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O direito "Morano"

O espinho no dedão do Coronel e o doutor Moro
Conta a história  – antiga, passada entre gerações e sabida de muitos – que o médico da cidadezinha do interior tinha poucos clientes que lhe pagavam em dinheiro as consultas.  O principal deles  era o “coronel”, que de tempos em tempos tinha dolorosos inchaços no dedão do pé direito. O povo simples, que o doutor não deixava de atender, também pagava, é verdade, mas com gratidão, em galinhas, linguiças, queijos e até leitões e grande admiração pelo doutor.
Viveu assim o médico, com pouco, mas o suficiente para mandar o filho à capital, tornar-se também médico, mas já com outros horizontes que não a existência parca e provinciana da vila, agora de gravata sob o jaleco e congressos em resorts. Mas calhou do rapaz, num dos dias em que vinha visitar os velhos, encontrar o pai adoentado, com forte grite e febril. Não era nada sério, por sorte, mas o velho médico já não consultava há três dias e o filho, gentil, foi clinicar por um dia, em seu lugar.
Um pouco atrapalhado por não poder pedir a batelada de exames clínicos a que se acostumara – fazê-los onde? – o rapaz saiu-se bem e à noite, com o pai já melhor conversava na varanda, sobre o dia no consultório.
-Sabe, pai, aquele inchaço no dedão do coronel, que ele tinha desde que me entendo por gente?
O velho franziu a sobrancelha e perguntou o que tinha acontecido. E o rapaz, orgulhoso, contou que, ao examinar, viu que o caso era de uma farpa de espinho, minúscula, que tinha se enquistado e, volta e meia, inflamava e fazia mancar o fazendeiro rico. Lancetou e…pronto. Aquilo não mais iria incomodar.
Ao que o pai respondeu:
– Pois saiba, seu ingrato, que aquela farpa de espinho, por mais de 20 anos, te vestiu, alimentou e ajudou a te formar médico. 
Hoje, no  Estadão, Julia Affonso, Ricardo Brandt e Fausto Macedo mostram que a Polícia Federal pediu para encerrar o inquérito original da Lava Jato, desde maio passado, considerando que já não havia nada a apurar. Mas que o Juiz Sérgio Moro mandou que se o mantivesse aberto, positivo e operante para novos acréscimos, conforme fosse conveniente.
Vai que alguma convicção precise arranjar provas – não é assim, no direito “morano”? – e veja que trabalheira arranjá-las num inquérito já encerrado?
Moro, portanto, mandou deixar o inquérito aberto, em banho-maria, pronto a confirmar suas “cognições sumárias”.
A farpa do espinho deve continuar lá, no dedão do coronel, porque ela fez o doutor provinciano viver, não se lanceta assim o abcesso a quem se deve a existência.
por Fernando Brito

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Crônica do dia



O pão com pó de pedra
Tem mais de 40 anos, mas nunca vou esquecer. O nome do meu amigo e colega, na Escola Técnica (hoje Cefet, mas então Celso Suckow da Fonseca) era – e pelo que sei, é – Pedro Bravo Vasconcellos. Como muitos, ali, vinha do subúrbio;  eu, também. Era de Marechal Hermes, depois de Madureira, antes de Deodoro e o trem era o veículo para estudar.
Belo dia, vira-se para mim, não sei a propósito de quê, e diz: com ares de filósofo: “Passarinho” (era meu apelido), “o problema do Brasil é que quem está comendo pão com pó de pedra vive querendo sacanear quem está comendo pão com pedra britada, dizendo que a sua pedra é mais macia do que a dele”,
Acho que a conversa era sobre os babacas que ansiavam por ter um relógio Seiko, então o Rolex de pobre. E, claro, serem roubados, porque se roubava, também, naquele Rio do início dos anos 70, e não era pouco.
Penso nisso quando vejo o fenômeno de ódio e fúria que nos assola hoje. Vem de uma classe média que se satisfaz em sonhar com um SUV e uma viagem a Miami, a filha com roupa de princesa no aniversário da casa de festas. Aquilo que fez com sua afluência nos dez, doze anos de governo da “esquerdalha” lulista.
Quando começa a faltar, a culpa é dos pobres,  daqueles onde estiveram seus pais e seus avós, como estiveram os meus e que, graças às práticas dos “governos populistas” dos anos 30, 40, 50 e 60 que lhes permitiram por os filhos na escola – e a mim e ao Pedro na boa escola fundada por Vargas, em 1942 , e dar a eles horizontes, que não eram uma viagem à Disney.
A crise não é cruel com o povo apenas porque  maltrata e esfomeia os miseráveis. Mas também porque transforma os remediados  em inimigos ferozes da pobreza, ao menos no primeiro momento. Leva um tempo até que eles percebam que estão sendo tragados pelo mesmo processo. Ou para que saiam da covardia do comodismo e da esperança do “comigo não vão mexer”.
Para que vejam que os seus filhos, amaciados na alma pela “moleza” que os deixava ir até os 24, 25, fora do mundo do trabalho, agora não terem mais o emprego, menos ainda a segurança, menos ainda os netos, adiados para quando a vida for – e não será – mais fácil.
Minha geração, bem cedo, sob a opressão, apaixonou-se pela liberdade, moça proibida da qual a gente nunca se esqueceu e à qual amará até o último dia o sorriso luminoso.

