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STF: Revisor não se intimida com baixarias do Relator


Na sessão mais tensa do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do chamado “mensalão”, o ministro revisor Ricardo Lewandowski votou nesta quarta-feira 26 pela condenação dos ex-deputados Roberto Jefferson (PTB), delator do escândalo, José Borba (PMDB) e Romeu Queiroz (PTB) por corrupção passiva, absolvendo-os do crime de lavagem de dinheiro. O magistrado considerou não haver provas sobre a culpa de Emerson Palmieri, integrante da Executiva nacional do PTB, em todas as acusações, despertando uma série de conflitos com o relator do caso, Joaquim Barbosa.
Barbosa se disse afrontado pela afirmação do revisor de que não estava confiante sobre a culpa de Palmieri, demonstrada, segundo ele, em seu voto. “Nós, como ministros do STF, não podemos fazer vista grossa das situações”, disse. Os termos usados por Barbosa incomodaram os demais ministros. Lewandowski chegou a sugerir que o relator peça ao colegiado a retirada da figura do revisor das ações penais. O ministro Marco Aurélio saiu em defesa do revisor dizendo que ninguém faz vista grossa no STF. “Cuidado com suas palavras. Vamos respeitar os colegas. Agressividade não tem lugar nesse plenário”, disse. E pediu que o colega escolhesse bem suas afirmações. “Sou responsável pelas minhas palavras”, retrucou.
Barbosa considerou “heterodoxo” Lewandowski “ficar medindo tamanho do voto do relator para replicar do mesmo tamanho”, o que também indignou o revisor. Por fim, pediu que o colega distribua seus votos por escrito para que ele possa rebatê-lo quando necessário. Barbosa já havia feito o pedido mais cedo, alegando que a recusa em distribuir o voto prejudica a transparência do julgamento. O comentário provocou nova reação de Lewandowski: “Não será Vossa Excelência que dirá o que eu tenho o que fazer. Cumprirei meu dever. Por favor, não me dê conselho. Eu não divirjo pelo simples prazer de divergir”.
Jefferson condenado
Segundo o ministro revisor, ficou comprovado o acordo para o repasse de 20 milhões de reais do PT ao PTB para que o partido supostamente financiasse campanhas municipais em todo o Brasil em 2004. Do acordo, a legenda recebeu apenas cerca de 4 milhões, não contabilizados. “Os repasses ficaram na ilegalidade e o partido se valeu de mecanismos escusos como maletas repletas de dinheiro e saques por meio de terceiros, sem que jamais tenha ficado claro o real destinatário do numerário.” Lewandowski destacou que Jefferson confessou ter recebido 4 milhões de reais em espécie diretamente do publicitário Marcos Valério, em parcelas de 2,2 milhões e 1,8 milhões em 2004. “Nas duas oportunidades, Valério trouxe o dinheiro e as cédulas estavam envoltas em fitas do Banco do Brasil e do Banco Rural.”
Ao dizer que o dinheiro pode ter sido usado para financiamento de campanha, Lewandowski diverge de Barbosa e do Ministério Público Federal, para os quais houve compra de apoio político.

da Carta Capital

Joaquim Torquemada quer calar o revisor


Após retorno do intervalo, ministro relator e ministro revisor discutem após discordância sobre envolvimento de Emerson Palmieri na denúncia
O ministro relator Joaquim Barbosa e revisor Ricardo Lewandowski voltaram a bater-boca nesta quarta-feira (26) durante o 28º dia do julgamento do mensalão. No retorno do intervalo, Lewandowski voltou a ler seu voto sobre o o sexto item da denúncia, tratando das acusações contra Emerson Palmieri primeiro-secretário do PTB, acusado de lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
"Ele [Emerson Palmieri] era um coadjuvante, um protagonista secundário", afirma Lewandowski. "Penso que remanescem sérias dúvidas quanto à sua real participação nos eventos delituosos.", afirmou Lewandowski, que disse ter mudado várias vezes seu voto a respeito deste acusado.
Irritado com a afirmação do revisor, Joaquim Barbosa citou depoimentos de Marcos Valério que provariam a participação de Palmieri, questionando mais uma vez o revisor. "Nós não podemos fazer vistas grossas a respeito do que consta nos autos", disse.
Indignado, Lewandowski questionou a própria função, frente as afirmações de Barbosa. "Para que o revisor? Você quer que eu coincida com Vossa Excelência em todos os pontos?", questionou. "Não é possível isso. Seria melhor abolir o revisor", concluiu Lewandowski.
do IG

