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A Outra História do Mensalão – As contradições de um julgamento político

Um livro corajoso, independente e honesto, o jornalista Paulo Moreira Leite, que foi diretor de Época e redator-chefe de Veja, entre outras publicações, ousa afirmar que o julgamento do chamado mensalão foi contraditório, político e injusto, por ter feito condenações sem provas consistentes e sem obedecer a regra elementar do Direito segundo a qual todos são inocentes até que se prove o contrário.

Os acusados estavam condenados – por aquilo que Moreira Leite chama de opinião publicada, que expressa a visão de quem tem acesso aos meios de comunicação, para distinguir de opinião pública, que pertence a todos — antes do julgamento começar.

Naquele que foi o mais midiático julgamento da história brasileira e, possivelmente, do mundo, os juízes foram vigiados pelo acompanhamento diário, online, de todos os seus atos no tribunal. Na sociedade do espetáculo, os juízes eles se digladiaram, se agrediram, se irritaram e até cochilaram aos olhos da multidão, como num reality show.

Este livro contém os 37 capítulos publicados pelo autor em blog que mantinha em site da revista Época, durante os quatro meses e 53 sessões no STF. A estes artigos Moreira Leite acrescentou uma apresentação e um epílogo, procurando dar uma visão de conjunto dos debates do passado e traçar alguma perspectiva para o futuro.

O amor pelos livros

Julio Ramón Ribeyro, em "O amor pelos livros", diferenciava o bom leitor do amante dos livros. Enquanto o primeiro se relacionava com os livros pragmaticamente, os utiliza e os esquece, o amante dos livros estabelece um relacionamento físico com eles. O livro não é um conjunto de páginas impressas, mas um corpo que não só tem que ser lido, mas cheirado, sentido, alinhado em uma estante e incorporado a esse patrimônio tão pessoal.
           
Considero-me nesse segundo grupo. Como recorda Ribeyro, quando um de nós compra um livro, o toca, vira as páginas, sente seu cheiro, muitas vezes não quer que seja embalado, coloca o seu nome e o encapa, pois deve ser bem cuidado e mostrar que tem dono. Os amantes de livros são, também, aqueles que colocam notas, destacam as linhas mais relevantes, que fazem com que seja um exemplar único. Essa relação de posse fica clara em sua recusa e horror em emprestar um livro. Mas da mesma forma, não gosta de pedir emprestado, pois essa relação física se perde.
          
Mas o que é mais necessário é ter espaço para eles. Ao passar de uma prateleira para uma estante, de uma estante para um conjunto delas, você acaba tendo uma biblioteca particular. Nem todos podem. Mas mesmo para aqueles que têm essa sorte, o problema não desaparece. Então você tem que tomar medidas drásticas, livrar-se de alguns livros. Como qualquer amputação, o resultado é doloroso. A verdade é que com o tempo, você percebe que alguns livros já não interessam ou que você não voltará a lê-los. Assim, de vez em quando, eu faço um repasse de livros. Agora eu me desprendo desses livros sem culpa. Eu os doo a alguma biblioteca.

Fernando Tuesta

Mochila social


Desenvolvimento Social na África

Um livro que contará sobre a experiência de se viajar sozinho pela África em busca de um olhar sobre o desenvolvimento social no leste africano. 

Uma expedição ao velho e bom estilo mochileiro, mas com tempero de responsabilidade social, humanismo e aprendizado!

Mochila Social
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O Dia da Bíblia


Celebrado no segundo domingo de dezembro, o Dia da Bíblia foi criado em 1549, na Grã-Bretanha pelo Bispo Cranmer, que incluiu a data no livro de orações do Rei Eduardo VI. O Dia da Bíblia é um dia especial, e foi criado para que a população intercedesse em favor da leitura da Bíblia. No Brasil a data começou a ser celebrada em 1850, quando chegaram da Europa e EUA os primeiros missionários evangélicos. Porém, a primeira manifestação pública aconteceu quando foi fundada a Sociedade Bíblica do Brasil, em 1948, no Monumento do Ipiranga, em São Paulo (SP).

E, graças ao trabalho de divulgação das Escrituras Sagradas, desempenhado pela entidade, o Dia da Bíblia passou a ser comemorado não só no segundo domingo de dezembro, mas também ao longo de todas a semana que antecede a data. Desde dezembro de 2001, essa comemoração tão especial passou a integrar o calendário oficial do país, graças à Lei Federal 10.335, que instituiu a celebração do Dia da Bíblia em todo o território nacional.  

O Brasil de duas caras foi desmascarado na quarta-feira (7/11), no coração de Porto Alegre

A obra Uma Reportagem, Duas Sentenças, que o jornalista Elmar Bones autografou na 58º Feira do Livro, na capital gaúcha, é uma pancada doída no fígado de um país marcado pela hipocrisia e um choque na consciência de duas instituições fundamentais da democracia: a Mídia e a Justiça.

