por Delfim Netto

O pensamento mágico
Tenho recebido algumas observações de economistas que respeito. Advertem-me que na minha vida profissional ativa sempre utilizei a matemática e que agora, na inatividade acadêmica, passei a "demonizá-la". Nada mais longe da verdade. Tenho procurado chamar a atenção para o uso abusivo dessa joia do pensamento humano. Como é belo, esteticamente, um teorema bem demonstrado! O que condeno, e me incomoda, é a economia bastarda que se esconde na matemática para passar a ideia de que é "científica". O que abomino é assistir à falta de cerimônia com que alguns economistas extraem conclusões de seus elegantes e irrelevantes modelos e as transformam em "recomendações" normativas (supostamente científicas!) para o exercício da política econômica no mundo real.

Um exemplo evidente dessa tendência é a discussão de políticas econômicas realizadas a partir da "contabilidade" do crescimento. Como é evidente, o "produto potencial" é uma variável não observável. Conhecemos inúmeros métodos diferentes de estimá-lo que produzem resultados distintos, o que não é desprezível para o custo social das políticas econômicas. Todos, não importa o grau de sofisticação (se com estatística baynesiana, filtros de toda natureza...), são apenas projeções do passado, isto é, das circunstâncias que o constituíram, dos estímulos a que foram submetidos os agentes econômicos e das contingências políticas que dominam a economia.

Economia 'bastarda' usa matemática para se dizer científica 

O método mais pedestre e mais utilizado é o da "contabilidade" do crescimento. Neste, como é óbvio, o produto "potencial" é o limite superior de uma suposta função de produção, que tem como argumentos os fatores de produção: o trabalho (horas trabalhadas, nível de educação e de saúde do trabalhador) que pode ser estimado razoavelmente e o capital (a disponibilidade de recursos naturais, de todo o estoque do trabalho passado congelado na infraestrutura, nos equipamentos de toda sorte). Este, a rigor, é imensurável, a não ser pela somação de seus valores. Para transformar esse valor num dado físico (porque é isso que a função de produção exige) há problemas tão complexos que os economistas, sabiamente, decidiram ignorar em lugar de resolver...
As funções de produção fazem mais sentido quando referidas a uma unidade concreta de produção, onde as formas de medida são mais tratáveis. Entretanto, a agregação dessas funções para construir a função que representaria o produto potencial exige condições tão restritivas (do ponto de vista matemático) que as tornam virtualmente inexistentes, como todos sabemos desde os anos 70 do século passado. Mas por que as funções agregadas parecem fazer sentido quando estimadas estatisticamente? Pela simples e boa razão, também conhecida por todos (e sempre convenientemente ignorada), que elas são apenas manipulação da identidade: o Produto Interno Bruto (PIB), que é o valor adicionado de toda produção é, necessariamente, igual à soma dos salários mais os lucros.
Essa identidade, manipulada algebricamente, é submetida a uma operação de derivação, às quais se adicionam duas hipóteses: que a participação dos fatores é relativamente constante, e que os salários e os lucros crescem a taxas constantes. Posteriormente submetida a uma operação de integração, produz a mais famosa de todas as funções de produção agregada, chamada Cobb-Douglas. O leitor não precisa se preocupar com essa prestidigitação. Trata-se de diversão matemática do pensamento mágico exercitado por "cientistas". Basta saber que toda função agregada de produção (da qual se extrai o conceito de produto potencial) é uma transfiguração daquela identidade. Como toda identidade, ela apenas é. Não tem qualquer poder explicativo!
Ainda agora, prestigiados economistas, preocupados com o "crescimento asiático" da economia brasileira (6,1% em 2007, 5,2% em 2008, e 7,5% em 2010) utilizaram a contabilidade do crescimento produzida por uma função Cobb-Douglas convenientemente "calibrada" pelas hipóteses: 1) que a participação dos rendimentos do trabalho no PIB é de 60% e do capital de 40%; 2) que a produtividade total dos fatores é da ordem de 1,5%; 3) que a oferta de trabalho (não as horas trabalhadas) é de 1,8%; e 4) que a taxa de investimento de 19% e uma taxa de depreciação de 25 anos produz uma taxa de expansão do capital de 4% ao ano, para chegar à "científica" conclusão que o "produto potencial do Brasil hoje é de 4,3% ao ano". Se não tivessem esquecido no "crescimento asiático" o ano de 2009, em que o produto decresceu 0,6% verificariam que nos últimos quatro anos o Brasil cresceu em média 4,6%. Esqueceram, também, a possibilidade de usar-se incentivos para estimular o uso mais intensivo dos estoques de capital humano e físico, o que influi, também, na produtividade geral dos fatores. Mas tudo isso é irrelevante. Uma identidade transfigurada ainda é apenas uma identidade, não explica nada.
Continuamos a computar nas "nuvens" e a mostrar do que é capaz o pensamento mágico!

