Um banco para pequena e média empresas

Providencial, e mais do que necessária, a medida adotada pelo BNDES, de praticamente dobrar a dotação do seu programa de microcrédito - elevou de R$ 250 milhões para R$ 450 milhões - a ser cumprido até o final de 2012.

Em nota, o banco justificou a providência, adiantando que o principal objetivo do programa é promover a geração de renda e emprego na economia popular, aumentando as fontes de financiamento para pequenos empreendedores, pessoa física ou jurídica, que tenham receita bruta anual igual ou inferior a R$ 240 mil.

O prazo máximo dos financiamentos é de 96 meses, dependendo de pisos estabelecidos pelo banco. A elevação do montante de dinheiro do programa e seus objetivos são ótimos, mas o que o Brasil precisa mesmo, e mais do que nunca, é da criação de um banco específico para financiar a micro, pequena e média empresas.

Elas constituem mais de 90% do número de empresas instaladas no país e são as que absorvem a maior parte da nossa mão de obra. O Brasil deve à sua micro, pequena e média empresas este banco específico; e a presidenta Dilma Rousseff, a efetivação do compromisso assumido na campanha eleitoral, de criar, também, um ministério específico para a área.

Avião

Rekkof construirá fábrica em Anápolis 
Depois de fazer uma vasta pesquisa de mercado em todo o Brasil, o presidente mundial da fabricante de aviões Rekkof Aircraft, Jaap Jacobson, e o presidente da empresa no Brasil, Paulo Almada, manifestaram intenção de instalar uma unidade industrial da empresa em Goiás. 

Eleição 2012

Por mais distante que esteja a sucessão municipal, a cada dia surgem novos nomes para a disputa, tanto em Fortaleza como nos outros 183 municípios do Ceará. Não bastassem os que até então estavam circulando, como Artur Bruno, José Pimentel, Camilo Santana (PT); Marcos Cals (PSDB); Inácio Arruda e Chico Lopes (PCdoB); Heitor Ferrer (PDT); Eunício Oliveira (PMDB), a eles vêm se somar Moroni Torgan (DEM) e Renato Roseno (Psol). Opções, portanto, para todos os gostos, mas pelo fato de uns atropelarem outros por serem da mesma coligação, eis o que vai protelar decisões na base aliada.

Poder de decisão
Não deixa de chamar a atenção o fato de, entre os candidatos da base aliada, nenhum ser do PSB. Afinal, sendo o partido do governador, é justificável a estranheza, aliás, até pelo poder de decisão política que se sabe ter Cid, qualquer que seja a eleição.

Dobradinha à vista?
Pela identidade que tem marcado as relações de Moroni com o PSDB, é que logo surgiram especulações de que disputariam em aliança a sucessão de Luizianne. Mas, o que se pergunta, é quem ficaria como cabeça de chapa.

2012: preocupação
O fato de ter vários candidatos, isso deve estar sendo acompanhado com natural preocupação na medida em que essa divisão, por enfraquecer o esquema vitorioso nas duas eleições, tem mesmo que alertar a Cid, Eunício, Pimentel, os eleitos em 2010.

Trem

Os frágeis argumentos contra o TAV brasileiro 
por José Augusto Valente, da Agência T1

À medida que se aproxima a data da licitação do trem de alta velocidade, ligando o Rio a São Paulo e Campinas, aumenta o tom da polêmica sobre a oportunidade ou não dessa obra e respectivo serviço.


Obras dessa magnitude geram argumentos de todo tipo, de acordo com a visão que a pessoa tenha sobre os problemas existentes e as formas de minimizá-los ou trocar por outros problemas de menor valor.

Na minha opinião, expressa quando estive Secretário de Política Nacional de Transportes (2004-2007) do Ministério dos Transportes, o Trem de Alta Velocidade não tem apenas importância do ponto de vista da logística de passageiros.