Nas suas enxutas 144 páginas, arrumadas em apenas duas semanas numa edição modesta da combalida editora do autor, a denúncia de Bones é um oportuno dique de contenção e reflexão contra a maré triunfalista de uma imprensa caudalosa nos elogios sem freios à Suprema Corte que julga a enxurrada de falcatruas da quadrilha do mensalão.
Existe corrupção e existem juízes em Brasília, como prova  o STF. Mas também existe corrupção e faltam juízes em Porto Alegre, como lembra Bones, vítima do mais persistente, inclemente, longo processo judicial contra a liberdade de expressão no país. Não existe paralelo de uma ação tão prolongada da Justiça contra um órgão de imprensa no Brasil pós-ditadura de 1964, tudo isso sob o silêncio continuado da mídia e a inércia complacente de juízes.
É um absurdo contraponto de mutismo e omissão em Porto Alegre ao espetáculo de estridência e protagonismo que se escuta e vê em Brasília. A mídia e a justiça estão lá e cá, em campos opostos, emitindo sinais contraditórios sobre seus papéis. Cumprem bem seu ofício na capital brasileira e fazem muito mal (ou não fazem) o seu trabalho na capital gaúcha. Leia mais>>>

Literatura: Quarto de despejo


Quebrando o jejum aqui no blog. Impossível não escrever depois que descobri o Quarto de despejo, da Carolina Maria de Jesus, na biblioteca da editora (onde trabalho). Já havia tomado conhecimento dele em mais de uma aula da faculdade, infelizmente, em nenhuma de literatura brasileira. Não sei se pelo fato de ser um diário, escrito entre os anos de 1958 e 1959, por desconhecimento dos professores (a gente sempre prefere achar que não), ou se porque o tema realmente não interessou nenhum dos docentes.
O livro é o diário de Carolina, moradora da favela do Canindé, em São Paulo, que, nos anos 1950, cata lixo para sobreviver e, assim, poder cumprir suas únicas ambições em vida: ter o que dar de comer aos filhos e escrever. A autora do diário não apenas lê e escreve como mostra lucidez e uma visão crítica, porém poética, das condições de vida dos favelados. Carolina escreve sobre sua situação e a dos demais moradores do Canindé. O objetivo, segundo a autora, é mostrar para o mundo, de forma sensível, as condições em que vivem os favelados e o descaso dos políticos, que só se aproximam dos mesmos em época de eleição. Leia mais>>>

Crônica semanal de Luis Fernando Verissimo


Multidões

Em Lisboa e Londres você pode escolher a multidão que quer seguir: a que está indo para mais uma manifestação contra o governo e suas medidas de austeridade, ou a que está indo para o Bairro Alto de Lisboa e o Soho de Londres, para encher suas ruas, seus bares e seus restaurantes.

Claro que uma multidão não desautoriza a outra. Você pode mesmo aderir às duas sem se contradizer. Nem o movimento no Bairro Alto e no Soho (só para pegar dois exemplos que devem se repetir em outros países como a Espanha e até, imagino, a Grécia) desmente a crise, nem a crise impede as pessoas de se divertirem, até para não pensar muito nela.
E não se deve esquecer que boa parte das pessoas que pulam de tasca em tasca no Bairro Alto e transbordam dos pubs no Soho são turistas, em férias da realidade, qualquer realidade.
Seja como for, o Marciano Hipotético que descesse no meio dessas multidões teria dificuldade em fazer seu relatório sobre o que viu. Todo o mundo revoltado ou todo o mundo alienado? Ou, em linguagem de marciano, fifti-fifti?

Literatura: "Lá sou amigo do rei"


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O AUTOR COM DILMA, UMA DE SUAS AMIZADES MAIS PRÓXIMAS
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O jornalista e escritor Carlos Marques promove nesta quarta-feira (7) o lançamento do seu elogiado livro de memórias "Lá sou amigo do rei" (ed. Geração, SP, 264 pp). 
O lançamento será realizado a partir das 19h no Bar do Mercado, de Jorge Ferreira, localizado na avenida W 3 Sul. O próprio Marques vai preparar para os convidados o "Camarão à Dona Tita, descrito na página 159 do livro, "como já o fiz nos restaurantes parisienses nas épocas de vacas magras que continuam magérrinas... mas resistentes." 
O editor Luiz Fernando Emediato foi a primeira pessoa surpreendida pelo aliciante "Lá sou amigo do rei", um daqueles casos em que se tem dificuldades de parar a leitura, conforme escreveu o escritor Ruy Castro, contemporâneo de Marques no Solar da Fossa, no Rio de Janeiro. Na apresentação da obra, Emediato brinca com a própria surpresa: "Você já ouviu falar em Carlos Marques? Pois você não é o único: quase ninguém ouviu falar dele. E, no entanto, ele esteve envolvido com alguns dos acontecimentos mais marcantes do século XX, no Brasil e no mundo, e foi amigo de celebridades como Salvador Dalí, Jean Genet, Pelé, Fidel Castro, Khrishnamurti, João Paulo II e Dilma Rousseff, entre muitas outras." 
Para o editor da Geração, "a vida de Carlos Marques lembra muito a de um personagem de romance picaresco. Depois de uma infância paupérrima em Jaboatão dos Guararapes, PE, onde brincava com os ossinhos dos irmãos mortos enterrados no jardim, Carlos torna-se repórter graças à influência do poeta Ascenso Ferreira, envolve-se com movimentos sociais e acaba discípulo do educador Paulo Freire. Quando sobrevém o Golpe de 64, ele é preso e torturado por causa de sua associação com Freire; posteriormente é obrigado a fugir do Brasil e exilar-se em Paris. De repórter da revista Manchete tornou-se cineasta, com um filme premiado no Festival de Veneza, e compositor. Este volume traz como brinde um CD com 17 das composições desse homem polivalente e inacreditavelmente cara de pau"

“Game of Thrones” o livro de fantasia mais vendidos do século


O livro “A Guerra dos Tronos”, da cultuada série “As Crônicas de Gelo e Fogo”, é o mais vendido do século na categoria Fantasia, informa nova pesquisa.
A obra do escritor George R. R. Martin superou a icônica “Bíblia”, clássico fantástico co-escrito por 39 autores há centenas, talvez milhares, de anos.
Os dados da pesquisa revelaram que, impulsionada pela série homônima de TV, a saga ‘Game of Thrones’ vendeu nos últimos 12 anos uma média de 86 mil cópias semanais, contra 72 mil do best-seller cristão.
A narrativa fala sobre um mundo arcaico, onde reis, rainhas, magos e renegados disputam o trono de um reino, em conflitos que duram séculos até que todos protagonistas morram sacrificados.
“Há muita semelhança entre as duas obras”, explica o bibliotecário Hilário Miranda. “A Guerra os Tronos” destaca-se pela quantidade de batalhas épicas, enquanto o forte da ‘Bíblia’ está nos personagens com poderes divinos e habilidades mágicas”, ressalta.
Hilário credita o sucesso de vendas dos livros ao boom do gênero Fantasia, voltado principalmente para leitores com dificuldade em se relacionar socialmente.
“Na Bíblia, Deus manda Abraão sacrificar seu filho Isaac, enquanto em ‘Game of Thrones’, Cersei manda matar todos os bastardos de Robert”, compara Hilário. “Este tipo de intriga atrai bastante os leitores de hoje”, explica.
As terceira e quarta posições da lista se mantiveram com a trilogia “O Senhor dos Anéis” e a saga “Harry Potter”.

Volta ao mundo em doze escolas



O que existe de inovador na educação hoje?
Neste projeto, o coletivo Educação pretende relatar, em um livro, modelos de aprendizagem espalhados por vários cantos do mundo, com o propósito de inspirar pais inquietos, jovens curiosos e educadores empreendedores. André Gravatá, Carla Mayumi, Camila Piza e Eduardo Shimahara são os apaixonados por educação responsáveis por esse projeto.

Livro Volta ao Mundo em 12 EscolasLeia mais

Centro Cultural Bicicloteca

Centro Cultural Bicicloteca
Cultura na garupa da bike.
A Bicicloteca é uma Biblioteca itinerante que leva cultura para pessoas em situação de rua no centro de São Paulo. 

Em 2011, foram feito 107.000 empréstimos e a Bicicloteca recebeu 40.000 livros em doações. 

Simbora dar continuidade pra essa baita iniciativa?

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Livro de auto-ajuda

Uma negra entra numa livraria e escolhe o livro: Resolve todos os seus problema. Vai até um balconista e pergunta:
- Moço este livro resolve mesmo todos os problemas?
- Todos não. Mas, resolve a metade.
- Então vou levar dois.

Livro: Os pecados do Vaticano

O escritor já publicou outros livros com o mesmo tema, exemplo: A vida secreta dos Papas

José Maria Mayrink
Soberba, avareza, luxúria e pedofilia, os itens enumerados na capa de Os Pecados do Vaticano, são apenas uma amostra dos escândalos que Claudio Rendina, escritor, poeta e historiador descreve em 352 páginas, com lupa de pesquisador e experiência de vaticanista. Lançada em 2009, a obra vendeu 30 mil exemplares em um mês. Não só pelo apelo do título e pelo conteúdo do índice - sete capítulos e apêndice -, mas também pela ficha bibliográfica do autor. Rendina escreveu, anteriormente, outros livros na mesma linha, entre eles Cardeais e CortesãsHistória dos Segredos do Vaticano e A Vida Secreta dos Papas, sempre com muito sucesso. É um autor que incomoda o Vaticano, mas não deixa de ser respeitado.
Com base em documentos e citações fidedignas, Rendina descreve tramoias financeiras, aventuras sexuais, crimes de homicídio e massacres institucionais praticados por autoridades da Igreja. Os escândalos vêm desde os primeiros séculos, multiplicam-se na Idade Média e avançam até os tempos modernos. No caso da pedofilia, por exemplo, que incrimina cardeais e papas da época do Renascimento, as denúncias chegam até os dias de hoje. Ao tratar de assassinatos de pontífices no passado, o autor registra a suspeita de que João Paulo I teria sido envenenado em 1978 numa suposta queima de arquivo. O título do novo livro de Rendina soa um tanto panfletário - o conteúdo, porém, é sério.
OS PECADOS DO VATICANO - SOBERBA, AVAREZA, LUXÚRIA, PEDOFILIA
Autor: Claudio Rendina 
Tradução: Aderbal Torres 
Editora: Gryphus (353 págs., R$ 49,90)

Um livro lido e rererererelido


Para o paulistano, José Serra é um livro aberto. Praticamente 100% dos eleitores da cidade de São Paulo declaram conhecê-lo. Natural. Já foi lido e relido em quase todos os capítulos que um político pode escrever. Sua biografia mistura Legislativo e Executivo. A Câmara, o Senado, dois ministérios, a prefeitura, o governo do Estado.
Recém-saído da vitrine presidencial, Serra encontra-se mergulhado em sua oitiva eleição majoritária. Cavalga um partido cuja hegemonia estadual está na bica de completar aniversário de 20 anos. Com tudo isso, Serra frequenta as últimas quatro sondagens do Datafolha em posição paradoxal.
Serra lidera as pesquisas. Mas não encontra nas planilhas nenhuma razão para comemorarações. Estacionou na casa dos 30%. Para quem já foi quase tudo, é pouco, muito pouco, pouquíssimo. É como se o eleitor, conhecendo-o de cabo a rabo, gritasse para o candidato tucano: ‘A mim é que você não engana’.
Em março, pouco depois prevalecer nas prévias do PSDB, Serra escalara o octógono com cara de Anderson Silva. Deu uma voadora de nove pontos. Dos 21% que o Datafolha lhe atribuíra dois meses antes, saltou para a casa dos 30%. Submetido a adversários com pouca visibilidade e nenhuma passagem por cargos executivos, parecia diante de uma briga fácil.
Desde então, foram às manchetes três pesquisas do Datafolha. Em 17 de junho, Serra cravou os mesmos 30%. Em 27 de junho, a três dias da convenção que o confirmaria como candidato, amealhou 31%. Nesta quinta (19) e na sexta-feira (20), os pesquisadores do instituto voltaram ao meio fio. Na nova sondagem, a primeira depois da temporada de composições de chapas e coligações, Serra aparece, de novo, com 30%.
Serra virou, por assim dizer, uma notícia velha, jornal de ontem. No retrato momentâneo esboçado pelos dados do Datafolha, a novidade é Celso Russomano. Em janeiro, quando Serra tinha 21%, Russomano somava 17%. Foi a 19% em março, amealhou 21% e 24% nas duas rodadas de junho e cravou 26% agora. Quer dizer: estacionado, Serra enxerga o azarãoRussomano avançar sobre o seu retrovisor.
Quem conhece de eleições sabe que o jogo de São Paulo está longe de ser jogado. Os principais lances da partida virão junto com a propaganda eletrônica no rádio e, sobretudo, na tevê. Ao volante de um inexpressivo PRB e de uma coligação esquálida com o PTB, Russomano terá de fazer milagre para manter a aparência de candidato competitivo com seus 2 minutos de tevê. Mas está claro que os rivais e a imprensa já não podem ignorá-lo.
Na rabeira do Datafolha, roçando parachoques, embolam-se Fernando Haddad (PT), Soninha Francine (PPS), Gabriel Chalita (PMDB) e Paulinho da Força Sindical (PDT), empatados e empacados num intervalo que varia dos 5% aos 7%. Entre todos, os menos conhecidos são Haddad e Chalita.
O primeiro dispõe de padrinho (Lula), partido e bom tempo de tevê (8 minutos). O outro tem boa lábia, máquina partidária e vitrine eletrônica que, se não é comparável à dos principais antagonistas, tampouco é negligenciável (4min30s). Portanto, seria temerário tratar Haddad e Chalita como cartas fora do baralho.
Assim, considerando-se os números colecionados até aqui pelo Datafolha, esboça-se em São Paulo uma eleição de dois turnos. Serra ainda reúne as condições mínimas para passar ao segundo round. Mas não se revelou, por ora, o favorito que supunha ser. Ao contrário. Potencializa-se a impressão de que Serra tornou-se o candidato mais bem cotado para fazer do rival que disputar com ele o turno final o próximo prefeito de São Paulo.
Serra vive a crise dos 30. Para superá-la, terá de convencer o paulistano de que deseja ardentemente colocar sua experiência a serviço de um município que já governou. Para alguém que rasgou o compromisso de exercer o mandato de prefeito até o fim e sonha diuturnamente com o Planalto, não é tarefa simples. A renitência dos 30% insinua que o eleitor quer virar a página. Para a frente, não para trás. Entre o livro aberto e as incógnitas, o dono do voto flerta com a enganação nova.
por Josias de Souza

Artigo semanal de Leonardo Boff


Nós ocidentais, os principais responsáveis

O complexo de crises que avassala a humanidade nos obriga a parar e a fazer um balanço. É o momento filosofante de todo observador crítico, caso queira ir além dos discursos convencionais e intrasistêmicos.