Ligo a TV e novamente vejo a boiada sendo toureada...

Vai uma leizinha aí ? ...em todos os canais "eco-reporteres" não cansam de exaltar a nova lei belorizontina que proíbe a distribuição de saco plástico no comércio  ..claro que pra tanto MENTEM e exageram dizendo que um saco daqueles demora de 100 a 500 anos pra sumir  ..mais claro ainda  foi notarmos que dos depoimentos selecionados só conseguimos ouvir os de quem era favorável a esta tontice  ..e enquanto a boiada MAIS UMA VEZ ficava entretida como farelo de vida que este modelo democrático lhes serve no coxo, mais triste foi não ter ninguém atentando pra se perguntar quanto em impacto ambiental tb custa pra fazermos uma caixa de papelão ou, evidente, se perguntando que em se tirando deste saquinho VAGABUNDO e o substituindo por um MUITO mais durável e resistente - vendido - se isso seria melhor pro meio ambiente - saquinho aqui, daqueles que temos que usar pra embrulhar o lixo doméstico por exemplo ...muuuu
olé !!ooooolé
Mudo de canal e escorrego em mais uma tragédia  ..uma em que um TANQUE para tratamento de esgoto rompeu e espalhou porcaria por um bom pedaço da cidade  ..aqui, de lamentável, foi ter que ouvir pessoas feridas e chorosas narrando que no meio de tanta correria ainda caíam pra ter que engolir um pedaço de bost?  ..pior, pior ainda foi o depoimento duma jovem que pensou que aquela fúria "da natureza" era um TSUNAMI  ..mas que merd?, pensei
ooooolé !!! praqui também
Continuo a me informar e leio que tem gente querendo cirminalizar o bulling  ..gente que acha que o figuras jurídicas como a injúria e a difamação, o constrangimento ilegal, a agressão etc, tudo isso, e mais um pouco de orientação e educação, não seriam suficientes pra conter os mais exaltados e exagerados que hoje são inspirados, muito mais que antes, pelas "pegadinhas" contidas nas inúmeras mídias   ..se assim, haja cadeia, haja internação   ..tudo, menos informação de qualidade, claro
olé olé olé
Dantas protestando por vazamento do inquérito do mensalão  ..Marta querendo o abafamento do caso do piscinão  ..Aécio fugindo do bafômetro ..e Requião tendo suspensa a sua super- aposentadoria de R$ 24 mil por ele ter sido apenas um governador
BOLSA derretendo desde 2010, DILMA dizendo e se contradizendo, COPÃO sendo anunciado como que irá fazer mais do mesmo,  EUA sendo rebaixado, Japão intoxicado, campanha do desarmo-placebo em endamento ..BRASIL promovido a exemplo econômico,  e ainda dando o juros mais alto do mundo...
gente do céu  ..é tanta besteira que eu nem sei o que comentar  ...tem até o FIDEL que continua ameaçando que UM DIA ainda irá se aposentar.
...francamente, de tanta frivolidade fica até difícil escolher um tema pra engatar e prosear
e assim, de besteira em besteira, de distração em distração, às vêzes meio que no tranco e no solavanco me pego novamente a tourear ..difícil
ZZZZzzzzzz ...zzzz
mas hein ?! 
ERR - todos os direitos reservados sobre os erros ortográficos
venha comigo pelo plebiscito - VC é a favor do FIM do SENADO ?

Ditados para Aécio Neves

[...] e demais políticos
- Passarinho que come pedra sabe o cu que tem.
- Cada cachorro que lamba sua perereca. 
- Em rio que tem piranha jacaré nada de costas.
- Mais vale um bife na mão do que duas vacas voando.
- Escreveu, não leu, o pau comeu.
- Pai rico, filho nobre, neto pobre.
- Saco vazio não pára em pé.

por Zé Dirceu

FMI enfia pescoço na terra
Embalado pela realização de sua reunião de primavera - iniciada 6ª feira pp. - O FMI passou a divulgar um relatório ou uma conclusão por dia desde a semana passada. Os julgamentos, avaliações e conclusões são os mais ortodoxas, estapafúrdios e absurdos possíveis. No tocante aos emergentes, sempre catastróficos quanto a inflação, déficits, crescimento...
No fim de semana, anunciou que o crescimento da inflação na China e na Índia, o superaquecimento dos mercados emergentes e a alta dos preços das commodities ameaçam à recuperação econômica global.

