Brasil decola
A crise obrigou Estado a assumir seu papel
Um segundo ponto, diz o economista, é a preponderância da China em relação ao mundo e ao Brasil. "A China é o principal parceiro comercial do País", afirma. "E tem capacidade suficiente de gerar oportunidades para o mundo nas próximas duas décadas. Deve fechar este ano com incremento econômico de 6% a 7%, retomar maior expansão em 2010, e induzir o crescimento do mundo. Cabe ao Brasil fazer negócios com a China".
Um terceiro fator é o posicionamento do Brasil no cenário mundial. "A perspectiva que está se colocando indica que se o País souber usar com inteligência sua participação no mercado internacional terá relativo longo prazo de crescimento sustentável e desenvolvimento com oportunidades em todas áreas", diz Araújo. As oportunidades, cita, vem com o pré-sal e produção de commodities.
Controle estatal do sistema bancário é uma boa
"Bem, antes de tudo, eu deveria dizer que não considero realmente os Brics como mercados emergentes. Eles são grandes demais para isso. Mas o controle estatal de bancos foi decididamente um fator e isso é algo que muitos dos países ricos tendem agora a fazer. Talvez haja um reconhecimento de que deveria haver mais responsabilidade social para o setor financeiro e que o controle estatal do sistema bancário é uma boa coisa". Continua>>>
Jim O’Neill, o economista-chefe do Goldman Sachs Group
Brics não são mais emergentes
Dominic Elliott, especial para The Wall Street Journal* - VALOR
Siglas podem poluir a linguagem de negócios com jargões complicados. Mas algumas conseguem transformar algo desajeitado em um sonho de marketing.
Foi assim com “Bric”, a sigla criada em 2001 por uma equipe de Jim O’Neill, o economista-chefe do Goldman Sachs Group, em referência a Brasil, Rússia, Índia e China. O banco criou a sigla quando fazia uma previsão sobre o crescimento dos quatro grandes mercados emergentes.
O Goldman Sachs previu que o produto interno bruto coletivo do quarteto iria representar mais de 10% da economia mundial no fim desta década. Eles já ultrapassaram isso, chegando a 15% no ano passado.
O’Neill discutiu nesta entrevista como os Brics têm se recuperado da crise financeira, se eles já superaram sua classificação e que países podem ocupar o lugar deles. Trechos:
George Soros dizia em março que os mercados emergentes corriam o risco de ser os mais prejudicados pela crise, mas os chamados países periféricos têm sido os mais fortes até agora na recuperação. Por quê?
A recuperação se deveu à força dos fundamentos econômicos. Quando a China lançou seu pacote de estímulo, no ano passado, o Goldman Sachs recomendou: “compre ações chinesas”. Muitos acharam que estávamos loucos, já que elas haviam desabado nos meses anteriores. Agora elas têm alta de 80%.
Em parte isso se deve ao crescimento do mercado interno. O declínio das vendas no varejo americano foi equiparado por um aumento na China. As vendas no varejo chinês subiram 18% ante igual período do ano passado, segundo os números mais recentes. O aumento nos volumes de carros, de 48% em junho em comparação com o mesmo mês um ano antes, também é significativo e não se deve apenas ao estímulo.
Como o sr. acha que a crise mudou a economia mundial?
Estou ficando mais convencido de que a crise foi de fato uma coisa boa para alguns países. É certamente o caso da China, onde a demanda interna melhorou e houve crescimento de base mais ampla, menos dependente das exportações.
Os países do Bric parecem ter se saído particularmente bem. Um dos motivos de eles terem se recuperado tão bem é o forte controle sobre os sistemas bancários?
Bem, antes de tudo, eu deveria dizer que não considero realmente os Brics como mercados emergentes. Eles são grandes demais para isso. Mas o controle estatal de bancos foi decididamente um fator e isso é algo que muitos dos países ricos tendem agora a fazer. Talvez haja um reconhecimento de que deveria haver mais responsabilidade social para o setor financeiro e que o controle estatal do sistema bancário é uma boa coisa.
Há alguns mercados emergentes que ainda sejam uma grande preocupação?
Os Estados do Báltico e outras partes da Europa Central e Oriental continuam com problemas, mas mesmo lá temos diversidade. Quando estive em Tóquio recentemente, todo mundo perguntava sobre a Letônia. Mas a economia letã é um décimo do tamanho da de Tóquio. Em contraste, a Polônia é a menos exposta e tem a maior economia e a menos dependente de exportações.