O [Groubo] anda lendo

Lendo o Tijolaço mas, pior que lê muito mal
A edição online de O Globo, dizendo que “pessoas ligadas à gestão brizolista” contestaram as acusações de um certo Pedro Novis sobre propinas da Odebrecht na construção do Sambódromo, “afirmando nas redes sociais que Novis mentia e não ocupava posição de destaque na empresa, e que a obra tinha como principal empreiteira a Mendes Júnior”.
Como prova, apresenta um balanço de 1985 da empresa, onde ela fala de sua participação na obra e o senhor Pedro Novis assina como um de seus diretores.
As “pessoas ligadas à gestão brizolista” que contestaram a acusação foram, na verdade, este blog – que o Globo não vai citar o nome, não é? – em um post que o jornal tenta desqualificar.
Não há razão para me corrigir.
Novis publica seu currículo na Bloomberg com a informação de que ingressou na Odebrecht em 1985 (veja a imagem ao lado) e assina o tal balanço neste mesmo ano, como um dos últimos diretores citados. A obra do Sambódromo terminou em março de 1984.
Portanto, não há razão para desdizer o que afirmei: que ele mentia ou apenas estava “repetindo o que recebeu de orelhada”, pois não estava na empresa durante a obra.
Depois, afirmo que “a empreiteira líder da construção, em prazo recorde, foi a Mendes Junior, não a Odebrecht, como pode ser visto no portfólio da empreiteira. Se a Odebrecht foi subempreitada ou se responsabilizou por alguma parte da obra, não recordo, mas não era a coordenadora do projeto.”
Portanto, também não se disse que a Odebrecht, através de sua subsidiária CBPO, não participou da obra, mas que não era a coordenadora do projeto. Coisa que, ampliada nos detalhes, vê-se na própria imagem usada por O Globo, onde está lá a plaquinha da Mendes Júnior, com seu logotipo inconfundível.
O que posso afirmar, com certeza, é que a Odebrecht fez uma mega-obra no Rio de Janeiro: o parque gráfico de O Globo, e no período em que Pedro Novis era o presidente do Grupo Odebrecht. Evidentemente, não posso dizer se ali houve propina ou lavagem de dinheiro, não o posso afirmar apenas “de orelhada”, por ouvir falar. Muito menos se houve alguma “ajuda” de Fernando Henrique Cardoso na concessão de um empréstimo de quase R$ 300 milhões (em valores de hoje) dado à obra pelo BNDES.
E posso, ainda, sentir orgulho de ter participado das últimas duas décadas da trajetória de um homem que, de tão destemido e reto, 13 anos após sua morte, continua despertando o ódio do império Globo, que volta e meia revira o passado para atingir sua memória, porque sabe que ela é uma bandeira contra o poder opressivo que ele representa.
Inclusive valendo-se da simples palavra de um bandido, um corrupto e corruptor, que, graças às distorções de um processo doentio de delação premiada, ganha a liberdade e o gozo de sua fortuna ao preço, para ele barato, de tentar enxovalhar a história de um herói brasileiro.

Vive les enfants du ‘Brizolon’! Vive les jeunes du Brésil!