Sua importância, também, não tem a ver, exclusivamente, com os benefícios indiretos gerados pela significativa redução de gases esfeito-estufa, bem como da redução da poluição sonora, além da redução de dependência de fontes não-renováveis de combustíveis.

Esses motivos, de difícil avaliação econômica, mas que qualquer pessoa de bom senso enxerga ser significativa, por si só já justificariam a concretização dessa obra e serviço, iniciando um novo paradigma que será corrente nos próximos anos na América do Sul.
Assim, juntem-se todos esses motivos ao fato de que o Brasil, dominando a tecnologia dos trens de alta velocidade, será referência mundial em projeto, construção e manutenção das vias permanentes, como na fabricação de equipamentos para a indústria dos trens de alta velocidade. É disso que se trata e não de uma obra ferroviária, como alguns querem fazer crer.

Os argumentos utilizados para bombardear o projeto do trem de alta velocidade brasileiro são insuficientes para responder aos benefícios estratégicos a serem gerados pela implantação e domínio da tecnologia. Pelo menos, não li até agora opositores do projeto que se dignem a fazer esse debate.

Argumentos do tipo “deveria investir esse dinheiro em outra coisa na área social” ou “em vez de trem de alta velocidade poderia ser um trem comum de 120 km/h de velocidade”ou ainda “deveria investir em metrô” são ingênuos e não dão conta da questão estratégica envolvida.

Hipocrisia na ONU

ONU defende à bala democracia na Líbia; mas, e no Bahrain?

Tradução Outras Palavras/Vila Vudu
Os homens que andavam pela rua pareciam homens comuns. Comuns, pelo menos, nesses dias de tumultos e protestos no Oriente Médio. Usavam tênis, calças jeans e camisetas de mangas compridas. Alguns exibiam a bandeira nacional. Muitos erguiam as mãos. Alguns exibiam dísticos de paz. Muitos cantavam “Em paz, em paz”.
À frente, os vídeos mostram, soldados com coletes à prova de bala sentados na calçada, à espera. Na véspera, as forças de segurança haviam forçado, com violência mortal, a dispersão dos manifestantes pró-democracia, expulsos da rotatória da Pérola na capital do Bahrain, Manama. À noite, os manifestantes voltaram, insistindo em fazer-se ouvir.
Ouve-se então, inconfundível, o crack-crack-crack de tiros, e os homens espalham-se. Muitos deles, mas não todos. Os vídeos mostram três que não conseguiram salvar-se. Um deles, em camisa azul clara e calças escuras recebeu, como se vê claramente, um tiro na cabeça. Nos instantes entre a câmera ir do corpo caído aos blindados e voltar, vê-se que se formou grande poça de sangue.
Mais tarde a organização Human Rights Watch informou que Redha Bu Hameed morreu instantaneamente, com uma bala na cabeça.
O incidente, do dia 18/2, foi um de uma série de atos de violência praticados pelas forças de segurança do Bahrain, que deixaram sete mortos e mais de 200 feridos no último mês. Jornalistas observaram que os manifestantes receberam tiros de balas revestidas de borracha e de festim, para intimidação, mas que também – como no caso do assassinato de Bu Hameed – de munição viva.