Quer dizer, o Fundo continua com o pescoço enfiado na terra. Ele busca as causas da inflação em suas conseqüências. Ora, as causas estão nos Estados Unidos, na política monetária expansionista norte-americana, na enxurrada de dólar no mundo e na sua desvalorização contínua e sem limites.

A desaceleração mundial não está, e nem estará, em supostas medidas fiscais e monetárias da China e da Índia, mas nestas políticas de Washington e na política deliberada e radical da Europa de corte de gastos, salários, pensões e aumento de impostos para deter a insolvência que ameaça toda a União Européia (UE) - pior, até mesmo sua própria existência como bloco econômico.

De pouco, ou nada, adianta, portanto, o anúncio feito pelo FMI, de que vai avaliar até que ponto os apertos fiscais feitos na Índia e na China podem causar desequilíbrio no comércio mundial.

Marketing

Lula escalado pelo PT defenderá reforma política

Malu Delgado e Daiene Cardoso – O Estado de S.Paulo

O comando do PT escalou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como garoto-propaganda da reforma política com o objetivo central de tentar quebrar resistências na sociedade ao financiamento público de campanhas, bandeira do partido.
Em reunião ontem com lideranças do PT em São Paulo, Lula discutiu estratégias para envolver a sociedade civil no debate. Será traçado um cronograma de reuniões com presidentes de partidos, governadores e agentes políticos pelo País. O PT vai definir as datas e eventos no encontro do diretório nacional que será realizado nos dias 29 e 30.
O ex-presidente afirmou, segundo presentes na reunião, que o financiamento público exclusivo de campanha é o modelo ideal, mas certamente não passará no Congresso. Lula alertou os políticos da sigla para a necessidade de debater a reforma política sem açodamento, mas com senso de realidade – não há consenso entre os partidos para aprovar, por exemplo, mudanças na Constituição, que exigem maioria qualificada na Casa.
O objetivo, na avaliação dos petistas, é começar a discussão a partir dos pontos de consenso e levar a proposta para votação no Congresso até setembro. “Vamos defender as nossas ideias, mas queremos ouvir os partidos”, disse o presidente nacional interino do PT, deputado estadual Rui Falcão (SP).
Lula se reuniu ontem com 13 líderes do PT no Instituto Cidadania, local onde o ex-presidente tem feito suas articulações políticas. Em mais de duas horas de reunião, as lideranças fizeram relatos ao ex-presidente dos pontos já aprovados e discutidos nas comissões especiais da reforma política na Câmara e no Senado e enumeraram as resistências dos partidos a cada tema.
“A nossa disposição é tornar esses temas claros ao público”, disse o presidente interino do PT. De acordo com Falcão, o ex-presidente terá duas agendas: uma com os partidos políticos e outra com as organizações civis. Entre as legendas, não está descartada a possibilidade de o ex-presidente discutir o tema também com a oposição, representada por PSDB, DEM e PPS.
“O nosso sentimento é de que este é o momento (de fazer a reforma)”, avaliou o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira. O deputado petista acredita que este é o melhor momento para a reforma porque precede a eleição. “Lula é uma liderança mundial. E a participação dele nesse processo é fundamental.” 

por Alon Feuerwerker

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reagiu mal às duras críticas disparadas contra o texto dele publicado na edição mais recente da revista Interesse Nacional. A faceta de espetáculo da polêmica já envelheceu um pouquinho, mas o cerne do debate é atualíssimo.

Então vale a pena continuar a discussão.

Qual é o núcleo da argumentação do ex-presidente tucano? Que o governo do PT instituiu por meio das diversas políticas públicas uma rede de clientelas, especialmente no povão mas não só, e que é inútil o PSDB disputar essa base social com o PT.

Em vez disso, diz FHC, a oposição deveria buscar preferencialmente a nova classe média. Que, recém saída da base da pirâmide, bate de frente com o déficit de cidadania, de oportunidades, de bem estar.