Julgamento ximbica


[...] o jogador profissional chega numa mesa de pôquer de capiaus ricos e começou a ganhar a grana deles, até que um coronér (devidamente armado), prestes a perder uma fortuna numa aposta em que enfrentava um imbatível "royal straight flush" do profissa já raspando as fichas, diz:
"Péra, cumpadi! ... Aqui, "ximbica" (apresenta o blefe dele, que nem par tinha) ganha desse troço aí. Né, pessoár?! ... "Éééé!..."
O profissional olhou as armas e pensou: tá legal ... "o bom cabrito não berra..."
Algumas rodadas depois, na mais alta aposta da noite, o profissa armou seu jogo vencedor e o apresenta!
"Ximbica!"...
Começou a raspar as fichas e o coronér:
"Peraí, cumpadi...Ximbica aqui só vale uma vez por noite, sô!"
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Agora vamos comentar, tentando abstrair inicialmente o mensalão®:
É fato que, conforme a humanidade progride, o (ab)uso do poder vai se sofisticando. Do simples rei/imperador absoluto e pessoal e sua corte, que resolvia tudo com seus exércitos, na por#ada, até as "inquebráveis" instituições financeiras, mais fortes que nações e suas instituições, com seus exércitos ... agora de advogados. Portanto concordo que estamos vivendo esta "era" (não tão moderna) "perfeitamente "legal"...
Num documentário sobe a crise de 2008, os executivos de uma agência de rating que dava a classificação máxima AAA na véspera da quebra de uma instituição (que causou imensos prejuízos a acionistas e fundos de pensão com dezenas de milhares de aposentados) foram filmados depondo seguidamente com a seguinte mesma frase: "Era apenas a nossa opinião" ... garantida pela liberdade constitucional...
Estão todos livres e fartamente "patrimonializados", com o dinheiro ganho para "opinar" (remuneradamente e sem nenhuma responsabilidade, igualzinho às mães Dinahs da vida).
Com relação ao "garantismo" ou mesmo à velha discussão da "letra da lei" vs "espírito da lei (sou pela última), o problema não está no garantismo ... Está no seu uso
Não é o garantismo que é o “problema”! são as pessoas (juízes, no caso) que os usam (ou não), ora para pppp's , ora para os amicci.
Como nunca seria o Congresso que deva ser fechado ... e sim as más pessoas lá dentro que devam ser trocadas!
Enfim, sinto uma certa comemoração por alguns ao "fim do garantismo", à "flexibilização endurecedora" de provas e quetais.
Para mim, quem tem que "endurecer" (melhorar) é a investigação, a preparação, o MP. Eles têm que ser competentes em desnudar e apresentar os delitos. Mesmo "seguros" de que tenham havido, não podem apenas chegar no tribunal e dizer: "Não tenho dúvidas que houve crime. Sou pela condenação geral e máxima"  (lembra algo?) ... e daí descer do púlpito com sua esvoaçante toga, com o "dever cumprido"...
O processo tem que ser “duro”. Jamais "endurecer" os juízes!
Estes tem que julgar, serenamente, em viés ou emocionalidades. Ou serão apenas justiceiros.
Se os pppp's já estão "fús" desde sempre, imagine-se com tais mudanças e flexibilizações!
Além disso, há uma autobahn sendo aberta para o golpe!... qualquer golpe! Vai ficar a mór moleza!
Alguns acreditam que estarão pavimentando a condenação de outros "casos" (a maioria mais importantes, relevantes e nefastos)? Duvido! (tomara que esteja errado e venha aqui me retratar).
Que outros casos relevantes estão na fila (de 260 mil processos)?
O mensalão tucano? Já foi devidamente demembrado e só sobrará para Azeredo, deviamente "discrecionado" na míRdia, quando for o caso. O resto JÁ FOI resolvido. Estarão na Justiça Comum pelos próximos "n" anos com todos os recursos e protelações possíveis (e cada nota fará referência apenas a um mensalão@ genérico).
Aí (se e) quando chegarem no STF, nossos filhos e netos nem saberão direito do que se trata, né?
privataria multibilionária e nefasta? (infinitamente mais do que 50 mil para um deputado que ganha mais do que isso mensalmente em salários, verbas e benefícios)? Nem sequer está nos estágios iniciais de um processo (investigação), a menos do já processado (e premiado) jornalista Amaury Pen Taylor Jr...
Não adianta entrar nos bastidores deste circo. Apenas "suspeito" que ele foi montado para: 
  1. Dar um golpe; 
  2. Tentar alterar a História, que não pode ser "diferente" da contada nos 500 anos anteriores; 
  3. Conservar o poder sendo ameaçado (publicamente!); 
  4. Afetar as eleições, eminentemente em SP, onde fica a fonte de receita e poder dos tucanos, que ainda podem ser desnudados por um outro eventual governo, num momento crítico de consolidação de mudanças e desmascaramentos que já ocorrem há uma década, com aprovação popular recorde...