A bala que matou Bu Hameed foi paga pelos contribuintes norte-americanos e entregue às Forças de Defesa do Bahrain por militares norte-americanos. A relação que se manifesta nessa bala (e em muitas outras semelhantes) entre o Bahrain, país minúsculo, de maioria de muçulmanos xiitas governada por um rei sunita, e o Pentágono, é relação comprovadamente mais poderosa que todos os ideais democráticos norte-americanos e muito mais poderosa, também, que o presidente dos EUA.
Acompanhar a rota pela qual balas fabricadas nos EUA chegam às metralhadoras e fuzis do ditador do Bahrain, armas usadas para matar manifestantes pró-democracia, é boa oportunidade para começar a entender as sinistras relações que unem o Pentágono e muitos ditadores no mundo árabe. Se se segue essa rota, veem-se os modos pelos quais o Pentágono e aqueles países ricos em petróleo pressionaram a Casa Branca e a levaram a participar da repressão aos movimentos populares e democráticos que hoje varrem o grande Oriente Médio.
Balas e falcões linha-dura
Análise de documentos do Departamento da Defesa publicada em TomDispatch indica que, desde os anos 1990s, os EUA transferiram grande quantidade de material militar, de caminhões e aeronaves a peças de metralhadora e milhões de caixas de munição, para as forças de segurança do Bahrain.
Segundo dados da Agência de Cooperação para Segurança e Defesa [ing. Defense Security Cooperation Agency], braço do governo dos EUA que coordena vendas e transferência de equipamento militar para aliados, os EUA doaram ao Bahrain dúzias de itens da cota de “excesso” dos arsenais dos EUA de tanques, carros blindados para transporte de tropas e helicópteros armados. Os EUA também entregaram às Forças de Defesa do Bahrain milhares de pistolas calibre .38 e milhões de caixas de munição, desde as balas de mais alto calibre para canhões, até as menores, para pistolas e outras armas portáteis. Por exemplo, os EUA entregaram ao Bahrain balas calibre .50 – para rifles e metralhadoras – em quantidade suficiente para matar toda a população do reino (1.046.814, incluídos 517.368 estrangeiros, em 2008), um tiro por cabeça, quatro vezes. A Agência de Cooperação para Segurança e Defesa, procurada para esclarecer esses números, não respondeu a várias tentativas de contato.
Além desses presentes em armamento, munição e veículos de combate, o Pentágono, em ação coordenada com o Departamento da Defesa, também coordenou a venda ao Bahrain de itens e serviços de defesa no valor de mais de $386 milhões, nos anos 2007-9, os últimos três anos para os quais há registros. Esses negócios cobriram a compra-venda de inúmeras peças, de veículos a sistemas de armas. Só no último verão, por exemplo, o Pentágono anunciou contrato multimilionário com a empresa Sikorsky Aircraft para ‘personalizar’ nove helicópteros Black Hawk com as cores e dísticos da Força de Defesa do Bahrain.