Sua equipe no Goldman Sachs identificou “os próximos 11″ países que poderiam pegar o bastão do Bric. O sr. disse recentemente que Turquia, México, Nigéria, Irã e Indonésia eram os líderes entre esses. Esses cinco são os que o sr. escolheria como os destaques para o segundo semestre?
Esses cinco só são similares no que diz respeito a terem grandes populações. A Indonésia parece estar num caminho para o desenvolvimento com base na demanda interna, apesar da ameaça do terrorismo. Sinais iniciais são de que o PIB do segundo trimestre mostrará que o país cresceu, o que é um feito significativo no contexto do acesso (à União Europeia), considerando os problemas que a Europa desenvolvida enfrenta. O Irã é uma sociedade altamente adepta da tecnologia com uma enorme população. A Nigéria é o maior país do continente africano em população e seus líderes estão dispostos a engajar-se internacionalmente.
Por isso esses quatro - Nigéria, Irã, Turquia e Indonésia - estão bastante no nosso radar. Vietnã e México também são interessantes.
O sr. acha que esses países ou os Brics serão capazes de descolar do mundo desenvolvido?
Não tenho certeza sobre o desacoplamento. As relações preço/lucro futuro (das ações) da China e da Índia estão mais altas que nos Estados Unidos, mas nos níveis atuais eu não encorajaria quem nunca investiu na China ou na Índia a aplicar lá; espere uma correção. É mais barato atualmente fazer isso via multinacionais ocidentais.
Como o sr. acha que os investidores deveriam olhar para os mercados emergentes?
Mercados emergentes são um conjunto diverso de países. Por isso não faz muito sentido investir num índice amplo de mercados emergentes. O tamanho dos países é um dos fatores mais importantes (…). Se um país é capaz de criar demanda interna sustentável, tem melhor chance de ser resistente.
*Dominic Elliott é editor do Financial News, publicação da Dow Jones, editora do Wall Street Journal
A morte do G8 e novo desenho do poder
Os países desenvolvidos demonstram sua incapacidade de dirigir o mundo, expresso no apelo para que os países emergentes, BRICs à frente, pilotem a retomada do crescimento, mas sem o suporte dos ricos, seja para a diminuição dos gases estufa, créditos de US$ 100 bilhões ao ano, seja para a expansão do comércio e a retomada de uma política de segurança alimentar -- foi aprovado um crédito de US$ 20 bilhões para a pequena agricultura, única medida razoável, e não de venda de excedentes de suas produções altamente subsidiadas de alimentos.
Sem um acordo contra o protecionismo, sem um redesenho do poder, das finanças internacionais e do financiamento dos investimentos e do comércio, não haverá recuperação econômica. Assim só nos resta esperar por Pittsburgh, a ex-cidade do aço americana, onde esperamos que o G-8 tenha um enterro de luxo e que surja uma nova configuração de poder mundial expressando o novo desenho real do mundo no século XXI, com o G-20.
Brasil - país do presente
O jornalista Michael Reid, autor do recém-lançado “O continente esquecido – a batalha pela alma latino-americana” , e editor para as Américas da revista britânica “The Economist”, vê a clara mudança da imagem do Brasil no cenário mundial.
“O Brasil deixou finalmente de ser o país do futuro para ser o país do presente, fazendo frente às expectativas”, afirmou.
Reid, que cobre assuntos relacionados à América Latina há mais de duas décadas e morou em São Paulo por três anos, nos anos 90, afirma que o governo Lula tem se mostrando “mais assertivo internacionalmente”.
Para ele, o Brasil tem sido reconhecido em áreas como comércio e diplomacia, ganhando contenciosos na OMC e exigindo mais espaço em organizações como o FMI e em agências da ONU.
O editor da “The Economist” diz que, embora a sigla Bric tenha elementos de uma ferramenta de marketing, o país se tornou um mercado cada vez mais importante para diversos outros países.
Além disso, ao longo dos próximos 20 anos, diz ele, o Brasil terá papel importante dentro da economia mundial.
BRIC na raia
Eles realizaram, em 2008, um PIB conjunto de US$ 6,8 trilhões, ainda metade do PIB americano.
Mas enquanto os 30 países mais ricos nesta década cresceram pela média de 2,1% ao ano, os BRICs não deixaram por menos de 6,6% - o triplo.
Ocorre que, no acumulado de 2000 a 2008, o Brasil saiu mal na foto do BRIC: cresceu 37%, contra 71% da Rússia, 95% da Índia e 151% da China.
Ou seja, na próxima década, nós, brasileiros, teremos de adotar um novo dístico: