que pensa sobre a desmilitarização da PM?
Não gosto de generalizar nada. A PM tem cerca de 100 mil policiais no seu efetivo. Eu tenho tido contato e vejo policiais muito bem qualificados, bem formados e com grau grande de compromisso. O que não se pode permitir é o abuso. Quando ocorre, deve ser fortemente punido. Até hoje, qual a punicão daqueles que abusaram na ação de Pinheirinho? O que foi feito nas ações contra jornalistas ou manifestantes durante as manifestações. Todos nós sabemos que parte do estopim nas manifestações foi abuso na ação de alguns policiais. Isso não iremos deixar de averiguar, inclusive fortalecendo o papel da corregedoria que precisa ser decisiva. Hoje na periferia, pais têm medo de que seus filhos voltem a noite por conta de medo de abuso da polícia e isso precisa ser fortemente punido. Isso passa pela formação.
Eu não tenho uma proposta de acabar com as polícias do jeito que são hoje, nem unificar. A constituição estadual de São Paulo estabeleceu três perfis de polícia: militar, civil e científica. Não entendo que se deve unifica-las mas devemos ter maior integração. Integração já na formação, ou seja, na academia deve haver períodos comuns de formação, de conteúdos e igualmente no dia-a-dia do trabalho. Maior integração do banco de dados, por exemplo. O da polícia militar é um, da polícia civil é outro, do Detran é outro.
Integra-los irá tornar as polícias mais modernas, mais efetivas para combater os crimes. É preciso ter um comando por parte da secretaria de segurança pública e do próprio governador que trabalhe a integração das polícias e não a disputa que é estimulada hoje em dia. É preciso haver uma reorientação. Temos capacidade de fazer que isso funcione melhor. Hoje, 25% das ocorrências do 190 são de pequenos delitos que não necessitariam da atuação da polícia militar. Uma ação da defesa social, da guarda civil metropolitana liberariam o efetivo da PM para ações que cabem a ela fazer.
O senhor promete instituir a ‘aprendizagem continuada’ no lugar daquilo que hoje é conhecido como ‘aprovação automática’ praticada pelo governo tucano. O que é isso?
Os governos tucanos pegaram o conceito da progressão continuada em que se busca garantir que o jovem aprenda progredindo ano a ano e transformaram numa verdadeira aprovação automática, se o jovem aprendeu ou não independe de sua progressão. Não é oferecido condições para que ele dê esse salto. Então antes de mais nada iremos valorizar os professores.
De que maneira? Aumentar salário basta?
São Paulo não pode pagar o 16º salário do país. É preciso haver uma recuperação que sinalize atratividade para os professores. Uma outra ação é, junto às universidades, criar uma academia dos professores, de valorização, uma ação permanente, preparando para as realidades regionais. E também é preciso recuperar a infraestrutura das escolas. A maior parte não tem assesso à internet hoje, apenas 1% da rede pública estadual tem laboratórios de ciência e informática, acessibilidade para deficientes… enfim, na área de educação é mudar ou mudar. Ou mudamos agora ou iremos comprometer o futuro de milhões de jovens. O que me deixa mais triste nesses 20 anos de governos PSDB, foi que eles não tiveram políticas continuadas para a educação. Cada secretário que assumia criava seu próprio programa, suas metas, tudo errático. Com isso hoje você tem uma grande descrença em termos de mudança. Por isso estabeleceremos metas de curto, médio e longo prazo.
Em razão da grave crise financeira da gestão do reitor João Grandino Rodas, criou-se um debate sobre a necessidade de implantar o pagamento de mensalidade na USP. O que pensa sobre o assunto?
Considero isso um absurdo. Não podemos abrir mão de termos uma universidade pública gratuita como USP, UNICAMP, UNESP, pelo papel que elas já tiveram ao longo desses anos todos no desenvolvimento do estado de São Paulo. Inclusive quero estabelecer recursos vinculados ao crescimento do estado para as universidades. Agora, o dado concreto em relação a USP é que pela primeira vez na história democrática do estado de São Paulo, o governo tucano impôs um reitor que a comunidade acadêmica não tinha escolhido. Isso resultou nessa gestão desatrosa do ponto de vista financeiro, fiscal, institucional e político. Tanto é que ele não terminou sua gestão, teve que sair antes. Agora precisamos ser parceiros para reconstruir e podem contar com meu apoio. Para que as universidades possam descobrir novas vacinas, descobrir obtenção de energia através do bagaço da cana.