“Os tiros vinham de um helicóptero”[1]

Dia 14/2, reprimindo com violência o protesto que não parava de crescer, as forças de segurança do Bahrain mataram um manifestante e feriram 25. Nos dias seguintes, de agitações incessantes, chegaram à Casa Branca notícias de que as tropas que sobrevoavam as ruas num helicóptero haviam atacado a tiros os manifestantes. (Autoridades do Bahrain desmentiram; disseram que as testemunhas haviam confundido as lentes de teleobjetiva das câmeras fotográficas, com armas.) O exército do Bahrain também abriu fogo contra ambulâncias que chegavam para recolher os feridos, e contra pessoas que se aglomeravam em torno dos feridos.
“Pedimos moderação do governo” – disse a secretária de Estado Hillary Clinton, no início dos ataques no Bahrain. “Exigimos a volta a um processo que levará a mudanças reais, significativas lá para o povo”. O presidente Obama falou ainda mais claramente sobre o estado de violência no Bahrain, na Líbia e no Iêmen: “Os EUA condenam o uso de violência por governos contra manifestantes pacíficos naqueles países e onde mais ocorra.”
Começaram a surgir notícias de que, nos termos de uma lei conhecida como “Emenda Leahy”, o governo estava revisando ativamente os programas de ajuda militar a várias unidades das forças de segurança do Bahrain, para definir os que seria cortados por violação a direitos humanos. “Há evidências agora de que houve abusos”, disse um veterano assessor do Congresso ao Wall Street Journal em resposta a vídeo que mostrava a violência policial e militar no Bahrain. “A questão é saber especificamente que unidades cometeram aqueles abusos e se algum item da assistência que damos a eles foram usados por essas unidades.”
Nas semanas subseqüentes, Washington suavizou muito visivelmente o tom. Segundo matéria recente de Julian Barnes e Adam Entous no Wall Street Journal, foi resultado de uma campanha de lobby dirigida aos altos oficiais no Pentágono e no não menos poderoso Departamento de Estado comandada por emissários do rei King Hamad bin Isa al-Khalifa do Bahrain e seus aliados no Oriente Médio. No final, o lobby árabe assegurou que, no que tenha a ver com o Bahrain, a Casa Branca não cogitaria de “mudança de regime”, como no Egito e na Tunísia, e adotaria uma estratégia de futura reforma política que alguns diplomatas chamam hoje de “alteração de regime”.
Os seis estados membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) são, além do Bahrain, o Kuwait, Omã, o Qatar, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, todos eles com extensas relações com o Pentágono. O CCG tratou de armar a Casa Branca, jogando com medos de que o Irã pudesse beneficiar-se, no caso de o Bahrain abraçar a democracia e que, com isso, se desestabilizaria toda a região de modo adverso ao que interessa às políticas de projeção de poder dos EUA. “Começando pelo Bahrain, todo o governo andou alguns passos na direção de dar mais peso à estabilidade do que ao governo da maioria”, nas palavras de funcionário dos EUA citado pelo Journal. “Todos entenderam que o Bahrain é importante demais para cair.”
Estranha frase, tão semelhante a “grande demais para falir”, que foi usada antes de o governo resgatar a gigante AIG de seguros e os grandes grupos financeiras como o Citigroup depois do derretimento econômico global de 2008. O Bahrain é, claro, uma minúscula ilha no Golfo Persa, mas é também o ninho da 5ª Frota Naval da Marinha dos EUA, equipamento bélico considerado crucialmente importante para o Pentágono na Região. É considerado via indispensável até a vizinha Arábia Saudita, posto de gasolina dos EUA no Golfo e, para Washington, importante demais para algum dia quebrar.
O relacionamento entre o Pentágono e os países do Conselho de Cooperação do Golfo tem sido pavimentado de vários modos sobre os quais pouco se fala na imprensa norte-americana. A ajuda militar é um desses fatores. Só o Bahrain levou para casa, ano passado, $20 milhões em assistência militar dos EUA. Em área vizinha, há o raramente comentado casamento triangular entre empresas contratadas pela Defesa, os estados do Golfo e o Pentágono. As seis nações do Golfo (acrescidas da Jordânia, parceira regional) devem gastar $70 bilhões em armamento e equipamentos, em 2010, e outros $80 bilhões por ano, até 2015. Dado que o Pentágono busca onde amarrar a viabilidade financeira dos fabricantes de armas em tempos de dificuldades econômicas, os bolsos fundos dos estados do Golfo ganharam especial importância.
