Marcos Coimbra é um irônico. Brinca conosco em seu artigo “A CPI das Reviravoltas”, faz que não sabe o motivo para que a atual CPI instalada no Congresso – CPI do Cachoeira, mude tanto de nome.
Já teria sido do Acerto de Contas, do Juízo Final e da Cortina de Fumaça.
Coimbra sabe, ainda que não o diga, que ela terá todos os que forem necessários para que não tenha seu verdadeiro nome citado.
CPI da Veja ou CPI do PIG.
Um bicheiro ser preso não traz nenhuma novidade, quando muito seria notícia em página policial. Quantos aqui, neste blog, sabiam que até há pouco tempo a "veneranda" cúpula do jogo do bicho carioca estava presa? Notícia foi ter sido solta por ordem do STF.
Desde o início, as grandes notícias das Operações Las Vegas e Monte Carlo eram os relacionamentos de Demóstenes e Policarpo Jr., leia-se Veja, com Carlinhos Cachoeira. E, obviamente, a estrutura de coerção por eles montada.
Na última década, essa estrutura de coerção foi um dos grandes elementos política brasileira. Foi, na prática, o sustentáculo do pensamento conservador no Brasil.
Logo, capazes de perceber o tamanho das conseqüências que uma CPI sobre isso traria, ou seja, o risco de perda ou significativo abalo do seu poder, os Barões da Imprensa trataram de agir.
No início, ainda muito arrogantes, acreditaram que bastava esconder o assunto. "Nós somos a opinião pública, se não tratarmos do assunto ele não existirá".
Falharam, existe a blogosfera e começa a surgir uma mídia tradicional independente, Carta Capital, Record e Bob Fernandes na Rede TV. Some-se a isso o fato de que, além do dever profissional, existe, entre os profissionais do jornalismo, um bocado de justos ressentimentos para com o baronato e seus áulicos. Razão para que o assunto fosse repercutido onde espaço de comunicação houvesse para tal.
Tentaram, então, evitar pelo constrangimento a instalação da CPI.
Velada mas ferinamente os artigos que tratavam do "erro do Lula" diziam: "é melhor deixar tudo como está, vai sobrar para todo mundo e vai sobrar mais para os nossos inimigos". Foi deixado até um gancho onde a base aliada poderia dependurar sua desistência de investigar: "Dilma não quer a CPI, ela prejudica um bom momento do governo, só Lula, por motivos pessoais e mesquinhos quer essa CPI".
Não deu. A cada novo vazamento, mais notícias mostravam que o esquema estava centrado no trinômio Cachoeira+Demóstenes+Veja. Um ou outro deputado do baixo clero também está envolvido. Mas, quem liga para baixo clero?
Há o envolvimento da Delta, claro. A Delta era a lavanderia. Aparentemente a operação do esquema está na Delta do Centro-Oeste. O que acabou sendo péssimo para Marconi Perillo, governador de Goiás, flagrado de braguilha aberta. Mas a Delta não atua apenas em Goiás.
O PIG percebeu a possibilidade de melar a coisa toda. Envolvendo o governador do DF e o indefectível Sergio Cabral e seu exibicionismo classe-média e grosseirão. Ocorre que relacionamento indevido, se não criminoso, entre governadores e empreiteiras é uma das doenças venéreas deste país. E estas, podem ser até comentadas com escárnio pelos inimigos, mas guardando sempre o cuidado de nesses comentários não acabar por envolver algum parente. E a Delta tem contratos por todo o Brasil, inclusive em São Paulo. E, se envolve São Paulo não é bom para o PIG.
Não podendo evitar a CPI, tentaram circunscrevê-la. Fica combinado assim, é para investigar Cachoeira+Demóstenes+ a Delta do Perillo e de Agnelo. Cabral fica de troco.
Só que para isso não é necessária uma CPI, bastam as investigações da Policia Federal. Como diria Garrincha, teriam de combinar com os russos. Nossos deputados e senadores podem ser chamados de tudo, principalmente venais, mas tolos não são. Se essa CPI pode ser lhes de valor é exatamente por poder investigar o que a PF não investigará.
Aí tocou o alarme, e eles apertaram o botão de pânico - o Mensalão.
E, para mal dos seus pecados, descobriram que o Mensalão é bananeira que já deu cacho. Assunto velho de 7 anos, dois mandatos atrás. Para se ter uma idéia de como o assunto é velho, na época do Mensalão, o FMI e suas recomendações ainda eram notícias no nosso jornalismo econômico. Alguém realmente acha que o resultado do julgamento do Mensalão vá abalar a República?
A CPI está aí e seguirá seu curso, seja qual for. Mas, malgrado os temores da grande mídia, esta não é ou será a CPI do Cachoeira. O bicheiro não é o assunto.
Colar o Procurador Geral da República na parede é acusar o acusador, mas é só o início. Começa assim, depois é CPI do PIG, quando as vidraças baterão no estilingue.
É isso que o Instituto Millennium quer evitar.
Lembremos que essa organização já se sentiu tão poderosa que havia dispensado o Congresso Nacional e assumido o seu lugar - "nós somos a oposição". Já se achou tão poderosa que colocava faca no pescoço de juiz do Supremo e, através de pessoa interposta, chamava o Presidente da República às falas. Exerceu seu poder como uma déspota ensandecida.
Não nos enganemos, é de poder, da troca de poder ou do seu re-equilíbrio que essa CPI está tratando.
Poderia até ser chamada de CPI do Aroeira, inspirada nos versos de Geraldo Vandré: “É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”.