Portanto, não nos iludamos em pensar que "a moral está mudando", que agora "vai", que a lei (atribuição do parlamento) estará mais "dura", que agora "os de cima também estão na roda", que ...
Puro teatro circense...
Abrindo as portas acrobáticas do perigo...
Um julgamento XIMBICA!
PS: Reafirmo que delitos e delituosos devem ser julgados e condenados ... dentro das regras do jogo. Se culpados escaparem, bom pra eles, culpa da PGR. Se inocentes forem condenados? Ruim para todos nós!

Joaquim Barbosa: o descontrolado


O que provocou a descontrolada intervenção de Joaquim Barbosa foi a apresentação dos salários da secretária, entre 1.100 (mil e cem ) a 1.700 (mil e setecentos reais) num período de quase dez anos.
Foi a melhor argumentação de que disporia em seu voto Ricardo Lewandowski. Foi uma desmoralização completa do voto de Barbosa que condenou uma pessoa com "salário de empregada doméstica" por branqueamento de capitais.
A frase ao final da intervenção "faça um voto sóbrio" revelou a completa perturbação que assolou Barbosa naquele momento. Sem argumentos lógicos, apelou para uma frase feita e se revelou desnorteado. Joaquim Barbosa não gosta de ser contraditado. Lewandowski está demolindo a lógica de Barbosa.
O riso de Ayres Brito insistindo em garantir a palavra a Lewandowski foi a melhor imagem colhida naquele momento. Foi como dizer: deixem o Barbosa exercitar sua incontinência verbal e vamos ao que interessa, ouvir Lewandowski. Celso de Mello ajudou a superar o entrave desconversando sobre os argumentos de Barbosa e reforçando a tese de Lewandowski sobre a questão do contraditório.
Sérgio Viana
Já disse uma vez, não sei se Eliana Calmon - ao afirmar que a sociedade iria julgar o Supremo - estava sabendo exatamente o que estamos assistindo, mas é certo que a sociedade brasileira está tendo a oportunidade de ver e comprovar que o Supremo é um tribunal político e rendido à mídia. 