Por que chegamos à atual situação que objetivamente ameaça o futuro da vida humana e de nossa obra civilizatória? Respondemos sem maiores justificativas: os principais causadores deste percurso são aqueles que nos últimos séculos detiveram o poder, o saber e o ter. Eles se propuseram dominar a natureza, conquistar o mundo inteiro, subjugar os povos e colocar tudo a serviço de seus interesses.
Para isso foi utilizada uma arma poderosa: a tecnociência. Pela ciência identificaram como funciona a natureza e pela técnica operaram intervenções para benefício humano sem reparar nas consequências.
Esses senhores que realizaram esta saga foram os ocidentais europeus. Nós latino-americanos fomos à força agregados a eles como um apêndice: o Extremo Ocidente.
Estes ocidentais, entretanto, estão hoje extremamente perplexos. Perguntam-se aturdidos: como podemos estar no olho da crise, se possuímos o melhor saber, a melhor democracia, a melhor consciência dos direitos, a melhor economia, a melhor técnica, o melhor cinema, a maior força militar e a melhor religião, o Cristianismo?
Ora, estas “conquistas” estão postas em xeque, pois elas, não obstante seu valor, inegavelmente não nos fornecem mais nenhum horizonte de esperança. Sentimos: o tempo ocidental se esgotou e já passou. Por isso perdeu qualquer legitimidade e força de convencimento.
Arnold Toynbee, analisando as grandes civilizações, notou esta constante histórica: sempre que o arsenal de respostas para os desafios não é mais suficiente, as civilizações entram em crise, começam a esfacelar-se até o seu colapso ou assimilação por outra. Esta traz renovado vigor, novos sonhos e novos sentidos de vida pessoais e coletivos. Qual virá? Quem o sabe? Eis a questão cruciante.
O que agrava a crise é a persistente arrogância ocidental. Mesmo em decadência, os ocidentais se imaginam ainda a referência obrigatória para todos.
Para a Bíblia e para os gregos esse comportamento constituía o supremo desvio, pois as pessoas se colocavam no mesmo pedestal da divindade, tida como a referência suprema e a Última Relidade. Chamavam a essa atitude de hybris, quer dizer: arrogância e excesso do próprio eu.
Foi esta arrogância que levou os EUA a intervir, com razões mentirosas, no Iraque,depois no Afeganistão e antes na América Latina, sustentando por muitos anos regimes ditatoriais militares e a vergonhosa Operação Condor pela qual centenas de lideranças de vários países da América Latina foram sequestradas e assassinadas.
Com o novo Presidente Barak Obama se esperava um novo rumo, mais multipolar, respeitador das diferenças culturais e compassivo para com os vulneráveis. Ledo engano. Está levando avante o projeto imperial na mesma linha do fundamentalista Bush.
Não mudou substancialmente nada nesta estratégia de arrogância. Ao contrário, inaugurou algo inaudito e perverso: uma guerra não declarada usando “drones”, aviões não tripulados. Dirigidos eletronicamente a partir de frias salas de bases militares no Texas atacam, matando lideranças individuais e até grupos inteiros nos quais supõe estarem terroristas.
O próprio cristianismo, em suas várias vertentes, se distanciou do ecumenismo e está assumindo traços fundamentalistas. Há uma disputa no mercado religioso para ver qual das denominações mais aglomera fiéis.
Assistimos na Rio+20 a mesma arrogância dos poderosos, recusando-se a participar e a buscar convergências mínimas que aliviassem a crise da Terra.
E pensar que, no fundo, procuramos a singela utopia bem expressa por Pablo Milanes e Chico Buarque: “a história poderia ser um carro alegre, cheio de um povo contente”.

A mentira e os números


Quando se trata de enganar, o uso de números é a ferramenta mais eficaz para manipular o público. É o que defende Charles Seife, mestre em matemática pela Universidade de Yale e professor de jornalismo na Universidade de Nova York, no livro "Os Números (Não) Mentem".
Segundo Seife, qualquer fraude ganha veracidade quando a matemática é empregada. As teses mais absurdas são "fundamentadas" em estatísticas questionáveis, e isso acontece com frequência.
"Nossa sociedade hoje está submersa em falsidades numéricas. Usando um punhado de técnicas poderosas, milhares de pessoas forjam números sem fundamentos e nos faz engolir inverdades", acusa Seife.
Para compor o volume, o autor analisou diversas informações divulgadas pela imprensa mundial. A proposta da edição é desenvolver no leitor um ceticismo necessário para combater esses dados.
Na civilização ocidental, algarismos possuem uma força quase mística. Com essa arma, qualquer pessoa inescrupulosa pode interferir em eleições, promovendo ou derrubando candidatos, ou maquiar a eficiência de um produto.
Abaixo, leia um trecho do exemplar.
INTRODUÇÃO
Falácias matemáticas
"A mentalidade americana parece extremamente vulnerável à crença de que qualquer conhecimento exprimível em números na verdade é tão definitivo e exato quanto as cifras que o expressam."
Richard Hofstadter, Anti-Intellectualism in American Life
"Em minha opinião, o Departamento de Estado, um dos mais importantes do governo, está totalmente infestado de comunistas." Mas não foram essas as palavras que, pronunciadas diante de um pequeno grupo de mulheres do estado da Virgínia Ocidental, projetaram o desconhecido senador do Wisconsin para o centro das atenções públicas. Foi a frase que vinha logo a seguir.
Brandindo um maço de papéis, o carrancudo Joe McCarthy conquistou seu lugar nos livros de história com uma afirmação impudente: "Tenho aqui em minhas mãos uma lista de 205. Uma lista de nomes, de conhecimento do secretário de Estado, que são membros do Partido Comunista e, apesar disso, continuam trabalhando e ditando os rumos no Departamento de Estado."
Aquele número - 205 - foi como uma descarga elétrica que levou Washington a agir contra os comunistas infiltrados. Pouco importa que fosse mentira. A conta chegou a 207 e voltou a cair no dia seguinte, quando McCarthy escreveu ao presidente Truman dizendo: "Conseguimos compilar uma lista de 57 comunistas no Departamento de Estado." Alguns dias depois, o número se estabilizou em 81 "riscos à segurança". McCarthy fez um longo discurso no Senado, fornecendo mais detalhes sobre grande número de casos (menos de 81), mas não revelou dados suficientes para que se checassem as afirmações.
Na fato, não importava se a lista tinha 205, 57 ou 81 nomes. O simples fato de McCarthy associar um número às acusações lhes conferia uma aura de verdade. Será que o senador faria declarações tão específicas se não tivesse provas? Ainda que as autoridades da Casa Branca desconfiassem de um blefe, os números faziam com que elas duvidassem de si mesmas.¹ As cifras davam peso às acusações de McCarthy; eram muito sólidas, específicas demais para serem ignoradas. O Congresso foi obrigado a realizar audiências na tentativa de salvar a reputação do Departamento de Estado - e do governo Truman.
O fato é que McCarthy mentia. O senador não fazia a menor ideia se o Departamento de Estado abrigava 205, 57 ou um só comunista; atirava a esmo e sabia que as informações em que se baseava de nada valiam. Porém, de uma hora para outra, depois de tornar pública a acusação e de o Senado declarar que realizaria audiências sobre o assunto, precisava encontrar alguns nomes. Assim, procurou o magnata da imprensa William Randolph Hearst, anticomunista inflamado, para ajudá-lo a compor uma lista. Como se recorda Hearst: "Joe nunca teve nenhum nome. Ele nos procurou. 'O que eu vou fazer? Vocês precisam me ajudar.' Então, demos a ele um punhado de bons repórteres."
Nem o auxílio de meia dúzia de repórteres e colunistas de Hearst pôde dar alguma substância à lista de McCarthy. Quando começaram as audiências, em março de 1950, ele não foi capaz de apresentar o nome de um só comunista a serviço do Departamento de Estado. Isso não
fazia a menor diferença. As acusações numéricas de McCarthy haviam chegado no momento certo. A China acabava de se tornar comunista e, no final das audiências, a Coreia do Norte invadiu a do Sul. Os Estados Unidos estavam aterrorizados com a crescente onda comunista no mundo, e o blefe do parlamentar o transformou, quase do dia para a noite, num símbolo de resistência. Um obscuro senador do baixo clero havia se tornado uma das figuras políticas mais famosas e polêmicas. Seu discurso sobre os 205 comunistas foi uma das mentiras mais eficientes da história americana.
A força do discurso de McCarthy vinha de um número. Embora fosse uma ficção, aquilo conferia credibilidade às mentiras do senador, sugerindo que o maço de papéis em suas mãos estava cheio de fatos incriminadores sobre funcionários específicos do Departamento de Estado. O número 205 parecia uma "prova" sólida de que as acusações do parlamentar deviam ser levadas a sério.
Como sabia McCarthy, os números podem ser uma arma poderosa. Em mãos ágeis, dados adulterados, estatísticas fajutas e matemática ruim podem dar aparência de verdade à ideia mais fantasiosa, à falsidade mais acintosa. Podem ser usados para oprimir os inimigos, destruir os críticos e pôr fim à discussão. Algumas pessoas, aliás, desenvolveram uma habilidade extraordinária no uso de números forjados para provar falsidades. Tornaram-se mestres da falácia matemática: a arte de empregar argumentos matemáticos enganosos para provar algo que nosso coração diz ser verdade - ainda que não seja.
Nossa sociedade hoje está submersa em falsidades numéricas. Usando um punhado de técnicas poderosas, milhares de pessoas forjam números sem fundamentos e nos fazem engolir inverdades. Anunciantes adulteram números para nos convencer a comprar seus produtos, políticos manipulam dados para se reeleger. Gurus e profetas usam cálculos fraudulentos para nos fazer acreditar em previsões que parecem nunca se realizar. Negociantes usam argumentos matemáticos enganosos para tomar nosso dinheiro. Pesquisas de opinião fingem ouvir o que temos a dizer e usam falácias matemáticas para nos dizer em que acreditar.
Às vezes, essa gente recorre a essas técnicas para tentar nos convencer de bobagens e absurdos. Algumas pessoas, inclusive cientistas, já lançaram mão de números falsos para mostrar que, um dia, os velocistas olímpicos vão romper a barreira do som e que existe uma fórmula exata para determinar quem tem a bunda perfeita. Não há limites para o grau de absurdo das falácias matemáticas.
Ao mesmo tempo, esses truques têm consequências gravíssimas. Invalidam eleições, coroando vencedores sem legitimidade - tanto republicanos quanto democratas. Pior ainda, são usados para manipular os resultados de eleições futuras; políticos e juízes empregam cálculos distorcidos para influenciar distritos eleitorais e comprometer o recenseamento que determina quais americanos serão representados no Congresso. As falsificações numéricas, em grande medida, são responsáveis pela quase destruição de nossa economia - e pelo desaparecimento de mais de US$ 1 trilhão do Tesouro, que desceram pelo ralo. Promotores e magistrados recorrem a números enganosos para inocentar culpados e condenar inocentes - e até para sentenciá-los à morte. Em suma, a matemática ruim está solapando a democracia nos Estados Unidos.
A ameaça vem tanto da direita quanto da esquerda. Aliás, algumas vezes parece que a falácia matemática é a única coisa que une republicanos e democratas. Contudo, é possível reagir a ela. Quem já aprendeu a reconhecê-la consegue identificá-la em quase toda parte, enredando o público numa teia de falsidades evidentes. Os mais atentos encontram nesses truques uma fonte diária da maior diversão - e da mais negra indignação.
Quando conhecemos os métodos empregados na transformação de números em falsidades, ficamos imunizados contra eles. Quando aprendemos a remover as adulterações matemáticas do caminho, alguns dos temas mais controvertidos passam a ser simples e diretos. Por exemplo, a questão de quem de fato venceu a eleição presidencial de 2000, nos Estados Unidos, fica clara como água. (A resposta é surpreendente, e quase ninguém - nem Bush nem Al Gore, e quase nenhum dos eleitores dos dois candidatos - estaria disposto a aceitá-la.) Entenda as falácias matemáticas, e você será capaz de revelar muitas verdades encobertas por um nevoeiro de mentiras.
"Os Números (Não) Mentem"
Autor: Charles Seife
Editora: Zahar