O senhor comprometeu-se a levar o metrô a vários locais: até Guarulhos, região do ABC, Taboão da Serra, Brasilândia, Osasco. Em quanto tempo?
Vamos. Em 4 anos faremos com que o metrô tenha ultrapassado os limites da capital. Hoje em dia a lentidão das obras está diretamente relacionada à sua gestão. Desde a elaboração dos projetos até o processo licitatório.
Tem que ter transparência. Não se pode permitir superfaturamento. Tanto no metrô quanto nos trens da CPTM ocorre um escândalo de corrupção de 15 anos que só passou a ser apurado depois que a polícia federal, o CADE, o governo federal, autoridades internacionais começaram a questionar. Temos que ser transparentes, fazer o que o PT faz. O PT criou a CGU no governo federal, faz apuração. Não sou contra parceria público-privada. Ela contribui muito para acelerar no conjunto de investimentos que o estado não consegue fazer sozinho. Infraestrutura, metrô, trens, hidrovias podem avançar muito com parcerias. Pegar as estradas concessionadas e ampliar os acessos das cidades pois algumas delas atravessam cidades ignorando-as. Limeira é um exemplo de cidade que não conseguiu ampliar seu parque industrial tecnológico porque não tinha acesso adequado.
Quais as medidas que endossarão a fala da presidente Dilma (no telão) de que sua candidatura tem a marca da mudança?
O PT está preparado para fazer aquilo que nunca foi feito no estado de São Paulo e que precisa ser feito hoje. As gestões municipais de Marta Suplicy e agora Fernando Haddad são um exemplo. Ambos mudaram o transporte coletivo na capital. Fernando Haddad acelerou as obras de execução de corredores de ônibus, em seu primeiro ano fez 36% do que havia se comprometido. Marta criou o bilhete único integrado e Haddad criou agora o bilhete único mensal. Nós vamos lançar o Bilhete Único Metropolitano. A pessoa que precisa usar a EMTU, a CPTM, metrô, pagará uma tarifa só. O cidadão economiza, a integração entre o meios de transporte fica mais rápida.
Já que falamos de transporte, moradia é tema correlato. Como fica seu programa de moradias perante o atual momento de forte pressão realizada pelo MTST?
Faremos parcerias com todos os movimentos de moradia. Sou um defensor desses movimentos. Quando aprovamos o FINIS (Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social) eu era do ministério da coordenação política do presidente Lula e foi a primeira lei de iniciativa popular aprovada pelo congresso nacional desde a nossa constituição. Dentro do escopo do FINIS tinha apoio a projetos junto a movimentos de moradia. O Minha Casa Minha Vida começou como parte disso e agora deu grande salto de parceria com esses movimentos. No estado de São Paulo já entregou ou contratou mais de 600 mil casas. Só para efeito de comparação, a CDHU que surgiu nos anos 80 desde então entregou 500 mil casas.Temos um grande projeto utilizando recursos já existentes do governo do estado que tem 1% do ICMS destinado para a moradia e não é executado na sua integridade.
O tema da mobilidade urbana faz com que precisemos repensar o centro das grandes cidades. Nós queremos, em parceria com as prefeituras, fazer um grande projeto de revitalização trazendo habitação para o centro das cidades. Eu sou morador do centro de São Paulo e sei que todas as grandes cidades só se revitalizaram quando se colocou programa habitacional no centro. E isso não é um problema só da cidade de São Paulo.
No próximo sábado (21), a Convenção Nacional da legenda irá confirmar Dilma na disputa à reeleição e também será formalizada a aliança com o PMDB. Como pretende reverter o quadro negativo de intenção de voto, hoje em 3% ?
Será uma campanha bastante disputada e muito rica para o estado de São Paulo porque depois de 20 anos de um partido governando, a população terá oportunidade de ter opiniões diversas. Confio muito na força e na maturidade do PT hoje, que governa mais cidades. Confio na nossa forte presença nos movimentos sindicais e sociais, mas o partido também aprendeu ao longo desses últimos anos a construir alianças muito sólidas nas cidades que governa hoje. Acredito também na força da militância, o PT nunca esteve tão unido. Não me preocupo com as pesquisas agora. Todo mundo já viu essa história que estamos vendo hoje. E, nesse ano, a população só vai começar a debater eleição depois que a Copa acabar. A população está mais exigente, apontando os problemas que precisamos enfrentar e isso é bom, é positivo. Estou tranquilo, a pesquisa que vale é aquela de outubro.
Sobre o Autor
Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.
Mauro Maduro