Joaquim Barbosa o monofássico


Um valentão entra em um bar e ameaça bater nos fregueses. Surge outro valentão que o encara e acaba com sua banca. A atitude do segundo valentão será louvada.
Uma pessoa educada levanta um argumento qualquer. O valentão reage com gritos e ameaças. Sua atitude será condenada.
É simples assim para entender porque Joaquim Barbosa foi elogiado quando encarou Gilmar Mendes e está sendo execrado quando avança sobre Ricardo Lewandowski. Não se tem política no meio, mas análise de atitudes, do comportamento que deve reger relações entre pessoas civilizadas. 
Os que julgam que, quem elogiou a primeira atitude (encarando o brutamontes) precisa automaticamente elogiar a segunda (a agressividade com o educado) manipula um tipo de raciocínio monofásico.
Há mais diferenças entre eles.
Ambos, Barbosa e Lewandowski, analisam réus. Com exceção de João Paulo Cunha, Lewandowski votou pela condenação de todos os cabeças da operação, de Pizolatto aos diretores do Rural. Sua sentença condenatória tem muitissimo mais peso que a de Joaquim Barbosa, disposto a levar à fogueira qualquer ser que passe na sua frente.
A diferença com Joaquim Barbosa é que ele, Lewandowski, debruçou-se sobre os autos e preocupou-se com a sorte dos personagens menores, pessoas sem o amparo do poder (como os donos do Rural), nem dos partidos políticos, mas personagens anônimos, sem relevância. E fez isso sem esperar reconhecimento nem retribuição, apenas pelo cuidado que os grandes magistrados devem ter em relação às pessoas que julga, mais ainda em relação aos despossuídos de poder.
Um marciano que chegasse à terra e assistisse uma sessão do STF poderia supor que Barbosa, com seus modos truculentos, é o valente, Lewandowski, com seus modos tímidos, o tíbio.
Ledo engano. O homem que está enfrentando a máquina de moer reputação, apenas para para ficar de bem com sua consciência, é o manso.

A síndrome da rã


O ministro Joaquim Barbosa com sua agressividade e grosseria para com o ministro Lewandowsky procura inutilmente disfarçar o que é indisfarçavel, sua enorme fragilidade emocional e insegurança. Todo o seu corpo, suas expressões faciais, seus tiques, suas reações musculares, revelam o que Konrad Lorenz chama de comportamento filogenético, que se manifesta desde sempre na natureza, da qual fazemos parte: a rã infla para mostrar-se maior quando vê a perigosa cobra aproximar-se; o jovem imaturo e inseguro entra estufando o peito na festa cheia de garotas bonitas para mostrar-se atraente.
O ministro Joaquim Barbosa irrita-se facilmente para dissimular sua evidente imaturidade emocional e imprime tom agressivo no seu voto na tentativa de preencher as lacunas de um conjunto probatório ralo e ... para agradar a velha e golpista mídia, grande representante da Casa Grande, da qual se tornou, ao menos por ora, o "enfant gaté". Está adorando essa sensação de ter saído da Senzala e ser festivamente - e hipocritamente - recebido na Casa Grande.
É uma sensação nova e prazerosa para o Ministro Joaquim Barbosa, que até há bem pouco era execrado por essa mesma mídia, como se viu no episódio das agressões verbais recíprocas com o ministro Gilmar Mendes, protetor dos interesses da imprensa venal e dos que "são mais iguais que os outros", como mostraram os HC apressados dados em favor de Daniel Dantas.
por Carlos Aberto Alves Marques