Na esteira do artigo do ex-presidente tucano, já foi bem dissecado o equívoco de imaginar uma descontinuidade entre o povão e a classe média. Signifiquem o que significarem esses dois elásticos conceitos.

O Brasil não é uma sociedade de castas, é um país de mobilidade social cada vez mais intensa. As classes conectam-se por largos vasos comunicantes.

Mas o ponto da polêmica talvez seja outro. É mesmo verdade que os programas de combate à pobreza quando conduzidos por governos do PT criam uma clientela política? Se for verdade, será razoável concluir que os conduzidos pelo PSDB também criam.

Ou por acaso as campanhas eleitorais dos políticos do PSDB que implementam programas sociais pedem encarecidamente ao povo que não vote neles, para não dar a impressão de clientelismo?

O absurdo do parágrafo anterior é um sintoma de que talvez a premissa esteja errada.

E se estiver, terá sido ótimo FHC levantar a lebre, para que possa ser devidamente abatida. Como disse na coluna anterior sobre o tema, talvez tenha sido a maior contribuição do texto à luta da oposição.

Um olhar rigoroso sobre a política brasileira indica que o clientelismo derivado dos programas sociais é uma suposta verdade ainda em busca de checagem.

Os pobres não são diferentes dos ricos ou da turma que fica no meio da escala social. Votam nos governos de que gostam e votam na oposição quando não gostam do governo.

E é absolutamente cidadão que o eleitor beneficiado por um forte aumento do Bolsa Família ou do salário mínimo escolha os candidatos que julga mais confiáveis para continuar as políticas com as quais concorda.

Nada a ver com clientelismo.

Os programas de renda mínima levam em certas situações o trabalhador a preferir não aceitar uma proposta de emprego de baixíssima remuneração?

Paciência, melhorem as ofertas. Se não podem pagar um salário decente, se a rentabilidade exige trabalho degradante, talvez seja melhor então repensar o negócio.

Situações particulares não permitem concluir que o Bolsa Família e outros programas de transferência de renda criam dependência ou geram acomodação.

Se mesmo quem já tem muito quer sempre ter mais e viver melhor, por que o muito pobre que não tem quase nada vai se acomodar só por receber algum dinheirinho do governo todo mês?

Mais provável é que esse dinheirinho sirva para criar cidadania, e não dependência. Que pai não quer para o filho uma vida melhor e horizontes mais amplos do que ele próprio teve?

A grande sacada dos programas sociais é dar condições de progredir na vida a quem não conseguiria sozinho executar o primeiro passo.

Uma parte da oposição tem relação crítica e dividida com os programas sociais. Uma hora diz que os criou, para em seguida engrossar o caldo de quem vê automaticamente demagogia quando o governo —qualquer governo — se atreve a propor mais repasse de dinheiro público para os pobres.

Estes primeiros meses de governo Dilma Rousseff são um cenário da contradição.

Com a inflação bombando, o crescimento indo bem e a receita adicional decorrente das mandracarias no câmbio, os números mostrarão ao longo do ano que teria havido dinheiro suficiente para pagar bem mais do que R$ 545 de salário mínimo. E também para dar aumento real aos aposentados.

Mas quando os bons números dos impostos aparecerem, o que você acha que o PSDB vai cobrar do governo? Vai dizer que o governo mentiu quando disse que não haveria recursos para um mínimo maior? Ou vai saudar o cumprimento do superávit primário e dizer que isso comprova a continuidade da política econômica de FHC?

Aí fica mesmo difícil falar com o povão.

Os EUA está semi-nu

A Standard & Poor's desnudou um pouco os egocêntricos e farsantes yanques que posam de ricos e poderosos. Mas, que no fundo eles e demais comparsas do mercado financeiro sabem faz tempo que os EUA está quebrado. E a máquina de guerra?...

De que adianta se não tiver dinheiro para abastece-la.

Os States tem tudo a ver com esta historinha:


de Hans Christian Andersen




"Era uma vez um rei, tão exageradamente amigo de roupas novas, que nelas gastava
todo o seu dinheiro. Ele não se preocupava com seus soldados, com o teatro ou com os
passeios pela floresta, a não ser para exibir roupas novas. Para cada hora do dia, tinha
uma roupa diferente. Em vez de o povo dizer, como de costume, com relação a outro
rei: "Ele está em seu gabinete de trabalho", dizia "Ele está no seu quarto de vestir".