Copa 2014

Espanha adere ao "Não vai ter Copa"

MARACANAZO - Eliminada da Copa do Mundo após duas desastrosas partidas, a seleção espanhola aderiu à campanha "Não vai ter Copa". "El Brasil conocerá la furia roja", disse Cassillas, enquanto deixava cair um coquetel molotov no chão.
O esquadrão espanhol invadiu a Avenida Rio Branco trocando passes livres. 
"La Copa, La Copa, La Copa abro mano/ Quiero más denero pra nacionalizar Messi e Cristiano", bradaram, em uníssono.
No final da tarde, Diego Costa naturalizou-se alemão.
by The i-piauí Herald

Escravidão

Ontem
Escravos abssínios
Hoje
O Ministério Público do Trabalho (MPT) em Araraquara (SP) ingressou com uma ação civil pública na qual acusa empresas do Grupo Odebrecht de “realizar, promover, estimular ou contribuir com a submissão de trabalhadores à condição análoga a de escravos, com o aliciamento e tráfico (nacional e internacional) de seres humanos”.
A ação foi movida pelo procurador Rafael de Araújo Gomes, que acusa o grupo de irregularidades nas obras de construção de uma usina processadora de cana-de-açúcar em Angola e pede R$ 500 milhões em danos morais. A companhia nega quaisquer irregularidades.

by Gustavo Porto

Rodrigo Vianna

Um país normal
Neymar é o "cabra"; e um PAC para Fred

O Brasil virou um país comum.
Comum porque, depois de dois jogos nessa Copa que acontece em solo brasileiro (sim, os jogos não foram transferidos para Miami – ao contrário do que supunha a “Veja”), ninguém está discutindo por que os aeroportos não deram conta de transportar os torcedores de uma cidade para outra. Ninguém está perguntando por que a desorganização absoluta (“só no Brasil”) impediu os torcedores de chegar aos estádios. Não se está lamentando o lamaçal em que se transformou o campo em Natal – cidade assolada por uma chuva de proporções bíblicas.
Não. Os aeroportos funcionam. O público chega aos estádios. A drenagem do gramado em Natal também funciona. Tudo normal e comum. O anormal é que o Brasil tenha jogado pouco contra o México. Essa é a discussão que ocupa, nas últimas horas, os filhos da pátria e também os filhos da … enfim, o pessoal da ala vip do Itaquerão.
Fred andou em campo contra o México. Parecia um veterano já meio barrigudo disputando a bola com a rapaziada de 20 ou 25 anos. Esse parece ter sido o grande erro da Dilma em relação à Copa: não incluiu o Fred no PAC da mobilidade urbana (era essa a piada hoje na internet). Fred em campo me fez sentir saudades de Serginho Chulapa…
E o Paulinho? A Inglaterra fez mal a ele. Meio-campista refinado no Corinthians, virou um burocrata depois de ter-se transferido para o Tottenham. Paulinho sumiu em campo também contra o México.
Somos um país normal. Tão normal que, nesta terça-feira, vi 3 mil e 500 turistas mexicanos desembarcando de um transatlântico no porto do Mucuripe (aquele mesmo da música “as velas do Mucuripe…”). Os mexicanos desciam e… pasmen: havia ônibus para levá-los do cais ao estádio, havia um terminal de passageiros novinho, tudo funcionava de forma absurdamente normal em Fortaleza.
O que não funcionava era nosso meio-de-campo. O pivô não funcionava na frente. Os laterais não faziam ultrapassagens…
Triste Brasil. Quando éramos uma ditadura abominável, tínhamos Gerson e Tostão para assessorar Pelé na Copa de 70. Agora, viramos um país normal. Daqueles bem chatos. Com zagueiros eficientes e meio-campistas burocráticos. Neymar solitário, habilmente solitário.
O Brasil só não é (felizmente) um país totalmente comum porque ainda somos capazes de levar, ao estádio da Copa, torcedores vestindo chapéu de cangaceiro. Sim, essa foi a cena que vi ao me aproximar do Castelão (coisa horrorosa: nome de um ditador em estádio da Copa) nesta terça-feira. Os mexicanos faziam uma festa belíssima nas ruas de Fortaleza. Com sombreiros e máscaras de luta livre. Aquilo me incomodava. Onde estava a criatividade da torcida brasileira?
De repente, surgiram os cearenses com chapéu de cangaço…  Pedi ao cinegrafista que filmasse um deles, sem notar que o mais extraordinário não era o chapéu, mas o cartaz que o torcedor carregava: “Neymar é o cabra!”. Sim. No Ceará, Neymar não é o cara. É o cabra.

Pronatec 2

A presidenta Dilma Rousseff lançou, ontem quarta-feira (18), no Palácio do Planalto, a segunda etapa do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) que oferecerá 12 milhões de vagas em 220 cursos técnicos e 646 cursos de qualificação a partir de 2015. No Pronatec 2, programado para o período de 2015 a 2018, há quatro estratégias principais para o programa: expansão do número de matrículas; organização nacional e valorização da trajetória de formação; formação empreendedora para micro e pequenos empresários; e expansão e modernização das redes de educação profissional.

Até o final deste ano, o Pronatec terá oito milhões de matriculados, atingindo a meta proposta no começo do programa em 2011. Houve expressivo aumento na rede federal de educação profissional e tecnológica. No total, são 526 unidades, sendo que 208 foram criadas entre 2011 e 2014.