Relator quer calar a boca do Revisor


“Isso aqui não é academia. [...] Vamos parar com esse jogo de intrigas. Faça o seu voto de maneira sóbria!” O comentário do relator Joaquim Barbosa reacendeu o pavio de suas divergências com o colega Ricardo Lewandowski no julgameto do mensalão. “Vossa Excelência está dizendo que meu voto não é sóbrio?”, espantou-se Lewandowski, revisor do processo. “[...] Estou perflexo!”
O tempo fechou durante a leitura do voto de Lewandowski. Dirigindo-se a estudantes de direito que acompanham o julgamento, o revisor realçou a importância da análise do contraditório num processo penal. Barbosa enxergou na observação uma estocada velada. Abespinhado, insinuou que o relator ecoa no plenário do Supremo críticas dos advogados dos réus ao trabalho dele. “Repete o que é dito nos jornais”, alfinetou.
“Leiam o meu voto. Isso é insinuação”, disse Barbosa, algo contrafeito. “Vossa Excelência está dizendo: ‘É assim que se faz’. Vamos parar com esse jogo de intrigas.” Lewandowski cobrou do colega exemplos palpáveis. Barbosa reiterou a insinuação de que o colega o estaria acusando de negligenciar os argumentos da defesa. “Vossa Excelência está tentando mostrar a heterodoxia nas entrelinhas do seu voto. Quer demonstrar que eu não faço uso do contraditório. Temos estilos diferentes. Digo uma coisa em duas, três linhas, não preciso mais do que isso.”
E Lewandowski: “Estou perplexo! Não tenho perdido oportunidade de elogiar a clareza do voto de Vossa Excelência. [...] Sei do esforço que fez para chegar ao ponto que chegamos. Proferiu um belo voto. Há pontos em que nós discordamos. Mas jamais ousaria insinuar que o voto de Vossa Excelência seja incompleto ou de qualquer forma não tenha atendido aos cânones processuais. Está fazendo uma ilação completamente descabida.”
“Lamento”, disse, seco, Barbosa. Lewandowski prosseguiu: “Eu também lamento. Aliás, reafirmo a admiração e o respeito que que tenho pelo trabalho. Não tem nenhuma crítica ao trabalho de Vossa Excelência. [...] Eu é que, em homenagem à juventude que nos brinda com a presença nesse auditório é que quis, com o vezo de professor, [...] reafirmar aos futuros advogados a importância do contraditório no processo penal.”
Munidos de panos quentes, Aytes Britto e Celso de Mello –presidente e decano do Supremo— intervieram para conter o rififi. Barbosa, porém, não se deu por achado: “Todos temos experiência e não necessitamos de lições.” Lewandowski indagou: “Devo, então, saltar [a leitura dos] argumentos da defesa? Voltou a dizer: não tenho nenhuma pretensão de dar lições a quem quer que seja. É apenas um segundo olhar sobre os autos…”
Lewandowski acabara de inocentar a ré Ayanna Tenória, ex-vice-presidente do Banco Rural, da acusação de lavagem de dinheiro. Algo que, a contragosto, Barbosa também fizera na sessão de segunda-feira (10). O curto-circuito ocorreu no instante em que o revisor absolvia também Geiza Dias, ex-funcionária da SMP&B, a agência de publicidade de Marcos Valério.
Para Lewandowski, os dados contidos nos autos ornam com o cenário descrito pela defesa de Geisa. Ela seria mera secretária da agência. Uma funcionária subalterna que não teria conhecimento do esquema de lavagem de dinheiro que ocultou repasses das verbas de má origem do mensalão a políticos indicados por Delúbio soares a Valério. Geisa seria mera “batedora de cheques”, disse Lewandowski, repetindo expressão da defesa.
Após absolver Ayanna e Geisa, Lewandowski lê o pedaço do seu voto em que analisa as condutas de Valério e seus ex-sócios e dos altos gestores do Banco Rural. Pelo rumo da argumentação, deve condenar todos eles.
Ao abrir a sessão, o presidente Ayres Britto enaltecera a presença dos estudantes de direito no plenário. Citou os nomes das faculdades. Deu as boas-vindas aos estudantes e seus professores. Os visitantes não suspeitavam que seriam submetidos a uma lição tão enriquecedora. Aprenderam como não devem proceder os magistrados. Devem estar ruminando uma pergunta: “Por que diabos Barbosa e Lewandowski referem-se um ao outro de Vossa Excelência?”
por Josias de Souza

