Os porteiros, por Luis Fernando Veríssimo

Os porteiros de cinema da minha adolescência foram os últimos exemplos de intransigência moral da nossa história. “Proibido até 18 anos”, sinal de que no filme — invariavelmente francês ou italiano — aparecia um seio nu, com sorte até dois, era proibido até 18 e não tinha conversa. Menores de 18 anos não podiam ver um seio nu na tela, sob pena de se costumarem e saírem a reivindicar seios nus na vida real.

Entre os 13 anos, quando tive minha primeira experiência sexual digna desse nome — com começo, meio, fim e, acima de tudo, parceira —, e os 18, vi exatamente 23 seios nus, contabilizados aí dez pares completos e três avulsos vistos fortuitamente (decote descuidado, etc.) que registrei como brindes.
Eram seios reais, vivos e palpitantes, não impressos, pintados, esculpidos, projetados numa tela ou sonhados. Desses 23 devo ter tocado nuns 14 (preciso consultar minhas anotações). Mas não adiantaria usar esta argumentação com o porteiro do cinema. Sustentar que os seios da Martinne Carol não teriam nada de novo para me dizer, pois não podiam ser tão diferentes assim dos da Ivani, não colaria.
Com menos de 18 anos não entrava e pronto. Pela lei, eu não tinha idade para ver seios. Se tivesse visto algum por minha conta, não era responsabilidade do porteiro.
Já porteiro de baile era mais, por assim dizer, conversável. O truque para convencê-lo a deixar você entrar no salão do clube sem convite era escolher um argumento — por exemplo “preciso entrar e dizer pra minha irmã que nossa mãe foi pro hospital” — e insistir, insistir sempre.
Oferecer propina não adiantava e, mesmo, quem tinha dinheiro?
Uma boa história podia despertar compaixão, ou pelo menos admiração pelo seu valor literário, no porteiro. Ou então o porteiro simplesmente cedia para livrar-se da insistência do postulante. “Entra, vai.”
Existia, no meu tempo de ir a bailes, um conversador de porteiro legendário. Especialista em entrar sem pagar ou sem convite que encarava cada porteiro como um desafio à sua criatividade e poder de persuasão, e que raramente falhava. Mas às vezes encontrava um porteiro que já o conhecia de outras tentativas. Certa vez ocorreu o seguinte diálogo:
— Você de novo?
— Desta vez é sério. Eu preciso entrar.
— Não.
— É uma questão de vida ou morte.
— Não.
— Minha namorada está aí dentro. Meu maior rival, um canalha, está aí dentro. Os dois podem estar dançando juntos neste momento. Tive uma briga com a namorada e preciso dizer pra ela que me arrependo. Que podemos voltar ao que era antes. Que ela não caia na conversa do canalha.
— Fale com ela amanhã.
— Não posso. Estou com uma doença terminal. Talvez não passe desta noite. Me deixa entrar?
— Não.
— Mas eu...
— Não.
— Está bem. Tome.
E tirou do bolso um convite, que deu para o porteiro. Tinha convite, mas entrar em baile sem precisar conversar o porteiro era contra os seus princípios.

Criança tem cada uma...

Quando Sha-Chi nasceu, seu irmão mais velho, o Samuel insistia para ficar a sós com o bebê. Com medo que, como muitos irmãos mais velho, o Sam tivesse enciumado e quisesse maltratá-lo, os pais não deixavam. Mas Sam não dava mostra de ciúmes. Sempre tratava o maninho com carinho. Então os pais - Diego e Daniela -, resolveram fazer um teste. Deixaram Sam com o recém-nascido, e ficaram vigiando através da porta, semiaberta.

Feliz e encantado por ter seu desejo atendido, Sam aproximou-se do berço silenciosamente, nas pontas dos pés, curvou-se ante o bebê e perguntou:

- Me diz como Deus é? Eu já tou esquecendo!