A partir de outubro passado, o Pentágono começou suas operações secretas de lobby, junto a analistas de finanças e grandes investidores institucionais, promovendo os fabricantes de armas e outros de seus contratados, dos quais faz compras, para garantir que se mantenham financeiramente viáveis, considerados os cortes previstos nos gastos do Departamento de Defesa. Os Estados do Golfo são outra avenida que leva ao mesmo objetivo. Diz-se que o Pentágono é um “monopsônio”, único comprador de várias empresas gigantes, mas não é completa verdade.
O Pentágono é também a única via pela qual seus parceiros árabes no Golfo conseguem comprar o mais avançado equipamento bélico que há no mundo. Atuando como intermediário, o Pentágono garante que os fabricantes de armas dos quais depende continuem financeiramente estáveis. Um negócio de $60 bilhões com a Arábia Saudita, por exemplo, no outono passada, garantiu que Boeing, Lockheed-Martin e outras megaempresas que têm contratos com o Pentágono continuem saudáveis e lucrativas, mesmo se os gastos do Pentágono forem cortados ou se começarem a encolher, nos anos futuros. A dependência do Pentágono, do dinheiro do Golfo, contudo, tem um preço. O lobby árabe não encontrou dificuldades para explicar o quanto rapidamente aquela fonte secaria, se, sem mais nem menos, começasse a acontecer por lá cascatas de revoluções democráticas.
Aspecto ainda mais significativo do relacionamento entre os estados do Golfo e o Departamento de Defesa é o sinistro arquipélago de bases que há no Oriente Médio. Apesar de o Pentágono ocultar, mais ou menos completamente, conforme consiga, a existência de várias daquelas bases, e apesar de os países do Golfo em muitos casos ocultarem das populações locais a existência daquelas bases, os EUA mantêm bases militares na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos, em Omã, no Qatar, no Kuwait e, claro, também no Bahrain – que abriga a 5ª Frota, cujas 30 naves de guerra, entre as quais dois porta-aviões, patrulham o Golfo Persa, o Mar da Arábia e o Mar Vermelho.
Rosquinhas sim, democracia não
Semana passada, manifestantes contra a monarquia do Bahrain reuniram-se à frente da embaixada em Manama, exibindo cartazes em que se lia “Parem de apoiar ditadores”, “Liberdade ou morte” e “O povo quer democracia”. Entre os manifestantes havia muitas mulheres.
Ludovic Hood, funcionário da embaixada dos EUA, segundo notícias divulgadas, ofereceu uma caixa de rosquinhas aos manifestantes. “Esses doces são boa ideia, mas esperamos que se traduzam em ações” – disse Mohammed Hassan, que usava o turbante branco dos clérigos; Zeinab al-Khawaja, uma das mulheres que liderava os protestos, disse a Al Jazeera que tinha esperança de que os EUA não se envolveriam nas lutas no Bahrain. “Queremos que os EUA não se metam. Nós podemos derrubar o regime”, disse ela.
Mas os EUA já estão profundamente envolvidos. Por um lado, dão rosquinhas. Por outro, helicópteros armados, carros blindados para transporte de tropas e milhões de balas – equipamentos que desempenharam papel importante nos recentes violentos confrontos.
Em meio à violência, a organização Human Rights Watch conclamou os EUA e outros de seus doadores internacionais a suspender imediatamente qualquer assistência militar ao Bahrain. O governo britânico anunciou que havia começado a revisar suas exportações militares, e a França suspendeu exportações de qualquer equipamento militar para o reino. O governo Obama, embora tenha iniciado revisão semelhante, não continuou, O dinheiro, que fala mais alto na política doméstica, também fala mais alto na política exterior. A campanha de lobby comandada pelo Pentágono e parceiros no Oriente Médio muito provavelmente derrotará qualquer movimento na direção de cortar exportações de armas, o que deixará os EUA, mais uma vez, em território seu velho conhecido – apoiando ditadores e governos antidemocráticos, que governam contra o próprio povo.
“Mesmo sem reexaminar todos os eventos das últimas três semanas, creio que a história acabará por registrar que, em todos os momentos na situação do Egito, nós sempre estivemos do lado certo da história” – o presidente Obama explicou depois de Hosni Mubarak, ditador do Egito, ter sido derrubado –, frase presunçosa, para dizer o mínimo, se se veem as mensagens ambíguas de seu governo, até que o fim do governo de Mubarak fosse fato consumado. Pois, em relação ao Bahrain, ninguém ouvirá, sequer, esse desanimado apoio a algum tipo de mudança.
Ano passado, a Marinha dos EUA e o governo do Bahrain organizaram imensa cerimônia para o lançamento de um projeto de construção numa área de marina, 70 acres, em Manama. Prevista para estar concluído em 2015, o projeto prevê novas instalações de porto, local para acampamento de tropas, prédios de administração, locais de alimentação, um centro recreativo, dentre outras amenidades, ao preço anunciado de $580 milhões. “O investimento no projeto da marina dará melhores condições de vida aos nossos marinheiros e parceiros da coalizão, por muitos anos futuros” – disse o tenente comandante Keith Benson, à época, do contingente da Marinha do Bahrain. “Esse projeto significa a continuidade de nossas relações e de nossa mútua confiança, da amizade e da camaradagem que ligam as forças navais dos EUA e do Bahrain.”
De fato, esse tipo de “camaradagem” parece mais poderosa que o compromisso do presidente dos EUA, de apoiar mudanças pacíficas, democráticas, naquela região rica em petróleo. Depois da deposição de Mubarak, Obama disse que “a força moral da não violência, não o terrorismo, não a matança, mas a não violência, a força moral, que tensiona hoje o arco da história em direção à justiça, mais uma vez”. O Pentágono, segundo o Wall Street Journal, decidiu tensionar também o arco da história em outra direção – contra os manifestantes pró-democracia no Bahrain. As íntimas relações que mantém com mercadores de armas e ditaduras árabes, costuradas por grandes negócios com empresas fornecedoras e bases militares semiclandestinas explicam por quê.
Funcionários da Casa Branca dizem que seu apoio à monarquia do Bahrain não é incondicional e que contam com que haverá reformas reais. Que reformas serão, depende, claro, do que o Pentágono decida. Não por acaso, semana passada, um alto funcionário dos EUA visitou o Bahrain. Não era diplomata. Não fez qualquer contato com a oposição. (Nem, que fosse, para uma foto encomendada oferecendo rosquinhas.) O secretário da Defesa Robert Gates viajou para falar como rei Hamad bin Isa al-Khalifa [na foto deste post, os dois, num encontro anterior, em 2008] e com o príncipe coroado Salman bin Hamad al-Khalifa para, disse o secretário de imprensa do Pentágono, Geoff Morrell, “reafirmar nosso apoio”.
“Estou convencido de que ambos estão seriamente comprometidos com andar em frente e promover reformas” – disse Gates, depois. Simultaneamente, reergueu o espectro do Irã. Afirmando que o regime iraniano estaria fomentando os protestos, Gates disse que “há provas claras de que o processo está sendo manipulado – sobretudo no Bahrain –, de que os iranianos procuram meios para explorar e criar problemas.”
O secretário da Defesa expressou sua simpatia por os governantes do Bahrain, que estariam “entre a espada e a montanha” e outros funcionários disseram que as manifestações de rua impossibilitavam que se entabulasse melhor diálogo com grupos moderados da oposição. “Acho que o governo precisa que todos parem, respirem fundo e abram espaço para que algum diálogo prossiga” – disse ele. No final, disse aos jornalistas que a perspectiva de os EUA manterem bases militares no Bahrain eram sólidas. “Não vejo qualquer sinal de que nossa presença venha a ser afetada, nem no curto nem no médio prazo” – acrescentou Gates.
Imediatamente depois da visita de Gates, o Conselho de Cooperação do Golfo, ostensivamente, enviou tropas sauditas para o Bahrain, para por fim aos protestos. Puxado pelo cabresto pelo Pentágono e parceiros no lobby árabe, o governo Obama jogou todo o seu peso do lado das forças antidemocráticas do Bahrain. Já não há nem o recurso de alguma ambigüidade retórica, para impedir que se veja de que lado da história, de fato, está.