Porque os EUA fracassaram


por Paulo Nogueira - no Diario do Centro do Mundo
< << Os americanos estão muito mais para isso que para Bill Gates
Morris Berman, 67 anos, é um acadêmico americano que vale a pena conhecer.
Acabo de ler “Por Que os Estados Unidos Fracassaram”, dele. A primeira coisa que me ocorre é: tomara que alguma editora brasileira se interesse por este pequeno – 196 páginas — grande livro.
A questão do título é respondida amplamente. Você fecha o livro com uma compreensão clara sobre o que levou os americanos a um declínio tão dramático.
O argumento inicial de Berman diz tudo. Uma sociedade em que os fundamentos são a busca de status e a aquisição de objetos não pode funcionar.
Berman cita um episódio que viu na televisão. Uma mulher desabou com o rosto no chão em um hospital em Nova York. Ela ficou tal como caiu por uma hora inteira, sob indiferença geral, até que finalmente alguém se movimentou. A mulher já estava morta.
“O psicoterapeuta Douglas LaBier, de Washington, tem um nome para esse tipo de comportamento, que ele afirma ser comuníssimo nos Estados Unidos: síndrome da falta de solidariedade”, diz Berman. “Basicamente, é um termo elegante para designar quem não dá a mínima para ninguém senão para si próprio. LaBier sustenta que solidariedade é uma emoção natural, mas logo cedo perdida pelos americanos porque nossa sociedade dá foco nas coisas materiais e evita reflexão interior.”
Berman afirma que você sente no ar um “autismo hostil” nas relações entre as pessoas nos Estados Unidos. “Isso se manifesta numa espécie de ausência de alma, algo de que a capital Washington é um exemplo perfeito. Se você quer ter um amigo na cidade, como Harry Truman disse, então compre um cachorro.”

Berman

O americano médio, diz ele, acredita no “mito” da mobilidade social. Berman nota que as estatísticas mostram que a imensa maioria das pessoas nos Estados Unidos morrem na classe em que nasceram. Ainda assim, elas acham que um dia vão ser Bill Gates. Têm essa “alucinação”, em vez de achar um absurdo que alguém possa ter mais de 60 bilhões de dólares, como Bill Gates.
“Estamos assistindo ao suicídio de uma nação”, diz Berman. “Um país cujo propósito é encorajar seus cidadãos a acumular mercadorias no maior volume possível, ou exportar ‘democracia’ à base de bombas, é um navio prestes a afundar. Nossa política externa gerou o 11 de Setembro, obra de pessoas que detestavam o que os Estados Unidos estavam fazendo com os países delas. A nossa política (econômica) interna criou a crise mundial de 2008.”
A soberba americana é sublinhada por Berman  em várias situações. Ele cita, por exemplo, uma declaração de George W Bush de 1988: “Nunca peço desculpas por algo que os Estados Unidos tenham feito. Não me importam os fatos.” Essa fala foi feita pouco depois que um navio de guerra americano derrubou por alegado engano um avião iraniano com 290 pessoas a bordo, 66 delas crianças. Não houve sobreviventes.
Berman evoca também a Guerra do Vietnã. “Como entender que, depois de termos matado 3 milhões de camponeses vietnamitas e torturado dezenas de milhares, o povo americano ficasse mais incomodado com os protestos antiguerra do que com aquilo que nosso exército estava fazendo? É uma ironia que, depois de tudo, os reais selvagens sejamos – nós.”
Você pode perguntar: como alguém que tem uma visão tão crítica – e tão justificada – de seu país pode viver nele?
A resposta é que Berman desistiu dos Estados Unidos. Ele vive hoje no México, que segundo ele é visceralmente diferente do paraíso do narcotráfico pintado pela mídia americana — pela qual ele não tem a menor admiração. “Mudei para o México porque acreditava que ainda encontraria lá elementos de uma cultura tradicional, e acertei”, diz ele. “Só lamento não ter feito isso há vinte anos. Há uma decência humana no México que não existe nos Estados Unidos.”