Tout ne va pas bien, Madame La Marquise.
O CIEP 449, que leva o nome de seu autor, Leonel de Moura Brizola, é uma  das escolas da América do Sul que recebeu o selo de qualidade Label France Éducation, concedido a quem promove uma metodologia de excelência da Língua Francesa.
Fica em Charitas, Niterói, onde antigamente se mandavam os navegantes doentes, para morrerem em isolamento e não contaminarem a cidade do Rio.
Mas os guris do Brizolão não estão nadando em fartura, não.
Nem esquecem dos outros que não tem o que eles, mal ou bem, tem.
E mais mal do que bem, porque são vitimas da carência geral da educação e da carência particular do Rio de Janeiro.
E você vai ver no vídeo abaixo que a garotada não está mansa, não.
Il n’est pas douce.
Porque o velho homem que fez esta escola, pondo em prática o sonho de outro de sua geração, o garotão Darcy Ribeiro, não fez tudo isso para que eles fossem mansos.
Foi para ensinar o que eles aprenderam quase sozinhos e escreveram no cartaz da foto.
Uma escola para aprender a pensar, não a obedecer.
O contrário do que quer o cachorrinho de madame de São Paulo que quer colocar um espião em cada sala de aula.
E eu, que fiz o ginásio com o velho e sebento “Cours de Langue et Civilization Française”, ainda guardo comigo os lindos versos da Marselhesa que dizem: “Liberté, Liberté chérie! Combats avec tes défenseurs” (Liberdade, querida liberdade! Combata com teus defensores).
Os coroas que fizeram esta escola e o agora coroa que conta esta história estão orgulhosos de vocês.

A ditadura do judiciário é mais lesiva ao Brasil que a militar

ESTADOPOLICIAL2
O primeiro dever de um governante eleito democraticamente neste país será romper a infecta promiscuidade que se formou, sob os auspícios da mídia e da direita – entre os organismos policiais, o Ministério Público e o Judiciário.
Ninguém está, é óbvio, sugerindo sua dissolução ou seu amordaçamento.
Mas são organismos diferentes, que passaram a se portar como um só e a pretender prevalecer sobre toda a vida nacional.
Porque diferentes, deveriam funcionar como um sistema de freios e contrapesos. Não como um corpo único e, por isso, deformado como o que temos agora.
Um simples delegado de polícia tem o poder de reunir mais de mil policiais (mil!) sobre todo um setor da economia, com as mais graves repercussões, para brilhar numa entrevista cheia de imprecisões e, em alguns casos, bobagens?
Um promotor, doublê de pregador religioso, tem o direito de mandar alugar um hotel para exibir um powerpoint, em rede de televisão, acusando um ex-presidente de liderar uma “propinocracia” por conta de um pombal no Guarujá?
Um juiz de 1ª instância pode gravar o telefone presidencial e distribuir à mídia o conteúdo de uma gravação ilegal e mandar a mulher gravar vídeos agradecendo o “apoio da população” e dizendo que, sem ele, os processos que conduz não poderiam ter se desenvolvido como se desenvolveram?
Todos eles têm superiores e se o fizeram é porque seus chefes se acovardaram ou, ainda pior, viram nisso uma maneira de se armarem para seus apetites de  poder.
E um poder tirânico, porque sujeita aquele que o critica a amanhecer com a polícia na porta e ser metido num camburão para saber com quem eu converso.
E tudo se legitima porque eu sou “do PT” (embora não seja, como não é o Eduardo Guimarães, nem nunca tendo sido).
O Brasil está sendo liquidado por esta histeria, alimentada pelo oportunismo tucano e peemedebista, que agora se vê tragado por ele. E por uma mídia que não é apenas deformada pelo interesse empresarial, mas pela pretensão de ordenar o que se faz neste país, em nome do “mercado”.
O Valor registra hoje um pequeno pedaço do dano que isso causou a mais de um milhão de pessoas, com o corte de 300 mil empregos só nas empreiteiras arruinadas pela Lava Jato, embora seus donos, quase todos, estejam lépidos e faceiros, vivendo em suas mansões, alguns com o incômodo temporário de tornozeleiras eletrônicas.
Some a isso os empregos perdidos nas suas cadeias de fornecedores e você terá um retrato ainda pálido do mal que se fez.
A ditadura jurídica, embora um tanto quanto (e não muito) mais sofisticada, é mais lesiva a este país do que foi a militar.
Porque, junto com as liberdades e a política, está destruindo este país e dando cobertura para que se destrua os direitos sociais em escala que aquele regime jamais fez.\o/

Tijolada da hora

Para os pobres, corte à vista; para os ricos, calote à prazo

Os senhores e senhoras parlamentares, por imensa maioria, votaram esta semana o corte nos gastos sociais (Educação, Saúde, Segurança, Habitação, etc). Pau nos pobres e desvalidos do país.

Mas, para os que tem $$$$$$$$$...

Dá hoje o Estadão:
A Câmara dos Deputados quer acelerar o projeto que permite a abertura de um novo Refis, programa de parcelamento e abatimento de dívidas de impostos de empresas. Parlamentares querem estender por 20 anos o prazo de pagamento dos débitos.A criação do novo Refis foi incluída no projeto que regulamenta a venda de créditos da dívida ativa da União, Estados e municípios. Líderes dos partidos na Câmara assinaram requerimento de pedido de urgência para a votação das duas propostas.
Bem, você poderia argumentar que a coisa não está boa para ninguém e até é importante que, mesmo pela enésima vez, as empresas tenham a chance de se acertarem com o Fisco, em parcelas, em lugar de deixar este dinheiro “pendurado” anos a fio em disputas judiciais.
Sim, seria razoável se isso pudesse ser feito até um teto “X”, que não aliviasse com dívidas bilionárias de bancos e conglomerados empresariais que podem paga-las.
Mas tem alguns “pulos do gato” escondidos aí.
O primeiro é a venda das dívidas já explicado aqui, uma vez.
É assim: a dívida é 100 e o governo a leiloa no mercado e obtém, digamos 50. O novo credor vai em cima do devedor e aceita 70 pelos 100. Ganha 20 e o devedor ganha 30. Para fechar a equação, quem perdeu 50?
O outro é que, segundo o projeto que está sendo maquinado, as dívidas seriam corrigidas pela inflação, em lugar de serem, como agora, pela taxa Selic.
Então, o devedor aplica o que deveria pagar e não paga a juros de mercado e paga com correção de inflação, que é bem menor.
E é essa turma que fala em austeridade com o dinheiro público, preste atenção…
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Hoje, 12° aniversário da morte de Leonel Brizola

Felizardo quem conviveu com o Estadista e principalmente o ser humano Leonel de Moura Brizola. 

Todas homenagens a ele ainda serão poucas. 

Mas, felizmente hoje alguém que se alimenta das mesmas ideias e ideais dele presta a mais justa homenagem possível a ele e ao povo brasileiro, Dilma Vana Rousseff e o autor do texto abaixo:

12 anos sem Brizola. Mas há coisas que nem a morte nos tira mais

briza
Não é fácil deixar para trás um convívio diário de mais de 20 anos. Ainda que se tente, porque a vida exige que se caminhe para ter caminhos, as coisas vão conosco.
Ou como fardo, ou como asas.
Hoje, 12° aniversário da morte de Leonel Brizola, só tenho a agradecer o que ele me deu.
Não foi emprego público, não foi carreira política, não foram bens, exceto um agora velho casaco de brim que, um dia, ele esqueceu num estúdio de televisão, numa das últimas vezes que fez uma gravação em que eu o torturei a falar em exatos oito segundos – uma frase, só, coitado – para já nem me lembro qual chamada de TV do PDT.
Claro que avisei a ele, mas também avisei que não ia devolver, porque queria ter algo dele e até as fotos eram raríssimas, por eu ter completa alergia à papagaiagem de pirata.
Mentira minha, ele me deu algo muito maior: o privilégio de viver, no centro dos acontecimentos, duas décadas decisivas da história de meu país.
Não vou aborrecer o leitor e a leitora com minhas saudades de alguém que nunca entendi completamente e que, tenho certeza, também nunca me entendeu por inteiro, o que jamais impediu, porém, de termos confiança absoluta um no outro, pela identidade de sentimentos e sonhos.
Pedindo desculpa pela falta de qualidade das imagens, do texto e do locutor improvisado que este blogueiro teve de tentar ser, coloco aí embaixo o vídeo que fiz, muitos anos atrás, para um dia como o de hoje, aniversário da morte do velho Briza, com quem aprendi que política não se faz sem honra, sem paixão e sem teimosia.