Na lata - financiamento público de campanha

Todo mundo que lida com política e eleição, seja governo ou oposição sabe que o financiamento de campanha por empresas é corrupção pura. É unânime a necessidade de uma reforma política que combata essa chaga.
Muito bem, então vamos colocar os pingos nos is:
  1. Quem é contra o financiamento público e exclusivo, não quer combater a corrupção.
  2. Quem é a favor do financiamento público e exclusivo, quer combater a corrupção.
Muito bem, então vamos dar os nomes aos bois:
  1. O PT e demais partidos que são a favor do financiamento público e exclusivo, querem combater a corrupção eleitoral
  2. O PSDB e demais partidos que são contra do financiamento público e exclusivo, não querem combater corrupção eleitoral
Isso é fato. O mais é blablablá!

Culinária na tv, uma bela falácia

Tenho um amigo que é bom para sugerir pautas. Ele prefere não ser identificado. Sua última sugestão, na verdade, daria um bom quadro de humor. Perguntou para mim se eu costumava assistir aos programas de culinária. Vejo alguns. Ver todos é tarefa impossível. Daí começou a conversa que ajusto no tempo verbal para os leitores.
Em algum programa vocês chegaram a ver o apresentador ou o convidado provar o que foi feito e dizer: “Uau! Isso ficou horrível!”? Nunca aconteceu. Mas, fora das câmeras, posso apostar que já aconteceu e deve acontecer direto.
Semana passada, falei do inglês cabotino que decidiu ensinar ao mundo como se cozinha e come. Por que seus restaurantes são um fracasso de público e crítica? Porque as câmeras não estão ligadas. Porque seus amigos não estão lá para dizer: “Nossa! Como isso está maravilhoso!”
Emeril Green é o programa do chef Emeril Lagasse. Um chefconhecido nos Estados Unidos, que fez um acordo com o Whole Foods Market e faz o programa acontecer nas instalações do supermercado. O programa é charme zero, mas vale notar a quantidade de pimenta-do-reino moída que o chefcoloca em tudo. É assustador. Nada além do gosto de pimenta deve sobreviver. Mas, até hoje, nenhum convidado reclamou.
E que tal aquele programa do chef Curtis Stone, que tem o carisma de uma barbatana de colarinho? O sujeito aborda uma moça no supermercado e promete fazer um jantar encantador para ela e o marido. A pior parte: ela aceita.Em um filme, na sequência, veríamos o pessoal do CSI entrando na casa da mulher e vendo suas partes assadas, cozidas, marinadas. E alguém diria: “É ele. O serial killer gourmet”.
Outro ponto interessante da conversa: o vocabulário do especialista, do gourmet, já está na boca de qualquer apresentador em qualquer situação. O sujeito dá uma bocada em um sanduba que leva 500 gramas de bacon frito.
Frito em fritadeira. Uma folha de alface, duas rodelas de tomate e 500 gramas de bacon. Outra fatia sobre tudo, claro. Ele morde, revira os olhos, solta exclamações e diz: “Isso tem textura, tem a crocância do bacon com a suavidade do pão. Os açúcares do bacon com a acidez do tomate... hummm! Você sente a suculência, a força com delicadeza...”
Chega, né? Com meio quilo de bacon na boca você fica sem sentir gosto de outra coisa que não seja bacon durante 12 anos. Vai contaminar sua boca e seus sentidos. Não estranharia se você ficasse surdo.
Mas tudo faz parte do show. Quem sabe um programa de humor gourmet esteja tomando forma.
por Márcio Alemão na Carta Capital

Jornalista desenvolve portal para desmentir notícias que circulam nas redes sociais