Na cerimônia de anúncio da nova fase, Cárita Almeida, formada como técnica em edificação do Senai, prestou um depoimento emocionado de sua trajetória. Ela nasceu em Amarante (PI) e mora em Goiânia (GO) há 10 anos, onde fez o curso. Para ela, fazer parte da “família Pronatec” é motivo de orgulho e a realização de um sonho.

“Por meio dele (Pronatec) eu poderia conseguir qualificação, conhecimento e um emprego tão desejado e o melhor, sem custo algum. E então, poder ajudar em casa, retribuindo com todo orgulho os sacrifícios feitos por minha mãe, a mulher mais guerreira que já conheci, na qual me espelho. O Pronatec foi um divisor de águas da minha vida”.

A formação estimulou a mãe, Dircemilia Nepomuceno, e o irmão a retomar os estudos pelo Pronatec. Hoje, Carita é estudante de engenharia civil com apoio do Programa de Financiamento Estudantil (Fies) e, ao mesmo tempo, trabalha em uma empresa de construção civil. Uma caminho semelhante a uma das principais novidades dessa nova fase do programa: o incentivo à utilização de itinerários formativos. São metodologias de organização de currículos que permitem planejar a carreira, desde a formação inicial, passando pelo técnico até o curso superior de tecnologia. Com isso, será possível aproveitar disciplinas em novos cursos, acelerando a formação.

O ministro da Educação, José Henrique Paim, destacou a determinação da presidenta Dilma para alcançar os objetivos do Pronatec, como o grande número de matrículas e a garantia de gratuidade do programa. Segundo ele, o grande desafio é elevar a produtividade de nossa economia. Ele ressaltou o perfil social dos matriculados.

“No programa, 60% são mulheres, 67% são jovens entre 15 a 29 anos e 68% são negros. Aqui, nós estamos resgatando uma dívida que o País tem com os negros porque eles participam diretamente do Pronatec, porque esse programa garante não só o acesso, mas também a permanência desses estudantes em todo o Brasil. Esse é um programa que realmente vai na raiz da desigualdade social dando oportunidade para todos”.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, destacou o empenho da presidenta Dilma em dialogar com o setor industrial brasileiro e comemorou a criação do Pronatec e da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial).

Braga informou que o Senai alcançou, em maio de 2014, marca de 2,92 milhões de alunos em cursos do Pronatec. O número corresponde a 40% das 7,4 milhões de matrículas registradas desde 2011. Segundo ele, a CNI considera o programa o principal esforço realizado no Brasil para valorizar a educação profissional, além de se tratar de ação estratégica para tornar empresas mais competitivas e produtivas. O presidente da CNI destacou ainda o Pronatec como iniciativa bem articulada de promoção social e eficaz na superação dos desafios de formação técnica.

“O programa gera ganhos de competitividade para a indústria, a logística, a agricultura, os serviços. Trata-se, pois, de uma agenda bem articulada de promoção social e geração de riqueza. Justamente por criar esse círculo virtuoso em favor da prosperidade, será uma das marcas de seu governo”.

Luis Nassif

As propostas de Eduardo Campos

Candidato do PSB (Partido Socialista Brasileiro) às eleições presidenciais, Eduardo Campos precisará passar por Aécio Neves (PSDB) para encarar Dilma Rousseff.
É um dos vários paradoxos em que mergulhou sua candidatura.
Campos procurou situar sua candidatura como o de continuidade do governo Lula. Trata a gestão Dilma como um acidente de percurso que teria prejudicado o lulismo.
Na eventualidade de passar para o segundo turno, necessitará do apoio de Aécio Neves – e vice-versa. Mas, para passar para o segundo turno, teria que mirar as críticas em Aécio, o que pouco faz.
Eleito, governaria com Aécio ou seria a continuidade do lulismo?
O discurso de Campos ainda não conseguiu resolver esse dilema.
Em entrevista ao Portal iG, Campos procurou sublinhar melhor as diferenças com Aécio. Este apoiou Fernando Henrique Cardoso; ele, apoiou e fez parte do governo Lula. É muito pouco para consagrar-se como alternativa a Aécio.
Campos é reconhecidamente um  grande gestor. Montou sistemas de planejamento e monitoramento da administração estadual que mereceram do empresário Jorge Gerdau uma comparação consagradora: é do nível dos melhores CEOs de empresas privadas.
Especialmente na questão da segurança pública montou um programa inovador, abordando todos os ângulos da questão – desde a repressão propriamente dita à educação.

Mensagem do dia

Ah, a vida...
O correr da vida imbruia tudo.
A vida é assim:
Isquenta e isfria
Aperta e afroxa
Aquieta e depois desinquieta
O qui ela quer da vida é corage!
by Guimarães Rosa