Outro enredo


O ministro Ricardo Lewandowski abriu seu voto renegando a percepção de muitos de que não leva em conta os indícios e conexões dos fatos para construir sua convicção, atendo-se apenas à “verdade processual”.
Ao tratar da responsabilidade dos dirigentes do Banco Rural, ele fez questão de ressaltar que votaria seguindo o relator Joaquim Barbosa porque, além de provas dos autos como relatórios internos do próprio banco e do Banco Central, havia muitos indícios demonstrando que os empréstimos ao PT e à agência publicitária SPM&B foram feitos com normas mínimas de segurança, revelando serem “de pai para filho”, fora dos padrões normais dos bancos. Leia mais>>>

Julgamento do mensalão: a parábola do cegos

[...] Enquanto os ministros supremos procuram uma bússola para acertar o norte, não deve ter passado despercebido de Têmis, a deusa da justiça e da coerência, o voto de Joaquim Barbosa que absolveu, pela fórmula plena da ausência de provas e não pela da insuficiência, o ex-ministro Luiz Gushiken.

A única prova nos autos do mensalão a incriminar Gushiken era o relato, na CPI dos Correios, do corréu Henrique Pizzolato. Como Barbosa não engoliu a história contada por Pizzolato sobre os 360 mil reais recebidos, considerado o preço da sua corrupção, foi coerentemente desprezada pelo relator a delação extrajudicial contra Gushiken.

Ensinam os processualistas europeus que para ser aceita a delação do corréu é necessária a total admissão da sua responsabilidade. Aquele que delata deve concordar com o núcleo central acusatório. Fora isso, o julgador não pode “fatiar” a confissão, tirando a parte que entende verdadeira e excluindo a mendaz. E outra: na célebre lição de Enrico Altavilla, na obra La Psicologia Giudiziaria, “a acusação de um corréu não deve ser uma simples afirmação, antes precisa ser enquadrada numa narração exauriente”.

[...] A essa altura e com a costumeira coerência, Têmis, que nunca usou venda, apesar de ter se espalhado o contrário na Idade Média, deve estar com uma pergunta engatilhada: será que Barbosa, que não aceitou a delação de Pizzolato contra Gushiken, vai aceitar como válida a delação de Jefferson contra Dirceu?

No caso do ex-ministro, como insistiu o seu defensor constituído na sustentação oral, a única acusação contra ele, colhida na fase judicial, provém de Jefferson. Leia a íntegra do artigo>>>

Mensalão: julgar desigualmente o que é desigual


[...] Quando Joaquim Barbosa resolveu “fatiar” o julgamento, estava implícito que entendia que era preciso tratar desigualmente o que é desigual.
Sem discutir o mérito de seu voto relativo à “fatia” onde está o deputado João Paulo Cunha - que é, aliás, amplamente discutível, como o mostrou o revisor, Ricardo Lewandowski, que o rejeitou na íntegra - o que o ministro fez foi raciocinar como se não existisse uma “quadrilha”.
Percebendo que seria absurdo condenar o ex-presidente da Câmara dos Deputados por integrar a tal “quadrilha do mensalão”, considerou-o culpado por ter beneficiado uma empresa privada para obter vantagem pessoal.
Na opinião do relator, ele teria recebido R$ 50 mil para destinar uma conta de publicidade de R$ 11 milhões para a agência de publicidade de Marcos Valério.
E que relação isso teria com o “tenebroso complô” arquitetado pelo “chefe da quadrilha”? Nenhuma.
Daí a ideia de “fatia”. Que daria algum nexo ao amontoado de situações díspares e mal integradas que a denúncia juntou. Ou seja, o relator admite que a tese central da Procuradoria-Geral é fraca, mas tenta salvá-la, propondo que suas partes desconjuntadas sejam vistas como “fatias”.
E no caso do ex-diretor do Banco do Brasil? O que estariam fazendo no Supremo os acusados de ilícitos nessa “fatia”? Nenhum tem foro privilegiado, nenhum ocupou cargo público. Se suas condutas estão sendo julgadas em separado, por que lhes negar o direito a um processo normal, que se inicia na primeira instância?
E desde quando é atribuição do Supremo Tribunal Federal discutir questões como as que constam dessa “fatia”? 
De “fatia” em “fatia”, o que o ministro relator está fazendo é concordar que a “quadrilha” nada mais é que uma construção artificiosa. Só com muita imaginação e pouca lógica é possível vê-la.