NOTA

[1] “Ouviam-se manifestantes que gritavam “Estão atirando! Tiros! Tiros!”. Os militares estavam atirando. Muitos tiros – de prédios em volta, de um helicóptero e da rua em frente aos manifestantes” (New York Times, 8/2/2011, em http://www.nytimes.com/2011/02/19/world/middleeast/19bahrain.html?_r=3&src=me ).

por Alon Feuerwerker

A política é um campo fértil para deformações históricas. A maneira bonita de dizer isso é o velho ditado de que a História é escrita pelos vencedores. Mas um detalhe costuma escapar ao discurso do dia a dia. Se a política deforma a visão dos fatos a posteriori, o tempo acaba atuando para pôr as coisas no lugar. O tempo é mais forte.

Estes dias o Democratas reorganizou sua direção nacional em meio a uma crise braba. A crise dele é problema do DEM, mas um detalhe chama a atenção na maneira como o partido nascido do PFL costuma ser tratado. Virou o “herdeiro da Arena”, a Aliança Renovadora Nacional, sigla que deu sustentação ao regime nos anos da ditadura.

Na passagem dos anos 70 para os 80, quando a ditadura promoveu uma reforma partidária para dividir a oposição aglutinada em torno do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), a Arena mudou de nome para Partido Democrático Social (PDS).

Na sucessão do último presidente militar, João Figueiredo, o PDS dividiu-se. Um pedaço, a Frente Liberal, rompeu e decidiu apoiar Tancredo Neves (PMDB, herdeiro do MDB) na eleição indireta de 1985. Foi um gesto de coragem. Esse pedaço depois formaria o PFL, Partido da Frente Liberal. Que agora é DEM.

Ou seja, o DEM é herdeiro dos que, na hora decisiva, romperam com a ditadura. Os que ficaram no PDS e apoiaram Paulo Maluf contra Tancredo mudaram depois o nome do partido, algumas vezes.

Hoje ele é o PP, Partido Progressista, que está na base do governo Dilma Rousseff, como esteve no apoio a Luiz Inácio Lula da Silva.

O DEM é mesmo um herdeiro da Arena, vem da costela que certa hora deixou o campo autoritário e permitiu uma transição institucional para a democracia.

Tem gente que acha bom Tancredo ter sido eleito no colégio eleitoral. E reconhece o papel positivo da Frente Liberal naquele momento. Eu estou entre essas pessoas. Mas também teve gente que preferia outro resultado. O Brasil estaria hoje melhor se Maluf tivesse vencido Tancredo na eleição indireta?

Cada um responde pela sua biografia, é razoável que o DEM responda pela dele, mas é curioso que a legenda carregue sozinha o fardo, só por estar na oposição. Tecnicamente, o PP é o herdeiro mais puro de quem permaneceu ao lado do autoritarismo até o fim. Como apoia o PT, foi "anistiado".

O que não tem hoje grande importância. O PP atual pouco ou nada tem a ver com aquele PDS. A começar pelo presidente do partido, senador Francisco Dornelles (RJ), ministro da Fazenda do governo nomeado por Tancredo e assumido por José Sarney no impedimento do titular.

O PT explora bem a demonização do DEM (sem trocadilho), é um instrumento da luta política. E o PSDB nunca escondeu o incômodo de ter que se aliar a um partido de direita, como o DEM.

Um sintoma de que os tucanos têm o sectarismo do PT, mas não o pragmatismo. Talvez os resultados políticos e eleitorais dos anos mais recentes tenham a ver com isso.

A expressão rodrigueana de que toda unanimidade é burra carrega uma falha conhecida, pois de tão unânime ela própria traz o risco da burrice.

Falar mal do DEM virou unanimidade. Se é burra ou não, o tempo dirá. Eu prefiro esperar para ver no que vai dar. 

É um partido liberal, que no Brasil é sinônimo de direita. Vai mal das pernas pois o vento sopra contra. Quando o vento virar, e sempre vira, talvez esteja posicionado para pegar a nova onda. Ou talvez não.

Mas tem campo para trabalhar. Há um centro e uma direita liberais para serem politicamente trabalhados. Os primeiros passos da administração Dilma mostram preocupação do PT com essa variável.

Signo

PEIXES

Os traços marcantes dos aniversariantes desta data são a sensibilidade, o romantismo, o entusiasmo, o talento artístico e o apurado senso estético que possuem. Têm dificuldades em lidar com a realidade. A Carta da Estrela representa a inspiração. O anjo Haiaiel é invocado pelo salmo 108, das 23h20 às 23h40.