Do Portal Imprensa, por Christh Lopes
A internet oferece uma infinidade de oportunidades aos usuários. Por meio dela, podemos expressar ideias, formar opiniões e dialogar com as pessoas. No entanto, este mesmo espaço tem sido utilizado para divulgar informações falsas. Independentemente dos motivos que levam ao seu compartilhamento na rede, a ideia do jornalista Edgard Matsuki é desmentir tais notícias.
Em junho de 2013, ele desenvolveu o Boatos.org. A página mostra que diversas histórias curtidas pelos internautas não passam de meras criações. Ao fazer a cobertura de tecnologia para grandes veículos de comunicação, Matsuki “via a necessidadede existir um espaço que explicasse o volume das informações na internet e que seria um tema de interesse”, conta.
“Podemos verificar alguns casos de notícias que enganaram jornalistas que não conseguiram checar corretamente uma informação”, completa. Entre eles, está a declaração do jogador da seleção argelina Slimani de que o time iria doar o prêmio conquistado na Copa para palestinos de Gaza. O site foi o primeiro a desmentir a informação, divulgada em diversos veículos. 
Tudo funciona como uma bola de neve. No episódio do argelino, os portais brasileiros tinham como referência jornais estrangeiros, que filtraram a notícia de sites de futebol, que se basearam em um tuiteiro influente que, finalmente, descobriu a informação por meio de um perfil falso do atleta no Twitter. “Se a fonte da notícia fosse checada, não teríamos o problema”, diz Matsuki.
Crédito:Reprodução
Página ajuda a conferir notícias falsas nas redes sociais
Na avaliação do jornalista, a ânsia pela informação rápida tem dominado as redações pelo dever de obter o furo de reportagem sobre o fato “A primeira consequência é mais volume de informação, mais cópia e menos apuração. A segunda são os boatos e as barrigas”, revela. 
Apuração reforçada
Para investigar as notícias que circulam na internet, Matsuki reuniu estudantes e recém-formados em jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) que já haviam trabalhado com ele em outros projetos. No momento, a equipe conta com oito profissionais dispostos a revelar o contexto por trás do que é divulgado nas redes sociais. 
Apesar de reconhecer o potencial dos membros da iniciativa, ele revela que há recomendações para que sejam verificados os dados de cada informação a ser analisada. “Vale identificar sites que divulgam notícias falsas ou duvidosas. Acho que o caso do Diário Pernambucano, que algumas vezes é confundido com o Diário de Pernambuco, é emblemático”.
“Não foram poucas as notícias desta fonte divulgadas como verdade. Por fim, vale seguir sites como o Boatos.org. Até porque, o desmentido está virando pauta no jornalismo”, diz. A principal ferramenta para o trabalho de apuração pode ser mais simples do que se possa imaginar. 
O jornalista acredita que o Google pode ser um ótimo aliado do repórter no processo de apuração de uma informação para uma reportagem, pois nele podemos encontrar “fotos ou datas de indexação das matérias. É possível fazer uma engenharia reversa de uma história”.
Novos projetos em pauta
Atualmente, o portal se dedica exclusivamente ao conceito inicial, mas em ano de eleições, a página deve ganhar visibilidade, devido ao número de informações falsas levantadas no período. “Estamos sempre de olho. Nós vamos desmentindo na medida em que elas aparecerem", revela.
“Há apenas o cuidado de demonstrar que o site não tem nenhum objetivo político”. Pelo trabalho desenvolvido durante um ano de iniciativa, o reconhecimento chegou, mas de forma não muito agradável. “Já fomos convidados para sermos parceiros de sites com objetivos partidários, mas não aceitamos”, conta Edgard Matsuki.
Novas ferramentas para o Boatos.org estão em pauta, como parcerias na mídia e vídeos produzidos pelo portal. No entanto, o conteúdo das conversas não foram revelados. “Por enquanto, estamos apenas na fase de negociações. Mas não há previsão para as implementações”, conclui. 
Recomendações
Apesar de tratar de diversos assuntos, o jornalista diz que tem preferências sobre alguns temas, como supostos crimes, política e religião. Em destaque, ele aponta as seguintes matérias.
Entre os casos repercutidos pela mídia, vale conferir:

* Com supervisão de Vanessa Gonçalves

Opinião do internauta

Dois palpites curtos e grossos

1º) Para substituto do Ministro Joaquim Barbosa no STF a Presidente Dilma bem que poderia olhar com atenção para o jurista Pedro Serrano. Nas suas manifestações e análises públicas se mostra muito ponderado. Se não for uma camuflagem premeditada, como fez aquele juiz que matava no peito e proferiu algumas sentenças em favor de movimentos sociais para, tudo indica, chamar a atenção de um governo com simpatia pela esquerda e, assim, pavimentar a sua escolha...