De tanto recortar, vai acabar fazendo como a cozinheira. Quando termina de descascar a cebola, constata que não há nada dentro dela. 
Marcos Coimbra

O desagravo de Ricardo Lewandovski a Luiz Gushiken


[...]deve servir de advertência a quem acompanha seriamente a denúncia do mensalão. O ministro foi além de Joaquim Barbosa e do procurador Roberto Gurgel, que pediram a absolvição de Gushiken por falta de provas.
Lewandovski disse que o ex-ministro deveria ser proclamado inocente.
Na verdade, a única base da denúncia contra Gushiken desapareceu há muito tempo. Responsável pelo marketing do Visanet, centro dos desvios para Marcos Valério, Henrique Pizzolato disse que recebera ordens de Gushiken ao depor na CPMI dos Correios. Mais tarde, depondo na Justiça, Pizzolato se retratou e disse que faltara com a verdade. Admitiu, como Lewandovski recordou no julgamento, que fora pressionado, sentiu medo e ficou  confuso durante a CPMI.
Todos sabiam disso  e assim mesmo Gushiken foi indiciado.  Quando os  advogados de Gushiken protestaram contra a falta de qualquer prova, a resposta é que, se ele fosse mesmo inocente,  acabaria absolvido mais tarde.
Homens públicos devem ter uma pele dura e grossa para enfrentar ataques inevitáveis.  Concordo. A coisa é um pouco mais séria, porém.
Gushiken passou os últimos sete anos com a vida revirada pelo avesso. Teve até contas de um jantar em São Paulo examinadas pelo TCU e divulgada pelos jornais, naquele tom de suspeita – e preconceito – de quem se permite  identificar sinais de deslumbramento e novo riquismo em todo cidadão que entrou na vida pública pela porta de serviço das organizações populares, em seu caso, o movimento sindical.  Até a marca de vinho era tratada como esbanjamento.  Certa vez, uma diária de hotel, a preço médio, foi  publicada como se fosse gasto exagerado, seguindo a máxima do baixo jornalismo  de que nenhuma publicação  perde dinheiro quando aposta na ingenuidade de seus leitores.
Uma revista  publicou uma reportagem onde as palavras de Pizzolato a CPI eram tratadas como verdade factual. Gushiken resolveu acionar a publicação cobrando uma indenização. Foi tratado como inimigo da liberdade de imprensa, claro. Perdeu a causa.
Falando sobre o mensalão e sobre a pressão sobre a justiça, Luiz Flávio Gomes, antigo juiz e estudioso da profissão, escreveu recentemente sobre o mensalão:
“Muitos juízes estão sendo estigmatizados pelo populismo penal midiático e isso coloca em risco, cada vez mais, a garantia da justiça imparcial e independente. O risco sério é a célebre frase ’Há juízes em Berlim’ (que glorifica a função da magistratura de tutela dos direitos e garantias das pessoas frente aos poderes constituídos) transformar-se num vazio infinito com a consequente regressão da sociedade para a era selvagem da lei do mais forte, onde ganha não a justiça, sim, quem tem maior poder de pressão. “
Conheci Alceni Guerra, deputado do PFL do Paraná, alvo de denúncias furiosas durante o governo Collor. Quando se descobriu que nada se podia provar contra ele, Alceni foi inocentado e tornou-se um símbolo da precipitação e da falta de cuidado. Não aguardou sete anos. Os mesmos veículos que divulgaram denuncias contra ele fizeram questão de retratar-se, talvez porque Alceni, um raro exemplar de político  conservador com consciência social – votou vários benefícios  na Constituinte – representava forças que se pretendia preservar e recompor assim que fosse possível, após  o impeachment de Collor.