A vida era muito divertida na cidade onde ele vivia. Um dia, chegaram hóspedes
estrangeiros ao palácio. Entre eles havia dois trapaceiros. Apresentaram-se como
tecelões e gabavam-se de fabricar os mais lindos tecidos do mundo. Não só os padrões
e as cores eram fora do comum, como, também as fazendas tinham a especialidade de
parecer invisíveis às pessoas destituídas de inteligência, ou àquelas que não estavam
aptas para os cargos que ocupavam.

"Essas fazendas devem ser esplêndidas, pensou o rei. Usando-as poderei descobrir quais
os homens, no meu reino, que não estão em condições de ocupar seus postos, e poderei
substituí-los pelos mais capazes... Ordenarei, então, que fabriquem certa quantidade deste
tecido para mim."

Pagou aos dois tecelões uma grande quantia, adiantadamente, para que logo começassem
a trabalhar. Eles trouxeram dois teares nos quais fingiram tecer, mas nada havia em suas
lançadeiras. Exigiram que lhes fosse dada uma porção da mais cara linha de seda e ouro,
que puseram imediatamente em suas bolsas, enquanto fingiam trabalhar nos teares vazios.

- Eu gostaria de saber como vai indo o trabalho dos tecelões, pensou o rei. Entretanto,
sentiu-se  um pouco embaraçado ao pensar que quem fosse estúpido, ou não tivesse
capacidade para ocupar seu posto, não seria capaz de ver o tecido. Ele não tinha
propriamente dúvidas a seu respeito, mas  achou melhor mandar alguém primeiro, para
ver o andamento do trabalho.

Todos na cidade conheciam o maravilhoso poder do tecido e cada qual estava mais
ansioso para saber quão estúpido era o seu vizinho.

- Mandarei meu velho ministro observar o trabalho dos tecelões. Ele, melhor do que
ninguém, poderá ver o tecido, pois é um homem inteligente e que desempenha suas
funções com o máximo da perfeição, resolveu o rei.

Assim sendo, mandou o velho ministro ao quarto onde os dois embusteiros simulavam
trabalhar nos teares vazios.
- "Deus nos acuda!!!" pensou o velho ministro, abrindo bem os olhos. "Não consigo
ver nada!" Não obstante, teve o cuidado de não declarar isso em voz alta. Os tecelões
o convidaram para aproximar-se a fim de verificar se o tecido estava ficando bonito e
apontavam para os teares. O pobre homem fixou a vista o mais que pode, mas não
conseguiu ver coisa alguma.
- "Céus!, pensou ele. Será possível que eu seja um tolo? Se é assim, ninguém deverá
sabê-lo e não direi a quem quer que seja que não vi o tecido."

- O senhor nada disse sobre a fazenda, queixou-se um dos tecelões.
- Oh, é muito bonita. É encantadora!! Respondeu o ministro, olhando através de seus
óculos. O padrão é lindo e as cores estão muito bem combinadas. Direi ao rei que me
agradou muito. - Estamos encantados com a sua opinião, responderam os dois ao
mesmo tempo e descreveram as cores e o padrão especial da fazenda. O velho ministro
prestou muita atenção a tudo o que diziam, para poder reproduzi-lo diante do rei.

Os embusteiros pediram mais dinheiro, mais seda e ouro para prosseguir o trabalho.
Puseram tudo em suas bolsas. Nem um fiapo foi posto nos teares, e continuaram fingindo
que teciam. Algum tempo depois, o rei enviou outro fiel oficial para olhar o andamento do
trabalho e saber se ficaria pronto em breve. A mesma coisa lhe aconteceu: olhou, tornou
a olhar, mas só via os teares vazios.
- Não é lindo o tecido? Indagaram os tecelões, e deram-lhe as mais variadas explicações
sobre o padrão e as cores.
"Eu penso que não sou um tolo, refletiu o homem. Se assim fosse, eu não estaria à altura
do cargo que ocupo. Que coisa estranha!!"... Pôs-se então a elogiar as cores e o desenho
do tecido e, depois, disse ao rei: "É uma verdadeira maravilha!!"

Todos na cidade não falavam noutra coisa senão nessa esplendida fazenda, de modo que
o rei, muito curioso, resolveu vê-la, enquanto ainda estava nos teares. Acompanhado por
um grupo de cortesões, entre os quais se achavam os dois que já tinham ido ver o
imaginário tecido, foi ele visitar os dois astuciosos impostores. Eles estavam trabalhando
mais do que nunca, nos teares vazios.