2º) O Presidente Lula viu ruir, dizem, seu plano de preparar o Governador Eduardo Campos para ser um futuro presidente nordestino do Brasil. O delfim, que bom, mostrou sua verdadeira face prematuramente e queimou a largada, para nossa sorte e gaudio. Persiste, porém, a necessidade de descentralizar o Brasil. Os mais virtuosos não entram na política, como pede o Presidente Lula, para serem aquele político com quem tanto sonham, honesto e competente. Temem expor a face à ingratidão e ao insulto público. Diante da escassez de políticos confiáveis, o Presidente talvez pudesse volver seu olhar para Ciro Gomes, como substituto do delfim traidor. É voluntarioso, é verdade, e imprevisível, às vezes, mas possui virtudes que persistem nesse seu já longo tempo de exposição à vida pública.           

As coisas, lógico, não são assim tão simplórias. Um presidente nordestino não vai automaticamente trazer o desenvolvimento para o Nordeste e Norte. Mas pode facilitar. O olhar pode ser outro que não aquele Sãopaulocentrista. O Brasil necessita disso. São Paulo necessita disso. Ceder plantas industriais para outras regiões do país. Ceder empregos para outras regiões do país. Dessa forma os paulistas não precisarão mais dizer que só eles trabalham e pagam impostos. Poderão descansar mais, reduzir a fadiga e o stress. São Paulo necessita desconcentrar, desinchar, para ganhar qualidade de vida. Desconcentrando, até esses milhares de migrantes do norte, cabecinhas chatas e comedores de beiju, vão escassear. Sua feiura não poluirá tanto a beleza italiana, europeia, comedora de pizza, que é o pretenso rosto da pauliceia. Tchau...  
   
por Zegomes

Crônica da manhã

Carta extraviada 3


Não é da minha natureza esperar que me dêem liberdade,
não espero pelo pouco que há de essencial na vida.
Sendo liberdade uma delas, eu mesmo me concedo.
Ser livre não me ensinou a amar direito, se por direito entende-se
este amor preestabelecido, mais me ensinou as sutilezas do sentimento, que,afinal, é o que caracteriza e o torna pessoal e irreproduzível.
Te amo muito, até quando não percebo.
O amor que sinto pode parecer estranho, e é por isso que o reconheço como amor, pois não há amor universal: não, caríssima.
não há um amor internacional, assim como são proclamados os
cidadãos do mundo. Cada cidadão, um coração, e em cada um deles,
códigos delicados. se não é este amor que queres, não queres amor, queres romance, este sim, divulgadíssimo.
Te amo muito, e não sinto medo.
Bela e cega, busca em mim o que poderias encontrar em qualquer canto,em todo corpo, homens e mulheres ao alcance de teus lábios e dedos, romance: conhecido o enredo, é fácil desempenhá-lo.
e se casam os românticos, e fazem filhos e fazem cedo.
O amor que sinto poderia gerar casamento, pequenos acertos, distribuição de tarefas, mas eu gosto tanto, inteiro, que não quero me ocupar de outra coisa que não seja de você, de mim, do nosso segredo.
Te amo muito, e pouco penso.
Esta carta não chegará, como não chegarão ao seu entendimento estas
palavras risíveis, estes conceitos que aos outros soariam como desculpa de aventureiro ou até mesmo plágio, já que não há originalidade na ideia, muito difundida, porém bastante censurada.
Serei eu o romântico, o ingênuo?
Serei o que quiseres em teu pensamento, tampouco me entendo,
mais sinto-me livre para dizer: te amo muito, sem rendimento, aceso,
amor sem formato, altura ou peso, amor sem conceito, aceitação,
impassível de julgamento, aberto, incorreto, amor que nem sabe se é este o nome direito, amor, mas que seja amor.
Te amo muito, e subscrevo-me.


Martha Medeiros