Havia duas razões especiais  para manter Gushiken no centro da acusação, mesmo depois que ficou claro que nada havia de concreto contra ele. Uma causa era política. Com uma ligação histórica com Lula, que lhe deu um posto estratégico na coordenação da campanha de 2002, manter a acusação era uma forma de manter a denúncia perto do presidente.
Ajudava a incluir um membro do primeiro escalão naquilo que o procurador” geral chamou de “quadrilha”e “organização criminosa.“
Considerando que José Dirceu, o outro acusado com patente ministerial, só foi denunciado  por uma testemunha especialista em auto-desmentidos como Roberto Jefferson, a presença de Gushiken dava um pouco de tonelagem a história, concorda?
Outro motivo é que Gushiken foi um adversário irredutível das pretensões do banqueiro Daniel Dantas em manter o controle da Brasil Telecom, graças a um acordo de acionistas que lhe dava um poder de mando incompatível com sua participação como acionista. E aí nós chegamos a um aspecto muito curioso sobre aquilo que o juiz Luiz Flavio Gomes chamou de populismo penal midiático.
Está provado que Daniel Dantas participou do esquema Marcos Valério. Não foram somente os 3,6 milhões de reais. O inquérito do delegado Luiz Zampronha, da Polícia Federal, mostra que, sob controle de Daniel Dantas, a Brasil Telecom assinou um contrato de R$ 50 milhões com as agências de Valério. É isso aí: R$ 50 milhões. Está lá, na investigação da PF.
Ainda assim, Daniel Dantas ficou fora da lista dos acusados e suspeitos.  Mas se Pizzolato pode ser acusado e possivelmente será condenado por desvio de dinheiro público, é de se perguntar por que os recursos privados que Daniel Dantas mobilizou não lhe trouxeram a menor dor de cabeça neste caso. Não quero julgar por antecipação, sei que há muitas questões envolvidas quando se fala no nome deste banqueiro e sinto sono quando penso nelas. Daniel Dantas foi inocentado de várias acusações que lhe foram feitas.
O barulho da Operação Satiagraha mostrou-se inversamente proporcional a capacidade de apresentar provas contra os principais envolvidos.   Mas   é curioso.
Banqueiro com cadeira reservada no núcleo das privatizações do governo FHC, Daniel Dantas   também queria favores especiais do governo Lula. Pagou com contrato.  Está no inquérito, que Zampronha elaborou e enviou para o procurador Roberto Gurgel. Zampronha observa que a vontade de se acertar com Valério era tamanha que a turma sequer pediu uma avaliação técnica – mesmo meio fajuta, só para manter as aparências – da agência que fazia o serviço anterior. Mesmo assim, nada lhe aconteceu. Não precisou sequer dar maiores explicações. Nada.
Confesso que até agora não encontrei uma boa explicação a respeito.
Será que dinheiro privado é mais inocente?
Será que vale aqui a regra de que acusado de corruptor é menos culpado do que o corrupto?
É engraçado nosso populismo penal midiático, vamos combinar.
Gushiken foi tratado como culpado até que a inanição absoluta das acusações falasse por si. No auge das denúncias contra ele, dois jornalistas de São Paulo foram autorizados a fazer uma devassa nos arquivos da Secretaria de Comunicações, procurando provas para incriminá-lo. O próprio Gushiken autorizou o levantamento, sem impor condições. Os jornalistas nada encontraram mas sequer fizeram a gentileza de registrar publicamente o fato. É certo que não seria possível chegar a uma conclusão definitiva a partir daí. Mas,  naquelas circunstâncias, seria pelo menos um indício de inocência, se é que isso existe, não é mesmo?
A tardia declaração de inocência de Gushiken é uma lição do populismo penal midiático. A vítima não é só o ministro.
É você.