- É magnífico! Disseram os dois altos funcionários do rei. Veja Majestade, que delicadeza
de desenho! Que combinação de cores! Apontavam para os teares vazios com receio de
que os outros não estivessem vendo o tecido. O rei, que nada via, horrorizado pensou:
"Serei eu um tolo e não estarei em condições de ser rei? Nada pior do que isso poderia
acontecer-me!" Então, bem alto, declarou:
- Que beleza! Realmente merece minha aprovação!! Por nada neste mundo ele confessaria
que não tinha visto coisa nenhuma. Todos aqueles que o acompanhavam também não
conseguiram ver a fazenda, mas exclamaram a uma só voz:
- Deslumbrante!! Magnífico!!

Aconselharam eles ao rei que usasse a nova roupa, feita daquele tecido, por ocasião de um
desfile, que se ia realizar daí a alguns dias. O rei concedeu a cada um dos tecelões uma
condecoração de cavaleiro, para seu usada na lapela, com o título "cavaleiro tecelão". Na noite
que precedeu o desfile, os embusteiros fiizeram serão. Queimaram dezesseis velas para que
todos vissem o quanto estavam trabalhando, para aprontar a roupa. Fingiram tirar o tecido dos
teares, cortaram a roupa no ar, com um par de tesouras enormes e coseram-na com agulhas
sem linha. Afinal, disseram:

- Agora, a roupa do rei está pronta.

Sua Majestade, acompanhado dos cortesões, veio vestir a nova roupa. Os tecelões fingiam
segurar alguma coisa e diziam: "aqui está a calça, aqui está o casaco, e aqui o manto. Estão
leves como uma teia de aranha. Pode parecer a alguém que não há nada cobrindo a pessoa,
mas aí é que está a beleza da fazenda".

- Sim! Concordaram todos, embora nada estivessem vendo.
- Poderia Vossa Majestade tirar a roupa? propuseram os embusteiros. Assim poderiamos
vestir-lhe a nova, aqui, em frente ao espelho. O rei fez-lhes a vontade e eles fingiram vestir-lhe
peça por peça. Sua majestade virava-se para lá e para cá, olhando-se no espelho e vendo
sempre a mesma imagem, de seu corpo nu.
- Como lhe assentou bem o novo traje! Que lindas cores! Que bonito desenho! Diziam todos
com medo de perderem seus postos se admitissem que não viam nada. O mestre de cerimônias
anunciou:
- A carruagem está esperando à porta, para conduzir Sua Majestade, durante o desfile.
- Estou quase pronto, respondeu ele.

Mais uma vez, virou-se em frente ao espelho, numa atitude de quem está mesmo apreciando
alguma coisa. Os camareiros que iam segurar a cauda, inclinaram-se, como se fossem
levantá-la do chão e foram caminhando, com as mãos no ar, sem dar a perceber que não
estavam vendo roupa alguma. O rei caminhou à frente da carruagem, durante o desfile.
O povo, nas calçadas e nas  janelas, não querendo passar por tolo, exclamava:

- Que linda é a nova roupa do rei! Que belo manto! Que perfeição de tecido!
Nenhuma roupa do rei obtivera antes tamanho sucesso!

Porém, uma criança que estava entre a multidão, em sua imensa inocência, achou aquilo tudo
 muito estranho e gritou:
- Coitado!!! Ele está completamente nu!! O rei está nu!!
O povo, então, enchendo-se de coragem, começou a gritar:
- Ele está nu! Ele está nu!

O rei, ao ouvir esses comentários, ficou furioso por estar representando um papel tão
ridículo! O desfile, entretanto, devia prosseguir, de modo que se manteve imperturbável e os
camareiros continuaram a segurar-lhe a cauda invisível. Depois que tudo terminou, ele voltou
ao palácio, de onde envergonhado, nunca mais pretendia sair. Somente depois de muito
tempo, com o carinho e afeto demonstrado por seus cortesões e por todo o povo, também
envergonhados por se deixarem enganar pelos falsos tecelões, e que clamavam pela volta do
rei, é que ele resolveu se  mostrar em breve aparições...  Mas nunca mais se deixou levar pela
vaidade e perdeu para sempre a mania de trocar de roupas a todo momento.

Quanto aos dois supostos tecelões, desapareceram misteriosamente, levando o dinheiro e os
fios de seda e ouro.