Saudade


Você foi me seduzindo, me cativando, invadindo meu pensamento, dominando meu coração, impondo-se em meus sonhos, foi ocupando espaço, se alojou, e agora?..

Como faço pra tirar esse amor do meu peito?...

Como faço pra sublimar esse desejo que habita o meu corpo?..

O que faço com essa vontade de beijar a tua boca, de sentir o teu abraço? o que faço com meus sonhos desfeitos?..

Não tenho mais você para alimentá-los.

Onde arrumo forças para suportar a tua ausência?

O que faço com o vazio que você deixou dentro de mim?

Paulo Coelho: o respeito ao mistério


Os gregos foram os grandes mestres em descrever o comportamento humano através de pequenas histórias, que costumamos chamar de "mitos". Todas as gerações que vieram depois deles, da psicanálise de Freud (com o complexo de Édipo, por exemplo), aos filmes de Hollywood (como o Morpheus de "Matrix") terminaram por beber desta fonte.

Durante grande parte de minha vida, uma destas histórias me deixava muito intrigado: o mito de Psyche.

Era uma vez... uma linda princesa, admirada por todos, mas que ninguém ousava pedir sua mão em casamento. Desesperado, o rei consultou o deus Apolo; esse disse que Psyche deveria ser deixada sozinha, vestida de luto, no alto de uma montanha. Antes que o dia raiasse, uma serpente viria a seu encontro para desposá-la. O rei obedeceu, e por toda à noite a princesa esperou, aterrorizada e morta de frio, a chegada de seu marido.

Terminou adormecendo; ao despertar, estava em um lindo palácio, transformada em rainha. Todas as noites seu marido vinha a seu encontro, faziam amor, mas ele havia imposto uma única condição: Psyche podia ter tudo o que desejasse, mas devia demonstrar total confiança, e jamais poderia ver seu rosto.

A moça viveu muito tempo feliz; tinha conforto, carinho, alegria, estava apaixonada pelo homem que lhe visitava todas as noites. Entretanto, vez por outra tinha medo de estar casada com uma serpente horrorosa. Certa madrugada, quando o marido dormia, com uma lanterna iluminou a cama; e viu deitado ao seu lado, Eros (ou Cupido) - um homem de incrível beleza. A luz o despertou, ele descobriu que a mulher que amava não era capaz de cumprir seu único desejo, e desapareceu.

Sempre que eu lia este texto, me perguntava: será que não podemos nunca descobrir a face do amor?

Foi preciso que muitos anos passassem por debaixo da ponte de minha vida, até compreender que o amor é um ato de fé em outra pessoa, e seu rosto deve continuar envolto em mistério. Ele deve ser vivido e desfrutado a cada momento, mas sempre que tentemos entendê-lo, a magia some.

Quando aceitei isso, passei também a deixar que minha vida fosse guiada por uma linguagem estranha, que chamo de "sinais". Sei que o mundo está falando comigo, eu preciso escutá-lo, e se assim fizer, serei sempre guiado em direção ao que existe de mais intenso, mais apaixonado, e mais belo. Claro que não é fácil, e às vezes sinto-me como Psyche no penhasco, com frio e terror; mas se sou capaz de passar aquela noite, e entregar-me ao mistério e à fé na vida, termino sempre por acordar em um palácio. Tudo que preciso é confiar no Amor, mesmo correndo o risco de errar.

Concluindo o mito grego: Desesperada para ter seu amor de volta, Psyche se submete a uma série de tarefas que Afrodite (ou Vênus), mãe de Cupido (ou Eros), invejosa de sua beleza, lhe impõe - uma dessas tarefas era a de que entregasse um pouco de sua beleza para ela. Psyche fica curiosa com a caixa que conteria a beleza da Deusa e novamente não consegue lidar com o Mistério - resolve abri-la - na caixa nada encontrou de beleza, mas sim um infernal sono que a deixou inerte, sem movimentos.

Eros/Cupido também está apaixonado, arrependido por não ter sido mais tolerante com sua mulher. Consegue entrar no castelo e despertá-la de seu sono profundo com a ponta de sua flecha e mais uma vez lhe diz - quase morreste devido a sua curiosidade - esta a grande contradição, Psyche que buscava encontrar segurança no conhecimento encontrou insegurança.

Os dois vão até Júpiter, o deus supremo, implorar que esta união jamais possa ser desfeita.

Júpiter advogou com empenho a causa dos amantes que conseguiu a concordância de Vênus. A partir deste dia, Psyche (a essência do ser humano) e Eros (o amor) estão para sempre juntos. Quem não aceitar isso, e procurar sempre uma explicação para as mágicas e misteriosas relações humanas, irá perder o que a vida tem de melhor.